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JOS RODRIGUES DE PAIVA

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da “comunhão absoluta”. Vergílio Ferreira falaria disso também em ensaios como Carta<br />

ao futuro e Invocação ao meu corpo.<br />

O primeiro indício de que Estrela polar de algum modo dá continuidade a Aparição<br />

– à parte a revelação oferecida pelo próprio romancista – está no nome de cada um dos<br />

protagonistas dos romances: Alberto em Aparição, Adalberto em Estrela polar. Alberto<br />

realiza com êxito a experiência do auto-conhecimento, assistindo, entre maravilhado e aterrorizado,<br />

à aparição do ser a si próprio. Adalberto, já conhecendo a si mesmo, deseja ob-<br />

o outro. Não é casual, a composição ou escolha do nome desta per-<br />

sessivamente conhecer<br />

sonagem, com a adição do prefixo Ad ao nome do protagonista do romance anterior. Alber-<br />

em Adalberto, que conhece e domina a experiência existencial do<br />

to, como que, já assoma<br />

primeiro. Alberto está junto a Adalberto, contido nele ou por ele, está com ou está em A-<br />

dalberto.<br />

Mergulhado no espanto de conhecer o seu ser profundo, Alberto quer ensinar aos<br />

seus alunos, como professor que é, a experiência ou a realização desse conhecimento. Porque<br />

a experiência é difícil de transmitir e realizar com clareza, precisão e êxito, nem todos<br />

a conseguem fazer com acerto, e o equívoco ronda perigosamente esse exercício. Mas Alberto<br />

aceita correr o risco (inclusive o de se expor ao ridículo diante dos que não têm aptidão<br />

para o entender, como é o caso, por exemplo, do engenheiro Chico). Fascinado até ao<br />

limite pela experiência do mergulho na revelação de si a si mesmo, acredita sinceramente<br />

ser sua obrigação – ou mais que isso, uma missão sua – transmiti-la à “Cidade dos Homens”,<br />

revelando, a cada um o que é ao mesmo tempo a maravilha prodigiosa e a infinita<br />

m iséria da condição humana. A experiência da aparição é mais do que um exercício pedagógico,<br />

é uma verdade profética que é necessário revelar. Como um Messias da finitude, a<br />

todos Alberto pretende transmitir uma novidade de tragédia: a de que cada pessoa é única<br />

enquanto corpo e consciência e sentimento que fulguram e que o homem está irremediavelmente<br />

sozinho na sua unicidade e irremediavelmente condenado à vida e à morte. Mas o<br />

discurso e a ação messiânica de Alberto também não seria bem compreendido nem bem<br />

aceito por todos os habitantes da cidade humana. Porque já todos sabiam que o homem é<br />

mortal e porque o fulgor da evidência disso causava vertigens e uma cegueira de desespero.<br />

Mas é talvez por isso mesmo que a presença de Alberto provoca em quase todos tanto<br />

desassossego, como o revela esta interpelação de Ana:<br />

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