digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE - PPGL ...
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<strong>Letras</strong><br />
<strong>digitais</strong><br />
Teses e Dissertações originais <strong>em</strong> formato digital<br />
O Ensino <strong>da</strong> Língua Materna<br />
como Integração <strong>de</strong><br />
Conhecimentos Lingüísticos<br />
(El<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> Propostas<br />
para o 1º Grau meno r)<br />
Maria Irandé Costa Morais Antunes<br />
1986<br />
<strong>Programa</strong> <strong>de</strong><br />
Pós-Graduação<br />
<strong>em</strong> <strong>Letras</strong>
Ficha Técnica<br />
Coor<strong>de</strong>nação do Projeto <strong>Letras</strong> Digitais<br />
Angela Paiva Dionísio e Anco Márcio TenórioVieira (orgs.)<br />
Consultoria Técnica<br />
Augusto Noronha e Karla Vi<strong>da</strong>l (Pipa Comunicação)<br />
Projeto Gráfico e Finalização<br />
KarlaVi<strong>da</strong>l e Augusto Noronha (Pipa Comunicação)<br />
Digitalização dos Originais<br />
Maria Cândi<strong>da</strong> Paiva Dionízio<br />
Revisão<br />
Angela Paiva Dionísio,Anco Márcio TenórioVieira e Michelle Leonor <strong>da</strong> Silva<br />
Produção<br />
Pipa Comunicação<br />
Apoio Técnico<br />
Michelle Leonor <strong>da</strong> Silva e Rebeca Fernan<strong>de</strong>s Penha<br />
Apoio Institucional<br />
Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />
<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> <strong>Letras</strong>
Apresentação<br />
Criar um acervo é registrar uma história. Criar um acervo digital é dinamizar a<br />
história.É com essa perspectiva que a Coor<strong>de</strong>nação do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />
<strong>em</strong> <strong>Letras</strong>, representa<strong>da</strong> nas pessoas dos professores Angela Paiva Dionisio e Anco<br />
MárcioTenórioVieira, criou, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006, o projeto <strong>Letras</strong> Digitais:30<br />
anos <strong>de</strong> teses e dissertações. Esse projeto surgiu <strong>de</strong>ntre as ações com<strong>em</strong>orativas<br />
dos 30 anos do PG <strong>Letras</strong>, programa que teve início com cursos <strong>de</strong> Especialização<br />
<strong>em</strong> 1975. No segundo s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 1976, surgiu o Mestrado <strong>em</strong> Linguística eTeoria<br />
<strong>da</strong> Literatura, que obteve cre<strong>de</strong>nciamento <strong>em</strong> 1980. Os cursos <strong>de</strong> Doutorado <strong>em</strong><br />
Linguística e Teoria <strong>da</strong> Literatura iniciaram, respectivamente, <strong>em</strong> 1990 e 1996. É<br />
relevante frisar que o <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> <strong>Letras</strong> <strong>da</strong> <strong>UFPE</strong>, <strong>de</strong> longa<br />
tradição <strong>em</strong> pesquisa,foi o primeiro a ser instalado no Nor<strong>de</strong>ste e Norte do País.Em<br />
<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008,contava com 455 dissertações e 110 teses <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s.<br />
Diante <strong>de</strong> tão grandioso acervo e do fato <strong>de</strong> apenas as pesquisas <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s a partir<br />
<strong>de</strong> 2005 possuir<strong>em</strong> uma versão digital para consulta, os professores Angela Paiva<br />
Dionisio e Anco Márcio Tenório Vieira, autores do referido projeto, <strong>de</strong>cidiram<br />
oferecer para a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> acadêmica uma versão digital <strong>da</strong>s teses e dissertações<br />
produzi<strong>da</strong>s ao longo <strong>de</strong>stes 30 anos <strong>de</strong> história. Criaram, então, o projeto <strong>Letras</strong><br />
Digitais:30 anos <strong>de</strong> teses e dissertações com os seguintes objetivos:<br />
(i) produzir um CD-ROM com as informações fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>s 469<br />
teses/dissertações <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s até <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006 (autor, orientador, resumo,<br />
palavras-chave,<strong>da</strong>ta <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa,área <strong>de</strong> concentração e nível <strong>de</strong> titulação);
(ii) criar umAcervo Digital <strong>de</strong>Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, digitalizando<br />
todo o acervo originalmente constituído apenas <strong>da</strong> versão impressa;<br />
(iii) criar o hotsite <strong>Letras</strong> Digitais: Teses e Dissertações originais <strong>em</strong> formato<br />
digital, para publicização <strong>da</strong>s teses e dissertações mediante autorização dos<br />
autores;<br />
(iv) transportar para mídia eletrônica off-line as teses e dissertações digitaliza<strong>da</strong>s,<br />
para integrar o Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, disponível<br />
para consulta na Sala <strong>de</strong> Leitura César Leal;<br />
(v) publicar <strong>em</strong> DVD coletâneas com as teses e dissertações digitalizados,<br />
organiza<strong>da</strong>s por área concentração,por nível <strong>de</strong> titulação,por orientação etc.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento do projeto prevê ações <strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns,tais como:<br />
(i) <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>rnação <strong>da</strong>s obras para procedimento alimentação automática <strong>de</strong><br />
escaner;<br />
(ii) tratamento técnico <strong>de</strong>scritivo <strong>em</strong> meta<strong>da</strong>dos;<br />
(iii) produção <strong>de</strong> Portable Document File (PDF);<br />
(iv) revisão do material digitalizado<br />
(v) procedimentos <strong>de</strong> reenca<strong>de</strong>rnação <strong>da</strong>s obras após digitalização;<br />
(vi) diagramação e finalização dos e-books;<br />
(vii) backup dos e-books <strong>em</strong> mídia externa (CD-ROM e DVD);<br />
(viii) <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> rotinas para regularização e/ou cessão <strong>de</strong> registro <strong>de</strong><br />
DireitosAutorais.<br />
Os organizadores
O Ensino d a Lín gua Materna<br />
como Integração <strong>de</strong><br />
Conhecime ntos Lingüísticos<br />
(El<strong>em</strong>e ntos <strong>de</strong> Propostas<br />
para o 1º Grau meno r)<br />
Mari a Irandé Costa Morais Antunes<br />
1986<br />
Copyright © Maria Irandé Costa MoraisAntunes , 1986<br />
Reservados todos os direitos <strong>de</strong>sta edição.Reprodução proibi<strong>da</strong>,mesmo parcialmente,<br />
s<strong>em</strong> autorização expressa do autor.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO<br />
CENTRO DE ARTES E COMUNICACAO<br />
_ J<br />
MESTRADO EM LETRAS E LINGUISTICA<br />
o ENSINO DA<br />
-<br />
LINGUA MATERNA COMO<br />
-<br />
INTEGRACAO<br />
J<br />
DE CONHECIMENTOS LINGufSTICOS<br />
DISSERTACAO<br />
J<br />
DE MES~RADO<br />
APRESENTADA AO PROGRAMA DE POS-GRADUACAO , EM LETRAS E LINGUfS-<br />
TICA DA <strong>UFPE</strong> COMO REQUISITO PARA OBTENCAO , DO GRAU DE MESTRE<br />
EM LINGUfSTICA,
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO<br />
CENTRO DE ARTES E COMUNICACAO<br />
J
A Sarita e Dani,<br />
com qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong>os vivido<br />
muitas <strong>da</strong>s perguntas e respostas<br />
aqui formula<strong>da</strong>s.
Ao Prof. Dr. Luiz Antonio Marcuschi pela <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> e<br />
competente orienta~ao com que acompanhou 0 <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>s<br />
te estudo.<br />
Aos Professores do Curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> <strong>Letras</strong> e<br />
Lingtiistica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco, pelas novas<br />
perspectivas com que nos encaminharam a compreensao dos<br />
fatos lingtiisticos. Urn agra<strong>de</strong>cimento especial aos Professores<br />
A<strong>da</strong>ir Palicio, Francisco Gomes <strong>de</strong> Matos e Maria <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Sa.<br />
A equipe <strong>da</strong>"Escola Saltimbancos", <strong>de</strong> Olin<strong>da</strong>, com<br />
qu<strong>em</strong> refletimos e reapren<strong>de</strong>mos as gran<strong>de</strong>s linhas que constitu<strong>em</strong><br />
os principios bisicos <strong>de</strong> nossa proposta.<br />
nos<br />
A Alfredo, pela companhia amiga e solidiria com que<br />
encorajou.<br />
Aos amigos e familiares que nos aju<strong>da</strong>ram a<br />
possivel este trabalho.
Preten<strong>de</strong>mos neste trabalho, indicar el<strong>em</strong>entos para<br />
uma proposta <strong>de</strong> ensino <strong>da</strong> lIngua materna no 19 grau menor.<br />
Partimos do pressuposto <strong>de</strong> que a crian~a,ao ingre~<br />
sar nesta etapa escolar, j~ internalizou gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> gr!<br />
m~tica <strong>da</strong> lIngua que fala.<br />
Decidimos investigar como os livros did~ticos propo<strong>em</strong><br />
as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> competencia <strong>de</strong>ssa<br />
crian~a, nas categorias especificas dos exercicios <strong>de</strong> gramatica,<br />
<strong>da</strong> compreensao e produ~ao <strong>de</strong> textos.<br />
as resultados indicaram que prevalece a gram~tica<br />
conteudlstica e classificatoria <strong>da</strong> frase e <strong>da</strong> palavra isola~<br />
<strong>da</strong>s, b<strong>em</strong> como 0 exercicio <strong>da</strong> leitura ecria~ao textual, sob<br />
mo<strong>de</strong>los mecanicos e formais.<br />
Texto, propomos um ensino <strong>da</strong> lIngua materna como<br />
<strong>de</strong> conhecimentos lingUlsticos, dirigido para as<br />
sociocomunicativas <strong>da</strong> lIngua e sua textuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
natural <strong>de</strong> acontecer.<br />
integra~ao<br />
finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
como forma
I N T ROD U C A 0<br />
J<br />
PRIMEIRA PARTE - CONDICOES LINGUISTICAS DA CRIANCA<br />
I<br />
I<br />
AO INGRESSAR NO 1 9 GRAU MENOR<br />
2. AQUISI~OES DA CRIAN~A QUANTO A ESTRUTURA DAS<br />
SENTEN~AS<br />
2.1 - Quanto as regras <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> base<br />
2.2 - Quanto i seqU~nciados el<strong>em</strong>entos na senten~a<br />
2.4 - Quanto as regras <strong>de</strong> co-ocorr~ncia<br />
itens numa ca<strong>de</strong>ia<br />
2.5 - Quanto ao processo <strong>de</strong> generaliza~ao<br />
2.6 - Quanto i consci~ncia <strong>da</strong> lingua
3. REALIZA~OES PREDOMINANTES DA CRIAN~A A NrVEL<br />
DA EXPERIENCIA TEXTUAL<br />
4. A CRIAN~A NO PROCESSO DE AQUISI~AO DA LINGUA<br />
ESCRITA<br />
SEGUNDA PARTE - 0 LIVRO DIDATICO NO PRIMEIRO<br />
GRAU MENOR : CONTEUDO E PRO-<br />
CEDIMENTOS<br />
6. PRESSUPOSTOS EMPIRICOS E TEORICOS PARA ANALISE<br />
DO LIVRO DIDATICO 30<br />
7.2 - Criterios para a escolha do material <strong>de</strong><br />
analise 34<br />
7.3 - Delimita~ao do objetivo e categorias <strong>de</strong><br />
analise 37<br />
7.4 - Metodologia <strong>de</strong> sele~ao do material<br />
di<strong>da</strong>tico analisado 38
7.5 - Metodologia <strong>da</strong> analise<br />
8. ANALISE DAS UNIDADES GRAMATICAIS NOS<br />
LIVROS DIDATICOS<br />
8.1 - Conteudo gramati~al<br />
8.2 - Metodologia <strong>em</strong>prega<strong>da</strong> nosexerclcios<br />
escolares<br />
9.1 - Tipos e organiza~~o dos textos<br />
10. ANALISE DAS ESTRATBGIAS DE PRODU~Ad<br />
DO TEXTO<br />
11. AVALIA~AO CRITICA DO MATERIAL DIDATICO<br />
ANALISADO<br />
TERCEIRA PARTE - 0 ENSINO CENTRADO NO TEXTO<br />
PROPOSTA DE INTEGRACAO DE<br />
J<br />
CONHECIMENTOS LINGUISTICOS<br />
NO<br />
1 9 GRAU
12.1 - Textuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lIngua<br />
13. A LINGUISTICA DE TEXTO COMO NOVA<br />
PERSPECTIVA TE6RICA<br />
14. PRODU~AO E COMPREENSAO DE TEXTO NO 1 9 GRAU<br />
MENOR : ELEMENTOS DE PROPOSTA<br />
14.2 - Aspectos especificos
I N T ROD U C A 0<br />
I<br />
o ensino <strong>de</strong> lingua materna, no Brasil, v<strong>em</strong> apresenta~<br />
do lacunas serias. Tal e a constata~ao mais comum <strong>de</strong> quantos Ii<br />
<strong>da</strong>rn corn 0 probl<strong>em</strong>a, quer ern ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino quer ern contex<br />
tos profissionais.<br />
On<strong>de</strong> estara a raiz, ou raizes, do probl<strong>em</strong>a? Serao razoes<br />
<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m metodologico ~ pe<strong>da</strong>gogica?; ou <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os pensar ern<br />
causas ex6genas e <strong>de</strong> circunstanciali<strong>da</strong><strong>de</strong> hist6rica? Por que 0<br />
jov<strong>em</strong> colegial e, mesmo, universitario, seja ern suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
aca<strong>de</strong>micas, ~eja ern sua expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> social, nao <strong>de</strong>monstra<br />
o dominio lingUistico esperado? Mais ain<strong>da</strong>: que havera <strong>de</strong> ina<strong>de</strong><br />
quado, ou <strong>de</strong> condicionante, na forma~ao escolar <strong>de</strong> nossos alunos<br />
que, ao inves <strong>de</strong> leva-los a cUltivar,prazerosamente sua<br />
lingua e literatura, parece criar neles satura~ao e cansa~o, a<br />
ponto <strong>de</strong> encarar<strong>em</strong> tal aprendizado mais como "tarefa" po que co<br />
mo <strong>de</strong>senvolvimento e gratifica~ao?<br />
Nossa intui~ao, <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> na experiencia profissio<br />
nal e no confronto corn os principios <strong>da</strong> LingUistica Teorica e<br />
Aplica<strong>da</strong>, levou-nos a hip6tese <strong>de</strong> que tal probl<strong>em</strong>a tern raizes<br />
nas etapas iniciais do confronto <strong>da</strong> crian~a com as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
do ensino <strong>da</strong> lingua. Dai a importancia fun<strong>da</strong>mental que atribulmos<br />
ao 1 9 grau menor, e a op~ao <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r esta etapa <strong>da</strong> forma-<br />
~ao escolar. Dai, tamb<strong>em</strong>, a <strong>de</strong>cisao <strong>de</strong> oferecer subsidios que<br />
favore~am uma primeira abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> escolar <strong>da</strong> lingua, <strong>de</strong> forma a<br />
contribuir para a amplia~ao <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s comunicativas <strong>da</strong><br />
crian~a, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> alternativas novas.<br />
Partimos do possuposto <strong>de</strong> que a crian~a,ao<br />
no 19 grau menor, ja domina gran<strong>de</strong> parte ~a gramatica<br />
lingua. Sabe, ern situa~oes naturais <strong>de</strong> comunica~ao,<br />
textos a<strong>de</strong>quados as circunstancias e interlocutores.<br />
ingressar<br />
<strong>de</strong> sua<br />
construir
po<strong>de</strong>mos dizer, certa dose <strong>da</strong>compet~ncia 1ingUistica e comunicativa<br />
que,dispensando ensino e treino especificos,' resu1tado <strong>da</strong><br />
intera~ao social, pela qual ela se expoe aos diversos usos <strong>da</strong><br />
lingua. Tal constata~ao ~, basicamente, <strong>em</strong>pirica. Tern, contudo ,<br />
urn respaldo teorico· e cientifico, tal como fica <strong>de</strong>monstrado na<br />
primeira parte <strong>de</strong> nosso estudo.<br />
Va1<strong>em</strong>o-nos, para isso, <strong>de</strong> resultados obtidos no campo<br />
<strong>da</strong> pesquisa <strong>da</strong> Psico1ingUIstica. Com efeito, resultados apresentados<br />
por Menyuk, (1975) Slobin (1980), McNeill, (1975) Caz~<br />
cu, (1979) Titone~ (1983) entre outros, ratificam esses <strong>da</strong>dos<br />
que a experi~ncia imediata evi<strong>de</strong>ncia. Servimo-nos ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> pri~<br />
clpios <strong>da</strong> Gramatica Gerativa Transformacional como recurso <strong>de</strong><br />
exp1ica~ao e analise, principa1mente quando nos referimos a<br />
produ~ao <strong>da</strong>s crian~as a nlvel dos enunciados.<br />
Com base nesse pressuposto, e respectivos resultados,<br />
preten<strong>de</strong>mos, a seguir, ava1iar, ate que ponto, no exercicio <strong>da</strong><br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, os manuais <strong>de</strong> Comunica¥ao e Expressao levam<br />
<strong>em</strong> conta esse saber <strong>da</strong> crian~a. Preten<strong>de</strong>mos verificar se as<br />
propostas <strong>de</strong>sses manuais apontam para 0 <strong>de</strong>senvo1vimento integr~<br />
do <strong>de</strong>ssa compet~ncia basica, que a crian~a, ao entrar nesta fase<br />
<strong>da</strong> escola, ja internalizou.<br />
Apos urn contacto global com gran<strong>de</strong> parte dos manuais<br />
di<strong>da</strong>ticos usados na regiao, centramo-nos <strong>em</strong> 8 cole~oes que, por<br />
ser<strong>em</strong> <strong>da</strong>s mais adota<strong>da</strong>s e <strong>de</strong> publica~ao mais recente, nos pareceram<br />
constituir-se numa amostrag<strong>em</strong> suficient<strong>em</strong>ente representativa.<br />
A analise <strong>de</strong>ssas cole~oes serviu basicamente para estu<strong>da</strong>r<br />
as questoes <strong>da</strong>s areas referentes a: Gramatica, Leitura e<br />
Produ~ao <strong>de</strong> Textos,urna vez que representarn as aten~oes nuclea -<br />
res no processo <strong>de</strong> aprendizagern e uso <strong>da</strong> lingua. Ca<strong>da</strong> urna <strong>de</strong>stas<br />
categorias e aqui trata<strong>da</strong>, principalrnente, sob a perspectiva<br />
<strong>da</strong>s concep~oes teoricas subjacentes as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para elas<br />
propostas pelos manuais, ja que to<strong>da</strong> pratica pe<strong>da</strong>gogica <strong>de</strong>corre<br />
<strong>de</strong> urn aparato teorico, seja ele tacito ou exp1Icito.
Numa terceira etapa, avan~amos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> uma proposta<br />
compl<strong>em</strong>entar para 0 ensino <strong>de</strong> Comunica~ao e Expressao,no<br />
1 9 grau menor. Proposta compl<strong>em</strong>entar, porque nao preten<strong>de</strong>mos<br />
fornecer urn substituto alternativo que abranja to<strong>da</strong>s as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
do ensino, nesta etapa. 0 que nao significa que, num<br />
estagio mais avan~ado <strong>da</strong> pesquisa nessa area, nao se possa admitir<br />
tal alternativa. Neste momento, nao dispomos ain<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
uma investiga~ao tao sali<strong>da</strong> que permita chegar a proposta tao<br />
ambiciosa.<br />
Preten<strong>de</strong>mos, no momento, tao somente oferecer urn con<br />
junto <strong>de</strong> princIpios e diretrizes que possam orientar 0 ensino<br />
no sentido <strong>de</strong> uma pratica produtiva que conduza a amplia~ao<br />
<strong>da</strong> competencia comunicativa <strong>da</strong> crian¥a.Partindo do pressuposto<br />
<strong>de</strong> que 0 texto - oral e escrito - e a forma natural <strong>de</strong> efetiva-<br />
¥ao <strong>da</strong> lIngua, firmamo-nos na necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que 0 ensino <strong>de</strong>ssa<br />
lIngua se fa~a com base no texto.<br />
Para tanto, buscamos os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> LingUIstica<br />
<strong>de</strong> Texto, naquilo que tal teoria ja nos po<strong>de</strong> oferecer como subsIdios<br />
<strong>de</strong> implica~ao :pratica.<br />
Nas consi<strong>de</strong>ra~oes gerais e especIficas, tra~amos Ii -<br />
nhas tearico~praticas que abarcam as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s: produ~ao <strong>de</strong> texto,<br />
leitura e gramatica. Admitindo a concep~ao <strong>da</strong> lIngua .como<br />
processo <strong>de</strong> comunica~ao e intera~ao social, encaminhamos para<br />
esta perspectiva as diretrizes basicas para 0 tratamento esco -<br />
lar <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>quelas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Embora nossa pretensao seja atingir a pratica escolar,<br />
as propostas feitas centrarn-se <strong>em</strong> aspectos preferent<strong>em</strong>ente dir~<br />
tivos. Mais do que apresentar ex<strong>em</strong>plos do "fazer" particulariza<br />
do, propomos.princlpios e diretrizes que, no entanto, implicam<br />
e orientam diretamente esse "fazer". Preferimos nao incorrer no<br />
risco <strong>de</strong> apresentando urn elenco <strong>de</strong> exerclcios praticos, esvaziar,<br />
<strong>de</strong> certa forma, a for~a criadora <strong>da</strong>s diretrizes tearicas.
o <strong>de</strong>senvolvimento real <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> expressiva do aluno, pelo<br />
exerclcio continuado do estlmulo a fluencia e intera~ao comunicativas,<br />
<strong>de</strong>ixando para etapas posteriores os estudos cat egoriais,<br />
formais e metalingUlsticos.<br />
A apresenta~ao dos el<strong>em</strong>entos basicos <strong>de</strong>sta proposta<br />
constitui-se no objetivo mais amplo <strong>de</strong> nossa disserta~ao.<br />
Este nao e urn estudo <strong>de</strong> caso, n<strong>em</strong> urn trabalho <strong>de</strong> investiga~ao<br />
<strong>em</strong>plrica que busque verificar hipoteses. B, antes,<br />
urn trabalho <strong>de</strong> avalia~ao e proposta, numa dimensao crltica e<br />
projectiva, com base <strong>em</strong> observa~oes anallticas e princlpios teo<br />
rico-praticos.
CONDICOES LINGufSTICAS DA CRIANCA NO INGRESSO<br />
1 J
Partimos <strong>da</strong> concep~ao partilha<strong>da</strong> pela Gramatica Gerativa,<br />
segundo a qual to<strong>da</strong>s as linguas dispo<strong>em</strong> <strong>de</strong> urn conjunto <strong>de</strong><br />
regras que <strong>de</strong>termina as caracteristicas formais e s<strong>em</strong>anticas<br />
<strong>da</strong>s frases <strong>de</strong>ssas linguas (Chomsky, 1977: 19). Desse principio d~<br />
corre que a combina~ao <strong>da</strong>s palavras para a constitui~ao dos en~<br />
clados nao se <strong>da</strong> ao acaso, mas e regi<strong>da</strong> por princlpios <strong>de</strong> teor<br />
"altamente restritivo" <strong>de</strong> tal forma que os m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> uma mesma<br />
comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> lingtiistica apren<strong>de</strong>m essencialmente a mesma lingua<br />
(Chomsky, 1977:17).<br />
Na explica~ao <strong>de</strong> Chomsky (1977:43), "estimula<strong>da</strong> por<br />
uma experiencia a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> e continua, a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong><br />
cria uma gramatica" corn a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar as senten~as especificas<br />
<strong>da</strong> lingua. As llnguas elabora<strong>da</strong>s nesse padrao sac as<br />
que po<strong>de</strong>m ser "aprendi<strong>da</strong>s" <strong>de</strong> maneira comum.<br />
~<br />
Todo falante nativo conhece, pois, "a lingua gera<strong>da</strong><br />
por tal gramatica" e po<strong>de</strong>, corn 0 recurso a outras proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
do espirito, "utilizar a linguag<strong>em</strong> que conhece" (Chomsky,1977 :<br />
(1)<br />
43) .<br />
Urn dos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios corn que se <strong>de</strong>para a crian~a,<br />
ern seus primeiros anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, e adquirir este conhecimento <strong>da</strong><br />
gramatica <strong>da</strong> lingua, sist<strong>em</strong>atizado ernpadroes abstratos e gerais<br />
a fim <strong>de</strong> que possa realizar suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s basicas <strong>de</strong><br />
( 7) "Ne.J.l;te ev.:,pec;to, uma gJr..amCitic..aJr..eM_ue a c..ampa!L;tamento do na1-ante que,<br />
a paJLt.iJL <strong>de</strong> uma expvUe-nUa. <strong>de</strong> ungua, n~ni:ta e au<strong>de</strong>Vl.-ta£, c..olUegue pJr..E..<br />
duzVr. au c.ompJr..een<strong>de</strong>JLum nWneJLa -i..nn-i..vU:to<strong>de</strong> nova!.> n!La!.>e.J.l" (Chom.6R.!J,<br />
7980: 77].
comunica~ao e, <strong>de</strong>ssa maneira, lr <strong>em</strong>erg1ndo como ser linguIstica<br />
e socialmente cooperativo.<br />
A explic~~ao <strong>de</strong> por que e como as crian~as apren<strong>de</strong>m<br />
~ma lIngua r<strong>em</strong>onta a questao.mais ampla <strong>de</strong> admitir, ou nao, para<br />
a especie humana "capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s inatas" para a linguag<strong>em</strong> e,c0E:<br />
seqUent<strong>em</strong>ente, relaciona-se com 0 papel atribuIdo a experiencia.<br />
Para aqueles que postulam 0 "inatismo", numa visao ra<br />
cionalista, a linguag<strong>em</strong> e, al<strong>em</strong> <strong>de</strong>uma apti<strong>da</strong>o especIfica do ho<br />
m<strong>em</strong>, urn componente inscrito <strong>em</strong> seu patrim6nio genetico, ativa -<br />
do, <strong>de</strong>pois, pel0 meio (Langacker, 1975:245).<br />
Nessa perspectiva, 0 hom<strong>em</strong> ja nasce dotado <strong>de</strong> uma "fa<br />
cul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>" (Lyons, 1974: 104) esqu<strong>em</strong>atica e geral que<br />
Ihe servira <strong>de</strong> base para a constru~ao <strong>da</strong> gramatica especIfica <strong>de</strong><br />
sua lIngua.<br />
Assim, a tare fa <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong> pela crian~a nao tera a<br />
dinimica <strong>de</strong> urn movimento que se process a <strong>de</strong> "fora para <strong>de</strong>ntro,<br />
por mecanismos <strong>em</strong>piricos <strong>de</strong> condicionamentos comportamentais(Ni<br />
que, 1978:19), como preten<strong>de</strong>ram os <strong>em</strong>piristas, na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> que<br />
"todo comportamento <strong>de</strong>riva <strong>da</strong> experiencia" (Lyons, 1974:95). T~<br />
ra, essa tarefa <strong>da</strong> crian~a, a dire~ao contraria - <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para<br />
fora - a partir <strong>de</strong> aptidoes inscritas <strong>em</strong> sua natureza,so por<br />
isso <strong>de</strong>senv~lvi<strong>da</strong>s "<strong>em</strong> condi~oes normais <strong>de</strong> acesso e contacto<br />
com os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> experiencia" (Chomsky, 1977:36).<br />
Isto equivale a aceitar que se a crian~a consegue con~<br />
truir 0 sist<strong>em</strong>a lingUlstico caracterlstico <strong>de</strong> seu meio, e porque<br />
possui, internamente, aquelas aptidoes para a linguag<strong>em</strong>.<br />
Em comentario a esse respeito, Slobin (1980:142) ressalta<br />
0 argumento <strong>de</strong> Chomsky, segundo 0 qual "os <strong>da</strong>dos primarios"<br />
ou a experiencia lingUIstica a que se expoe a crian~a<br />
nao cons ti tui "a fon te <strong>da</strong> compet(~ncia lingUis tica" <strong>de</strong>senvo 1vi<strong>da</strong><br />
pela crian~a. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, para Chomsky 0 saber lingUIstico<br />
nao po<strong>de</strong> constituir-se "num produto especifico .<strong>da</strong>. historia·"<br />
(Chomsky, 1977:16).
De uma maneira geral, sac concep~oes que r<strong>em</strong>ontam aos<br />
princlpios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> LingUlstica Cartesiana que, como sabe<br />
mos,endossa os postulados filosoficos <strong>da</strong>s "i<strong>de</strong>ias inatas" e <strong>da</strong>s<br />
teorias nativistas <strong>de</strong> explica~ao dos comportamentos animais. Os<br />
argumentos que respal<strong>da</strong>m esses postulados alegam, entre outras<br />
evi<strong>de</strong>ncias, a relativa rapi<strong>de</strong>z e facili<strong>da</strong><strong>de</strong> com que a crian~a ad<br />
quire 0 conhecimento <strong>da</strong> gramatica <strong>de</strong> sua lingua s<strong>em</strong> que seja, p~<br />
ra isso, submeti<strong>da</strong> a urn ensinamento ou treino especlfico.<br />
Chomsky (1977:17) l<strong>em</strong>bra como esta in<strong>da</strong>ga~ao t<strong>em</strong>inqui~<br />
tado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> Classica: "De Platao aos t<strong>em</strong>pos mo<strong>de</strong>rnos,<br />
filosofos profundos se tern sentido confundidos e intrigados<br />
pela interroga~ao que Bertrand Russel, num dos seus ultimos trabalhos,<br />
formulou do seguinte modo: 'Como se explica que seres hu<br />
manos, cujos contactos com 0 mundo sac breves, pessoais e limita<br />
dos, sejam no entanto, capazes <strong>de</strong> saber tanto quanta na reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
sab<strong>em</strong>' (Russel 1948~ p.5)".<br />
A<strong>de</strong>mais, 0 conhecimento <strong>em</strong> aquisl~ao pela crian~a e<br />
produtivo, no sentido que nao apenas correspon<strong>de</strong> i capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
reproduzi) com exito os enunciados que ouve, mas envolve a habili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
somplexa <strong>de</strong> produzir e compreen<strong>de</strong>r frases inteiramente no<br />
'vas, a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s a novas situa~oes (Chomsky, 1972, 13).<br />
Tomamos neste trabalho, como princlpio fun<strong>da</strong>mental,essas<br />
no~oes <strong>de</strong> "Gramatica <strong>da</strong> Lingua", na perspectiva'do <strong>de</strong>senvolvimen<br />
to <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s lingUlsticas inatas, ativas pela experiencia,<br />
<strong>de</strong> forma natural e espontanea. Isto nos leva a aceitar, evi<strong>de</strong>nt~<br />
mente, 0 conhecimento <strong>de</strong>ssa gramatica que, <strong>de</strong> forma impllcita,vaise<br />
processando na crian~a.<br />
Advertimos que nao e nosso proposito <strong>de</strong>screver as etapas<br />
<strong>de</strong> aquisi~ao e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> par que passa a<br />
crian~a ate a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que ingressa no 1 9 grau menor.<br />
o que tencionamos. e, valendo-nos <strong>de</strong> resultados ja alcan~ados<br />
nestes aspectos, referir-nos aum saber lingUlstico <strong>de</strong><br />
que aquela crian~a ja se apo<strong>de</strong>rou,o qual, numa linha <strong>de</strong> integra-<br />
~ao, <strong>de</strong>ve ser levado <strong>em</strong> conta no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s' aptidoes
comunicativas que a escola objetiva <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r. Para isso, ser~<br />
vimo-nos principalmente <strong>de</strong> resultados referidos por psicolingUi~<br />
tas e lingUistas aplicados.<br />
Tomamos, principalmente <strong>em</strong> rela~ao a aptidoes evi<strong>de</strong>n -<br />
cia<strong>da</strong>s a nivel <strong>de</strong> enunciados, os el<strong>em</strong>entos basicos <strong>da</strong> Gramatica<br />
Gerativa Transformacional.<br />
Nao excluimos, no entanto, teorias lingUisticas <strong>de</strong> in~<br />
pira~ao pragmatica, que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a compreensao e produ~ao <strong>de</strong> lingua<br />
como exercicio <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s al<strong>em</strong> <strong>da</strong>quelas estritamente estruturais<br />
e lingUisticas.<br />
Com efeito, falar e compreen<strong>de</strong>r uma lingua t<strong>em</strong> si<strong>de</strong><br />
propos to como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que ultrapassa 0 simples dominio <strong>de</strong> uma<br />
gramatica. Ha fatores vinculados ao "conhecimento <strong>de</strong> mundo"" ao<br />
conhecimento do outro com qu<strong>em</strong> se fala, a situa~ao e aos proposi<br />
tos <strong>de</strong>finidores <strong>da</strong> a~ao lingUistica. Tais fatores constitu<strong>em</strong><br />
material pertinente na atua~ao verbal. 0 componente vocal <strong>da</strong> comunica~ao<br />
lingUistica correspon<strong>de</strong> apenas a parte <strong>de</strong> um conjunto<br />
~ mais vasto. Ha outros recursos que os fonologicos, sintaticos e<br />
: s<strong>em</strong>anticos <strong>em</strong>butidos na configura~ao do sentido. Para al<strong>em</strong> do p~<br />
ramente verbal, <strong>da</strong> codifica~ao linear, e que ocorre 0 signo lingUlstico<br />
pleno. Na intera~ao lingUistica n<strong>em</strong> tudo precisa ser di<br />
to explicitamente. Resta ao ouvinte a tarefa <strong>de</strong> suprir os el<strong>em</strong>en<br />
tos tidos como obvios, partes que sa~ do conhecimento partilhado.<br />
(1)<br />
Com base nessas linhas <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>mos, numa<br />
dupla vertente, consi<strong>de</strong>ra~oes sobre as aquisi~oes lingUisticas <strong>da</strong><br />
crian~a. Distinguimos, por um lado, as aquisi~oes a nivel <strong>da</strong>s<br />
estruturas <strong>da</strong>s senten~as; por outro lado, suas realiza~oes pred~<br />
minantes a nivel <strong>da</strong> experiencia textual.<br />
(1) Vejam-.6e a. U.6e pfLOPO.6J..X:oa..6 maxhna..6 ou pO.6.:tu.1.ado.6 <strong>de</strong> GtUc.e, fLe6eJr.i<strong>da</strong>/.) <strong>em</strong><br />
Kato (19&6:43) e Sc.ott (19&3: 116) enthe outfLO.6.
AQUISICOES DA CRIANCA QUANTO A ESTRUTURA DAS SENTENCAS<br />
)) )<br />
Iniciamos recorrendo a evi<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> que a crian~a que<br />
chega ao 1 9 grau menor ja domina gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s regras fono10<br />
gicas, sintaticas, s<strong>em</strong>~nticas e pragmaticas especificas <strong>de</strong> sua<br />
1 •. (1) T 1 . d- .<br />
lngua . a eVl enCla encontra-se respa1<strong>da</strong><strong>da</strong> por pesquisas<br />
<strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>s na area <strong>da</strong> Psico1ingtilstica, sobretudo. A a1g~<br />
mas <strong>de</strong>1as far<strong>em</strong>os referencia no <strong>de</strong>correr do traba1ho.<br />
Esse conhecimento <strong>da</strong> crlan~a po<strong>de</strong> ser focalizado a<br />
partir <strong>de</strong> varios aspectos.<br />
-<br />
2.1 - Quanto as regras <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> base<br />
Menyuk (1975:7) admite que a crian~a, nesta fase, Ja<br />
produz os tipos basicos <strong>de</strong> senten~as us ados pe10s adultos. Sob<br />
o ponto <strong>de</strong> vista sintatico-s<strong>em</strong>~ntico isso supoe 0 estabe1ecimen<br />
to <strong>da</strong>s re1a~oes<br />
~<br />
gramaticais e1<strong>em</strong>entares que, nas senten~as, se<br />
expressam nos contextos <strong>de</strong> sintagma nominal X sintagma verbal ,<br />
com as posslveis expansoes <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos.<br />
Disso <strong>de</strong>corre que tais tipos <strong>de</strong> senten~a se constitu<strong>em</strong><br />
na base <strong>de</strong> sujeito e predicado, com a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
(1) Foge. ao objeti-vo <strong>de</strong>..o:ta.o c..onol<strong>de</strong>JLa
<strong>de</strong>terminante + nome, para 0 primeiro contexto, e verbo + objeto<br />
para 0 segundo, 0 que resulta <strong>em</strong> senten~as do tipo sujeito+~dicado<br />
+ objeto. Em cima <strong>de</strong>stas rela~oes a crian~a <strong>em</strong>preen<strong>de</strong> os<br />
mecanismos <strong>de</strong> "expansao", tanto do sintagma nominal como do sin<br />
tagma verbal, e <strong>de</strong> "modifica~ao" com vistas a expressar rela~ao<br />
<strong>de</strong> lugar, t<strong>em</strong>po e outras circunstancias.<br />
Numa perspectiva mais radical, a apreensao<br />
-<br />
<strong>da</strong>s rela<br />
~oes, que se expressam naqueles termos <strong>da</strong> lingua, indica 0 <strong>de</strong>senvolvimento<br />
interior <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s cognitivas <strong>da</strong> crian~a. Na<br />
explora~ao do mundo, ela percebe, progressivamente, que pessoas<br />
e objetos exist<strong>em</strong> fora <strong>de</strong>la e que agentes atuam sobre objetos<br />
na mu<strong>da</strong>n~a <strong>de</strong> estados e experiencias. Ou seja, 0 <strong>de</strong>senvolvimento<br />
lingUlstico <strong>em</strong>ergente na crian~a 5e vincula a urn feixe mais<br />
complexo <strong>de</strong> aptidoes cognitivas.<br />
Slobin (1980:127) admite, para tal <strong>de</strong>senvolvimento,p~<br />
droes universais porque "parece refletir urn progresso nas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
gerais, concebendo rela~oes <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> espa~o, <strong>de</strong><br />
causali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> propos~to, <strong>de</strong> obriga~ao etc., e lexicalizando<br />
ca<strong>da</strong> vez,mais uma inten~ao comunicativa num enunciado finico e<br />
coerente'[.<br />
2.2 - Quanto i sequencia dos el<strong>em</strong>entos na sente~a<br />
Ao lado <strong>da</strong> compreensao dos termos, <strong>de</strong> suas rela~oes e<br />
expansao, a crian~a, na i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que esta ingressando no 1 9<br />
grau menor, ja se apropriou <strong>da</strong>s regras <strong>de</strong> combina~ao <strong>de</strong>sses termos<br />
na forma~ao <strong>de</strong> senten~as, que po<strong>de</strong>m ser reconheci<strong>da</strong>s pelo<br />
falante nativo como pertencentes i sua lingua. A constata~ao <strong>de</strong><br />
que tais regras foram viola<strong>da</strong>s correspon<strong>de</strong> a uma intui~ao lingUlstica<br />
do falante, que, normalmente, nao as violara, a nao<br />
ser que preten<strong>da</strong> urn efeito particular.<br />
Menyuk,(1975:l46) ressalta que a crian~a muito facilmente<br />
acumula tais regras: fl ••• a crian~a observa restri~oes na
---. ------,,\<br />
------<br />
u ' ./ '.<br />
" " c<br />
l\ Ji:.'<br />
';'Yi':':'" \ ,<br />
\<br />
conjun~io dos el<strong>em</strong>entos, tanto <strong>em</strong> termos <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes<br />
el<strong>em</strong>entos quanta <strong>em</strong> rela~ao a sua or<strong>de</strong>m na senten~a. Realmente a<br />
crian~a conjunciona el<strong>em</strong>entos, mas nao livr<strong>em</strong>ente." Slobin (1980:<br />
110) reitera essa observa~ao.<br />
Com efeito, <strong>em</strong> contacto com crian~as, inclusive <strong>de</strong> 3 a<br />
4 anos, nao encontramos - senao esporadicos - ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> enunciados<br />
tais como: "Escola na hoje Sarita ficar queria", ou outros<br />
similares.<br />
A interioriza~ao <strong>da</strong>s regras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>na~ao dos el<strong>em</strong>entos<br />
exerce fun~ao importante no exerclcio <strong>da</strong> estrutura~ao dos enuncia<br />
dos. Numa perspectiva essencialista a or<strong>de</strong>nac;ao reflete ,.rela~oes<br />
gramaticais universais" (Menyuk, 1975: 148).<br />
2.3 - Quanto as regras <strong>de</strong> transforma~ao<br />
, \<br />
Ao lado <strong>de</strong> liEu c.omi 0 me.u .tanc.he.",:a:crian~a,nessa eta<br />
pa <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvo1vimento lingtiistico, e capaz <strong>de</strong> produzir, "Eu<br />
II<br />
nao c.omi 0 me.u .tanc.he.lI,ou liEu c.omi 0 me.u .tanc.he.?ou IIComa 0 me.u<br />
.tanche.,"ou "Nao c.omi 0 me.u .taYLc.he.?!""<br />
Chomsky (1980:50) ao <strong>de</strong>stacar algumas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s essen<br />
eiais <strong>de</strong> uma gramatiea que ele chama transformaeional, conelui que<br />
"qualquer frase <strong>da</strong> lingua pertencera ou ao nueleo ou sera <strong>de</strong>riva<strong>da</strong><br />
a partir <strong>da</strong>s seqUeneias subj aeentes a uma ou mais frases- nue1eo,<br />
atraves <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> transforma~oes."<br />
Nique (1978:159) se orienta por esta formula~ao expli -<br />
cando que as frases sac forma<strong>da</strong>s pOl' um "nuc1eo" e pOl' um "eonsti<br />
tuinte <strong>de</strong> frase", 0 qual po<strong>de</strong> ser "afirmativo", "negativo", "inte.!:.<br />
rogativo", "imperativo", <strong>de</strong> maneira que "Eu comi 0 meu 1anche", e<br />
"Eu nao comi 0 meu lanehe" t<strong>em</strong> 0 mesmo nuc1eo, por<strong>em</strong> difer<strong>em</strong> qua~<br />
to ao eonstituinte <strong>de</strong> frase. Desenvolver esse constituinte <strong>de</strong> fra<br />
se correspon<strong>de</strong>nte a aplica~ao <strong>da</strong>s "regras <strong>de</strong> transfonJla~ao", as
quals, para al<strong>em</strong> <strong>de</strong>sses casos especlficos, tern a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
converter seqUencias dota<strong>da</strong>s <strong>de</strong> uma estrutura sintagmatica ern<br />
outras seqUencias <strong>da</strong>quelas <strong>de</strong>riva<strong>da</strong>s.<br />
Al<strong>em</strong> do conhecimento <strong>da</strong>s regras <strong>de</strong> estrutura~ao <strong>da</strong>qu~<br />
Ie nuc1eo, 0 sujeito falante domina as regras <strong>de</strong> transforma~ao,<br />
presentes a gerac;ao <strong>da</strong> frase simples ou complexa e <strong>da</strong>s qllctlS<br />
resulta a gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> estrutura1 <strong>de</strong> sentenc;as.<br />
A ap1ica~ao <strong>da</strong>s regras <strong>de</strong> transformaC;ao supoe opera -<br />
~oes sintaticas, ou "procedimentos transformacionais "entre os<br />
quais se inc 1u<strong>em</strong> os "<strong>de</strong> <strong>de</strong> slocac;ao ou permuta, (reajus te dos<br />
constituintes), substituicao (urnconstituinte e substituidopor<br />
outro, chegando a apaga-Io e a colocar <strong>em</strong> seu lugar urnoutro con~<br />
tituinte) e <strong>de</strong> adiC;ao" (Dubois et aI, 1978: 595). Estas opera-<br />
~oes nao tern 0 mesmo nivel <strong>de</strong> comp1exi<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como difere op~<br />
rar sobre uma unica ou sobre duas ou mais ca<strong>de</strong>ias subjacentes.<br />
Talvez estes principios justifiqu<strong>em</strong> a comprova~ao <strong>de</strong><br />
que "a passiva e as estruturas reflexivas" sac estruturas nao<br />
vivencia<strong>da</strong>s por crian~as <strong>da</strong> la. serie. A passiva exige a opera-<br />
C;ao <strong>da</strong> permuta, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> outras, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s estruturas a<br />
aparecer<strong>em</strong> mais tardiamente (Menyuk, 1975:206). A ref1exiva, do<br />
tipo "e.u me. Lave.i..", pe<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> entre sujeito e objeto,a1<strong>em</strong><br />
do dominio <strong>da</strong>s restri~6es dos verbos (nao sediz: "e.u me. Y1a.6c.i.."j<br />
e <strong>de</strong> regras morfossintaticas <strong>de</strong> concor<strong>da</strong>ncia dos pronomes.<br />
Parece evi<strong>de</strong>nte que as produc;oes <strong>da</strong>s crianc;as <strong>de</strong>sen -<br />
volv<strong>em</strong>-se no sentido que vai <strong>de</strong> estruturas corn operac;oes sobre<br />
uma unica ca<strong>de</strong>ia para aque1as que requer<strong>em</strong> operac;oes sobre duas<br />
ou mais ca<strong>de</strong>ias subjacentes. A crianc;a se exercita do menos comp1exo<br />
para 0 mais complexo; 0 que nao correspon<strong>de</strong> a do menos expandido<br />
para 0 mais expandido. Dizer: "Me.u pai.. e. mi..Y1ha m~e. tnaba<br />
Lham H e mais comp1exo do que dizer rrMe.u pai.. tnabaLha e. mi..n.ha mae.<br />
tnabaLha". 0 progresso importante nao e tanto 0 numero <strong>de</strong> pala -<br />
vras que a crian~a possa acumu1ar nurn enunciado, mas 0 numero <strong>de</strong><br />
predicados separados que e1a possa conceber e tentar exprimir si<br />
multaneamente (Slobin, 1980:126). "Mais importante do que 0 <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>da</strong> extensao <strong>da</strong> sentenc;a ... existe urn d~senvolvi -<br />
mento <strong>da</strong> comp1exi<strong>da</strong><strong>de</strong> estrutura1 " (McNeill, 1975:170).
Quanto ~ aplica~io <strong>da</strong>s transforma~6es, h~ ain<strong>da</strong> indica<br />
~oes <strong>de</strong> que a coor<strong>de</strong>na~io prece<strong>de</strong> estruturas que envolv<strong>em</strong> encalxes.<br />
Entre as coor<strong>de</strong>nativas, constatou~se a predominancia cia adi<br />
tiva ~. As outras, como "mas", "portanto" e "ou" aparec<strong>em</strong> com me<br />
nor freqUencia. (l) A subordina
- ,-":.-; C 1<br />
;:/\...i\ 1<br />
,<br />
T()'J·r.-r-'\ !<br />
. i I'<br />
2.4 - Quanto is regras <strong>de</strong> co-ocorr~ncia <strong>de</strong> itens num~ ca<strong>de</strong>ia<br />
.&1<br />
_f<br />
1<br />
o uso a<strong>de</strong>quado <strong>da</strong> Ilngua inclui tamb<strong>em</strong> 0 conhecimento<br />
<strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s lexicais. Ca<strong>da</strong> falante dispoe do seu conjunto <strong>de</strong><br />
palavras, como num "dicionario". Essas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s sac marca<strong>da</strong>s por<br />
proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s sintaticas e s<strong>em</strong>anticas que regulam 0 preenchimento<br />
<strong>de</strong> "ca~a~" na ca<strong>de</strong>ia sintagmatica e compatibilizam a co-ocoE<br />
rencia <strong>de</strong> formas numa seqUencia. Noutros termos, a escolha <strong>da</strong>s<br />
palavras esta <strong>em</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> restri~oes sintaticas que, nao<br />
respeita<strong>da</strong>s, resultam <strong>em</strong> frases <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s, e <strong>de</strong> restri~oes<br />
s<strong>em</strong>anticas que informam" sobre os contextos permisslveis a pal~<br />
vra" (McNeill, 1975:234).<br />
Assim e que certas classes sintaticas se exclu<strong>em</strong> mutuamente<br />
na constitui~ao <strong>de</strong> uma mesma uni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em portugu~s,por<br />
ex<strong>em</strong>plo, os artigos e os <strong>de</strong>monstrativos nao co-inci<strong>de</strong>m na <strong>de</strong>ter<br />
mina~ao <strong>de</strong> um mesmo nome. A seqU~ncia : "A e~~a ~a~a"ou "ou uma<br />
aquela ~a~a" soa'ria ao falante do portugu~s como estranha Inclusive,<br />
a crian~a seria capaz <strong>de</strong> reconhecer isso.<br />
As restri~oes s<strong>em</strong>anticas inclu<strong>em</strong> a Ifcategoriza~ao lexi<br />
cal dos verbos" que regula a sele~ao <strong>de</strong> sujeitos e objetos: 0<br />
verbo "bebe~", por ex<strong>em</strong>plo~ requer um sujeito marc ado pelo tra-<br />
~o "animado" e supoe urn objeto <strong>de</strong> natureza llqui<strong>da</strong>, salvo as<br />
utiliza~oes ana16gicas. <strong>em</strong> contextos especlficos.<br />
Em "0 ga~o bebeLL 0 lei~e", tais condi~oes teriam sido<br />
respeita<strong>da</strong>s, como nao 0 teriam sido <strong>em</strong> "0 ga~o leu 0 liv~o";outra<br />
vez, excluindo os usos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> figura<strong>da</strong>. A assimila~ao<br />
dos tra~os s<strong>em</strong>anticos dos itens lexicais correspon<strong>de</strong> a distin-<br />
~oes que, inclusive, separam as palavras <strong>em</strong> classes diferentes.<br />
"A crian~a que carece dos conhecimentos <strong>de</strong> alguns tra~os s<strong>em</strong>anticos<br />
<strong>de</strong> uma palavra aceitara combina~oes grarnaticais que um<br />
adulto, com uma entra<strong>da</strong> lexical mais complexa, assinalara como<br />
anomalas" (McNeill, 1975:235).
Menyuk (1975:185-186) aponta urn quadro <strong>de</strong> senten~as <strong>em</strong><br />
que restri~oes nao sac observa<strong>da</strong>s. Ao final, conclui que, <strong>em</strong>bora<br />
as crianc;as, ja <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> "<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> sintaxe", ain<strong>da</strong><br />
apresent<strong>em</strong> <strong>de</strong>svios quanta as regras contextuais <strong>de</strong> "pessoa","numero"<br />
e "t<strong>em</strong>po", ou outros relativos as regras <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong><br />
base, dificilmente realizam, "se alguma vez 0 faz<strong>em</strong>," aquelas<br />
frases consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s anomalas, do tipo "0 :te.:to e..6:t"5. bJtJ.neando"<br />
(Menyuk, 1975: 188). (1)<br />
Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s nesse domlnio se explicam pela natureza abs<br />
trata dos tra~os s<strong>em</strong>anticos (McNeill, 1975:238).<br />
o dominio do lexico, e <strong>de</strong> suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> categorizac;ao<br />
e restri~oes <strong>de</strong> selec;ao, revela muito <strong>da</strong> aquisi~ao do<br />
"conhecimento <strong>de</strong> mundo" <strong>da</strong> crian~a, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ela sabe que "0 ga:to<br />
na.o .te"ou"o/:te.:tona.o bJt--enea". Assim como revela .a intui~ao com<br />
que a crianc;a <strong>da</strong> a linguag<strong>em</strong> 0 cumprimento <strong>de</strong> outras fun~oes que<br />
nao aquelas propriamente referenciais.<br />
A realiza~ao lingUlstica a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> u1trapassa 0 arranjo<br />
<strong>de</strong> superficie <strong>de</strong> seus con~tituintes, mesmo <strong>em</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com<br />
r"<br />
os padroes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>na~ao ·dBlingua. A relac;ao estabeleci<strong>da</strong> entre<br />
as itens lexicais e os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> impoe tamb<strong>em</strong> condi~oes<br />
restritivas <strong>de</strong> ocorrencia.<br />
Tais consi<strong>de</strong>ra~oes nos parec<strong>em</strong> relevantes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando<br />
tentamos compreen<strong>de</strong>r as aptidoes lingtilsticas <strong>da</strong> crian~a que che<br />
ga ao 19 grau menor e quando consi<strong>de</strong>ramos a func;ao <strong>da</strong> escola no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas aptidoes.<br />
Ja agora, essa crianc;a e urn sujeito falante, socia1men<br />
te a<strong>de</strong>quado, 0 que significa consi<strong>de</strong>ra-lo mais que urn produtor<br />
<strong>de</strong> estruturas gramaticais b<strong>em</strong> forma<strong>da</strong>s. No exercicio <strong>da</strong> lingua -<br />
g<strong>em</strong> que ela <strong>em</strong>preen<strong>de</strong> esta subjacente sua disposi~ao para compre<br />
en<strong>de</strong>r e expressar a forma <strong>de</strong> apreensao <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que, na sua<br />
lingua, esta codifica<strong>da</strong>.<br />
-<br />
(1) A6 c.JU.avu;.cwu..6arn nJta.6 e..6 earn eaJtac.:te.JtZ.6:t--ec.a.6 .6 e.rne..than:te..6 e.rn c.on<br />
~~x~o~ que'a~ ju~~~6~cam.
2.5 - Quanto ao processo <strong>de</strong> generaliza~io<br />
Quando se afirma que a lingua ~ caracteriza<strong>da</strong> por urn<br />
conjunto <strong>de</strong> regras, afirma-se, inclusive, que a lingua ~ sist<strong>em</strong>atica<br />
e, portanto, os eventos <strong>da</strong> instancia individual pautam -<br />
se por principios estaveis e gerais.<br />
A intui~ao <strong>da</strong> crian~a capta espontaneamente esse aspe~<br />
to <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>atiza~ao <strong>da</strong> lingua <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo. "Tao logo note<br />
urn padrao, a crian~a tenta aplica-lo 0 mais amplamente possivel,<br />
produzindo, assim, palavras regulares, mesmo que nunca tenham si<br />
do ouvi<strong>da</strong>s antes" (Slobin, 1980:133). Ate <strong>em</strong> etapas iniciais,<br />
quando as crian~as produz<strong>em</strong> enunciados <strong>de</strong> duas pa1avras apenas,<br />
esse processo <strong>de</strong> "genera1iza
"autoformula<strong>da</strong>s" (Cazacu, 1979:190), como criterio para seu sentido<br />
<strong>de</strong> gramaticali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tal procedimento <strong>de</strong> "regularizac;ao" se<br />
explica nao apenas como extensao <strong>de</strong> formas regulares a context os<br />
on<strong>de</strong> sao previstas irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas ain<strong>da</strong> como evi<strong>de</strong>ncia do<br />
estabelecimento <strong>de</strong> regras na manipulac;ao do estoque lingUIstico<br />
adquirido. Correspon<strong>de</strong>, no curso <strong>da</strong> evoluc;ao lingUIstica, a urn<br />
estaglo ern que a gramatica <strong>da</strong> lingua esta a ser, corn base na sis<br />
t<strong>em</strong>atizac;ao, efetivamente domina<strong>da</strong>, <strong>de</strong> forma ativa e racional.Pos<br />
teriormente, outras estrategias vao ser aciona<strong>da</strong>s para a apreensac<br />
<strong>da</strong>s formas irregulares <strong>da</strong> lingua.<br />
Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> realizac;oes infantis que se po<strong>de</strong>riam classificar<br />
como "<strong>de</strong>svios" resultam <strong>de</strong>ssa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> generaliza -<br />
c;ao, a qual, nesta fase, se processa como se,nas lInguas,a todos<br />
os <strong>de</strong>talhes se pu<strong>de</strong>sse aplicar a rigi<strong>de</strong>z <strong>da</strong> regularizac;ao absol~<br />
ta. A crianc;a que diz: "MiYLhaf.l c.o.tega.6 e meu.6 c.o.tegof.l" acredita<br />
estar cumprindo as instruc;oes gramaticais quanta a categoria <strong>de</strong><br />
genero, ern portugues. Ou outros ex<strong>em</strong>plos como: "6azi", como " eu<br />
vou a pe, a pe.6Z.6.6imo, como "eu n-
ce<strong>de</strong>r como "se soubesse conscient<strong>em</strong>ente" <strong>de</strong>ssas regras. Na prati<br />
ca, ela as sabe e vai arnpliando esse saber, que, na formula~ao<br />
<strong>de</strong> Chomsky e <strong>de</strong>finido como "irnpllcito" e "intuitivo" (Lyons,1974:<br />
13). Quando a crian~a pergunta : "Mainha, voc~ thabalh~ hoje?"<br />
curnpre urn conjunto <strong>de</strong> regras - do fonologico ao pragmatico - as<br />
quais nao saberia explicitar. Nao saberia, por ex<strong>em</strong>plo, que usou<br />
urn vocativo, sujeito, predicado, circunstancial <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, ( para<br />
so falar <strong>de</strong> alguns el<strong>em</strong>entos sintaticos) . No entanto, essas fun<br />
~oes foram preenchi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, como se a crian~a tivesse<br />
domlnio expllcito <strong>da</strong>s regras observa<strong>da</strong>s.<br />
o que significaria, ain<strong>da</strong>, 0 fato <strong>de</strong> a crlan~a se autocorrigir<br />
e refazer seus enunciados, senao, a "consciencia" <strong>de</strong><br />
ter violado uma regra <strong>da</strong> lIngua? A fala dos outros, colegas e<br />
adultos, tamb<strong>em</strong> constitui alvo <strong>da</strong> aprecia~ao corretiva <strong>da</strong> crian-<br />
~a, que chega a perceber varia~oes dialetais ou viola~ao <strong>da</strong> a<strong>de</strong>qua~ao<br />
lingUlstica as condi~oes pragmaticas <strong>da</strong> situa~ao. A anali<br />
se <strong>de</strong> urn dialogo entre duas crian~as po<strong>de</strong> real~ar este aspecto:-<br />
"Tu to. comendo 0 qu~, Vani? - PUh~ <strong>de</strong> batata! Renata prossegliiu:<br />
- Claho! nao e:? E Dani: - Nao, t<strong>em</strong> PUJ1.e-<strong>de</strong> maCax.eiha tambe:m".Para<br />
Dani havia a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> relativizar 0 substantivo "pure".<br />
Para Renata,\ essa relativa~ao soou redun<strong>da</strong>nte e ela a rejeitou.<br />
Como se Danii'tivesse violado a maxima griciana <strong>da</strong> "quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>" .<br />
Intuitivamente, Dani soube <strong>de</strong>codificar a que ponto <strong>de</strong> sua fala<br />
se referia 0 "Claho!"<strong>de</strong> Renata, e justificou sua escolha. Arnbas<br />
as crian~as tern 6 anos e estao na la. serie.<br />
No exercicio <strong>de</strong>sse saber "inconsciente e irrefletido"<br />
(Lyons, 1974 29), a crian~a parece nao progredir por "imita -<br />
<strong>de</strong> a lingua dos adu1tos". Cazacu (1979) e Slobin (1980) advert<strong>em</strong><br />
contra a utiliza~ao <strong>de</strong> pesquisas para justificar <strong>de</strong> forma extr<strong>em</strong>a<strong>da</strong>,<br />
ora a consistencia <strong>de</strong> teorias <strong>em</strong>piristas ora a <strong>de</strong> teorias<br />
inatistas. Esses radicalismos parec<strong>em</strong> assentar sobre a <strong>de</strong>saten -<br />
~ao nas implica~oes dos processos <strong>de</strong> aquisi~ao <strong>da</strong> lIngua que nao<br />
se po<strong>de</strong>m reduzir a meros condicionamentos comportamentais n<strong>em</strong> ao<br />
fatalismo <strong>de</strong> contingentes inatos.<br />
A aquisi~ao <strong>da</strong> 1inguag<strong>em</strong> se constitui num processo <strong>de</strong><br />
carater ativo, criador, <strong>em</strong> que a cria~a proce<strong>de</strong> como urn "eeo se-<br />
1etivo" (Cazacu, 1979:174), s<strong>em</strong> a inercia <strong>da</strong> imita~ao passiva e<br />
<strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> mecanica. "A dicotomia entre hereditarie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
meio tern sido perniciosa a psic010gia. Tern sido perniciosa,principalmente,<br />
porque possui valor pol<strong>em</strong>ico e obscurece uma questao<br />
muito mais basica, ou seja, a <strong>da</strong> intera~ao entre as capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
inatas e a experiencia "(McNeill, 1975:134).<br />
Em sintese, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar, no <strong>de</strong>correr do processo<br />
<strong>de</strong> aquisi~ao <strong>da</strong> lingua, 0 fenomeno <strong>de</strong> or<strong>de</strong>na~ao com que a crian-<br />
~a vai operando, 0 que, numa certa altura, passa a acontecer <strong>de</strong><br />
forma mais IIatiVa" e "racional". Nes te es tagio, .a crian~a proce-<br />
\<br />
<strong>de</strong> a "autoformula~ao" <strong>de</strong> regras, que a leva a sUb,stituir formas<br />
"irregulares" por outras "regulares" na suposi~ao <strong>de</strong> que os padroes<br />
lingtiisticos sac invariantes. Os efeitos <strong>de</strong>sse procedimento<br />
<strong>de</strong> "regulariza~ao" sac os lI<strong>de</strong>svios" <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> infantil,<strong>de</strong>~<br />
vios que, nessa perspectiva, recobram 0 valor indicial <strong>de</strong> urn pr~<br />
cesso cia aprendizag<strong>em</strong> <strong>em</strong> curso.
REALIZACOES PREDOMINANTES DA CRIANCA A NIVEL DA EXPERIENCIA<br />
J<br />
J<br />
-<br />
Admitir que a crlan~a na faixa dos 6 a 7 anos ja domina<br />
as regras basicas <strong>de</strong> constitui~ao dos enunciados <strong>da</strong> lIngua que<br />
os adultos produz<strong>em</strong> e, implicitamente, aceitar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />
crian~a para produzir e compreen<strong>de</strong>r textos, uma vez que to<strong>da</strong><br />
comunica~ao verbal so se efetua atraves do texto.<br />
A referencia as estruturas dos enunciados e urn proced~<br />
mento metodologico e foi adota<strong>da</strong> a fim <strong>de</strong> possibilitar uma compreensao<br />
mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>da</strong>s condi~oes lingtiisticas <strong>da</strong> crian~a ao<br />
ingressar no 1 9 grau menor. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, esses enunciados jamais<br />
aparec<strong>em</strong> como componentes isolados. Sao constituintes <strong>de</strong> um con<br />
junto maior. Mesmo quando aparec<strong>em</strong> fragmentados, constitu<strong>em</strong> com<br />
outros el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong>. situa~ao uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> textual.<br />
\<br />
"A fala holofrastica" e a "fala telegrafica" sao 0 pr~<br />
melro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> texto verbal <strong>da</strong> crian~a, nessas condi~oes, muito<br />
mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos el<strong>em</strong>entos constextuais que <strong>em</strong> etapas subse -<br />
qtientes. No entanto, ja agora, sao textos funcionais, a<strong>de</strong>quados<br />
as condi~oes <strong>da</strong> atua~ao comunica tiva. Interessa-nos <strong>de</strong>senvolver es<br />
te aspecto pela relevancia que assume na fun<strong>da</strong>menta~ao <strong>da</strong>s propastas<br />
levanta<strong>da</strong>s adiante.<br />
3.1 - Aspectos pragmaticos<br />
A experlencia lingUlstica que a crian~a t<strong>em</strong> e, <strong>em</strong> utima<br />
analise, uma experiencia <strong>de</strong> produ~ao e recep~ao <strong>de</strong> textos. Si<br />
multanea a aquisi~ao <strong>da</strong>s estruturas dos enunciados se processa<br />
a competencia textual, que tamb<strong>em</strong> acontece <strong>em</strong> dimensoes granuais.
De forma integra<strong>da</strong>, a produ~ao <strong>de</strong> textos <strong>da</strong> crian~a<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> aqui na mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> oral - acontece <strong>em</strong> situa~oes natu<br />
rais <strong>de</strong> comunica~ao, as quais a crian~a tenta ajustar-se. 0 mo<strong>de</strong><br />
10 <strong>da</strong> atua~ao verbal que a crian~a <strong>de</strong>senvolve conforma-se a exp~<br />
riencia a que ela esta continuamente exposta. A lingua com que a<br />
crian~a entrou <strong>em</strong> contacto foi a lingua dos textos, <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
para fins sociais, comunicativos e praticos, diversificados. Esta<br />
foi, inClusive, a lingua que ela internalizou. A imersao <strong>da</strong><br />
crian~a <strong>em</strong> situa~oes reais <strong>de</strong> comunica~ao nao apenas <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia<br />
a constru~ao <strong>de</strong> uma gramatica particular, mas habilita-a para a<br />
interioriza~ao <strong>da</strong> a<strong>de</strong>qua~ao do lingtiistico aos contextos <strong>de</strong> cornu<br />
nica~ao. Sao aptidoes que se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> <strong>em</strong> paralelo. A crian~a<br />
nao apren<strong>de</strong> a lingua para <strong>de</strong>pois usa-la.· A crian~a apren<strong>de</strong> a li~<br />
gua usando-a. Noutras palavras, 0 saber <strong>da</strong> lingua se processa j~<br />
to com 0 saber do uso. Urn supondo 0 outro, simultanea e necessariamente.<br />
A proposi to, conv<strong>em</strong> ressal tar a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> com que,<strong>de</strong>~<br />
<strong>de</strong> muito cedo, a crian~a manipula os padroes supra-segmentais <strong>da</strong><br />
lingua, <strong>de</strong> maneira a ajustar-se as particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s intencionais<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> realiza~ao lingUistica.<br />
A <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia contextual <strong>da</strong> fala <strong>da</strong>s crlan~as nao as<br />
impe<strong>de</strong> <strong>de</strong>, mesmo antes <strong>de</strong> chegar a la. s~rie, fazer consi<strong>de</strong>ra ~<br />
~oes sobre a lingua que usa. No entanto, tais reflexoes surg<strong>em</strong><br />
a proposito, contextual ~ funcionalmente. Nao tern 0 carater <strong>da</strong>s<br />
formula~oes artificiais e vazias <strong>da</strong>s abstra~oes <strong>de</strong>scontextualiza<strong>da</strong>s,<br />
a que. as vezes, se submete a crian~a na escola.<br />
Uma tal perspectiva correspon<strong>de</strong> a concep~ao <strong>de</strong> que a<br />
crian~a <strong>de</strong>senvol ve, para al~m <strong>de</strong> uma "competencia lingtiistica','uma<br />
outra "comunicativa" capaz <strong>de</strong> faze-la prover a a<strong>de</strong>qua~ao do componente<br />
verbal as condi~oes <strong>de</strong> usa e as "conven~oes discursivas~<br />
"Qu<strong>em</strong> apren<strong>de</strong> uma lingua apossa-se nao apenas <strong>da</strong>s regras a ser<strong>em</strong><br />
aplica<strong>da</strong>s num sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> signos (processo <strong>de</strong> constitui~ao do se~<br />
tido ao nivel lingtiistico) mas tamb<strong>em</strong> <strong>da</strong>s normas <strong>de</strong> intera~ao sQ<br />
cial num complexo dominio <strong>de</strong> comunica~ao verbal e nao-verbal"<br />
(Schmidt, 19878:44).
3.2 - Aspectos funcionais<br />
A produ~ao <strong>de</strong> textos pe1a crian~a, na intera~ao imediase<br />
com as adu1tos, t<strong>em</strong> predominant<strong>em</strong>ente um carater instrumental,<br />
ja que objetiva conseguir as efeitos <strong>de</strong> que precisa na satisfa~ao<br />
<strong>de</strong> suas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s basicas. Correspon<strong>de</strong>, <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, ao<br />
"usa <strong>em</strong>pratico" <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, no sentido atribuido par Ehrlich ao<br />
classificar as usos <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> escrita. (1)<br />
As "palayras-frase" <strong>da</strong> crian
Progressivamente, no entanto, a crian~a vai ampliando<br />
o contacto com 0 mundo, expandido seus contextos <strong>de</strong> comunica~ao<br />
e avan~ando <strong>em</strong> dire~ao ao texto "reportativo", no sentido que<br />
lhe <strong>da</strong> tamb<strong>em</strong> Gruber. Ou seja, vai <strong>em</strong>ergindo na crian~a a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fa1ar sobre coisas r<strong>em</strong>ovi<strong>da</strong>s do t<strong>em</strong>po e do 1ugar <strong>da</strong><br />
comunica~ao. Nao apenas pOT aque1as razoes <strong>em</strong>plricas acima real<br />
~a<strong>da</strong>s. Na concep~ao <strong>de</strong> Piaget, a i<strong>da</strong><strong>de</strong> dos 5 a 6 anos correspo~<br />
<strong>de</strong> a fase do "segundo nlve1 pre-operatorio que assina1a 0 inlcio<br />
<strong>da</strong> "<strong>de</strong>scentra~ao". Para e1e, este fenomeno consiste na "pa~<br />
sag<strong>em</strong> <strong>de</strong> urn egocentrismoradica1 a uma <strong>de</strong>scentra~ao re1ativapor<br />
objetiva~ao e especializa~ao" (Piaget, 1983: 15). Cresce a habi<br />
li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> crian~a para perceber os objetos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> externa<br />
como "diferentes <strong>de</strong> si mesma" e <strong>de</strong> urn ponto <strong>de</strong> vista diferente<br />
do seu. E 0 avan~o que Piaget c1assificou como sendo a caminha<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> crian~a <strong>da</strong> "fala egocentrica" para a "fala socia1iza<strong>da</strong>".<br />
o "contar 0 que aconteceu", que inclui mais que atuar<br />
sobre pessoas/objetos para satisfa~ao <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s imediatas,<br />
constitui urn <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> crian~a na dire~ao <strong>de</strong> uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
"representativa-simbo1ica" <strong>de</strong> compreensao <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> .<br />
Significa urn po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> "distanciar-se", <strong>de</strong> abstrair do real ime-<br />
. ~<br />
diato para reproduzi-lo <strong>de</strong>5c~ntextua1mente (no sentido <strong>de</strong> separar-se<br />
<strong>da</strong>s circunstancias reais <strong>de</strong> espa~o e t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que os referentes<br />
se situam). Para tanto, passam a ser necessarias as es<br />
truturas referentes as categorias <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, lugar, modo, e as<br />
re1a~oes <strong>de</strong> subordina~ao, coor<strong>de</strong>na~ao e disjun~ao.<br />
Kato (1986:23) faz alusao a estudos <strong>de</strong> Givon, nos<br />
quais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma perspectiva evolucionista, se <strong>de</strong>fine 0 <strong>de</strong>sen -<br />
vo1vimento 1ingUIstico como indo <strong>em</strong> "dire~ao a gramaticali<strong>da</strong><strong>de</strong>~<br />
quer dizer, <strong>de</strong> realiza~oes pragmaticas, contextualmente <strong>de</strong>pen -<br />
<strong>de</strong>ntes, para aquelas..governa<strong>da</strong>s por "organiza
o <strong>de</strong>staque na produ~ao oral <strong>da</strong> crian~a vai, s<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong>,<br />
para sua experlencia <strong>de</strong> conv,ersa~ao, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza dialo<br />
gica, interativa e socializante que a crian~a, no dia-a-dia, rea<br />
liza com adultos e outras crian~as. A opiniao dominante e que a<br />
conversa~ao constitui a experlencia lingUIstica e comunicativa<br />
mais forte na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> crian~a. As historinhas que elas produz<strong>em</strong>,<br />
cont<strong>em</strong>, quase s<strong>em</strong>pre, dialogos, numa reprodu~ao do que, na sua<br />
experiencia, e significativamente vivido. Gagne (1983:478), ressaltando<br />
a importancia <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> verbal como meio <strong>de</strong> ensino e<br />
aprendizag<strong>em</strong>, refere-se a tese central <strong>de</strong> Wells, segundo a qual<br />
"a conversa~ao fornece 0 contexto natural do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />
linguag<strong>em</strong> e que a crian~a apren<strong>de</strong> explorando 0 mundo pelas intera~oes<br />
verbais que ela mant<strong>em</strong> com as outras pessoas".<br />
(1) A pJz.opo.oao, Ka.:to U qg6:J 051 due..nvo'£ve.. urn he...owno .ooblLe.. "a. te...oe.. !SunuE..<br />
w.ta." que.. e..xplic.a. .6ob e...o.ta.peJt.6pe.mva. a. a.qtUJ.:,i~iio e. <strong>de</strong>...oe..nvo.tvhrle..nto<br />
<strong>da</strong>. .te.duha. e. e..6 c.JLlia..
4 - A CRIANCA NO PROCESSO DE AQUISICAO DA LINGUA ESCRITA<br />
J .I<br />
A crian~a nas primeiras series do 1 9 grau menor vivencia<br />
ain<strong>da</strong> a aquisi~io individual <strong>da</strong> escrita; no entanto,' a inicia~ao<br />
processa<strong>da</strong> nesse campo permite-nos preve-la como <strong>em</strong> fase<br />
<strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>~ao inicial <strong>da</strong> leitura e escrita. (1)<br />
Este topico tenta, sumariamente, situar algumas <strong>da</strong>s<br />
condi~oes <strong>da</strong> crian~a no inicio do 1 9 grau menor <strong>em</strong> rela~ao a lin<br />
gua escrita. Pareceu-nos conveniente <strong>da</strong>r uma i<strong>de</strong>ia geral <strong>de</strong>ssa<br />
questao como introdu~io necessaria aos capitulos seguintes.<br />
Partindo do ponto <strong>de</strong> vista cognitivo, a crian~a no perlodo<br />
<strong>em</strong> que, normalmente, ingressa no 1 9 grau menor, encontra -<br />
se <strong>em</strong> condi~oes terminais <strong>da</strong> fase <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> "realismo nominal".<br />
Segundo Piaget (2) esta fase consiste <strong>em</strong> a crian~a confundir "no<br />
mes" e "coisas", al<strong>em</strong> <strong>de</strong> atribuir go\:; nomes um valor logico Intrlnseco.<br />
Assim e que, conforme ex<strong>em</strong>iplos do autor, "a lua nao p~<br />
dia ter 0 nome <strong>de</strong> sol "porque" 0 sol esquenta e a lua ilumina".<br />
Carraher e Rego (1981) realizaram um estudo com 0 obj~<br />
tivo <strong>de</strong> estabelecer a rela~io entre 0 "realismo nominal" e a<br />
pronti<strong>da</strong>o <strong>da</strong> crian~a para 0 exercicio <strong>da</strong> leitura/escrita. Partiram<br />
<strong>da</strong> hipotese <strong>de</strong> que "as crian~as que confun<strong>de</strong>m 0 significante<br />
e 0 significado <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apresentar dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s na aquisi~ao <strong>da</strong><br />
leitura". Os resultados indicaram que a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> focalizar<br />
(1) No.6.6o.6 pf1..opo.6ilo.6, no pf1..u,e.V1.te.bta.balJw, dJJr..ig<strong>em</strong>-.6e. a.o du,e.l1vo..£.v..£me.V1.to<br />
u,eo..ta.!l..<strong>da</strong>. e!l..ia.I1~a.ja a...t£a.6e.tiza.<strong>da</strong>.. ExetuZmo.6 eOVL.6i<strong>de</strong>.na.~ou, f1..e...ta.eiona.-<br />
<strong>da</strong>..6 eom 0 p~odo u,pe.eZ£ieo <strong>da</strong>. a...t£a.6e.tiza.~ao.
a palavra, enquanto sequencia <strong>de</strong> sons, e fun<strong>da</strong>mental para a com<br />
preensao <strong>de</strong> urn sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> escrita alfabetica. Efetivamente, a<br />
distin~ao entre significante e significado, b<strong>em</strong> como a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a rela~ao entre palavra fala<strong>da</strong> e palavra escri<br />
ta, tern sido aponta<strong>da</strong>s como requisito para a apropria~ao <strong>da</strong> escrita.<br />
Kato(1986:l9) l<strong>em</strong>bra como "a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> simbolizac;ao<br />
do hom<strong>em</strong> come~a por uma representa~ao <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m - isto e,<br />
figuras representando coisas -, para so mais tar<strong>de</strong> atingir uma<br />
etapa <strong>em</strong> que representa a fala, ja <strong>em</strong> uma simbolizac;ao <strong>de</strong> segun<strong>da</strong><br />
or<strong>de</strong>m". Em sintese, a crianc;a rec<strong>em</strong>-alfabetiza<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve ter che<br />
gado a distinc;ao entre "palavra" e "objeto real", 0 que a conduz<br />
a distin~ao metalingUlstica entre os el<strong>em</strong>entos do significante e<br />
do<br />
significado.<br />
o contacto prevlo <strong>da</strong> crianc;a com a representa~ao grafi<br />
ca <strong>da</strong> lIngua fornece-lhe el<strong>em</strong>entos para construir hipoteses sobre<br />
o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> lIngua escrita. Entre estas hipoteses ha aquela que<br />
parece conformar-se a intui~ao <strong>da</strong> crian~a quanta a isomorfia <strong>da</strong><br />
lIngua oral e escrita: a crianc;a supoe que a escrita correspon<strong>de</strong><br />
a transcri~ao <strong>da</strong> fala. As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s com que se distingu<strong>em</strong> na<br />
escrita os limites <strong>de</strong> separac;ao <strong>da</strong>s palavras comprovam essa supo<br />
sic;ao.,.. \l.. crianc;a quando escreve "upe" (0 pe) tenta representar a<br />
\<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> prolac;ao <strong>de</strong>sse conjunto que correspon<strong>de</strong> a sua experiencia<br />
fala<strong>da</strong>.<br />
Se aceitamos a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que, numa etapa .•. inicial, a cri<br />
an~a atribui a escrita a func;ao <strong>de</strong> representar inteiramente a<br />
fala, com certeza mu<strong>da</strong> 0 tratamento pe<strong>da</strong>gogico com que orientamos<br />
a crianc;a na aquisl~ao <strong>da</strong> lIngua escrita. A perspectiva do "erro"<br />
assume uma dimensao indical <strong>de</strong> urn processo <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
que <strong>de</strong>man<strong>da</strong> condi~oes a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s <strong>de</strong> constituir-se como "sist<strong>em</strong>a<br />
alternativo <strong>de</strong> sinais, que r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> diretamente a uma significa -<br />
c;ao, tal como os signos acusticos" (Ferreiro, 198~:272).
As consi<strong>de</strong>ra~6es que fiz<strong>em</strong>os sobre as condi~6es lingUlsticas<br />
<strong>da</strong> crian~a ao iniciar 0 1 9 grau menor, ate aqui, pres<br />
cindiram <strong>de</strong> referencia as rela~6es entre as varia~6es <strong>de</strong>ssas con<br />
di~6es e as varia~6es do meio social <strong>em</strong> que vive a crian~a. Tal<br />
abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> nao significa op~ao por uma crian~a "i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong>", abs<br />
traI<strong>da</strong> <strong>da</strong> experiencia. Decorre <strong>da</strong> finali<strong>da</strong><strong>de</strong> que atribuImos .a<br />
esta primeira parte.<br />
Quis<strong>em</strong>os com a sumaria men~ao as aquisi~6es <strong>da</strong> crian-<br />
~a ressaltar a competencia lingUIstica e comunicativa ja internaliza<strong>da</strong><br />
pela crian~a nessa fase. Tal ponto constitui um dos<br />
fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> nossa proposta <strong>de</strong> integra~ao com que a escola <strong>de</strong><br />
ve proce<strong>de</strong>r no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s aptid6es comunicativas <strong>da</strong><br />
crian~a. Noutras palavras, pareceu-nos util apontar, como pr~~<br />
posto, ao professor <strong>de</strong> lIngua materna, a concep~ao <strong>de</strong> que a cri<br />
an~a disp6e <strong>de</strong> conhecimentos lingUIsticos, sabe a<strong>de</strong>quar esses<br />
conhecimentos as circunstancias concretas <strong>da</strong>s situa~6es <strong>de</strong> comu<br />
nica~ao e, portanto, nao vai a escola para apren<strong>de</strong>r a lIngua. E<br />
nosso parecer que a consciencia <strong>de</strong>sse pressuposto po<strong>de</strong> orientar<br />
o professor para 0 princIpio consensualmente <strong>de</strong>fendido pela Psi<br />
colingUIstica, (1) segundo 0 q~al a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> sist<strong>em</strong>atica do ensino<br />
<strong>da</strong> lIngua <strong>de</strong>ve partir <strong>da</strong>s condi~6es do aluno. De outro Je~<br />
to, violenta-se 0 <strong>de</strong>senvolvimento real pretendido.<br />
Nao per<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> vista, portanto, pelo menos implicita<br />
mente, a vincula~ao <strong>da</strong>crian~a, enquanto falante, com sua reali<br />
<strong>da</strong><strong>de</strong> sociocultural. S<strong>em</strong> preten<strong>de</strong>r esten<strong>de</strong>r aqui consi<strong>de</strong>ra~6es<br />
. (J) Ve-ja-.6e- CazaCLt (J979L SlobJ.J'/. U9801, FeMeA}W (J98P4. TiloVl.e (1983) ,<br />
GagVl.e (J983), entne outhO.6.
sobre as diferentes condi~6es lingUisticas <strong>de</strong>ssas crian~as, <strong>em</strong> re<br />
la~ao as diferentes condi~oes sociais <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>, jUlgamos OPO!<br />
tuno fazer alguma referencia a esse aspecto, no sentido nao tanto<br />
<strong>de</strong> "explicar" ou "discriminar" essas diferenc;as. Mas, principal -<br />
mente, tentando advertir para 0 risco <strong>em</strong> que po<strong>de</strong>mos incorrer,ta~<br />
to quando ignoramos as condic;oes <strong>da</strong> crianc;a, como quando vincula-<br />
~os as diferen~as dialetais <strong>de</strong> nossos alunos/a diferenc;as <strong>de</strong> apti<br />
does e potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s lingUisticas.<br />
Se as sugest6es finais que constitu<strong>em</strong> 0 nucleo <strong>de</strong> nossa<br />
proposta nao se dirig<strong>em</strong> especificamente a <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> classe social<br />
<strong>de</strong> crian~as, e porque partimos <strong>de</strong> pressupostos que jUlgamos<br />
produtivos para escolas <strong>de</strong> alunos favorecidos, ou nao, socialmente.<br />
Vimos como a aquisi~ao <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> pela crianc;a se pr~<br />
cessa nas circunstancias naturais <strong>de</strong> use, pela simples exposlc;ao<br />
<strong>da</strong> crianc;a as realizac;oes do meio. Como tal, a lingua se <strong>de</strong>fine<br />
como "aquisic;ao cultural" (Mattoso, 1974), construto convencionalmente<br />
<strong>de</strong>senvo1vido e socialmente aprendido.<br />
To<strong>da</strong> lingua <strong>em</strong> uso esta vincula<strong>da</strong> a <strong>de</strong>terminado grupo<br />
social e e afeta as suas multiplas manifestac;oes cu1turais. Urndos<br />
aspectos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> consiste na sua ininterrupta<br />
crlac;ao e produc;ao, fruto <strong>da</strong> atuac;ao do falante, ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />
"livre" e "<strong>de</strong>limitado". Em soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> com as variac;oes do momento<br />
presente e <strong>em</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia <strong>da</strong> h~ranc;a coletiva que confere a<br />
lingua a dupla dimensao <strong>de</strong> ser, simultaneamente "urn sist<strong>em</strong>a estabelecido<br />
e uma evoluc;ao","uma instituic;ao atual e urn produto do<br />
passado" (Saussure, 1973:16). Ou seja, se a linguag<strong>em</strong> e instrumento<br />
<strong>de</strong> interac;ao social e, tamb<strong>em</strong>, <strong>de</strong> certa forma, resultado <strong>da</strong>s<br />
condic;oes socioculturais <strong>em</strong> que ocorre. Tal posic;ao nao implica<br />
qualquer concepc;ao <strong>de</strong>terminista <strong>da</strong>s influencias do meio sobre a<br />
linguag<strong>em</strong>. Distorc;oes na percepc;ao <strong>de</strong>sse aspecto po<strong>de</strong>m trazer lmplicac;oes<br />
discriminatorias e preconceituosas que consi<strong>de</strong>ramos nocivas,<br />
principa1mente tendo <strong>em</strong> conta a func;ao social <strong>da</strong> escola.<br />
gua . Favoreceu a consi<strong>de</strong>ra~ao <strong>de</strong> fenornenos extralingUlsticos co<br />
rno fatores <strong>de</strong>terrninantes <strong>da</strong> diferencia~ao dialetal e discursiva.<br />
Interessa-nos acrescentar breve cornentario a urn aspecto<br />
<strong>de</strong> carater sociolingUlstico que, tendo muito <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, po<strong>de</strong><br />
prestar-se a i<strong>de</strong>ologias que <strong>de</strong>fen<strong>da</strong>m a "<strong>de</strong>ficiencia cultural"<strong>da</strong>s<br />
crian~as <strong>de</strong> classes menos favoreci<strong>da</strong>s. Nosso <strong>em</strong>penho justifica -<br />
se pelo receio, nao totalmente infun<strong>da</strong>do, <strong>de</strong> que, entre nos, tam<br />
b<strong>em</strong> se possa confundir "diferen~a" com "<strong>de</strong>ficiencia"; e essa con<br />
fusao nos exima do reexame sobre a questao do ensino <strong>da</strong> lIngua.<br />
Marcuschi (1975) faz uma introdu~ao crltica a teoria<br />
<strong>de</strong> Basil Bernstein, sociologo ingles, que pelos anos sessenta/d~<br />
fen<strong>de</strong>u a existencia <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> como resultado<br />
<strong>de</strong> diferentes condi~oes sociais dos falantes, do que <strong>de</strong>corre<br />
uma <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia causal entre "classe social", linguag<strong>em</strong> e reE:<br />
dimento escolar<strong>da</strong> crian~a. Esses diferentes tipos <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>,<br />
Bernstein classificou-os, segundo uma serie <strong>de</strong> caracterlsticas lin<br />
gUlsticas, como "codigo restrito" e "codigo elaborado". Consi<strong>de</strong>rou<br />
0 meio social como fat or <strong>de</strong> importancia primaria para 0 surgi<br />
mento <strong>de</strong> um ou outro codigo, ou seja, atribuiu aos processos <strong>de</strong><br />
socializa~ao que ocorr<strong>em</strong> nas difer\mtes classes sociais a fun~ao<br />
i<br />
causadora <strong>de</strong>sses diferentes codigos lingUlsticos. Na sua perspectiva,<br />
a forma <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> esta, pois, correlaciona<strong>da</strong> com a vari~<br />
vel classe social. Bersnstein referiu-se apenas a duas classes so<br />
ciais: a "classe media" e a "classe operaria" e admitiu que as<br />
condi~oes <strong>de</strong> socializa~ao <strong>da</strong>s crian~as <strong>da</strong> classe media favoreciam<br />
a aquisi~ao dos codigos restrito e elaborado. Enquanto as crian-<br />
~as <strong>da</strong> classe operaria adquiriarn apenas 0 codigo restrito.<br />
Excusamo-nos <strong>de</strong> explicitar a <strong>de</strong>fini~ao lingUlstica dos<br />
dois codigos, e passamos a consi<strong>de</strong>ra~oes que interessam aos objetivos<br />
<strong>de</strong>ste it<strong>em</strong>.<br />
Soares (1986) res salta a "involutaria contribui~ao <strong>de</strong><br />
Bernstein" para a tese do "<strong>de</strong>ficit lingUlstico" <strong>de</strong> crian~as <strong>de</strong><br />
meios sociais <strong>de</strong>sfavorecidos, aceita durante os anos sessenta,que<br />
resul tou na "educa~ao compensa toria" <strong>de</strong> inicia tiva amaricana .Gagne<br />
(1983, 476-481) tamb<strong>em</strong> se refere as conse,~Uencias perniciosas <strong>de</strong><br />
Com efeito 0 fracasso e evasao escolar t<strong>em</strong>-se constitUldo<br />
<strong>em</strong> <strong>de</strong>safio e probl<strong>em</strong>a social, principalmente nos paises<br />
mais pobres. Algumas explica~6es, que parec<strong>em</strong> fun<strong>da</strong>mentar-se nas<br />
diferen~as <strong>de</strong> classes sociais, tern acentuado uma rela~ao <strong>de</strong> cau<br />
sali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre "pobreza" e "<strong>de</strong>ficiencia". Em se tratando especi.<br />
ficamente <strong>de</strong> quest6es lingUlsticas.tais rela~6es se traduz<strong>em</strong> e~<br />
tre "pobreza" e "incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> lingUlstica". Disso <strong>de</strong>corre uma<br />
aceita~ao meio mitica <strong>de</strong> inferiori<strong>da</strong><strong>de</strong>,um arraigado sentimento<br />
<strong>de</strong> ignorancia e incompetencia no campo <strong>da</strong> lIngua.<br />
"Segundo Labov, uma <strong>da</strong>s serias falacias <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong><br />
priva~ao verbal e que ela se fun<strong>da</strong>menta <strong>em</strong> resultados espurios,<br />
que nao passam <strong>de</strong> um artefato <strong>da</strong> metodologia <strong>de</strong> pesquisa utiliza<strong>da</strong>"<br />
(Soares, 1986: 45).<br />
Qualquer Vlsao cientifica <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> t<strong>em</strong> que pres -<br />
cindir <strong>de</strong> avalia~6es valorativas, as quais, quando acontec<strong>em</strong>,d~<br />
v<strong>em</strong>-se a fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, politica ou economica. 0 "cer<br />
to", 0 "errado" nao sao diferen~as <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estritamente lingUIst'ica<br />
e sob este prisma nao po<strong>de</strong>m ser classificados como "me<br />
Ihor" e "pior".<br />
Em resumo: essas pon<strong>de</strong>ra~6es cumpr<strong>em</strong><br />
.<br />
aqui varias inten~oes.<br />
Primeiro elas se ligam ao objetivo central <strong>de</strong>sta primeira<br />
parte, 0 qual preten<strong>de</strong>u ressaltar a competencia lingUlsti<br />
ca e comunicativa <strong>da</strong> crian~a no ingresso do 1 9 grau menor, que<br />
a escola nao po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar. Em segundo lugar, quis<strong>em</strong>os fazer<br />
uma chama<strong>da</strong> explicita para 0 fato <strong>de</strong> que essa competenciad~<br />
corre <strong>da</strong> exposi~ao natural <strong>da</strong> crian~a a experiencia social <strong>da</strong><br />
lIngua don<strong>de</strong> resultam as varia~oes dialetais. Por outras palavras,<br />
<strong>em</strong> nenhum momento quis<strong>em</strong>os pensar a crian~a enquanto tipo<br />
meramente i<strong>de</strong>al, mas s<strong>em</strong>pre tiv<strong>em</strong>os como pressuposto a crian~a<br />
concreta e inseri<strong>da</strong> no seucontexto historico. Finalmente, preten<strong>de</strong>mos<br />
advertir para os riscos <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ologia, facilmente veic~<br />
la<strong>da</strong>, que associa carencia economica a incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual<br />
e <strong>de</strong>ficiencia lingUlstica.<br />
"0
o nucleo <strong>de</strong> nos sa proposta, uma vez que privilegia 0<br />
carater comunicativo <strong>da</strong> lingua, aponia, por conseguinte, para<br />
alternativas que conduz<strong>em</strong> a uma maior produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino,<br />
quer ele se processe <strong>em</strong> escolas <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s elites sociais,quer<br />
nas escolas <strong>de</strong> classes menos favoreci<strong>da</strong>s.
SEGUNDA PARTE - 0 LIVRO DIDATICO NO 19GRAU MENOR<br />
CONTEUDO E PROCEDIMENTOS<br />
6 - PRESSUPOSTOS EMPIRICOS E TEORICOS PARA A ANALISE DO LIVRO<br />
DIDATICO<br />
Segundo indicarnos na Introdu~ao, 0 presente estudo tern<br />
<strong>em</strong> vista apresentar el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> proposta para 0 ensino <strong>da</strong> lin<br />
gua materna no 19 grau menor, objetivando integrar os conheci -<br />
mentos <strong>da</strong> crian~a com aqueles que a escola preten<strong>de</strong> oferecer.<br />
Alguns principios foram estabelecidos como pressupostos,<br />
na primeira parte.<br />
.\<br />
? .~<br />
Passar<strong>em</strong>os agora a uma analise do "Livro Di<strong>da</strong>tico",vl<br />
sando avaliar ate que ponto os referidos pressupostos sac levados<br />
<strong>em</strong> conta na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar encaminha<strong>da</strong> por esse instru -<br />
mento.<br />
Dentre esses principios re1ernbramos alguns que consi<strong>de</strong><br />
rarnos rnais pertinentes.<br />
A crian~a no ingresso do 1 9 grau menor:<br />
1~) domina as regras basicas <strong>de</strong> estrutura~ao dos enun<br />
ciados <strong>da</strong> lIngua;
2 9 ) realiza constru~oes sintaticas que envolv<strong>em</strong> opera-<br />
~oes complexas <strong>em</strong> perlodos compostos por coor<strong>de</strong>na~ap y subordina<br />
3 9 ) dificilmente produz senten
sua clientela, a fim <strong>de</strong> leva-la a falar, compreen<strong>de</strong>r, ler e e~<br />
crever <strong>de</strong> forma fluente, clara, coesa, interativa e a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> as<br />
circunstancias;<br />
- individualmente significativa,enquanto favorece 0 saber - po<strong>de</strong>r<br />
usar a linguag<strong>em</strong>, como forma <strong>de</strong> expressio cognitiva, afetiva,E~<br />
tetica ou ludica.<br />
o contacto que vimos mantendo com escolas do 1 9 grau menor<br />
<strong>da</strong>s varias classes sociais, <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa <strong>em</strong>pree~<br />
di<strong>da</strong>s pela Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> e por iniciativa propria, nos tern revelado<br />
padroes <strong>de</strong> ensino <strong>da</strong> lingua que, <strong>em</strong> rela~io aos pressupostos<br />
aqui levantados, nio se distanciam, significativamente, entre si.<br />
Dai, reiteramos, na linha dos princlpios <strong>em</strong> que se pautam<br />
nossas propostas, acreditarmos nao seja pertinente a discriml<br />
na~ao alunos <strong>de</strong> classes privilegia<strong>da</strong>s X alunos <strong>de</strong> classes favoreci<strong>da</strong>s.<br />
A Escola <strong>em</strong> geral parece <strong>de</strong>bater-se com a me sma carencia<br />
<strong>de</strong> fun<strong>da</strong>menta~ao que <strong>de</strong>sagtia nos -mesmos criterios <strong>de</strong> sele-<br />
~io do conteudo, dos objetivos e dos processos metodologicos.
7 - JUSTIFICATIVA DA AN~LISE E METODOLOGIA<br />
Parece-nos fun<strong>da</strong>mental, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver qua1quer<br />
diretriz para urn ensino produtivo <strong>da</strong> lIngua materna, questionar<br />
a forma como a escola t<strong>em</strong>-se posicionado frente as aptidoes li~<br />
gUisticas ja adquiri<strong>da</strong>s pela crian~a ao iniciar 0 19 grau menor.<br />
A escola e, <strong>em</strong> nossa cultura, a institui~ao social e~<br />
carre ga<strong>da</strong> <strong>de</strong> ativar, <strong>de</strong> estimu1ar, <strong>de</strong> promover e sist<strong>em</strong>atizar<br />
o saber. Quanto ao ensino <strong>da</strong> lingua, seu objetivo v<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<br />
do nos seguintes termos, conforme a lei 5.692/71, artigo 4 § 29:<br />
"No en-sino do 1 9 e 2 9 graus <strong>da</strong>r-se-a especial re1evo ao estudo<br />
<strong>de</strong> lingua naciona1, como instrumento d~ tomunica~ao e como ex-<br />
-pressao <strong>da</strong> cuI tura brasileira".<br />
Tal dire~ao tern repercutido na pratica, ern especial,<br />
quanta a distribui~ao <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s curriculares, ern que se tern<br />
conferido a area <strong>de</strong> Comunica~ao e Expressao uma importancia pa!<br />
ticular.<br />
Como fatores paralelos, que tamb<strong>em</strong> conduz<strong>em</strong> a uma rea<br />
precia~ao do ensino <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>staca-se, al<strong>em</strong> <strong>da</strong> interven-<br />
~ao geral <strong>da</strong> LingUlstica Teorica e Aplica<strong>da</strong>, uma exalta~ao do<br />
processo <strong>de</strong> comunica~ao, urn culto a informa~ao, ern que a lingua<br />
fala<strong>da</strong> e escrita assume uma forma prestigia<strong>da</strong> <strong>de</strong> participa~ao<br />
na organiza~ao <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. A isso, soma-se uma queixa genera1iza<strong>da</strong><br />
contra a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> lingua materna, cujas<br />
repercussoes estao patentes ern to<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> social.<br />
o resu1tado global tern sido certa in~uieta~ao por pa!<br />
te <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e pessoas envo1vi<strong>da</strong>s no ensino <strong>da</strong> lingua, ern
ela~~o as causas que mais diretamenie afetam a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />
ensino.<br />
Aproveitando tal inquieta~ao,que se reflete <strong>em</strong> <strong>de</strong>sejo<br />
<strong>de</strong> mu<strong>da</strong>n~a, assentamosa <strong>de</strong>cis~o <strong>de</strong>staanalise a fim <strong>de</strong> assegurar,<br />
<strong>em</strong> bases mais objetivas, as sugestoes que constitu<strong>em</strong> materia<br />
<strong>da</strong> terceira parte <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
7.2 - Criterios'para a escoiha do material <strong>de</strong> analise<br />
o livro di<strong>da</strong>tico <strong>de</strong> Comunica~ao e Expressao para 0 1 9<br />
grau menor constitui 0 material escolhido como fonte <strong>de</strong> analise<br />
nesta investiga~~o.<br />
Fun<strong>da</strong>mentamo-nos <strong>em</strong> que, por urn lado. este material<br />
tern urn·peso gran<strong>de</strong> na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar di~ria, como suporte e<br />
instrumento di<strong>da</strong>tico quase unico. No livro di<strong>da</strong>tico, com efeito,<br />
consta a sist<strong>em</strong>atiza~~o dos conteudos, dos exercicios gram~<br />
ticais, os textos para leitura e interpreta~ao, as sugestoes p~<br />
ra a produ~~o <strong>de</strong> textos. Implicitamente, nele se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> as metas,<br />
b<strong>em</strong> como a concep~~o lingUlstica subjacente, 0 que Ihe con<br />
fere, pois,. carater <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importancia. De modo que somos l~<br />
vados a suspeitar <strong>de</strong> que, al<strong>em</strong> do que sugere 0 livro di<strong>da</strong>tico ,<br />
pouco se realiza na escola, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e exerclcio.<br />
Par outro lado, baseamo-nos tamb<strong>em</strong> <strong>em</strong> que perpassa par<br />
nos, interessados <strong>em</strong> questoes do ensino <strong>de</strong> lIngua materna, uma<br />
<strong>de</strong>sconfian~a quanta a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses manuais, no que se refere<br />
ao tratamento que a1 se propoe para a tarefa <strong>de</strong> promover 0<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s aptidoes comunicativas <strong>da</strong> crian~a.<br />
Segundo a perspectiva que assumimos aqui, esta tare fa<br />
sera cumpri<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma tanto mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> quanta mais ela se<br />
dispuser a integrar 0 conhecimento que prop6e a experi~ncia lin
A escolha dos manuais obe<strong>de</strong>ceu a dois crit~rios: aqueles<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> aceita~ao entre as escolas do Recife, conforme con<br />
sulta ~s listas <strong>de</strong>so1icita~ao doslivros did~ticos a que tive -<br />
mos acesso nos Departamentos Regionais <strong>de</strong> Educa~ao do Recife (DERE<br />
Norte e DERE SuI), e os <strong>de</strong> recente publica~ao. Como se po<strong>de</strong> ver<br />
na rela~ao que se segue, os livros examinados <strong>da</strong>tam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1983<br />
(lan~ados no mercado escolar para 1984), 0 que significa que nos<br />
<strong>de</strong>tiv<strong>em</strong>os <strong>em</strong> manuais adotados nos tres ultimos anos letivos, incluindo<br />
0 ana <strong>em</strong> curso.<br />
Partindo <strong>da</strong>l, propus<strong>em</strong>o-nos examinar 20 manuais, <strong>de</strong> 8<br />
co1e~oes diferentes, <strong>de</strong> forma a buscar para nossas <strong>de</strong>sconfian~as<br />
o respaldo <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos mais objetivos.<br />
A razao por que nos <strong>de</strong>tiv<strong>em</strong>os, apenas, <strong>em</strong> 20 manuais,<br />
<strong>de</strong> 8 cole~oes diferentes, <strong>de</strong>ve-se ~ suposi~ao <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, por esse<br />
conjunto, obter uma amostra significativa dos <strong>da</strong>dos que aqui nos<br />
interessam. Essa suposi
4. (1983): A Migica <strong>da</strong> Comunica~io_ 3a. s~rie,<br />
Sio Paulo, Ed. Nacional.<br />
5.__ (1983): A Migica <strong>da</strong>Comunica~io .•2a. s~rie,<br />
Sao Paulo, Ed. Nacional.<br />
6. __ (1983): A Migica '<strong>da</strong>Comunica
16. (1985): Brincando com 'as p'alavras _ 2a. serie,<br />
Sao Paulo, Ed. do Brasil.<br />
17. (1985): Brincando com as P1alavras_ 3a. serie,<br />
Sao Paulo, Ed. do Brasil.<br />
(1985): Brincando com as Palavras_ 4a. serie,<br />
Sao Paulo, Ed. do Brasil.<br />
19.VENANTTE, Lenita (1985): Escola e Vi<strong>da</strong>_ 3a. serie,<br />
Sao Paulo, Ed. do Brasil.<br />
20. (1985): Escola e Vi<strong>da</strong>_ 2a. serie,<br />
Sao Paulo, Ed. do Brasil.<br />
Ain<strong>da</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta parte e nas outras subseqUentes<br />
a referencia bibliografica aos manuais consultados obe<br />
<strong>de</strong>ce a seguinte or<strong>de</strong>m: Nome do autor, ana <strong>da</strong> publica~ao, volume,<br />
7.3 - Delimitas:ao do.objetivo e categorias <strong>da</strong> analise<br />
Propus<strong>em</strong>o-nos a avaliar, <strong>em</strong> linhas gerais, <strong>em</strong> que medi<br />
<strong>da</strong> a atua~ao <strong>da</strong> escola favorece 0 <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>quelas aquisi~oes<br />
lingUlsticas <strong>da</strong> crian~a que ingressa no 1 9 grau menor.<br />
Este objetivo <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> hip6tese, aqui levanta<strong>da</strong>, <strong>de</strong><br />
que 0 sucesso escolar, no ensino <strong>da</strong> lingua materna, po<strong>de</strong>ria ser<br />
acentuado se a escola <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>sse uma integra~ao efetiva <strong>de</strong><br />
suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s docentes com os conhecimentos lingUlsticos que<br />
a crian~a assimilou nas situa~oes <strong>de</strong> comunica~ao <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> dia<br />
ria.<br />
Esta hip6tese conduz, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, a que se orient<strong>em</strong><br />
os objetivos e tarefas do ensino para 0 <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s habi
li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> produg.3.oe -compreensao,<strong>de</strong> eventoscomunitativos. Do<br />
que <strong>de</strong>corre, necessariamente, a enfase no estudo dos usos <strong>da</strong><br />
lingua . Dai por que <strong>de</strong>cidimo-nos por analisar categorias que<br />
estao, <strong>de</strong> forma implicita, liga<strong>da</strong>s a estes aspectos.<br />
Em to<strong>da</strong> a analise apoiamo-nos na procura dos el<strong>em</strong>en -<br />
tos que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> indicar a concep~an.<strong>de</strong> lingua subjacente, do<br />
que <strong>de</strong>corre a forma como e percebi<strong>da</strong> e trata<strong>da</strong>, a gramatica, a<br />
leitura e a produ~ao <strong>de</strong> textos.<br />
Centramo-nos, primeiramente, no exame dos exerclcios<br />
<strong>de</strong> gramatica, compreen<strong>de</strong>ndo as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pelas quais, especifi<br />
camente, a escola tenta <strong>de</strong>senvolver e explicitar as regras <strong>de</strong><br />
usa <strong>da</strong> lingua. Consi<strong>de</strong>ramos esta categoria sob dois topicos: 0<br />
conteGdo programatico abarcado por tais exerciciose a metodolo<br />
gia utiliza<strong>da</strong> na aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sses conteGdos.<br />
Em segundo lugar, verificamos aspectos relacionados com<br />
a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura, procurando ver quetipos, organiza~ao e<br />
,<br />
utiliza~oes <strong>de</strong> texto esses manuais priorizam.<br />
Por fim, pren<strong>de</strong>mo-nos aos exerclcios <strong>de</strong> composi~aooral<br />
e escrita, observando sob que criterios se <strong>de</strong>senvolve a pratica<br />
<strong>da</strong> produ~ao <strong>de</strong> textos e, principalmente, que aspectos <strong>da</strong> escrita<br />
sac real~ados.<br />
7.4 - Metodologia <strong>de</strong> sele~ao do material di<strong>da</strong>tico analisado<br />
Num primeiro momento foi feita uma leitura generlca<br />
dos 20 livros escolhidos, com a inten~ao inicial <strong>de</strong> ir captando<br />
as linhas gerais <strong>de</strong> distribui~ao <strong>da</strong>s categorias e os tipos <strong>de</strong><br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sugeri<strong>da</strong>s.
ti<strong>da</strong><strong>de</strong> excessiva <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos coinci<strong>de</strong>ntes, pelo que nos sentimos ju~<br />
~<br />
tificados quanta a escolha <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r por amostrag<strong>em</strong>. Corn esse<br />
fim, tomamos, para a analise especifica <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> categoria, 10 manuais,<br />
cobrindo as 4 series diferentes, e corn 0 cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> que r~<br />
presentass<strong>em</strong>, pelo menos, seis <strong>da</strong>s oito co1e~oes escolhi<strong>da</strong>s.Assim,<br />
preten<strong>de</strong>mos garantir a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fontes para conferir maior<br />
consistencia aos resultados obtidos.<br />
seguintes<br />
Para a analise <strong>da</strong> categoria LEITURA foram vistos os<br />
manualS:<br />
l. Souza (1985, 1 ).<br />
2. Moraes (1985, 1) .<br />
3 . Santos (1983, 2) .<br />
4 . Souza (1985, 2 ).<br />
5. Martos (1985, 3 ) .<br />
6. Souza (1985, 3 ).<br />
7. Venantte (1985, 3 ) .<br />
8. Moraes (1984, 4 ) .<br />
9. Bellucci (1985, 4 ) .<br />
@,<br />
10. Marques (1983, 4 ) .
Aqui, com 0 intuito <strong>de</strong> reduzir 0 numero excessive dos<br />
<strong>da</strong>dos, adotamos 0 criterio <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter-nos, alterna<strong>da</strong>mente, <strong>de</strong> 5<br />
<strong>em</strong> 5 li~oes, 0 que resultou num total <strong>de</strong> 71 textos examinados<br />
<strong>de</strong> 6 cole~oes diferentes.<br />
Al<strong>em</strong> disso, proce<strong>de</strong>mos a urn 1evantarnento dos el<strong>em</strong>entos<br />
<strong>de</strong> orienta~ao com que se apresentarn, para 1eitura, os textos<br />
<strong>de</strong> Marques (1983, 4), <strong>da</strong>dos que nos pareceram significati -<br />
vos na <strong>de</strong>fini~ao <strong>da</strong> concep~ao <strong>de</strong> 1eitura predominante nas ativi<br />
<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> esco1a.<br />
No exame <strong>da</strong> categoria PRODUgAO DE TEXTO, tomamos os<br />
compendios:<br />
l. Souza (1985, 1) .<br />
2. Marques (1983,1) .<br />
3. Santos (1983, 1) .<br />
4. Venantte(1985, 2) .<br />
5. Marques (1983, 2) .<br />
6. Santos (1985, 3) .<br />
7• Marques (1983, 3) .<br />
8. Marques (1983, 4) .<br />
.<br />
9. Bellucci (1985, 4) .<br />
10. Martos (1985, 4) .<br />
os exerclcios <strong>de</strong> forma alterna<strong>da</strong> e fiz<strong>em</strong>o-lo, aqui, <strong>de</strong> 4 <strong>em</strong> 4<br />
li~oes, 0 que somou urn total <strong>de</strong> 90 ex<strong>em</strong>plares distintos.<br />
7. 5 - Metodologia <strong>da</strong> analise
pela leitura generica'dos vinte manuais escolhidos, tentando re<br />
conhecer globalmente os el<strong>em</strong>entos indicadores <strong>de</strong> como e sugerido<br />
0 tratamento <strong>da</strong> gramatica, <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> produ~ao <strong>de</strong> textos.<br />
De posse <strong>de</strong>ssa visao panoramica, <strong>de</strong>finimos 0 conjunto_ arnostra<br />
para ca<strong>da</strong> categoria e proce<strong>de</strong>mos, a partir <strong>da</strong>r, ao exame mais<br />
<strong>de</strong>talhado <strong>da</strong>queles indicadores, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las.<br />
Nesta altura, apontarnos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> topico os el<strong>em</strong>entos<br />
que concretamente podiam ser indicadores <strong>da</strong>s concep~6es subja -<br />
centes e dos aspectos predominantes <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> analise.<br />
Tais aspectos se refer<strong>em</strong> ~queles pontos mencionados atras quando<br />
<strong>de</strong>finimos as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Com isso, preten<strong>de</strong>mos construir a base<br />
que nos permitisse uma avalia~ao <strong>da</strong>s concep~6es e procedime~<br />
tos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a perspectiva <strong>de</strong> uma teoria <strong>da</strong> lingua com base no<br />
texto. Noutras palavras, os princlplos a partir dos quais proc~<br />
ravamos reconhecer aqueles indicadores <strong>de</strong>corriam dos pressupostos<br />
ja admitidos para 0 estabelecimento <strong>de</strong> nossa proposta. Isto<br />
e, a integra~ao <strong>de</strong> conhecimentos que a escola <strong>de</strong>ve promover 0<br />
que, na nossa hipotese, po<strong>de</strong> tornar-se mais produtiva conforme<br />
se centre nas condi~6es <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> lrngua que se efetua na instancia<br />
do texto, como <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong>os oportunamente.<br />
Constitui um tOplCO ~ parte a avalia~ao critica, e <strong>de</strong><br />
base explicitamente teorica, dos <strong>da</strong>dos relatados, 0 que nao nos<br />
impediu <strong>de</strong>, no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong> apresenta~ao dos resultados, adian -<br />
tar consi<strong>de</strong>ra~6es <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m avaliativa.<br />
Parece-nos util advertir que, <strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente, opta -<br />
mos por atribuir a esta segun<strong>da</strong> parte do trabalho um carater<br />
<strong>de</strong> referencia ~s praticas predominantes na escola a partir do<br />
que suger<strong>em</strong> os livros di<strong>da</strong>ticos. 0 que mais nos importou foi<br />
que essa referencia nao se fizesse com base <strong>em</strong> impress6es, ou<br />
mesma experiencias <strong>de</strong> cunho inteiramente subjetivo, e assim,nos<br />
sentrss<strong>em</strong>os mais ~ vonta<strong>de</strong> para pa<strong>de</strong>r sugerir uma proposta <strong>de</strong><br />
compl<strong>em</strong>enta~ao e reorienta~ao do ensino.
Os exerclcios <strong>de</strong> gramatica concentram a maior parte<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sugeri<strong>da</strong>s nos livros di<strong>da</strong>ticos. Acumulam-se <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> texto, no <strong>em</strong>penho <strong>da</strong> fixa~ao <strong>de</strong> novas no~oes ou<br />
na revisao <strong>de</strong> outrasja vistas. Parec<strong>em</strong> sugestivos enqu~nto se<br />
val<strong>em</strong> <strong>de</strong> figurinhas colori<strong>da</strong>s ou outros recursos iconicos. Na<br />
malorla, sac repetitivos, seja ern rela~ao ao conteudo seja ern<br />
rela~ao a forma como se organizam. Reflet<strong>em</strong> urn ensino orientado<br />
para uma "aquisi~ao cumulativa e irrefleti<strong>da</strong> (mecanica) <strong>de</strong> conhecimentos"<br />
(Galvao, 1977, 510) e s<strong>em</strong> trazer el<strong>em</strong>entos que <strong>de</strong>senvolvam<br />
urn metodo proprio <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta e <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisoes.<br />
Estes exercicios assum<strong>em</strong> <strong>de</strong>nomina~oes que varlam entre<br />
"Gramatica", simplesmente, "Gramatica Aplica<strong>da</strong>", "Ativi<strong>da</strong> -<br />
<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gramatica" ou "Exercicios". Preve<strong>em</strong> para sua realiza~ao,<br />
\ ern quase todos os casos, 0 recurso a lIngua escrita.<br />
8.1 - Conteudo gramatical<br />
Quanto ao conteudo, faz<strong>em</strong>os uma consi<strong>de</strong>ra~ao geral sobre<br />
<strong>da</strong>dos que os exercicios nos revelam:<br />
a) Levando ern conta a discrimina~ao ern que aparec<strong>em</strong> ,<br />
os exerclcios,<strong>da</strong> la. a 4a. serie, abarcam uma pass~<br />
g<strong>em</strong> por todo 0 conjunto <strong>da</strong>s "Classes Gramaticais" ,<br />
corn suas respectivas divisoes, subdivisoes e particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
flexionais. Al<strong>em</strong> disso, traz<strong>em</strong> questoes<br />
<strong>de</strong>:<br />
- fonologia, prosodia e ortografia;
- vocabulario;<br />
- pontua~ao;<br />
- sintaxe e<br />
- s<strong>em</strong>antica.<br />
Mesmo assim, como se po<strong>de</strong> ver pela segmenta~ao do programa<br />
e pel a respectiva organiza~ao dos exerclcios,pr~<br />
domina 0 estudo <strong>da</strong> Morfologia. (1)<br />
b)Constata-se, <strong>em</strong> todos os manuais examinados, uma concen<br />
tra~ao nos treinos ortograficos que constitu<strong>em</strong> se~ao<br />
a parte e que preve<strong>em</strong> exerclcios <strong>de</strong> preenchimento <strong>de</strong><br />
lacunas, capias e ditados.<br />
alfabeto: vogais e consoantes;<br />
- maiusculas e minusculas; (2)<br />
- divisao <strong>da</strong> palavra <strong>em</strong> sllabas;<br />
- usa dos acentos agudo e circunflexo;<br />
- usa do til e do ~;<br />
- usa <strong>da</strong> vlrgula;<br />
- usa do ponto final;<br />
- usa do ponto <strong>de</strong> eX&lama~ao;<br />
, \<br />
- uso do ponto <strong>de</strong> interroga~ao; n)<br />
no~ao <strong>de</strong> substantivo:nomes comuns e names praprios.<br />
- genera, numero e<br />
- grau;<br />
(1) 06 <strong>da</strong>dOl> que. l> e. tLe.6eJL<strong>em</strong> ao c.o itte.iJ..do dOl> IIe.xeJLc1uo.6 gJWma.:t-lc.aJ2," po<strong>de</strong>m<br />
l>eJLc.omptLovadol>, c.oI160Jurie. iMttLUte. ao p e.c.:to, val.e. <strong>de</strong>.l>ta.C.M qu.e. a dL~dJ_I1"doil> pontO,6" e. 0 "ttLave.6,6o..o" e.l1tJta.m I1a. 2a.; "ponto e. vlJz..gu.la.", "tLe.-<br />
Uc.e.l1uao", "patLe.itte.6 e.l>", "Mpao" e. "hlb e.11" apatLe.c.<strong>em</strong> l1a 3a. Na 4a. l> e.-<br />
/Lie., tLe.apatLe.c.e.mtodol>, il1e£u,oive. 0 "ap0,6;(;JLo6o". Tamb<strong>em</strong> .6e. e.XeJLUta., I1a<br />
3a, 0 u.l>Odo "ttL<strong>em</strong>a".
- no~ao <strong>de</strong> adjetivq;<br />
- no~ao <strong>de</strong> verba; (1)<br />
- sinonimos e antonimos.<br />
Sao, portanto, 16 itens que reaparec<strong>em</strong> ern todo 0 percurso<br />
do 1 9 grau menor. Aqueles referentes a alfabeto, corn os<br />
<strong>de</strong>sdobramentos "vogale consoante", "maiusculas e minusculas" ,<br />
b<strong>em</strong> como a "divisao siLlbica" e 0 usa do,itil"e do"
dois generos" (Bellucci, 1985, 4:63 - 64; Marques, 1983,4:97).<br />
g) Entre as questoes e exercicios <strong>de</strong> gramatica consta,<br />
<strong>da</strong> 1a. a 4a.,com gran<strong>de</strong> inci<strong>de</strong>ncia, a distin-<br />
uma amostrag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s mais comuns. Em Bellucci, (1985,<br />
4:149), inclu<strong>em</strong>-se tamb<strong>em</strong> algumassubordinativas .<br />
Nas frases dos exerclcios <strong>da</strong>s outras li~oes pre dominam,<br />
com gran<strong>de</strong> inci<strong>de</strong>nica, perlodos simples ou<br />
coor<strong>de</strong>nativas aditivas.<br />
i) 0 quadro <strong>da</strong>s preposl~oes inclui "per" e "tras"(Ma!.<br />
ques, 1983, 4:188), (Bellucci, 1985, 4:142). Apar~<br />
,cernas distin~oes "Combina~ao" e "Contra~ao", nao<br />
coincidindo, no entanto, os criterios <strong>de</strong>ssas distin~oes.<br />
POy ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> + 0 = do; <strong>de</strong> + ela = <strong>de</strong>la<br />
e outros casos s<strong>em</strong>e1hantes sac c1assificados como<br />
"Contrat;oes" <strong>em</strong> (Bellucci, (1985, 4: 142)<br />
"Combina~oes" <strong>em</strong> Marques (1983, 4 : 189).<br />
m) A progressao quantitativa dos conteudos apresenta<br />
urn acreSClmo <strong>de</strong> 90% entre ala. e 2a. series. Entre<br />
a 2a. e a 3a., chega a ser <strong>de</strong> 96%, ou seja,qua<br />
se duplica 0 numero <strong>de</strong> no~oes entre uma serie e<br />
outra. Na 4a, 0 acrescimo, praticamente, se restrin<br />
ge a especifica~ao dos verbos auxiliares, a questao<br />
<strong>da</strong> crase, do objeto direto e do objeto indireto.<br />
A comp1exi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s opera~oes envolvi<strong>da</strong>s na resolu~ao<br />
dos exerclcios e, na pratica, a mesma. Parece<br />
significativo que as diferen~as resi<strong>da</strong>m principa1mente<br />
no aspecto quantitativo dos itens exerci<br />
tados. (1)<br />
8.2 - Metodo10gia <strong>em</strong>prega<strong>da</strong>,n0s',,-Bxerclcios esco1ares<br />
Levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ra~ao os procedimentos utilizados<br />
nos exerclcios constatamos alguns aspectos.<br />
a) Preva1ec<strong>em</strong> as exerclcios a nlvel <strong>da</strong> palavra e <strong>da</strong><br />
frase. No intuito <strong>de</strong> avaliar com mais precisao es<br />
te <strong>da</strong>do, tomamos Marques (1983,4) e chegamos aos<br />
seguintes <strong>da</strong>dos: 0 manual traz urn total <strong>de</strong> 219<br />
(1) 0 c.on:te.udo PJ1.ogJu1maLLc.o .be. fu:tfU.-bt.Li.. C0Y1t0Jtme. mo,t,:Ow.. 0 qu.acvw<br />
1 : rI1dic.e do/.} Conteudo/.} GMma.tiC.a.-W, al1exo.
exerclcios sobre diferentes conteudos ja arrolados<br />
no quadro anterior. Desses exerclcios 106 ficam no<br />
ambito <strong>da</strong> pa1avra e 113 se restring<strong>em</strong> a frase isola<strong>da</strong>.<br />
b) Muitos dos exerclcios <strong>de</strong> palavras, prescindindo do<br />
recurso ao significado, centram-se <strong>em</strong> aspectos <strong>de</strong><br />
superflcie, ou testam a i<strong>de</strong>ntifica~ao <strong>de</strong> categorias<br />
ou nomenclaturas. Neste caso, esta urn gran<strong>de</strong> nu<br />
mero <strong>de</strong> exerclcios. Des<strong>de</strong> aqueles que preve<strong>em</strong> a se<br />
para~ao <strong>de</strong> sllabas, capias <strong>em</strong> or<strong>de</strong>m alfabetica,c1as<br />
sifica~oes ou questoes como <strong>em</strong>:<br />
19) II Cote. 110 c.adoLYLo c.--tI1c.o patavfLa.6 que. :te.l1ham :t-
e) Quando aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> conjunto, num mesmo exerclcio<br />
essas frases caracterizam-se por se apresentar<strong>em</strong><br />
s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>sconecta<strong>da</strong>s entre si, s<strong>em</strong> coesao n<strong>em</strong> uni<br />
<strong>da</strong><strong>de</strong> s<strong>em</strong>antica. Neste ponto especlfico, os ex<strong>em</strong>plos<br />
saD fartos. Limitamo-nos a alguns:<br />
1 9 ) "Ponha a~ 6~a~e~ no 6<strong>em</strong>inino:<br />
o :tio fioi com~ 0 ~ob~inno ao medico.<br />
o gen~o <strong>de</strong> papai e bom.<br />
o compad~e <strong>de</strong> vovo e~:ta en6e~mo.<br />
o pad~inno <strong>de</strong> meu p~imo cnegou.<br />
Comi ca~ne <strong>de</strong> ca~nei~o.<br />
o p~Zncipe e fiilno do ~ei "<br />
(Ma~que~, 7983, 4: 98)<br />
2 9 ) "Pa.~~e pa~a 0 plu~al:<br />
a) 0 animal comeu 0 ce~eal do cu~~al.<br />
b) A mulhe~ convidou 0 can:to~ e 0 dou:to~ pa~a a 6e~-<br />
:ta.<br />
c) 0 ave~:t~uz e um animal veloz".<br />
(Bellu cci , 7985, 4: 74)<br />
\<br />
Nessa linha, concorr<strong>em</strong> tamb<strong>em</strong> os exerclcios que prop6<strong>em</strong><br />
forma~ao <strong>de</strong> frases, os quais se val<strong>em</strong> <strong>de</strong> palavras cujo<br />
ponto <strong>de</strong> liga~ao e a questao gramatical<strong>em</strong> pauta. Como ex<strong>em</strong>plo:<br />
a) fieli cZ~ ~ im 0 b) 6acZlim 0<br />
d) c.ha.:tea.dII-> I->"<strong>em</strong> 0".<br />
(Bellucci, 7985,4: 95)<br />
29) /lFo~me -6~a~e~ com a~ conju.n~oe.~ ~, po~<strong>em</strong> e po~que"<br />
.<br />
(Venan:t:te, 7985, 3: 758)<br />
39) "Fo~me 6~a~e~: a) in:te~~oga:t"eva<br />
c) negativa".<br />
(San:to~, 7983, 2: 77)
4 q) If E~ c..!L 12.v 0.. ,{:.!L e~ n.!L 0..-6 12.-6If •<br />
(Mo.!La.e.~, 19&5, 1: 10)<br />
Comumente, e-<br />
exercitando a forma~ao <strong>de</strong> conjuntos <strong>de</strong><br />
frases, com essas caracteristicas, que as crian~as <strong>da</strong> la. serie<br />
vivenciam sua inicia~ao a re<strong>da</strong>~ao e <strong>em</strong> conseqtiencia, exercitam<br />
- - (1)<br />
a constrw;;:aodo "nao-texto".<br />
e) Quanto a estrutura sintatica <strong>da</strong>s frases dos exerci<br />
ClOS constatamos que predominan os perlodos simples, <strong>de</strong> facil<br />
<strong>de</strong>coclifica~ao sintatica, e com gran<strong>de</strong> inci<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> verbos cop~<br />
lativos e transitivos diretos. Os perlodos compostos so se <strong>de</strong>s-<br />
~ .<br />
tacam nos exerClClOS referentes ao ponto sobre 0 grau dos adjetivos<br />
(0 que gera as subordina<strong>da</strong>s comparativas) ou quando e tra<br />
ta<strong>da</strong> a questao <strong>da</strong>s conjun~6es. Fora <strong>de</strong>ste contexto, quando ap~<br />
rec<strong>em</strong>, prevalece 0 conectivo aditivo "e", ou outros, s<strong>em</strong> malor<br />
complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dificilmente, os ja escassos perlodos compostos<br />
VaG al<strong>em</strong> <strong>da</strong> 2a. ora~ao.<br />
Na gran<strong>de</strong> malorla, 0 ex<strong>em</strong>pl0 tlpico e aquele que aparece<br />
com os el<strong>em</strong>entos minimos <strong>da</strong> predica~ao.<br />
Com certeza, vale a pena aprofun<strong>da</strong>r a investiga~ao <strong>de</strong><br />
como a insistencia nesse tipo <strong>de</strong> exercicio t<strong>em</strong> influenciado a<br />
re<strong>da</strong>~ao <strong>da</strong>s crian~as. Fica a sugestao.<br />
1 9 )<br />
0..)<br />
b)<br />
IfCop.ze., -6u.b-6,{:.z,{:U.zVldo 0-6 Vlome..6 pe..tOI.:><br />
A c.o..b.!Lo..B.!L.zgono.. b.!L.zgava mu.z,{:o.<br />
o qu.a.!L,{:o ,{:.znho.. urn e..6pe..tho g.!LaVl<strong>de</strong>..
c) Seu Zequlnha ena dono <strong>da</strong>~ cabna~".<br />
(Santa~, 7C183, 2: 143)<br />
29) "Caple a~ 6naheh, pahhando-ah pana 0 dlmlnutlvo<br />
ptundt:<br />
a) 0 c.ac.honno confLeu atfLah do gato.<br />
bJ 0 menlno ganhou vafLloh pelxe~ .<br />
c) A bonec.a e bonita".<br />
(Santo~ , 1983, 2: J 3] J<br />
aJ A menlna hOfLfLlu.<br />
bJ TfLovejou multo ont<strong>em</strong> a nolte.<br />
cJ 0 dla amanhec.eu llndo!<br />
d J 0 c.ao late.<br />
e) Canta a gato no tennelno.<br />
6J Apltou otfL<strong>em</strong> na e.6tac;ao".<br />
(Glac.omozz~., ]985, 4: 120J<br />
4qi "Pa~.6e pafLa 0 6<strong>em</strong>lnlno a.6 patavna~ <strong>de</strong>~tac.a<strong>da</strong>.6:<br />
.\<br />
aJ 0 etenante tnabalhou no c.lfLc.o?:<br />
hI Meu c.ompadne e born c.avalhelfLo.<br />
cJ Aquele p~e~ 601 urn gnan<strong>de</strong> henol.<br />
dJ Meu padnlnho ganhou um c.anno.<br />
e I 0 9 enfLo <strong>de</strong> papal e: aton".<br />
(S 0 U.6 a, 1985, 3: 96I<br />
59J "O~ venbo.6 <strong>de</strong>.6tac.ado.6 e.6tao no pfLe.6ente.Pa.6.6e-o.6:<br />
.1qJ pana 0 pa.6.6ado (ont<strong>em</strong>) e, 2qJ pana 0 nutuno<br />
(amanhaJ.<br />
I'<br />
- 0 pa.6.6ano mana aqul.<br />
- 0 avlao pa.6.6a banulhento.<br />
- Meu pal tfLabalha la.<br />
- Manc.elo fLec.ebe .6alafLlo.<br />
- Viana ven<strong>de</strong> 6lone.6.<br />
- Eu 6ac;o glnahtlc.a,r.<br />
(Souza, 1985·, 3: ] 59)
AS sintagmas nominais, sujeitos ou compl<strong>em</strong>entos, v<strong>em</strong><br />
s<strong>em</strong> maioy expansao que 0 artigo ou pronome, 0 que po<strong>de</strong> ser comprovado<br />
nos ex<strong>em</strong>plos do it<strong>em</strong> anterior. as adjetivos, como no c~<br />
so <strong>da</strong>s conjun~oes, aparec<strong>em</strong>, <strong>em</strong> maior numero, nas li~oes respe~<br />
tivas. Enfim, os el<strong>em</strong>entos constituintes <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s lingUlsti<br />
cas, sintagmas nominais ou verbais, sac reduzidos, qualitativamente,<br />
a urn mlnimo simplista 0 que nao correspon<strong>de</strong> a experiencia<br />
<strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> crian~a.<br />
f) A preocupa~ao dominante ain<strong>da</strong> e 0 aspecto morfologico,<br />
mesmo quando 0 contexto <strong>de</strong> analise e a frase, a qual, ne~<br />
sas circunstancias, per<strong>de</strong> sua fun~ao comunicativa. Neste particular,<br />
vale chamar a aten~ao para a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> puramente formal<br />
com que se trata 0 artigo.<br />
79) "Re..t.{fl.e..todo.o 0.0 .oub.o.tan.t'{vo.o do .tfl.e.c..hoaba.{xo e.<br />
d.{ga a que. gene.fl.o pe.fl..te.nc..e.m:<br />
Que.fl.O apfl.e..oe.n.tan a voc..e.o a me.n..{n.a Ro.oa. Ape.n.te.m<br />
a mao gond.{n.ha e. no.oa<strong>da</strong> <strong>da</strong> m.{n.ha am.{gu.{nha".<br />
(G.{ac..omozz.{, 1985, 4:4Z)<br />
Z9) "Se.pane. 0.0 .oub.o.tan.t.{vo.o abaixo e.m .tne.o c..oluna.o:<br />
ep.{c..e.no.o, c..omun..o-<strong>de</strong>.-do.{.o, .oobnec..omun..o.<br />
a<br />
.{m.{gnan..te.<br />
o gav.{ao 0 paje.m<br />
o<br />
c..ole.ga<br />
a tl onm.{g a<br />
a c..n.{an.c;.a a bonba£e.t4<br />
a<br />
pe.o.o oa<br />
a<br />
.te.o.t<strong>em</strong>unha<br />
a bale..{a 0 jaeafl.e.".<br />
(G.{ac..omozz.{, 7985, 4: 48)<br />
39) "U.oe. 0.0 .oImbolo.o pafl.a an.al.{.oan c..a<strong>da</strong> palavfl.a <strong>da</strong><br />
nfl.a.oe., c..omo no mo<strong>de</strong>.lo:<br />
§ .oub.o.tan..t'{vo q n.umenal ~ pnoYl.ome
- Tenho o~~o ~oe~h~nho~ b~an~o~.<br />
- Aque~e pa~ha~o e eng~a~ado.<br />
- M~nha ~a~a e e~~a.<br />
- A bondo~a p~o6e~~o~a me e~og~ou.<br />
- Eu ~ou 0 <strong>de</strong>~~mo a~uno".<br />
(Venan~~e, 1985, 3: 173)<br />
g) Os tres u1timos ex<strong>em</strong>p10s tamb<strong>em</strong> serv<strong>em</strong> para comprovar<br />
a enfase ern ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> car~ter estritamente meta1in<br />
gUIstico.<br />
(Cf. Marques, 1983, 1: 37; Santos, 1983, 2:53; Moraes, 1985<br />
2:22). Tamb<strong>em</strong> SaG <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> numero os exerclcios, cuja unica<br />
finali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a classifica~ao <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s1ingUisticas (Cf.<br />
Bellucci, 1985, 4: 136-137).<br />
l1)Predomina 0 estudo do sentido <strong>de</strong>notativo <strong>da</strong>s palavras.<br />
Os a~mentativos e diminutivos, por ex<strong>em</strong>plo, SaG trat~<br />
dos s<strong>em</strong> refe~encia as varia~oes <strong>de</strong> conota~ao que VaG assumindo<br />
no uso <strong>da</strong> lingua.<br />
"Um ve~ho pequeno e<br />
"Um pa~~~~o pequeno<br />
(G~a~omozz~, 7985,<br />
- e urn pa..ta~e~e".<br />
4 : 6 Z )<br />
2 9 ) Mant<strong>em</strong>-se ex<strong>em</strong>plos, incluindo formas ern <strong>de</strong>suso,<br />
como, entre outras:<br />
- a preposl
3 9 ) Repet<strong>em</strong>-se exerclcios <strong>de</strong> carater puramente teorico,<br />
como nos ex<strong>em</strong>plos abaixo:<br />
- "Copie palLa l1.ao e.6quec.eIL:<br />
a) m au 11.al1.~e.6<strong>de</strong> c.on.60al1.~el1.ao e dlgILa60 l1.<strong>em</strong> el1.c.ol1.-<br />
~ILa c.a 11..6 a na l1.~al.<br />
b) qu ou ~ an~e.6 <strong>de</strong> a. e 0 6oILma.m di~ongo.6 poILque a<br />
u ~<strong>em</strong> .6 am" .<br />
"Leia e c.opie- no c.a.<strong>de</strong>ILno. IlU.6ue .6 eu ~ILabalho c.om<br />
<strong>de</strong>.6enho.6 au gILavUILa.6:<br />
An~e.6 <strong>de</strong> nome.6 ma..6c.ulil1.o.6c.oloc.amo.6 o,o.6,um,ul1..6: a<br />
menino, 0.6 c.ae.6, um pa~o, UI1..6~amanc.o.6. An~e.6 <strong>de</strong>-<br />
11.0me.6 6<strong>em</strong>inino.6 c.oloc.amo.6 a, a.6, uma., uma.6: a me-nina,<br />
a.6 6loILe.6, uma ILO.6a,uma.6 gaILO~a.6".<br />
4 9 ) Os exerclcios po<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as cuja resolu~ao, <strong>em</strong><br />
gran<strong>de</strong> parte, nao representa <strong>de</strong>safio para a crian~~. Neste particular,<br />
ha uma constancia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a la. a 4a. serie,i'<strong>de</strong> forma que<br />
a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> progressiva espera<strong>da</strong> com a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> ana nao<br />
chega a ser significativa.<br />
a) Ligue e bOILme palaVILa.6:<br />
o.6i~ao<br />
~ILa.iIL<br />
pOIL~a!L<br />
puL6aIL<br />
plo.6 ao<br />
pOIL~a~ao
) "Cop-ee. a-b tfLa-be.1, compR.e-:tal1do-a1, com a1, a
A tItulo <strong>de</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> reparamos verbos que introduz<strong>em</strong>.as<br />
instru~oes dos exerclcios <strong>em</strong> Marques (1983,4). Citando<br />
apenas os que aparec<strong>em</strong> mais vezes, <strong>de</strong>stacamos: Complete, Escreva,<br />
Copie, ar<strong>de</strong>ne, Substitua, Ponha, Torne, Observe, De, Sublinhe,<br />
Assinale, Separe, etc. No contexto <strong>da</strong>queles exercicios tais<br />
verbos po<strong>em</strong> <strong>em</strong> realce 0 carater mecanico e formal <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong> -<br />
<strong>de</strong>s propostas.<br />
6 9 ) Nao se preve, na maioria dos casos, a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e~<br />
tillstica <strong>da</strong>s senten~as que resultam <strong>da</strong>~ propostas dos exerclcias.<br />
Como nos ex<strong>em</strong>plos:<br />
- "E.6c.he.va a.6 -6haJ.>e.J.> J.>ub.6.ti.tuindo aJ.> palaVha.6 <strong>de</strong>.J.>.tac.E:<br />
<strong>da</strong>.6 poh J.>upe.hla.tivoJ.> .te.hminado.6 e.m l.6J.>imo (.6) ou Zlimo [.6):<br />
a) A.6 pe..6J.>oa.6a.6 ve.ze..6 -6ic.am .thiJ.>.te..6,zanga<strong>da</strong>.6, -6uhi~<br />
.6a.6, c.ha.te.a<strong>da</strong>J.> e. abohhe.ci<strong>da</strong>.6.<br />
b) Vive.h ne.liz e di-61c.Lt/f.<br />
(Be.llucci, J 985, 4: 94)<br />
b) Mamae. c.om e. pao no pOhao.<br />
c.) Tiao poe. limao no pim e.n.tao .<br />
d) Ve..c c.a.6 que.. 0 me.lao c.om 0 -6a.cao e. le.ve. ao 9 alpao.<br />
e.) Me.u ihmao .te.m um c.a.o <strong>de</strong>. nom e. Plu.tao.<br />
~) 0 c.api.tao <strong>de</strong>.u um .6at\anao vw .tubanao/f.<br />
[Souza, 1985, 2: 60 1<br />
79) Em <strong>de</strong>z dos manualS examinados, omit<strong>em</strong>-se referencias<br />
as situa~oes, sociais ou geograficas, <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> linguap<strong>em</strong><br />
como qualquer a1usao as difere~~as <strong>de</strong> mo<strong>da</strong>1i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lingua.<br />
Apenas <strong>em</strong> Venantte (1985,3) v<strong>em</strong> a tona a questao sociolingUlstica<br />
nos seguintes termos:
79) "Thoque a linguag<strong>em</strong> populah pela linguag<strong>em</strong> culta,<br />
como no mo<strong>de</strong>lo: E a paI <strong>de</strong>.le. t .6e.upai ... If (p.JJ5).<br />
29) "Thaque. a nahma populah pe.la nahma culta, connohme.,<br />
0 mo<strong>de</strong>.lo:<br />
39) "Daniel nala eh/Lado alguma.o palav/La.o, como dOfL-<br />
;tJU),teza (.6onfLimento) e tou (e..6touJ. Localize. e.ota.6 palavfLa-6 no<br />
texto e. copie a-6 nfLa.6e.o on<strong>de</strong>. e.la.o .6e encontfLam, .6ub.6tituindo-a.6<br />
POh e..6ta.6que aqui e.6tao no.6 pafLe-nte.6e.6 If (p. 107 J •<br />
Neste aspecto, se <strong>de</strong>staca a insist~ncia <strong>em</strong> apontar a<br />
forma rapariga como f<strong>em</strong>inino <strong>de</strong> rapaz, s<strong>em</strong> aten<strong>de</strong>r, portanto,a<br />
variavel brasileira <strong>da</strong> LIngua Portuguesa. Ou 0 usa <strong>de</strong> 'vosso ,<br />
vos sa, vos sos, vos sas, <strong>em</strong>: "B eatfLiz ~ muito implicante, olha<br />
pafLa CafLlo.6 e RobefLto e diz: V0.6.60 fLO.6to e.6ta .6ujo, VO.6.6a cali;-ae.6ta<br />
.6uja, VO.6.6o.o .6apato.6 e..6tao .6ujO.6 e. VO.6.6a.6mao.6 me.la<strong>da</strong>.6".<br />
(Be.llucci, 1985,4: 107)<br />
A<br />
~<br />
sentehs;a "Qu<strong>em</strong> pe.gou meu tacape <strong>da</strong>qui?H e <strong>da</strong><strong>da</strong> co-<br />
I<br />
mo, univocamente interrogativa; procedimento utilizado <strong>em</strong> to<strong>da</strong><br />
analise <strong>de</strong> frase que acaba por um ponto <strong>de</strong> interrogas;ao. Tal<br />
abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>ncia a apagamento do fenomeno <strong>da</strong> "intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong>",<br />
caracteristica fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> lingUlstjca.
1. A1fabeto:<br />
vogais a consoantes<br />
2. 1etras e fon<strong>em</strong>as<br />
3. - caiusculas a Dinuscu1as<br />
5. - s<strong>em</strong>ivogal<br />
6. Divisao <strong>da</strong> palavra<br />
<strong>em</strong> si1abas<br />
7. Classifica9ao <strong>da</strong> pala-l<br />
vra suauto £10 uumaro<br />
<strong>de</strong> s~labas<br />
8. Silaba tonica<br />
9. C1assificaGao lavra quanto a <strong>da</strong> silaba<br />
palavra<br />
tonica<br />
10. Encontros voca1icos:<br />
nO'iao<br />
11. - discrimina9uo<br />
12. - consonantais<br />
13. D:fgrafos<br />
14. Sinonimos a ant6niQos<br />
16. ~cento agudo e circur.-<br />
flexo<br />
17. Acentograva<br />
18. Til e Q<br />
19. Virgula<br />
20. ?onto a vlr6ula<br />
21. :Jois pCC1tos<br />
,23 •. ',pJstrofe<br />
29. ~i:r.fen<br />
Ii<br />
,I<br />
I<br />
r<br />
I<br />
NORAES<br />
(1985 )<br />
VENAilTTE<br />
(1985 )<br />
PET T;:::i- - j r'lAR::'UES<br />
~~~~3;; I (193:3)<br />
---.---.-.---1 _<br />
mesma no ao<br />
GIACO~OZZI IBm to<strong>da</strong>s as<br />
. ~~::~~ __ ~ries<br />
)
. T<br />
1 29. ~1i.f'en I<br />
tl I<br />
'"<br />
30. Aspas i I<br />
1/<br />
-I<br />
~.<br />
+<br />
Ii<br />
r· I I 11<br />
)<br />
I Il ,I<br />
+<br />
Ie I- .,.<br />
,I<br />
. II<br />
31. No«aa <strong>de</strong> frase I<br />
+ • -+<br />
"1<br />
32. Frases:<br />
- afirmativas<br />
+ + + + +<br />
33. - negativas I I<br />
+ + + + +<br />
34. - exc1amativas + + + + + +<br />
35. - interragativas + + + + + +<br />
36. - imperativas<br />
+ + II ~'<br />
37. Substantivo: If<br />
- na«aa + + + + + +<br />
X<br />
38. - comum/proprio + + + + + + + II X<br />
39. - concreto/abstrato<br />
+ + +<br />
:.¥'.<br />
40. - primitivo/<strong>de</strong>rivado<br />
_o,~<br />
. "<br />
+ + + +<br />
41. - simp1es/composto<br />
+ + + +<br />
42. - coletiva + + + + + + +<br />
43. - g~nero e nUmaro + + + + + + + + +<br />
44~ - grau + + + + + + ~<br />
+<br />
II<br />
45: Artigo <strong>de</strong>finido e<br />
in9.efinido<br />
1<br />
+<br />
+<br />
II I II I II I II<br />
+<br />
I<br />
+<br />
I +<br />
46. Adjet!vo:<br />
~ noo·o + + + + + + + +<br />
+<br />
47. - concar<strong>da</strong>ncia nomina<br />
+ "<br />
48. - graus .<br />
+ + + + +<br />
49. Prono~es:<br />
- no«ao + +<br />
50. - pessoais + + + + + +<br />
51. - casa reto + + + + +<br />
52. - caso ob1iquo + + + + +<br />
53. - <strong>de</strong> tratar.Jento<br />
+ + + + +<br />
54. - possessivos + + +<br />
55. - <strong>de</strong>monstrativos + + + +<br />
56. - in<strong>de</strong>finidos<br />
+ + +<br />
+ + X<br />
57. Verba:<br />
- nOGoes gerais + + + + + + + -I- + I X<br />
58. - te.mpos<br />
t + + +<br />
"<br />
+ ;.:<br />
+<br />
C," ,,11 .J ~ --," ---'--~,-~_.~- ..".<br />
+ + + + +<br />
60. - formas nominaia + + +<br />
".".•.. "'_'-,."-
)~. - ~eillpOS ~<br />
5"'jl.·1 I,.,,,,,,",,,,,,, .'c,.... _~ __~....~ __<br />
60. - forroas nominais<br />
+<br />
+<br />
61. -co:Q.jugac;oes<br />
62. - verbos auxiliares<br />
63. Adverbio<br />
64. Numeral<br />
65. Preposic;ao<br />
'66. Crase<br />
67. Interjeic;ao<br />
68. Conjunc;:ao<br />
69. Ora\(a~:<br />
- no\(oes<br />
70. - noc;ao <strong>de</strong> sujeito<br />
71. - sujeito simples!<br />
sujeito composto<br />
72. - predicado<br />
73. objeto direto<br />
74. objeto indireto<br />
+ + +<br />
+<br />
+ + +<br />
+ + +<br />
+ + +<br />
+<br />
+ + +<br />
+ + +<br />
+ + +<br />
+ + + +<br />
+ + + +<br />
+<br />
+<br />
+<br />
-l'<br />
+ I<br />
+<br />
+<br />
+<br />
+<br />
TOTAL <strong>de</strong> referencias<br />
(per Autor e <strong>em</strong> ca<strong>da</strong><br />
serie )<br />
Observg.~6es:<br />
o quadro evi<strong>de</strong>ncia:<br />
1) A sobrecarga <strong>de</strong> conteudo do'programa previsto para 0 19 grau<br />
menor e a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> classificatoria e <strong>de</strong>nominativa predominante.<br />
2) 0 carater repetitivo <strong>de</strong> alguns conteudos: 16 <strong>de</strong>les repet<strong>em</strong>-se<br />
<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as seri~s; 29, <strong>da</strong> 2a. a 4a. serie.<br />
3) O·tot~l <strong>de</strong> referencia por autor, e <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> serie revela a progressao<br />
quantitativa <strong>de</strong>sses conteudos. Entre a 1~. e a 2a., e<br />
~nt:e a 2a. e_a 3a., praticamente duplicam. Entre a 3a ..e.a 4a.,<br />
a,dlferen
A leitura <strong>de</strong> textos esta sist<strong>em</strong>aticamente sugeri<strong>da</strong> nos<br />
livros pelo que se constitui num dos objetivos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e~<br />
colares. Sua pritica revela muitos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> como s~o concebi<br />
dos os processos nela envolvidos.<br />
Nas 62 ocorrencias examina<strong>da</strong>s <strong>de</strong>stacamos alguns aspe£<br />
tos que nos pareceram importantes, enquanto refletiam as caract~<br />
risticas com que se exercita a leitura <strong>de</strong> textos no 1 9 grau menor.<br />
Primeiramente, <strong>de</strong>t<strong>em</strong>o-nos na anilise dos tipos e org~<br />
niza~ao dos textos examinados. A seguir, tee-<strong>em</strong>os algumas consid~<br />
ra~oes sobre a utiliza~ao a que se prestam tais text os na escola.<br />
Urn e outro aspecto i-ndicam mui to do que se po<strong>de</strong>ria aI\ontar como<br />
sendo a concep~ao predominante <strong>de</strong> 1eitura.<br />
9.1 - Tipos e organiza~~o dos textos<br />
19) Ca<strong>da</strong> 1i~~o, cham<strong>em</strong>os aSSlm as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e introd~<br />
zi<strong>da</strong> por urn texto, 0 que, inicialmente, po<strong>de</strong>ria indicar urn traba<br />
Iho pe<strong>da</strong>gogico centrado no e a partir do texto.<br />
- .-<br />
Os resultados do it<strong>em</strong> anterior, por<strong>em</strong>,Ja comprovaram<br />
quanta a Gramatica Escolar privilegia a frase solta e/ou a palavra<br />
isola<strong>da</strong>.<br />
Nesses manualS, vistos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a perspectiva <strong>de</strong> uma ti<br />
po1ogia <strong>de</strong> textos, predominam, com gran<strong>de</strong> vantag<strong>em</strong>, os textos<br />
narrativos, na vers~o <strong>da</strong> "historinha" fantasiosa, ou ficciona1<br />
que inclui <strong>da</strong>s fa<strong>da</strong>s aos bichos.
A guisa <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, verificamos Bellucci (1985,4) e<br />
constatamos que dos 26 textos 19 SaD historias, 6 sao po<strong>em</strong>as. A<br />
terceirali~ao traz uma coletinea <strong>de</strong> cantigas <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>.<br />
Esses <strong>da</strong>dos Ja suger<strong>em</strong> a concentra~ao dos manuais <strong>em</strong><br />
textos <strong>de</strong> proced~ncia literiria. Excetuando, e claro, aqueles ,<br />
"pre-fabricados", com a inten
Marques (1983, 4), pela insistencia com que se centram <strong>em</strong> aspe~<br />
tos mecanicos <strong>da</strong> leitura e pela enfase que conce<strong>de</strong>m a "leitura<br />
<strong>de</strong>talha<strong>da</strong>" como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> apreensao do significado. A pr~<br />
posito, consulte-se 0 quadro n 9 2: "Instru
Se analisado sob 0 ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> representativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> real, cr<strong>em</strong>os po<strong>de</strong>r concluir tratar-se <strong>de</strong> um texto<br />
nao-natural, programado pfl.rauma forma <strong>de</strong> "dizer" que nao cor<br />
respon<strong>de</strong> aos termos reais <strong>em</strong> que ja se <strong>de</strong>finiu a competencia comunicativa<br />
<strong>da</strong> crian~a. Desconfiamos, ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong> baixa possibilid~<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> que textos <strong>de</strong>ssa natureza possam provocar intera~ao comuni<br />
cativa, muito menos, gosto pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> leitura.<br />
1 9 ) Entre as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s propostas a partir do texto ,<br />
como pressuposta, v<strong>em</strong> a leitura, as vezes explicitamente solicita<strong>da</strong><br />
"<strong>em</strong> voz alta" ou "oralmente" .0 contacto com professores do<br />
1 9 grau t<strong>em</strong> revelado quanta este procedimento e valorado e como<br />
funciona na testag<strong>em</strong> e avalia~ao <strong>da</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>codifica~ao<br />
oral dos sinais graficos com muita enfase nos aspectos <strong>da</strong> entona<br />
~ao e <strong>da</strong>s pausas.<br />
2 9 ) Ao texto, segue-se, s<strong>em</strong>pre, sob a <strong>de</strong>nomina~ao <strong>de</strong><br />
"Vocabulario" a listag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s palavras as quais 0 autor do livro<br />
supos<br />
-<br />
ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s ou apresentar<strong>em</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensao<br />
para 0 aluno. Alguns manuais juntam a estas listagens exe~<br />
clcios <strong>de</strong> explora~ao lexical, quase s<strong>em</strong>pre valendo-se apenas <strong>de</strong><br />
lacunas a ser<strong>em</strong> preenchi<strong>da</strong>s pelos sinonimos constantes <strong>da</strong> listag<strong>em</strong>,<br />
s<strong>em</strong> quase nenhuma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> resolu~ao. Em Martos(l985, 3:<br />
6) po<strong>de</strong>-se encontrar ex<strong>em</strong>plos como:
a) Mamae. uma 6 e..!.l.:ta pa/ta c.am e.m a/tQ../t 0 auive./t<br />
!.la/tio -<br />
do me.u i/tmao.<br />
b) A!.l ve.ze.!.l, a- u a i.:t e., ouvimo!.l /tu.Ido!.l<br />
uo<br />
q uiu.:taL<br />
c.) Pau.tiuha e.!.l.:ta c.om a mui.:to be.m" .<br />
Vale ressaltar que, nesta amostra, a distribui~ao <strong>da</strong>s<br />
palavras po<strong>de</strong>ria ser feita s<strong>em</strong> levar <strong>em</strong> conta os tra~os s<strong>em</strong>anticos<br />
<strong>da</strong>s palavras. Por sinal, morfossintatica e s<strong>em</strong>anticamente,al,<br />
nao havia oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escolhas alternativas.<br />
No geral, 0 estudo do vocabulario prescin<strong>de</strong> do estabelecimento<br />
<strong>de</strong> rela~oes com outros itens lexicais do texto ou outros<br />
previamente compreendidos ou aprendidos .<br />
(Cf. Kato, 1984: 139).<br />
3 9 ) 0 "exerclcio <strong>de</strong> interpreta
o texto come
Em alguns manuais, aparec<strong>em</strong> perguntas que recorr<strong>em</strong><br />
imagina~ao, a opiniao ou experiencia pessoal <strong>da</strong> crian~a.<br />
(Cf. Venantte, 1985, 3:2)<br />
4 9 ) Os po<strong>em</strong>as receb<strong>em</strong> 0 mesmo tratamento interpretativo.<br />
A1guma diferencia~ao e <strong>de</strong>staca<strong>da</strong> quando (0 que acontece na<br />
maioria <strong>da</strong>s vezes), por ex<strong>em</strong>plo, sac <strong>de</strong>stinados a apresenta~ao<br />
<strong>de</strong> jograis ou quando se apela (numa ocorrencia apenas) para a<br />
lei tura" ... <strong>da</strong>ndo as frases 0 sentimento que a poetisa quis trans<br />
mitir" (Marques, 1983, 4: 129).<br />
Eventua1mente, encontramos <strong>em</strong> Marques (1983,3:26) uma<br />
observa~ao que reve1a a concep~ao <strong>de</strong> poesia do ponto <strong>de</strong> vista p~<br />
ramente periferico. Vejamos:<br />
"0 .te.x.to "A Coftajo.6a" e. - uma poe..oia.<br />
A poe..oia ~ b0ftma<strong>da</strong> <strong>de</strong>. ve.ft.oo.o.<br />
Ca<strong>da</strong> iinha <strong>de</strong>. uma poe..oia ~ um ve.ft.oo.<br />
0.6 ve.ft.oO.6 e..o.taocoiocado.6 e.m 9ftUP0.6.<br />
Ca<strong>da</strong> gftUpO <strong>de</strong>. ve.ft.60.6b0ftma uma e..o.tftOne..<br />
A au.tofta <strong>da</strong> poe..ol..a~ a poe..ti.oa Maftia Ve.io.oo".<br />
Numa perspectiva aSSlm tao formal cab<strong>em</strong> utiliza~oes<br />
do texto poetico como a seguinte:<br />
"Le.ia com a.te.ncao 0 poe.ma e. .oubiinhe. a.6 paiavfta.o que.<br />
po.o.oue.m e.ncontfto.o vocaiico.o".<br />
(Giac.omozzi, 79&5, 4:30)<br />
59) 0 texto ain<strong>da</strong> e utilizado como fonte para<br />
se extrair uma frase ou palavra que:<br />
- introduz urn treino <strong>de</strong> ortografia ou<br />
- uma li~ao gramatica1.<br />
o estudo, no entanto,nao chega propriamente<br />
feito no texto.
do (1985: 56): "A lIngua e algo muito "versatil": as vezes, pod~<br />
mos usa-la para expressar . nossos pensament os, ou tras vezes, po <strong>de</strong><br />
mos usa-la s6 para fixar silabas e palavras ... s<strong>em</strong> qualquer corn<br />
promisso com 0 significado".<br />
6 9 ) Hi abun<strong>da</strong>ntes ex<strong>em</strong>p10s do recurso ao texto como<br />
espa~o para verifica~ao dos contefidrisgramaticais vistos. (Neste<br />
particular, tamb<strong>em</strong> se inclu<strong>em</strong> propostas <strong>de</strong> consultas a jornais e<br />
revistas).<br />
- "Re.pa/le. 0 :te.x:to que. voc.e. .te.u e. c.op-Le. :to<strong>da</strong>-6 a-6 pa.ta-<br />
V/la-6 que. :te.nham dZg/la6o".<br />
(Souza, 1985, 3: 26)<br />
- "P/lOC.U/le. yw.te.-L:tu/la, pa.tav/la-6 c.om ac.e.Yl:to agudo e.<br />
ac.e.Yl:to c.-L/lc.uYl6.te.xo, e. 6a~a a c.op-La~<br />
(SaYl:to-6, 1983, 2: 64)<br />
- "Cop-Le. <strong>da</strong> .te.-L:tuJLa :t/le--6 .6ub-6:taYl:t-Lvo.o c.omuYl.o".<br />
(SaYl:to.o, 1983, 2: 92)<br />
7 9 ) 0 texto do 1ivro di<strong>da</strong>tico constitui a op~ao basica<br />
<strong>de</strong> leitura sugeri<strong>da</strong> explicitamente nesses manuais. A orienta<br />
~ao para 1eituras compl<strong>em</strong>entares apareceu ernMoraes (1984, 4:<br />
168) atraves <strong>de</strong> urn quadro corn os nomes <strong>de</strong> 15 livros infantis,au<br />
tor e editora. Ern Venantte (1985, 3), como apendice, constam 29<br />
pequenos textos encabe~ados pela <strong>de</strong>signa~ao do objetivo:<br />
8 9 ) Ern geral, as utiliza~oes que se faz<strong>em</strong> ~o texto p~<br />
rec<strong>em</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s a malS para ressaltar aspectos puramente es<br />
truturais <strong>da</strong> lIngua e refor~ar habitos <strong>de</strong> leitura que objetivarn,<br />
<strong>de</strong> forma mecanica, estabelecer correspon<strong>de</strong>ncias entre som e si<br />
nais graficos. Nesses termos, citamos Kleiman (1983:48) como<br />
forma, inclusive, <strong>de</strong> sintetizar muitas <strong>da</strong>s 0plnloes que fomos<br />
<strong>em</strong>itindo ao longo <strong>de</strong>ste t6pico.
"Apos a alfabetiza~ao"- diz ela -"a au<br />
la <strong>de</strong> leitura se reduz a uma avalia~ao<br />
<strong>da</strong> leitura, raras vezes se chega ao<br />
ensino. Nessa avalia~ao, e a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> processamento <strong>da</strong> crian~a que e<br />
avalia<strong>da</strong>, nao a sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> textual,<br />
a jUlgar pel a enfase coloca<strong>da</strong> na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> reten~ao <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos expllci<br />
tos, na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r perguntas<br />
reiterando apenas el<strong>em</strong>entos expllci<br />
tos, na capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar frases e<br />
senten~as do texto. Na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a<br />
crian~a e treina<strong>da</strong> nestas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
unidimensionais, ela apren<strong>de</strong>ra que ler<br />
consiste na aplica~ao <strong>de</strong>ssas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
as senten~as "conti<strong>da</strong>s" no texto".
- .<br />
ANALISE DAS ESTRATEGIAS DE PRODUCAO DO TEXTO<br />
)<br />
textos<br />
Iniciamos pelo exame <strong>da</strong>s propostas para pTodu~ao <strong>de</strong><br />
escritos.<br />
Neste aspecto, foram examina<strong>da</strong>s 79 1i~6es <strong>de</strong> 10 manuais<br />
diferentes. Concentramo-nos <strong>em</strong> itens que, normalmente,ap~<br />
rec<strong>em</strong> como exerclcio <strong>de</strong> EXPRESSAO ESCRITA, ou exerclcio <strong>de</strong> REDA<br />
c:AO.<br />
1 9 ) De uma maneira geral, po<strong>de</strong>mos afirmar que a estas<br />
re<strong>da</strong>~6es e concedido urn espa~o b<strong>em</strong> mais reduzido que aos exercl<br />
cios <strong>de</strong> treinos ortograficos e outros ao nlvel <strong>da</strong> frase solta<br />
e <strong>da</strong> palavra isola<strong>da</strong>.<br />
o texto cria~ao do aluno parece ser urn recurso even-<br />
esporadico.<br />
tual,<br />
o mais comum e que, quanta a escrita, ao aluno seja<br />
pedido escrever 0 que ja estava escrito <strong>em</strong> outro lugar. Este a~<br />
pecto parece coincidir, pelo menos, <strong>em</strong> parte, com Rockwell (1985:<br />
90) quando, falando <strong>da</strong> escrita escolar, diz: "A escrita, como<br />
produ~ao <strong>de</strong> textos, se distribui <strong>de</strong>sigualmente entre professo -<br />
res e alunos. 0 que se escreve mais freqUent<strong>em</strong>ente na sala <strong>de</strong><br />
aula (excluindo 0 que se copia <strong>de</strong> algum texto) inclui 0 seguinte:<br />
ora~6es, probl<strong>em</strong>as, <strong>de</strong>fini~oes, resumos, listas, perguntas,<br />
e respostas a perguntas. Disto, aos alunos so se pe<strong>de</strong> que form~<br />
l<strong>em</strong> iistas, ora~oes e respostas a perguntas; 0 resto ten<strong>de</strong> a<br />
ser <strong>da</strong> al~a<strong>da</strong> do professor, isto e, textos. que ele produz e<br />
eles copiam. 0 'texto livre' se observa apenas excepcionalmen -<br />
te".
2 9 ) As instru~oes que abr<strong>em</strong> as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> re<strong>da</strong>~ao<br />
sac significativas enquanto po<strong>de</strong>m revelar a concep~ao <strong>de</strong> produ-<br />
~ao escrita subjacente. Urn ex<strong>em</strong>plo:<br />
"Ficha pa~a uma boa ~e<strong>da</strong>c~o.<br />
- E~c~eva com ~et~a ~egZve~.<br />
Emp~egue co~~etamente a~ ~et~al maiu~cu~a~, o~ linai~<br />
<strong>de</strong> pontuacao e o~ pa~ag~a6o~.<br />
- Faca ma~g<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> vez que inicia~ um pa~ag~a6o.<br />
- Sepa~e co~~etamente a~ ~Z~aba~.<br />
- E~c~eva 6~a~e~ cu~ta~ e ~imp~e~, evitando a ~epeti-<br />
Cao <strong>de</strong> pa~av~a~<br />
(Ma~que~, 1983, 4:7)<br />
A mesma autora (1983, 2:3) chama a aten~ao dos alunos<br />
para 0 cui<strong>da</strong>do com as "Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Comunica
~ao apenas. Ha casos <strong>em</strong> que a historia e inicia<strong>da</strong> e se pe<strong>de</strong> ao<br />
aluno que a continue, ou e sugerido 0 final com perguntas. Como<br />
se po<strong>de</strong> ver nos seguintes ex<strong>em</strong>plos:<br />
Eug~nio e~a um bu~~inho dibe~ente. Eie e~a muito inte<br />
iigente. Antigamente eie e~a teimo~o e bi~~ento ~omo ~ao aiguma~<br />
~~ian~a~.<br />
Um dia<br />
(imagine a~ bi~~a~<strong>de</strong> Eug~nio e 0 que<br />
.<br />
aconteQ~a ~om eie).<br />
I'<br />
(Santo~, 1993, 1: 129)<br />
4 9 ) Tamb<strong>em</strong> sac solicita<strong>da</strong>s composl~oes <strong>de</strong> textos <strong>de</strong>scritivos<br />
a partir <strong>de</strong> gravuras <strong>de</strong> animais, <strong>de</strong> objetos, <strong>de</strong> pes-<br />
Muitas <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>scri~oes sac precedi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> observa-<br />
~oes como: "Para <strong>de</strong>screver urn animal voce tern que observa-lob<strong>em</strong>.<br />
Ca<strong>da</strong> animal t<strong>em</strong> uma coisa que se <strong>de</strong>staca <strong>da</strong>s outras. Se formos<br />
<strong>de</strong>screver urn carneiro, ter<strong>em</strong>os que dizer:<br />
Sua classifica~ao: mamlfero, vertebrado,herblvoro(a1i<br />
menta-se <strong>de</strong> ervas), quadrupe<strong>de</strong> (quatro patas). Como e seu corpo.<br />
De que seu corpo e coberto. On<strong>de</strong> vive. Sua utili<strong>da</strong><strong>de</strong> (carne, p~<br />
10, etc). A f<strong>em</strong>ea do carneiro. Diga se gosta <strong>de</strong> carneiro e por<br />
que".<br />
Ness~roteiros <strong>de</strong> <strong>de</strong>scri~ao parece-nos evi<strong>de</strong>nte a con<br />
vergencia <strong>de</strong> observa~oes essencialmente conteudlsticas. Ficam<br />
<strong>de</strong> lado orienta~oes propriamente textuais e outras <strong>de</strong> carater<br />
aplicativo. Os alunos nao sao advertidos para as situa~6es <strong>em</strong><br />
que tais tipos <strong>de</strong> texto sac exigidos.
-<br />
59) Numa propor~ao b<strong>em</strong> menor, encontram-se tamb<strong>em</strong> so<br />
1icita~oes para que as crian~as escrevam cartas e bilhetes, gera1mente<br />
dirigidos aos pais ou a colegas e amigos. E a ocorrencia<br />
<strong>em</strong> que aparece um "leitor", pelo menos explicitamente simulado,<br />
para os textos escolares. Tamb<strong>em</strong> aparec<strong>em</strong> sugestoes <strong>de</strong><br />
aVlSOS e anuncios, as vezes, com l<strong>em</strong>bretes como no ex<strong>em</strong>plo a se<br />
C-tJtc.o<br />
- "EI.>e.tLe.va u.m avil.> a paJta I.>e.Jt c.ola c.ado l1a e.11:tJta<strong>da</strong> do<br />
MUl1d-tal.<br />
Ne.I.>:te.av-0, nao po<strong>de</strong>.m 6al:taJt<br />
e. 0 hoJtaJt- apJte.I.>e.I1:ta~oe.!.>.<br />
Se.ja be.m c.Jt-
Imagin~ qu~ VOQ~ po~~ui um UniQOhnio. E~Qh~Va ~obhe a~<br />
av~ntuha~ qu~ VOQ~ ~ ~l~ viv~ham junto~. Aon<strong>de</strong> VOQ~~ ~h~am? De<br />
qu~ VOQ~~ btL~nQatLam?".<br />
(Bellucci, 1985,4: 7)<br />
As vezes, estes roteitos v~m <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> perguntas as<br />
quais as crian~as passam a respon<strong>de</strong>r uma a uma, do que resulta<br />
urn conjunto <strong>de</strong> frases <strong>de</strong>sconecta<strong>da</strong>s. Repete-se a pratica a favor<br />
<strong>da</strong> constru~ao <strong>de</strong> textos fragmentados e irreais, s<strong>em</strong> 0 recurso aos<br />
el<strong>em</strong>entos que estabelec<strong>em</strong> a conexao entre as varias partes do<br />
todo. Por ex<strong>em</strong>plo: propoe-se a crian~a 0 seguinte exerclcio:<br />
o qu~ e: ~~:to?<br />
Ond~ VOQ~ ve a~ e~:thela~?<br />
Quando?<br />
Como ~ao ela~?"<br />
5e a professora nao esta atenta para que tais pergun-<br />
~<br />
tas ~pncion<strong>em</strong> apenas como pistas que orientam a progressao do<br />
texto, 0 produto a <strong>de</strong>rivar <strong>da</strong>i sera urn grupo <strong>de</strong> frases completas<br />
- mas soltas vincula<strong>da</strong>s apenas pelo aspecto <strong>da</strong> referencia.<br />
79) Constatam-se tamb~m propostas«<strong>de</strong> re<strong>da</strong>~ao muito va<br />
gas e abstratas e <strong>de</strong> pouca motiva~ao para os interesses <strong>da</strong> faixa<br />
etaria <strong>da</strong> crian~a. Como se po<strong>de</strong> ver <strong>em</strong>:<br />
- "Compo~~~ao: Meu ha~o d~ ~ol"<br />
(B ellu QQ~, 798 5, 4: 38)<br />
(Mesmo levando <strong>em</strong> conta que 0 texto <strong>da</strong> li~ao contava a historia<br />
<strong>de</strong> urnmenino que tinha "urn raio <strong>de</strong> sol") .<br />
- Ou <strong>em</strong>: "Se eu tlo~~e um pa~~ahil1ho?"<br />
(San:to~, 7985, 3: 754)<br />
8 9 ) Os objetivos <strong>da</strong>s re<strong>da</strong>~oes nao sac claros, ou Slmplesmente,<br />
nao sac expressos. Na maioria, visam <strong>de</strong>finir os con-
teudos, mas nao as inten~oes ou fun~oes que possam ter os textos.<br />
Tais objetivos expressam-se sob a forma <strong>de</strong> instru~ao, ou or<strong>de</strong>m ,<br />
<strong>da</strong> qual, como nos exercicios gramaticais, 0 aluno e apenas um<br />
<strong>de</strong>stinatario passivo. Nesse contexto, 0 professor e 0 instrutor<br />
que coman<strong>da</strong>, mas nao 0 que pratica com 0 aluno.<br />
(Ma.J1.que..6, 1983, 4:42)<br />
- "E.6c.J1.e.va. .6obJ1.e. 0.6 IVl.d-i-o.6 e.m .6e.u c.a.<strong>de</strong>.J1.Vl.o".<br />
- "E.6 c.J1.e.va. um a. c.0 mp 0.6 -i-~(io c.0 vLt.aVl.d 0 um a. h-i-.6;to J1.-i-a. <strong>de</strong>. b-ic.ho.6.<br />
I'€'u.6;tJ1.e. 0 .6e.u ;tJ1.a.ba..€.ho".<br />
(Ma.J1.que..6, 1983, 4: 89)<br />
9~) A maioria <strong>de</strong>ssas produ~6es dos alunos, com exce -<br />
~ao <strong>da</strong>s cartas e bilhetes, nao t<strong>em</strong> 1eitores, sequer imaginados.<br />
Tudo leva a crer que a pratlca mais freqUente,se tomamos aqui<br />
<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ra~ao tamb<strong>em</strong> 0 it<strong>em</strong> anterio~ e exercitar no aluno a<br />
escrita para na<strong>da</strong> e para ningu<strong>em</strong>.<br />
10 9 ) Os enunciados com que se apresentam as solicita -<br />
~oes <strong>de</strong> re<strong>da</strong>~ao nao privilegiam aspectos que dirijam 0 aluno pa<br />
ra 0 cui<strong>da</strong>do com a clareza <strong>da</strong> expressao, com 0 estabelecimento<br />
dos elos coesivos, com a a<strong>de</strong>qua~ao <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> a fun~ao do te~<br />
to e outros<br />
"<br />
tantos aspectos que, <strong>de</strong> fato, significam habi1i<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
comunicativas. A lIngua escrita e encara<strong>da</strong>, sobretudo, pe10<br />
angulo <strong>da</strong> realiza~ao ortografica (Genouvrier e Peytard, 1974 :<br />
131) .<br />
11 9 ) Os conteudos referenciais <strong>da</strong>s propostas, na maioria,<br />
<strong>de</strong>scartam a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar, ao lado <strong>da</strong> oportuna<br />
utiliza~ao <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> fantasiosa <strong>da</strong> crian~a, os acontecimentos<br />
<strong>de</strong> relevancia social. Tal op~ao nos parece favoravel a inicla~ao<br />
e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> avalia~ao e argume~<br />
ta~ao crlticas.
12 9 ) Faltam instru~oes que estimul<strong>em</strong> na crian~a a con<br />
quista <strong>da</strong> autoconfian~a na expressao <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ias. Muito menos,<br />
encontram-se orienta~oes que possam refor~ar 0 gosto ~e1a<br />
escrita ou que apont<strong>em</strong> a pratica continua<strong>da</strong> <strong>de</strong> tentar produzir,<br />
como uma condi~ao <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> b<strong>em</strong> sucedi<strong>da</strong>.<br />
A 1inguag<strong>em</strong> <strong>da</strong>s propostas e, antes <strong>de</strong> tudo, imperativa.<br />
13 9 ) A re1a~ao entre 0 exerclcio <strong>de</strong> compOSl~ao, 0 tex<br />
to <strong>da</strong> 1i~ao e as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressao oral quase s<strong>em</strong>pre e<br />
busca<strong>da</strong> a nlve1 do conteudo. Como se po<strong>de</strong> ver <strong>em</strong> Marques(1983 ,<br />
3:9), 0 texto <strong>da</strong> 1i~ao e uma historia sobre "A nuvenzinha preguic;osa".<br />
A pagina seguinte, preve- se uma "conv ers'a~ao"sobre as<br />
nuvens e outra sobre a pregui~a, a1<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma narra~ao oral sobre<br />
"uma crianc;a preguic;osa e 0 que 1he aconteceu".<br />
Relativa a mesma 1ic;ao, correspon<strong>de</strong>nte a "Expressao<br />
Escrita" se pe<strong>de</strong>: "EJ.Jc.Ji..e.va uma e.!.J:toJi..J..a c.om<br />
"Um me.nJ..no pJi..e.guJ..
e) Ha obedi~nQia a~ mangen~, enQo~~ando apena~ <strong>em</strong> Qa<strong>da</strong><br />
uma, ~<strong>em</strong> uttnapa~~an?~<br />
15 9 ) Nao se encontram ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> exerclcios ern que<br />
se preveja que 0 texto produzido pelo aluno seja, <strong>de</strong> alguma manelra,<br />
utilizado para estudo ou ex<strong>em</strong>plifica~ao <strong>de</strong> alguma questao<br />
ou tenha outra finali<strong>da</strong><strong>de</strong> que nao a corre~ao pelo professor.<br />
Acreditamos ser <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> transcrever, aqui, uma<br />
observa~ao <strong>de</strong> Rockwell (1985: 94):<br />
"Ern to<strong>da</strong>s estas praticas se faz alguma COlsa corn a<br />
lingua escrita, copia-se, <strong>de</strong>senha-se, verbaliza-se, assinala-se<br />
ou grifa-se, analisa-se, m<strong>em</strong>oriza-se, etc., mas nao se faz lingua<br />
escrita; apren<strong>de</strong>-se a fazer algo corn a texto<br />
.<br />
e ao mesmo tern<br />
po apren<strong>de</strong>-se- a nao Ie-la, a nao tratar <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>-lo. 0 sen<br />
tido que tern a texto escrito na escola, nao ~rpv~m <strong>da</strong> sua possl<br />
bili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> referencia a outra reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas <strong>de</strong> sua utili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar: "ora~ao" significa que<br />
se marca corn S e P; "po<strong>em</strong>a" ~ 0 que se <strong>de</strong>clama corn os gestos clas<br />
sicos".<br />
As propostas <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong> textos orais limitam-se a<br />
sugerir conversa~oes, <strong>de</strong>scri~oes,dialogos mass<strong>em</strong> orienta~ao <strong>de</strong><br />
como essas experiencias implicam estatutos lingUisticos difere~<br />
tes. Como para os textos escritos, a preocupa~ao centra-se na<br />
<strong>de</strong>fini~ao do conteudo a ser objeto do texto.<br />
Omite-se tamb~m 0 aspecto <strong>da</strong> recep~ao,nesses textos<br />
orais, que, como sao propostos, mais se i<strong>de</strong>ntificam corn padroes<br />
<strong>de</strong> monologos. A situa~ao natural <strong>da</strong> comunica~ao dialogica, base<br />
do intercambio lingUistico, nao chega a ser suficient<strong>em</strong>ente apr~<br />
veita<strong>da</strong> como indica~ao <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Talvez, as proprias condi-<br />
~oes <strong>da</strong> superpopula~ao <strong>de</strong> alunos por sala conduza a que, como
dispositivo pratlco ate <strong>de</strong> disciplinac;ao, se.priorize a ativi<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> individual <strong>da</strong> escrita. De fate, os exercicios encabec;ados por<br />
"Copie", "Escreva no ca<strong>de</strong>rno", "Sublinhe", "Fac;a 0 treino ortografico",<br />
e outros no genero, prevalecern sobre aqueles que preveern<br />
utilizac;oes textuais do oral.<br />
Ain<strong>da</strong> assirn, Marques (1983, 4), principalrnente, rese~<br />
va <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> texto urn lugar a "Expressao Oral", que curnpre,<br />
<strong>em</strong> geral, os aspectos salientados acirna. Em sintese, pe<strong>de</strong>-se que<br />
"re surna", "converse", "conte"... e se indi carn os ternas, porernnao<br />
ha referencia nern orientac;ao <strong>de</strong> como produzir estes diferentes<br />
tipos <strong>de</strong> texto, nern e salientado 0 aspecto funcional e <strong>da</strong> inten<br />
c;ao que po<strong>de</strong>, tarnbern,estar na base <strong>de</strong>ssas diferenc;as. 0 interlocutor<br />
<strong>de</strong>sses textos e geralrnente apagado e as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
do oral e do escrito nao chegarna ser salienta<strong>da</strong>s, nern sequer notifica<strong>da</strong>s.<br />
Efetivarnente, 0 texto oral nao chega a ser objeto do<br />
ensino. Tal observac;ao nos rernete para Roulet (1978:5) que nessa<br />
linha se pronuncia nos seguintes terrnos:<br />
" se se adrnitir que as estruturas<br />
<strong>da</strong> lIngua oral sac bern diferentes <strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong> lIngua escrita, que os rnanuais tra<br />
dicionais apresentarn sisternaticarnente<br />
apenas as estruturas <strong>da</strong> lIngua escrita<br />
ou estabe1ecern a confusao entre 05<br />
dois codigos, e que os professores ern<br />
geral nao tern urn conhecimento explIc~<br />
to suficiente <strong>da</strong>s estruturas <strong>da</strong> lIn -<br />
gua fala<strong>da</strong>, e for~oso constatar que<br />
as inforrnac;oes forneci<strong>da</strong>s pelas grarni<br />
ticas tradicionais nao perrnitern aos<br />
alunos atingir urn dos objetivos fund~<br />
rnentais <strong>da</strong> aprendizagern <strong>de</strong> urna lIngua<br />
VI va: a aquisic;ao <strong>de</strong> urn instrurnento <strong>de</strong><br />
cornunicac;ao oral".
11 - AVALIACAO CRITICA DO MATERIAL DIDATICO ANALISADO<br />
J<br />
Discriminados os resultados <strong>da</strong> analise dos livros di<br />
<strong>da</strong>ticos, nas categorias especifica<strong>da</strong>s, cumpre-nos agora <strong>de</strong>ternos,<br />
<strong>de</strong> forma mais sist<strong>em</strong>atica, na avalia~ao <strong>de</strong>sses resultados,<br />
<strong>em</strong>bora ja tenhamos, sobre alguns aspectos, antecipado el<strong>em</strong>entos<br />
<strong>de</strong> valora~ao critica.<br />
Adotamos como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> consi<strong>de</strong>rar as varias<br />
abor<strong>da</strong>gens que 0 fenomeno lingtiistico tern assumido na evolu~ao<br />
<strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong>, neste seculo. Isto por acreditarmos que<br />
a pe<strong>da</strong>go~ado ensino <strong>da</strong> lingua esta vincula<strong>da</strong> as concep~oes <strong>da</strong>quele<br />
fenomeno . Nao <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>terminlstica, <strong>de</strong> causa e<br />
efeito, mas como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> base implicativa, sujeito ain<strong>da</strong> a<br />
circunstancias <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m social, economica e polltica.<br />
Feita~ estas consi<strong>de</strong>ra~oes preliminares, passamos a<br />
? •<br />
avalia~ao do material di<strong>da</strong>tico estabelecendo, previamente, <strong>em</strong><br />
aspectos gerais, as linhas conceituais que po<strong>de</strong>m estar implica<strong>da</strong>s<br />
naqueles resultados.<br />
Vma passag<strong>em</strong>, ain<strong>da</strong> que sumaria, pela historia <strong>da</strong><br />
Lingtilstica revela que a varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>gens que tern assuml<br />
do esta ciencia parece reduzir-se a dois gran<strong>de</strong>s grupos:<br />
a) 0 <strong>da</strong>queles que centralizarn seu objeto <strong>de</strong> investiga<br />
~ao na lingua enquanto sist<strong>em</strong>a virtual,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> suas con<br />
di~oes <strong>de</strong> realiza~ao;<br />
b) e 0 <strong>da</strong>queles que centralizarn seu estudo na lingua<br />
enquanto sist<strong>em</strong>a-<strong>em</strong>-fun~ao vinculado as contingencias concretas<br />
<strong>de</strong> sua atualiza~ao.<br />
Essas duas tcn<strong>de</strong>ncias parec<strong>em</strong> ja ser impl~citamente
previstas na classica dicotomia "langue" e "parole" <strong>de</strong> Saussu<br />
re .,<br />
Foi sob 0 dominio <strong>da</strong> primeira que se consolidou a autonomia<br />
<strong>da</strong> LingUlstica como ciencia, cujo objeto, estritamente<br />
falando, Saussure <strong>de</strong>fine como sendo a lIngua (Saussure, 1973 :<br />
28) .<br />
Como foi pelo dominio <strong>da</strong> primeira que se <strong>de</strong>senvolveu a<br />
corrente do Estruturalismo lingUlstico.<br />
Assim e que, ate meados <strong>de</strong>ste seculo, as concep~oes<br />
do fenomeno lingUlstico nao se distanciaram muito dos termos com<br />
que Saussure <strong>de</strong>finira a lIngua:<br />
a) "Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> slgnos distintos correspon<strong>de</strong>ntes a<br />
i<strong>de</strong>ias distintas" (Saussure, 1973: 18).<br />
b) "Sist<strong>em</strong>a gramatica1 que existe virtua1mente <strong>em</strong> ca<strong>da</strong><br />
cerebro ou, mais exatamente, nos cerebros dum<br />
conjunto <strong>de</strong> individuos (Saussure, 1973: 21).<br />
c) "Parte exterior ao individuo que, por Sl so, nao<br />
po<strong>de</strong> n<strong>em</strong> crLi-1a n<strong>em</strong> modifica-la" (Saussure, 1973:<br />
22) •<br />
d) "Urn sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> signos que exprim<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ias" (Sauss~<br />
re, 1973: 24).<br />
e) "Uma soma <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong>positados <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> cerebro ,<br />
ma1S ou menos como urn dicionario cujos ex<strong>em</strong>p1ares,<br />
todos i<strong>de</strong>nticos, foss<strong>em</strong> repartidos entre os indivi<br />
duos" (Saussure, 1973: 27).<br />
A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> mecanicista <strong>de</strong> Bloomfield e a visao dis -<br />
tributiva <strong>de</strong> Harris, por ex<strong>em</strong>plo, alinharam-se nesta perspectiva.<br />
Seja tomando a lIngua como urn mecanisme <strong>de</strong> "estimulo e resposta",<br />
cuja investiga~ao dispensava 0 apelo ao sentido, seja
partindo <strong>de</strong> u~ corpus, s<strong>em</strong> refer~ncia ao sujeito falante, e obj~<br />
t~vando a <strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong>s estruturas com base nn distribui~ao dos<br />
el<strong>em</strong>entos hierarquicamente dispostos.<br />
~'<br />
Posteriormente, a partir <strong>de</strong> 1957, <strong>de</strong>senvolveu-se 0 mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>da</strong> Gramatica Gerativa Transformacional, encabe~ado por<br />
Chomsky que, <strong>em</strong> slntese, pretendia encaminhar para uma otica mais<br />
essencialmente explicativa a <strong>de</strong>scri~ao do fenomeno lingUlstico.<br />
Este objetivo, contudo, nao afastou a LingUistica <strong>da</strong><br />
cen tral iza
pragmatico <strong>da</strong> lingua e seria conferido ao texto 0 lugar primacl<br />
al on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fate, se po<strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r 0 carater original dos fatos<br />
<strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>.<br />
Na ter~eira parte <strong>de</strong>ste trabalho, preten<strong>de</strong>mos focall<br />
zar os pontos fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong>sta teoria, no que basear<strong>em</strong>os 0<br />
principal <strong>de</strong> nossas propostas.<br />
- se estabelec<strong>em</strong> as priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s,<br />
- se selecionam os conteudos,<br />
- se enquadra a perspectiva
2 9 ) uma ~oncep~io <strong>de</strong> lingua predominant<strong>em</strong>ente mecinica<br />
e "compartimen ta<strong>da</strong>", inexpress~-va, artificial e falsea<strong>da</strong>, corn<br />
pouca ~nfase nos aspectosfuncionalmente criativos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
lingUistica;<br />
39 ) uma concep~io <strong>de</strong> lingua virtual,s<strong>em</strong> usuirios, s<strong>em</strong><br />
refer~ncias a t<strong>em</strong>po, lugar e variiveis sociais, liberta, portanto,<br />
<strong>da</strong>s intromissoes imprevisiveis <strong>da</strong>s atua~oes individuais e<br />
coletivas;<br />
4~) uma concep~ao <strong>de</strong> lingua que, entre abstra~oes e<br />
formalismos, obscurece a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> interacional e comunicativa<br />
que a distingue.<br />
1 9 ) uma concep~ao <strong>de</strong>gramitica que:<br />
a) se mostra excessivamenteconteudistica, metalingUl~tica<br />
e <strong>de</strong>nominativa, que privilegia 0 ensino "sobre" a llngua- e<br />
cujo potencial aplicativo e, porvezes, praticamente inexisten<br />
b) prioriza aabor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> atomiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> frase isola<strong>da</strong> e<br />
<strong>da</strong> palavra solta que, assim, aparec<strong>em</strong> como enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s imobiliza<br />
<strong>da</strong>s;<br />
c) se centraliza no a~pecto pr~scritivo,com ~nfase no<br />
"certo" e no "errado", dicotomicamente extr<strong>em</strong>ados, para que se<br />
saiba 0 que se <strong>de</strong>ve evitar, mas que per<strong>de</strong> <strong>de</strong> vista 0 que<br />
ser <strong>de</strong>senvolvido;
e) visualiza a lingua ~scrita e a lingua fala<strong>da</strong> como<br />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s inteiramente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<strong>da</strong>i por que os exercici<br />
os <strong>de</strong> l~ngua escrita pouco levam <strong>em</strong> conta os conhecimentos e<br />
habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s orais ja domina<strong>da</strong>s pela crlan~a <strong>em</strong> causa;<br />
f) converte ~sse saber prescritivo <strong>em</strong> panacela para<br />
resolu~ao <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e re<strong>da</strong>~ao.<br />
2 9 ) uma concep~ao <strong>de</strong> leitura que:<br />
a) prioriza a automatiza~aQ <strong>da</strong> lei tura enquanto<br />
"<strong>de</strong>codifica~ao sonora dos sinais graficos";<br />
b) se concentra na apreensao "passiva" dos conhecimentos<br />
transmitidos pelo texto, a nivel <strong>da</strong> leitura puramente receptiva;<br />
c) refor~a os procedimentos que levam a <strong>de</strong>codifica~ao<br />
linear e literal do texto,;c~jo objetivo central e "reconhecer "<br />
. \<br />
d) se restringe aos textos dos livros di<strong>da</strong>ticos e pri<br />
vilegia a leitura com 0 objetivo generico <strong>de</strong> alcan~ar a compreensao<br />
do texto;<br />
e) minimiza "as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cognitivas" e "metacogniti<br />
vas" implica<strong>da</strong>s no processo <strong>da</strong> leitura;<br />
f) <strong>de</strong>scui<strong>da</strong> a leitura como forma <strong>de</strong> acesso in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>~<br />
te ao conhecimento coletivo e as expressoes <strong>da</strong> cultura.<br />
3 9 ) uma concep~ao <strong>de</strong>producao escrita que:<br />
a) tamb<strong>em</strong> enfatiza os aspectos mecanicos <strong>de</strong> sua reali<br />
za~ao, do que <strong>de</strong>corre a supervaloriz1~ao <strong>da</strong> ortografia ou 0 mlto<br />
do "escrever correto" como <strong>de</strong>fini~ao do escrever b<strong>em</strong>;
) prioriza uma' pratica s<strong>em</strong> <strong>de</strong>termina~ao dos objetivos<br />
comunicativos <strong>da</strong> escrita;<br />
d) visa, na maioria <strong>da</strong>s vezes, <strong>de</strong> forma circular, a en<br />
sejar a pratica <strong>da</strong> "prosa escolar" ou evi<strong>de</strong>nciar 0 grau <strong>de</strong> domlnio<br />
<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s gramaticais;<br />
e) tern como criterios principais <strong>da</strong> avalia~ao, a corr~<br />
~ao <strong>da</strong> "forma", <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong>s representa~oes ortografi -<br />
f) i<strong>de</strong>aliza perfis <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho muito al<strong>em</strong> <strong>da</strong>queles<br />
que, nessas alturas, a crian~a, po<strong>de</strong>, sabe e precisa realizar .<br />
Neste aspecto vale l<strong>em</strong>brar, com Marcuschi(1986: 8) que 0 que esta<br />
<strong>em</strong> jogo nao e a forma~ao maci
3 9 ) 0 conteudo prograrnatlco e os objetivos pe<strong>da</strong>gQgicos<br />
rninirnizarnos aspectos cognitivos e cornunicativos irnplicados no<br />
uso <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s lingtiisticas.<br />
Em sintese: consi<strong>de</strong>rando a irnportancia do livro di<strong>da</strong>tico,<br />
e retornando a evi<strong>de</strong>ncia do saber lingUlstico que a crian-<br />
~a Ja adquiriu, acreditarnos po<strong>de</strong>r afirrnar que a escola, no geral,<br />
<strong>de</strong>scarta a arnplia~ao <strong>da</strong> cornpetencia lingUlstica e cornunicativa<br />
<strong>de</strong>ssa crian~a,para <strong>de</strong>senvolver urna cornpetencia grarnatical,<br />
que rernete a:<br />
- urna lingua abstrata, virtual e <strong>de</strong>scontextualiza<strong>da</strong>,<br />
do que resulta urn ensino ina<strong>de</strong>quado e irnprodutivo.<br />
A constru~ao <strong>de</strong>sta triplice lacuna nos sugere uma pr~<br />
posta alternativa <strong>de</strong> complernenta~ao, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>rn qualitativa. Sera<br />
~ 0 objeto <strong>da</strong> terceira parte.
o ENSINO CENTRADO NO TEXTO :PROPOSTA DE INTEGRACAO<br />
I
12.1 - Textua1i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lingua<br />
A orienta~ao <strong>da</strong> Lingtiistica Aplica<strong>da</strong> ao ensino <strong>de</strong><br />
1inguas tern enfatizado a utiliza~ao do texto como procedimento<br />
mais a<strong>de</strong>quado para 0 tratamento <strong>da</strong>s mais diversifica<strong>da</strong>s quest6es<br />
lingtiisticas.<br />
Essa orienta~ao, na literatura, <strong>em</strong> congressos e s<strong>em</strong>i<br />
narios especificos, e significativamente divulga<strong>da</strong>, <strong>de</strong> forma<br />
que Ja se po<strong>de</strong> falar numa "aceita~ao consensual" quanta a este<br />
aspecto, pelo menos a nivel <strong>da</strong>s hipoteses <strong>de</strong> trabalho.<br />
o confronto com alguns aspectos propostos nos livros<br />
di<strong>da</strong>ticos "instrumento quase solitario" <strong>da</strong> professora primaria<br />
- comprovou que ain<strong>da</strong>nao e 0 texto,na pratica, 0 lugar on<br />
<strong>de</strong> se privilegia 0 encontro <strong>da</strong> crian~a com a aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />
lingua, n<strong>em</strong> sac as aptidoes <strong>de</strong> recep~ao e produ~ao <strong>de</strong> texto a<br />
questao fun<strong>da</strong>mental a polarizar progranns e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s escola -<br />
res.<br />
A passag<strong>em</strong> periferica, linear e literal pelo texto -<br />
que, nessas condi~6es, e pouco mais que "pretexto" - cria a<br />
fantasia <strong>de</strong> que 0 enSlno <strong>da</strong> lingua esta-se processando com base<br />
no texto, exime a escola <strong>de</strong> uma auto-avalia~ao nesse sentido<br />
e transfere para outros dominios as causas <strong>da</strong>s evasoes, repeti~6es,<br />
<strong>de</strong>sistimulos, fracassos, afinal.
distintamente, e fun<strong>da</strong>mentar al nossa proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimen<br />
to lingUlstico integrado, para 0 1 9 grau menor.<br />
As razoes sac muitas e <strong>em</strong>anam to<strong>da</strong>s <strong>de</strong> uma evi<strong>de</strong>ncia:<br />
a analise <strong>da</strong> forma <strong>em</strong> que a lIngua acontece revela que falamos<br />
somente atraves <strong>de</strong> textos. Nas mais varia<strong>da</strong>s circunstancias ou<br />
mesmo quando, <strong>em</strong> contextos especificos, nossas <strong>em</strong>issoes constam<br />
<strong>de</strong> uma palavra ou frase, isola<strong>da</strong>s, portanto, so aparent<strong>em</strong>e~<br />
te .<br />
E a forma natural pela qual to<strong>da</strong>s as pessoas atuam<br />
lingUisticamente. E 0 ponto on<strong>de</strong> se encontram os agentes <strong>da</strong> co-<br />
.? •••<br />
mUITica~ao para a troca verbal e a intera~ao sociocultural.<br />
E, por isso, a manifesta~ao; por excelencia, do "si -<br />
nal lingUlstico original" (Hartmann, apud Schmicit, 1978:5), 0<br />
campo on<strong>de</strong> se <strong>da</strong> a efeti va~ao autentica ,'funcional e comunicati<br />
va <strong>da</strong> lingua.<br />
Dai <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> alguns aspectos relevantes para 0 <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>da</strong> presente questao.
No texto vaG coexistir, portanto, aspectos formais, as<br />
pectos cognitivos e socioculturais <strong>da</strong> lingua.<br />
E no texto que aparec<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s fun<strong>da</strong>me~<br />
tais <strong>da</strong> lingua e todos os seus aspectos significativamente rele<br />
vantes. Tudo esta contido ai. Ele e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, urn _produto<br />
lingUistico, uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> s<strong>em</strong>iologica e uma atuagao intersubjetl<br />
va intencionaliza<strong>da</strong>. Nele se consubstancia uma intervengao humana<br />
pela qual urn universe cognitivo e partilhado e uma interagao<br />
se efetiva. E 0 lugar <strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisoes e representa 0 <strong>de</strong>safio comuni<br />
cativo s<strong>em</strong> pari<strong>da</strong><strong>de</strong>. (1)<br />
Dai que se constitui no lugar on<strong>de</strong> se atualiza a compet~ncia<br />
do falante, no sentido mais amplo, que envolve , para<br />
al<strong>em</strong> <strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s tipicamente lingUIsticas.<br />
"Ja que 0 falante po<strong>de</strong> produzir / interpretar urn nume<br />
ro infinite <strong>de</strong> discursos diferentes, sua competencia e necessariamente<br />
textual" (Van Dijk, 1977 : 208, apud Favero, 1983:p.78).<br />
Todos esses fatores faz<strong>em</strong> do texto urn fenomeno, al<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> amplo, tamb<strong>em</strong> complexo.<br />
o mais importante, por<strong>em</strong> e que 0 texto, amplo e comforma<br />
e<br />
plexo e, intrisecamente, uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong>,um todo global. De<br />
<strong>de</strong> sentido. as vezes mais, as vezes menos expllcito. Mas s<strong>em</strong>pre<br />
urn conjunto unificado. Nesse sentido, sob a perspectiva tamb<strong>em</strong><br />
(1) A ampu.tu<strong>de</strong>. do :te.x:to u..UJLa-PM.6a..6e.u..6 PIl.Op/1.ia.o~e..o .oe. -C.e.VaJuna.o <strong>em</strong><br />
can:ta. a p/1.inc1pia <strong>da</strong>- "in:teJr;te.xmaL-L<strong>da</strong>.<strong>de</strong>. "(Be.augll.ctn<strong>de</strong>., 1980:20) .oe.gun<strong>da</strong><br />
a qual. a- ptwdw;.aa e. !l.e.Ce.p~M <strong>de</strong>. wn :te.x:ta e..o:tao JLua.c.iona-<strong>da</strong>.6 com 0 canhe.c.ime.n:to<br />
p!l.evia <strong>de</strong>. au:tJLa.o:te.x:to.o, imp.f1c.iW au e.xpue.i:taJne.n:te. al<br />
c.onti<strong>da</strong>.6. Sab!l.e. i.6.6a, ve.ja--.oe. Kac.h (19&5:39-46).
<strong>da</strong> PsicolingUistica, ele e a materia a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para a aprendizag<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong> lingua, ja que, pela "lei do globalismo", a "percepc;ao, a com<br />
preensao e, portanto, a conseqUente reac;ao comportamental, " dirig<strong>em</strong>-se<br />
para totali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, para complexos estruturados e nao para<br />
el<strong>em</strong>entos fragmentarios" (Titone, 1983: 47). 0 autor, mais adiante,<br />
propaga-a mesmaconcepc;ao quando discorre sobre 0 "principio<br />
<strong>da</strong> integrac;ao" no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificac;ao (Titone, 1983: 85);e<br />
quando diz: "as estruturas gramaticais sac certamente percebi<strong>da</strong>s<br />
como totali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ,quer dizer como conjuntos organizados. Isto si.£.<br />
nifica que elas nao aparec<strong>em</strong> para 0 ouvinte como esqu<strong>em</strong>as abstratos<br />
ou el<strong>em</strong>entos isolados, mas sim como estimulos ~omplexos<br />
b<strong>em</strong> estruturados. Para usar uma metafora significativa, 0 receptor<br />
nao percebe normalmente "atomos <strong>de</strong> lingua", mas "moleculas<br />
b<strong>em</strong> organiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> dircurso". Nao sons ou silabas, ou palavras<br />
isola<strong>da</strong>s, mas construtos que possu<strong>em</strong> significado" (Titone, 1983:<br />
179) .<br />
2 9 ) 0 texto e 0 dominio on<strong>de</strong> se concretiza, <strong>de</strong> forma<br />
mais significativa, 0 carater relacional <strong>da</strong> lingua. No duplo se~<br />
tido, <strong>da</strong>s relac;oes internas, imanentes ao sist<strong>em</strong>a, e, no outro,<br />
<strong>da</strong> lingua com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>nota<strong>da</strong>. Sob 0 primeiro aspecto, todos<br />
os el<strong>em</strong>entos do texto se condicionam reciprocamente, <strong>de</strong> for<br />
ma que 0 seu significado total nao po<strong>de</strong> ser percebido como a s~<br />
ma global dos significados que 0 constitu<strong>em</strong> (Lang, 1977:106). 0<br />
texto e urn "tecido" <strong>em</strong> que ca<strong>da</strong> it<strong>em</strong> esta significativa e funcionalmente<br />
posto e integrado.<br />
Nele transparec<strong>em</strong> todos as probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> escolha, combinaC;ao,<br />
seqUenciamento e or<strong>de</strong>nac;ao dos el<strong>em</strong>entos, a fim <strong>de</strong> que<br />
o que diz tenha sentido e possa ser percebido. Os enunciados ,<br />
par mais "gramaticais" que sejam, nao po<strong>de</strong>m agrupar-se aleato -<br />
riamente para formar textos.<br />
Nao menos estreitas sac as vinculac;oes entre os ele<br />
mentos do texto e os fatores <strong>da</strong> situac;ao que compo<strong>em</strong> 0 ate cornu<br />
nicativo. De forma que aquele "faz sentido", referido acima, il!!<br />
plica os <strong>da</strong>dos reais <strong>da</strong>s situac;oes <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Isso nos encaminha<br />
para 0 aspecto seguinte.
39) 0 texto e 0 dominio on<strong>de</strong> se processa a a<strong>de</strong>qua~ao<br />
do lihgUistico as condi~oes <strong>da</strong>quela situa~ao comunicativa. Di~<br />
so <strong>de</strong>corre que ele sera 0 lugar <strong>da</strong> "diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>", <strong>da</strong> "flEi.xibi~<br />
li<strong>da</strong><strong>de</strong>", <strong>da</strong>s varia~oes do sist<strong>em</strong>a ou 0 lugar on<strong>de</strong> se efetivam<br />
as mu<strong>da</strong>n~as, as inova~oes; on<strong>de</strong> se constatam as diferen~as dia<br />
letais ou <strong>de</strong> registro, on<strong>de</strong> opera 0 fator pessoal.<br />
E 0 lugar, por isso mesmo, do sentido conotativo que<br />
a subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> participante po<strong>de</strong> <strong>em</strong>prestar as pal a -<br />
vras, que so assim <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> dos significados potenciais para 0<br />
nlvel do sentido pleno e real, <strong>em</strong>bora particularizado. E tambern,<br />
<strong>de</strong>sta maneira, 0 lugar on<strong>de</strong> se <strong>da</strong> a atualiza~ao do cara -<br />
ter conflitante, mas inequivocamente real e produtivo <strong>da</strong> lingua.<br />
Nele coexist<strong>em</strong> a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> individual e a coer~ao so<br />
cial <strong>da</strong> conven~ao.<br />
Que sentido po<strong>de</strong> ter 0 estudo do "sinonimo e antonimo"<br />
fora <strong>da</strong>s restri~oes reais do texto? De que maneira aceitar<br />
"quente" \como sinonimo <strong>de</strong> "apimentado" ou "congelado" como<br />
, '<br />
"estabiiiizado" se tomamos essas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s isola<strong>da</strong>s, s<strong>em</strong> alusao<br />
a nenhum contexto? "Aves abati<strong>da</strong>s" e "pessoas abati<strong>da</strong>s" nao<br />
sao expressoes sinonimas como, fora do uso, po<strong>de</strong>riam parecer.<br />
<strong>de</strong>corrern naturalmente do uso que, como ja vimos, so<br />
<strong>em</strong> textos.<br />
49) 0 texto permite apreen<strong>de</strong>r 0 fato lingUlstico na<br />
sua dupla dimensao <strong>de</strong> produ~ao e recep~ao. Os textos sac uma<br />
enti<strong>da</strong><strong>de</strong> bipolar <strong>em</strong> cuja constru~ao e reconstru~ao estao "cooperativarnente"<br />
engajados <strong>em</strong>issor e receptor. Isso e mais evi<strong>de</strong>nte<br />
ain<strong>da</strong> no texto oral, principalrnente na conversa~ao <strong>em</strong><br />
que as turnos se revezam e a palavra e, par princIpia, ora <strong>de</strong><br />
urn, ora <strong>de</strong> outro.
De qualquer forma, todos os textos sac <strong>de</strong> "urn"<br />
"outro", ou melhor, <strong>de</strong> "urn" conforme 0 "outro'.'Em essencia<br />
texto e social. No momento <strong>da</strong> e1abora~ao ja esta <strong>em</strong>butido<br />
processo <strong>da</strong> recep~ao (Cf. Favero, 1985: 31-37).<br />
para<br />
todo<br />
Se 0 ensino <strong>da</strong> lIngua se <strong>em</strong>penha por efetivar 0 <strong>de</strong>sen<br />
vo1vimento 1ingUIstico <strong>da</strong> crian~a nao po<strong>de</strong> neg1igenciar 0 aspe~<br />
to <strong>da</strong> recep~ao. Cazacu (1979:83) adverte para e <strong>de</strong>scuido com que<br />
a escola <strong>de</strong>senvolve "a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> recep~ao correta". "Na rea<br />
li<strong>da</strong><strong>de</strong>" - diz ela -" a comunica~ao nao consiste n<strong>em</strong> unicamente<br />
numa <strong>em</strong>issao, n<strong>em</strong> unicamente numa <strong>em</strong>issao - monologo".<br />
Em sintese, 0 texto e 0 lugar do dizer, do comunicar<br />
real.O mais, e parte disso. Ai <strong>em</strong>issor e receptor <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>m uma<br />
a~ao construtora <strong>em</strong> que se val<strong>em</strong> dos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> informa~ao <strong>da</strong><br />
estrutura gramatical, do conhecimento do significado <strong>da</strong>s palavras,<br />
do "conhecimento <strong>de</strong> mundo partilhado", do conhecimento que<br />
ca<strong>da</strong> um t<strong>em</strong> do outro e <strong>da</strong>s regras sociais que especificam aque-<br />
Ie ate <strong>de</strong> comunica~ao particular. Ou seja, a produ~ao e recep-<br />
~ao <strong>de</strong> urn texto envolve mais que um conjunto d~ regras gramaticais.<br />
A proposta <strong>de</strong> uma gramatica com base psicologica vai nessa<br />
dire~ao: "<strong>de</strong>ve respon<strong>de</strong>r diretamente ~s fun~6es essenciais<br />
<strong>da</strong> lingua, que sao a expressao e a comunica~ao. As estruturas<br />
sac esclareci<strong>da</strong>s e percebi<strong>da</strong>s conscient<strong>em</strong>ente, com a unica fina<br />
li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar a autoexpressao e a comunica~ao com seus proprios<br />
s<strong>em</strong>elhantes a mais eficaz possivel. A consciencia gramat~<br />
cal, por conseguinte, nao visa proporcionar a posse pratlca <strong>de</strong><br />
urn instrumento (0 lingUlstico), mas sim, apenas, acrescentar 0<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> controle e <strong>de</strong> escolha criativa <strong>de</strong> modulos expressivos<br />
eficazes,r (Titone, 1983, 184). No mesmo sentido vai a observa -<br />
~ao <strong>de</strong> que: "gran<strong>de</strong> parte do que diz<strong>em</strong>os e escrev<strong>em</strong>os e sob<br />
a coer~ao, <strong>em</strong> muitos aspectos importantes, <strong>da</strong>scircunstancias<br />
especificas <strong>em</strong> que falamos ou escrev<strong>em</strong>os" (Campbell e Walles<br />
1976: 237).<br />
Como interpretar 0 texto seguinte s<strong>em</strong> fazer extrapola~6es<br />
lingUlsticas? Vejamos
mas 0 amor que t<strong>em</strong>os por voce e tao inflacionario que n<strong>em</strong> Funaro<br />
resolve" 'Diario <strong>de</strong> Pernambuco, 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1985, Se~ao C.<br />
pag. Urn).<br />
Somente fora do texto e que a ora~ao: "Qu<strong>em</strong> pegou meu<br />
tacape <strong>da</strong>qui?" po<strong>de</strong> ser analisa<strong>da</strong> inequivocamente como frase Interrogativa<br />
(Bellucci, 1985 : 51). Na circunstancia concreta <strong>de</strong><br />
sua realiza~ao po<strong>de</strong>ria ser uma advertencia, urn apelo, uma sugestao,<br />
por ex<strong>em</strong>plo.<br />
Nenhum falante vacila quanta a antecipa~ao a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> do<br />
artigo masculino ou f<strong>em</strong>inino ao substantivo dos respectivos gen~<br />
ros. 0 importante nao e ensinar, fora.!do texto, que exist<strong>em</strong> artl<br />
gos <strong>de</strong>finidos e in<strong>de</strong>finidos, <strong>em</strong> suas flexoes <strong>de</strong> genero e numero<br />
e solicitar dos alunos que os ateponham as series <strong>de</strong> nomes. So<br />
no <strong>de</strong>senvolvimento do texto e que se especificam as condi~oes <strong>de</strong><br />
ocorrencia <strong>de</strong> urn e <strong>de</strong> outro e on<strong>de</strong> radica 0 aspecto relevante <strong>da</strong><br />
questao.<br />
A esse proposito vale a pena referir urn conjunto <strong>de</strong><br />
el<strong>em</strong>entos que Horst Isenberg (1977:67-68) reuniu como ex<strong>em</strong>plares<br />
? .<br />
<strong>de</strong> itens explicaveis unicamente a nivel do texto. Entre outros,<br />
enumera: "as anaforas, a sele~ao do artigo, a or<strong>de</strong>m dos sintag -<br />
mas no enunciado, a pronominaliza~ao e os pro-adverbiais, a ent~<br />
na~ao, a enfase e 0 contraste, as rela~oes causais entre enunci~<br />
dos que se suce<strong>de</strong>m urn ao outro s<strong>em</strong> conjun~ao, as ~ proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
referenciais dos nomes".<br />
Schmidt (1978:26) refere tamb<strong>em</strong> uma serie <strong>de</strong> topicos<br />
que, segundo Wun<strong>de</strong>rlich, requer<strong>em</strong> 0 recurso a instancias malS<br />
alarga<strong>da</strong>s que a frase e ci tcr',:" as expressoes <strong>de</strong>i ticas <strong>de</strong> pessoa,<br />
t<strong>em</strong>po e lugar, as formas <strong>de</strong> relacionarnento (tratamento,cortesia,<br />
respeito, intimi<strong>da</strong><strong>de</strong>); as formas <strong>da</strong> ora~ao (direta e indireta),<br />
<strong>da</strong> distribui~ao e <strong>da</strong> conclusao;os modos gramaticais (interroga -<br />
~ao, imperativo, conjuntivo, optativo); os adverbios; as expressoes<br />
performativas; as condi~oes <strong>de</strong> cQerencia textual; a reflexi<br />
va~ao; os relacionamentos <strong>em</strong> textos dialogados".<br />
9.<br />
Dessas breves consi<strong>de</strong>ra~oes cr<strong>em</strong>os po<strong>de</strong>r cQTIcluir que
o ensino <strong>da</strong> lingua centrado na frase ou na palavra i~ola<strong>da</strong> nao<br />
preenche as condi~oes suficientes <strong>de</strong> urn ensino a<strong>de</strong>quado,pois se<br />
restringe a aspectos particulares e <strong>de</strong>scontextualizados que,<strong>de</strong>s<br />
sa forma, falseiam a autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> do fenomeno lingUistico.<br />
"A forma~ao <strong>de</strong> habitos <strong>de</strong> expressao a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve ter<br />
<strong>em</strong> conta 0 principio <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> selecionar os meios <strong>de</strong><br />
expressao <strong>em</strong> conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a situa~ao (no jogo, na classe ,<br />
nas "composi~oes" escritas, etc). Vale dizer, por outro lado,<br />
que a recep~ao correta <strong>de</strong>ve se fun<strong>da</strong>mentar sobre a aprendizag<strong>em</strong><br />
consciente do principio <strong>de</strong> intera~ao contextual". (Cazacu,1979:<br />
84) .<br />
o texto tal como <strong>de</strong>finimos no it<strong>em</strong> anterior e tornado<br />
como categoria geral, s<strong>em</strong> especifica~oes, principalmente quanta<br />
a sua mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrencia.<br />
Urn privilegio <strong>da</strong> evolu~ao po<strong>de</strong> ter sido a possibili<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> cria<strong>da</strong> pelo hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> expressar-se lingUisticamente, al<strong>em</strong> dos<br />
recursos orais. Talvez, partindo <strong>da</strong> concep~ao <strong>de</strong> que ohom<strong>em</strong> e<br />
animado pelo influxo t <strong>da</strong> supera~ao, que 0 faz ca<strong>da</strong> vez mais es-<br />
?<br />
ten<strong>de</strong>r seus limite~<strong>de</strong> atua~ao, partindo <strong>da</strong>i, repetimos, po<strong>de</strong>rmos<br />
conceber a inven~ao <strong>da</strong> escrita como expressao do,<strong>de</strong>sejo hu~<br />
mano <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r mais, (Gnerre, 1985 ).<br />
A fala, ja uma conquista, esta presa a confina~ao espacio-t<strong>em</strong>poral<br />
que implica a presen~a dos interlocutores.Esta<br />
limita<strong>da</strong> a uma proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a uma t<strong>em</strong>porali<strong>da</strong><strong>de</strong> na ~nica dimensao<br />
do agora. 1550 e evi<strong>de</strong>nte: falamos com pessoas que estao<br />
"aqui", "agora".<br />
Al<strong>em</strong> do mais, a fala tern urn carater evanescente, tao<br />
b<strong>em</strong> expresso na sabedoria proverbial <strong>de</strong> "as palavras voam". Per<br />
<strong>de</strong>m-se no momenta <strong>em</strong> que acontec<strong>em</strong>. Ou "ficam" no outro mundo<br />
conceitualdo receptor. Empiricamente, no entanto, nao hi como<br />
suste-las.<br />
A teoria pragmatica explica 0 aparecimento <strong>da</strong> atua~ao<br />
.~<br />
lingUistica como urn recurso instrumental <strong>de</strong> que 0 hom<strong>em</strong> se te-
Nessa mesma linha po<strong>de</strong>mos enfocar a inven~ao<br />
ta: urn ganho a mais que 0 hom<strong>em</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>u na busca <strong>de</strong><br />
suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso a informa~ao e <strong>de</strong> atua~ao<br />
meio.<br />
ria valido, numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> altura do seu processo evolutivo,c~<br />
mo forma <strong>de</strong> garantir a produ~ao dos meios necessarios a sua sobrevivencia.<br />
<strong>da</strong> escriamp<br />
liar<br />
sobre 0<br />
o result ado e que 0 horn<strong>em</strong> bifurcou sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
exercicio <strong>da</strong> lIngua, nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s do "oral" e do "escrito".De<br />
forma que sua comunica~ao que, como ja vimos, e s<strong>em</strong>pre textual,<br />
po<strong>de</strong> se expressar ora atraves <strong>de</strong> textos orais,ora atraves <strong>de</strong> textos<br />
escritos.<br />
Isso e uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que 0 ensino nao po<strong>de</strong> 19norar. De<br />
forma que esten<strong>de</strong>mos nossas consi<strong>de</strong>ra~oes anteriores a fim <strong>de</strong><br />
abarcar, especificamente, esse dois aspectos.<br />
A orali<strong>da</strong><strong>de</strong> constitui urn carater essencial dos siste -<br />
mas lingUlsticos. E a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> basica, imediata com que os falantes<br />
se expressam, <strong>de</strong> tal forma que ja se incorporou as caracteristicas<br />
distintivas dos humanos. Po<strong>de</strong>-se ajuntar as muitas <strong>de</strong><br />
fini
Acontece que os textos orais realizam-se <strong>em</strong> condi~oes<br />
b<strong>em</strong> diferentes <strong>da</strong>queles <strong>em</strong> que se produz 0 textoescrito.<br />
o texto oral acontece numa alian~a intima com a situ~<br />
~~o extralingUistica, com as a90es <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelos participantes,<br />
<strong>de</strong> forma a se po<strong>de</strong>r dizer que a fala tipica esta mistura<strong>da</strong><br />
com a a~ao. Dessa maneira, 0 texto oral supoe, necessariamente,<br />
a presen~a do <strong>em</strong>issor e do receptor <strong>da</strong> comunica~ao. Isso<br />
provoca urn engajamento a dois, uma intera~ao simultanea que vai<br />
sendo negocia<strong>da</strong>, <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>, busca<strong>da</strong>, por mais divergentes que<br />
seJam os interlocutores. Urn e outro partilham <strong>da</strong> igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
papeis, enquanto se revezam na condi~ao ora <strong>de</strong> <strong>em</strong>issor ora <strong>de</strong><br />
receptor. Ha uma troca continua<strong>da</strong>. 0 "eu" e 0 "tu" se substitu<strong>em</strong><br />
mutuamente ao longo do discurso e, numa partiGipa~ao bilateral,<br />
portanto, vao <strong>de</strong>cidindo, vao contribuindo para que se<br />
processe o.entendimento reciproco. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que a cornu<br />
nica~ao vai ocorrendo, os ajustes necessarios, as compl<strong>em</strong>enta -<br />
~oes e ressalvas vao-sefazendo. A avalia~ao do que e dito e<br />
condi~ao para 0 que se vai dizer.<br />
Estas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s confer<strong>em</strong> ao texto oral uma sin<br />
taxe e uma sele~ao vocabular pr6prias, <strong>de</strong> urn modo geral mais<br />
"frouxas" que aquelas <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong>s na escrita; tamb<strong>em</strong> difer<strong>em</strong> as<br />
formas <strong>de</strong> progressao e enca<strong>de</strong>amento.<br />
"0 oral nao permite voltar atras: n<strong>em</strong> ao <strong>em</strong>issor (<strong>de</strong>~<br />
tinador), n<strong>em</strong> ao receptor (<strong>de</strong>stinatario). 0 <strong>de</strong>stinador produz<br />
falhas, rupturas <strong>de</strong> constru~ao, lapsos, hesita~oes, que, no escrito,<br />
po<strong>de</strong>riam ser eliminados, apagados, rasurados: 0 escrito<br />
permite 0 arrependimento. 0 auditor, diferent<strong>em</strong>ente do leitor,<br />
nao po<strong>de</strong> retomar urn enunciado mal compreendido, rele~lo, <strong>de</strong>terse<br />
nele; 0 <strong>de</strong>stinador, se tomar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ra~ao, na produ~ao <strong>de</strong><br />
sua mensag<strong>em</strong> oral, estas condi~oes <strong>de</strong> recep~ao, e obrigado a re<br />
dun<strong>da</strong>ncias, a paragrafos; tanto mais que as marcas nao sac s<strong>em</strong>pre<br />
tao numerosas no oral como no escrito. A extrac~ao e frase<br />
segmenta<strong>da</strong> sac freqUentes nos discursos orais" (Galisson,1983:<br />
528).
Kato (1986 : 28-30) faz referencia a estudos que i~<br />
dicam nlveis nao coinci<strong>de</strong>ntes entre as duas mo<strong>da</strong>1i<strong>da</strong><strong>de</strong>s, qua~<br />
do se p6<strong>em</strong> <strong>em</strong> re1a~ao igua1<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro. Assim 0 usa informal<br />
<strong>da</strong> escrita e s<strong>em</strong>pre mais formal que 0 usa informal <strong>da</strong><br />
fa1a ou 0 usa formal <strong>da</strong> escrita e s<strong>em</strong>pre mais formal que 0<br />
usa formal <strong>da</strong> fa1a. A mesma diferen~a e <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> quanta ao<br />
"grau <strong>de</strong> p1anej amento verbal". Ochs (1] admi te que os padr6es<br />
<strong>de</strong> fa1a "nao-p1aneja<strong>da</strong>" vivenciados pe1a crian~a permanec<strong>em</strong><br />
1atentes vo1tando a aparecer<strong>em</strong>,po5teriormente, nas situa~6es<br />
<strong>de</strong>scontral<strong>da</strong>s <strong>da</strong> fa1a espontanea. As estruturas mais elabora<strong>da</strong>s,<br />
adquiri<strong>da</strong>s <strong>de</strong>pois, estao presentes <strong>em</strong> situa~6es <strong>de</strong> comunica~ao<br />
p1aneja<strong>da</strong>.<br />
Embora Ochs advirta que "0 discurso p1anejado" ou<br />
"0 discurso re1ativamente nao p1anejado" nao se restring<strong>em</strong> res<br />
pectivamente ao texto escrito e ao texto oral, po<strong>de</strong>mos natu -<br />
ralmente admitir que: - "a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia contextual, 0 usa <strong>de</strong><br />
estruturas morfossint~ticas adquiridos cedo, 0 usa <strong>de</strong> repeti-<br />
~ao lexical e 0 menor uso <strong>de</strong> varia~ao <strong>de</strong> forma e conteudo",c~<br />
racterlsticas do "Discurso re1ativamente nao planejado", estao<br />
mais presentes na?£a1a informal (Cf. Kato, 1986 : 24).<br />
o texto escrito difere do oral principalmente por<br />
conta <strong>da</strong>s suas condi~6es <strong>de</strong> prodU
nais visuais e, especificamente, ~ realizado na aus~ncia d~ receptor.<br />
A intera~ao pretendi<strong>da</strong> so se efetua <strong>em</strong> momento posterior.<br />
Falta 0 "face-a-face" <strong>da</strong> fala e, conseqtient<strong>em</strong>ente, a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> manipula~ao local.<br />
o autor do texto tern pel a frente receptores previstos<br />
ou simulados, aos quais vai-se antecipando na resposta as<br />
suas in<strong>da</strong>ga~oes ou obje~oes. No fundo, a soli<strong>da</strong>o do escritor ~<br />
irreal. Do outro la<strong>de</strong> estao projetados os receptores <strong>da</strong> mensa -<br />
g<strong>em</strong>. As vezes, obscuros. Imprevisiveis, outras. Conhecidos. De~<br />
conhecidos. Ortodoxos ou nao. Mas exist<strong>em</strong>. E precisam existir ,<br />
para que 0 textotenha uma dire~ao.<br />
o escritor, na produ~ao, assume os pap~is <strong>de</strong> urn e <strong>de</strong><br />
outro. Enquanto vai, ao mesmo t<strong>em</strong>po, escrevendo e previamente<br />
avaliando os resultados do que diz. Dai por que a escrita perm~<br />
te urn planejamento verbal b<strong>em</strong> maior.<br />
Al~m disso, a escrita precisa possuir seus proprios<br />
recursos distintivos, ja que _lhe cabe suprir a ausencia dos<br />
el<strong>em</strong>entos entonacionais e gestuais presentes a-<br />
fala. A situ~ ~<br />
~ao <strong>em</strong> que se <strong>da</strong> 0 texto oral tamb~m favorece a i<strong>de</strong>ntifica~ab<br />
dos referentes. Na escrita, "menos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do contexto situ~<br />
cional", essa func;ao <strong>de</strong>ve ser preenchi<strong>da</strong> tamb~m pelosel<strong>em</strong>entos<br />
graficos: If a coesao, na linguag<strong>em</strong> oral, ~ estabeleci<strong>da</strong> atrav~s<br />
<strong>de</strong> recursos paralingtiisticos e supra-segmentais, enquanto que,<br />
na linguag<strong>em</strong> escrita, ela ~ utiliza<strong>da</strong> atrav~s <strong>de</strong> meios lexicais<br />
e <strong>de</strong> estruturas sint~ticas complexas que usam conectivos ~plicitos"<br />
(Kato, 1986: 25).<br />
Ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong>mos referir que as expectativas sociais qu~<br />
to aos padroes <strong>de</strong> realizac;ao do texto sac muito mais rigi<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />
rela~ao a escrita. As proprias condic;oes <strong>de</strong> "proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>" dos<br />
interlocutores b<strong>em</strong> como 0 carater ef<strong>em</strong>ero do oral levam a isso.<br />
Galisson (1983: 528) admite que 0 escrito e 0 oral nao gozam do<br />
mesmo pestigio sociolingtiistico. A escrita, aquisl~ao escolar,<br />
~ s<strong>em</strong>pre consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como "mais regulamenta<strong>da</strong>".
escrita urn carateI' <strong>de</strong> artificiali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que a torna menos afeti<br />
~ .<br />
va e menos proxlma que a fala.<br />
Kato (1986 : 22-23) faz referencia a estudos <strong>de</strong> Brown<br />
que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a existencia <strong>de</strong> uma "fala pre-letramento" diferen<br />
te <strong>de</strong> uma "fala pos-letramento". Segundo seu ponto <strong>de</strong> vista, a<br />
fala <strong>de</strong> uma pessoa letra<strong>da</strong> sofreria influencia dos padroes lin<br />
gUisticos vivenciados na escrita, <strong>de</strong> forma que se po<strong>de</strong>ria conceber<br />
uma segun<strong>da</strong> etapa <strong>de</strong> fala, nas pessoas letra<strong>da</strong>s, influe~<br />
cia<strong>da</strong> pela escrita, ou, nessa perspectiva, "a fala padrao na<strong>da</strong><br />
mais e do que a simula
Embora venha a ser assunto especIfico <strong>de</strong> parte posterior,<br />
po<strong>de</strong>mos ja adiantar, pela importancia <strong>da</strong> questao, que:<br />
- intuimos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que a escola abor<strong>de</strong> 0 texto oral e 0<br />
texto escrito se ela preten<strong>de</strong>, com fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>, abarcar a totali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
do real que, <strong>em</strong> <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, utiliza ambas<br />
as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> lingua. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, a visao <strong>de</strong> mundo que<br />
assimilamos passa atraves dos sist<strong>em</strong>as s<strong>em</strong>iologicos, muito especialmente<br />
a lIngua que, oralmente e por escrito, "recorta" a<br />
reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ;<br />
- a escola faria b<strong>em</strong> <strong>em</strong>, referindo <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s no~oes gramati -<br />
cais ou alguma particulari<strong>da</strong><strong>de</strong> textual, explicitar suas dife -<br />
rentes condi~oes <strong>de</strong> ocorrencia na lIngua oral e na lIngua escrita.<br />
0 uso dos pronomes pessoais, por ex<strong>em</strong>plo, requer na escrita<br />
uma aten~ao maior, <strong>da</strong><strong>da</strong> a ausencia dos referentes contex<br />
tuais;<br />
tudo indica ser b<strong>em</strong> mais produtivo se se partisse, no 1 9 grau,<br />
<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s orais Ja domina<strong>da</strong>s pela crian~a, evitando a<br />
ruptura, brusca as vezes, processa<strong>da</strong> entre fala e escrita ou<br />
entre lingua escolar (quase s<strong>em</strong>pre escrita) e a lingua que a<br />
crian~a usa nas circunstancias naturais <strong>de</strong> convIvio social;<br />
- 0 fato <strong>de</strong> a escola estar inve~ti<strong>da</strong> <strong>da</strong> tare fa <strong>de</strong> ensinar a crian~a<br />
a escrever, nao significa que ela <strong>de</strong>va concentrar ai 0<br />
mais relevante <strong>de</strong> sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Afinal, as expectativas sociais<br />
<strong>de</strong> urn born <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho lingUistico tamb<strong>em</strong> inclu<strong>em</strong> a realiza~ao<br />
oral;<br />
a introdu~ao <strong>da</strong> escrita <strong>de</strong>veria ser processa<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma mais<br />
natural, mais aproxima<strong>da</strong> <strong>da</strong>quelas condi~oes reais <strong>de</strong> comunica-<br />
~ao <strong>em</strong> que a crian~a apren<strong>de</strong>u a falar;<br />
- a mu<strong>de</strong>z <strong>de</strong> nossas salas <strong>de</strong> aula, on<strong>de</strong> ecoa "a voz" solitaria<br />
do professor <strong>de</strong>veria substituir-se pela "troca fala<strong>da</strong>", entre<br />
muitos interlocutores , ou pela pratica do oral, s<strong>em</strong> a permuta<br />
do outro, (como <strong>em</strong> avisos, comentarios, exposi~oes, etc.).Isso<br />
Ja e uma proposta.As condi~oes concretas <strong>de</strong> realiza~ao cab<strong>em</strong><br />
a cria~ao dinamica do grupo.<br />
Entretanto, tais medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>vep ser toma<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma<br />
a nao exagerar adicotomia oral-escrito, como se foss<strong>em</strong> duas lIn
A fala e a escrita, apesar <strong>da</strong>s distin~oes sa1ienta<strong>da</strong>s,<br />
po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como "isomorfas" e "isofuncionais". Representam<br />
0 mesmo sist<strong>em</strong>a lingtilstico e po<strong>de</strong>m cumprir as mesmas<br />
fun~oes. 0 importante e que no exerclcio <strong>de</strong> ambas se exercite a<br />
competencia 1ingtiistica do sujeito (Cf. Ferreiro, 1985: 271).
Na avalia~ao dos resultados, feita na segun<strong>da</strong> parte<br />
<strong>de</strong>ste trabalho, aludimos, sumariamente, ~ trajet6ria <strong>de</strong>senvolv!<br />
<strong>da</strong> pela LingUistica neste seculo. Evi<strong>de</strong>nciamos a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> encaixar a teoria <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> duas gran<strong>de</strong>s correntes :<br />
a) ten<strong>de</strong>ncia a centrar-se no sist<strong>em</strong>a lingUistico; b) ten<strong>de</strong>ncia<br />
a consi<strong>de</strong>rar as condi~oes <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> lingua. Agora, na tentativa<br />
<strong>de</strong> fornecer uma orienta~ao mais volta<strong>da</strong> para a segun<strong>da</strong> ten<strong>de</strong>n -<br />
cia, apresentar<strong>em</strong>os alguns principios basicos <strong>da</strong> LingUistica <strong>de</strong><br />
Texto. Sao conheci<strong>da</strong>s as condi~oes com que a LingUistica se impas<br />
a partir <strong>de</strong> Saussure: ciencia dos signos lingUisticos, cujo<br />
obj eto ,-6:thie-:to -6 e.n-6u. , foi <strong>de</strong>finido como sendo a "lingua", <strong>em</strong><br />
oposi
cicio <strong>em</strong> que aquela competencia se efetiva. Tal como a fala, "0<br />
<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho" esta condicionado as varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> atualiza~ao lingUistica.<br />
Paralelamente, no entanto, outras avalia~oes do fenomeno<br />
<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> humana se faziam.<br />
Mais especificamente, pela <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60, come~ou a<br />
afirmar-se uma concep~ao mais integradora <strong>da</strong> questao lingUlstica,<br />
que t<strong>em</strong> sido chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> LingUlstica <strong>de</strong> Texto ou LingUlstica<br />
Textual ou Teoria do Texto. To<strong>da</strong>s coinci<strong>de</strong>ntes, pelo menos nos<br />
aspectos mais gerais <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>. Algumas diferen~as enfatizam<br />
um ou outro aspecto.<br />
Que motiva~oes estiveram na base <strong>da</strong> constitui~ao <strong>de</strong><br />
uma LingUlstica <strong>de</strong> Texto?<br />
Retomamos as razoes que no it<strong>em</strong> prece<strong>de</strong>nte aludimos c~<br />
ma justificativas para se proce<strong>de</strong>r a um ensino com base no texto.<br />
_Ali, implicitamente, <strong>de</strong>finimos os princlpios que subjaz<strong>em</strong> a<br />
uma LingUistica <strong>de</strong> Texto. Aqui, no ~n~anto, 0 far<strong>em</strong>os .<strong>de</strong> forma<br />
mais expllcita. As <strong>de</strong>fini~oes que inauguraram 0 status cientifico<br />
<strong>da</strong> LingUlstica privilegiaram uma gramatica fragmentaria, atomista,<br />
uma gramatica <strong>da</strong> frase e <strong>da</strong> palavra. Nessa linha tamb<strong>em</strong><br />
percorreu a Gramatica Gerativa, <strong>em</strong>bora se tenha conduzido malS<br />
<strong>em</strong> dire~ao a sintaxe.<br />
De uma forma ou <strong>de</strong> outra, na gramatica <strong>da</strong> frase, ape -<br />
nas uma parte do fenomeno lingUlstico estava abarcado. Havia vazios<br />
a preencher E vazios <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> pertinencia. A consciencia<br />
disso foi surgindo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> propria Lingtiistica - e <strong>em</strong> domlnios<br />
afins, <strong>de</strong> forma que se come~ou a postular uma amplia~ao na <strong>de</strong>ter<br />
mina~ao do objeto <strong>da</strong> LingUlstica. Gra<strong>da</strong>tivamente 0 domlnio <strong>de</strong>sse<br />
objcto foi admitindo a dimensao funcional <strong>da</strong> lingua que, assim,<br />
releva como instrumento <strong>de</strong> comunica~ao, <strong>em</strong> textos e <strong>em</strong> situa~oes<br />
reais diversifica<strong>da</strong>s.<br />
L<strong>em</strong>bramos algumas <strong>da</strong>s muitas contribui~oes que se <strong>de</strong>s-<br />
~<br />
tac8ram nesse sentido <strong>de</strong> encaminhar a LingUlstica para 0 doml-
nlo <strong>da</strong> "fala", ou como quisermos dizer, nesse sentido <strong>de</strong> alargar<br />
o conceito <strong>da</strong> competencia chomsky ana 0 que, <strong>de</strong> qualquer maneira,<br />
leva a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> lingua no seu <strong>em</strong>prego efetivo.<br />
o proprio discipulo <strong>de</strong> Saussure, Bally, objetivando e~<br />
plicar os fenomenos estilisticos, incluiu a busca dos "el<strong>em</strong>entos<br />
expressivos" que reflet<strong>em</strong> "os movimentos do pensamento e do sentimento<br />
dos falantes"e "os efeitos" por isso produzidos nos<br />
"ouvintes" (Bally, 1975: 95).<br />
Numa me sma linha e na tentativa <strong>de</strong> superar 0 binomio<br />
<strong>de</strong> Saussure, Coseriu traz a no
objetivo. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, Jakobson, s<strong>em</strong> 1he modificar 0 essencia1 ,<br />
comp1etou 0 esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> BUller.<br />
E. Benveniste (1976) mant<strong>em</strong> a enfase nesses aspectos<br />
quando,pe10 estudo <strong>da</strong> categoria <strong>da</strong> pessoa e do t<strong>em</strong>po, conseguiu<br />
reconstruir 0 proprio sist<strong>em</strong>a <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> t<strong>em</strong>pora1id~<br />
<strong>de</strong>.<br />
Esta curta rela~ao <strong>de</strong> nomes, nao preten<strong>de</strong> esgotar to<strong>da</strong><br />
uma serie <strong>de</strong> outras observa~oes que se po<strong>de</strong>riam fazer <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
as antevisoes <strong>de</strong> Humboldt, ate as consi<strong>de</strong>ra~oes <strong>de</strong> Sapir (1) ,<strong>de</strong><br />
B. Whorf,que <strong>de</strong>monstraram sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para a natureza social<br />
<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, ou outros como Hjelms1ev - "foi, talvez, 0 prlme~<br />
ro a esbo~ar Ulna <strong>de</strong>fini~ao <strong>de</strong> texto" - (Favero, 1983: 30) e Zellig<br />
Harris, principalmente, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma 1ingUistica <strong>de</strong>scritiva<br />
para al<strong>em</strong> dos limi tes do enunciado, ficando por<strong>em</strong> numa, lingUistica<br />
textual distribucionalista e formal, <strong>de</strong>ntro do estrutura<br />
lismo (Cf. Kristeva (1969) ;Lepschy (1971); Malmberg (1974).<br />
Mounin (1973 : 193) falando sobre alguns aspectos me~<br />
nos divulgados <strong>da</strong>s investiga~oes <strong>de</strong> Harris, alu<strong>de</strong> a que se mantern<br />
quase ignora<strong>da</strong>s "as suas investiga~oes, muito antigas e relaciona<strong>da</strong>s<br />
com as prece<strong>de</strong>ntes, sobre a analise lingUistica ala~<br />
ga<strong>da</strong> para al<strong>em</strong> dos limites <strong>da</strong> frase, ou seja, aquilo a que 0<br />
proprio Harris chamou discourse analysis". Cabe ain<strong>da</strong> rel<strong>em</strong>brar<br />
as manifesta~oes <strong>de</strong> psicologos~ fi1osofos e 1ingUistas que criticaram<br />
0 binomio "competencia" e "<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho" <strong>de</strong> Chomsky como<br />
uma concep~ao que marginalizava os fatores ambientais implica<br />
dos na realiza~ao concreta <strong>da</strong> atualiza~ao lingUistica.<br />
Nesse particular, merec<strong>em</strong> <strong>de</strong>staque as posi~oes<br />
Halli<strong>da</strong>y (in Lyons, 1976 : 135-139), <strong>de</strong> Campbell e Wales<br />
<strong>de</strong><br />
( in<br />
(1)" a unguag<strong>em</strong> ... C.OVL6i.J.Jte. vz.umane..ta.c;.ao.6hnbouc.a to<strong>da</strong> pe.c.uUatL ... e.!!:.<br />
ttLe. tod0.6 0.6 e1.<strong>em</strong>e.nto.6 <strong>de</strong>. n0.6.6a e.xpvUe.nc..ia, <strong>de</strong>. wn .ta.do, e. <strong>de</strong>. outtLo .ta.<br />
do, c.e.Jdo.o e1.<strong>em</strong>e.nto.6 .oe1.e.c.ionad0.6..• " (Sapbt, 1971 : 23).
Lyons, 1976: 238). Wun<strong>de</strong>rlich, acredita nao ter sentido <strong>de</strong>senvolver<br />
uma competencia abstrata para a produ~ao <strong>de</strong> enunciados<br />
verbais corretos, "enquanto nao se <strong>de</strong>senvolva paralelamente a<br />
condi~ao <strong>de</strong>, por meio <strong>de</strong>sses enunciados, estabelecer uma comunica~ao<br />
" (apud, Schmidt, 1978: 20). Por isso, postulou uma am<br />
plia~ao do conceito <strong>de</strong> competencia, incluindo 0 componente <strong>da</strong><br />
competencia pragm~tica, 0 que Wun<strong>de</strong>rlich <strong>de</strong>signou <strong>de</strong> "compete~<br />
cia comunicativa", seguindo nisto sugestoes terminologicas e<br />
teoricas <strong>de</strong> Dell Hymes.<br />
A tudo isso, veio-se somar, por urn lado, a enfase <strong>de</strong><br />
estudos que objetivamente <strong>de</strong>staca as rela~oes entre as varla-<br />
~oes lingUlsticas e as varia~oes sociais, ou aqueles outros in<br />
teressados "no conhecimento e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> subjacentes que a pe~<br />
soa <strong>de</strong>ve ter para usar a linguag<strong>em</strong> e para apren<strong>de</strong>r a us~-la na<br />
infancia" (Slobin, 1980:2). Esses estudos compreen<strong>de</strong>m 0 objeto<br />
<strong>da</strong> SociolingUlstica e <strong>da</strong> PsicolingUlstica.<br />
Por outro lado, 0 <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma concep~ao<br />
pragm~tica <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> pas <strong>em</strong> relevo a inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncia entre<br />
a atua~ao verbal e 0 complexo <strong>da</strong> atua~ao social na qual<br />
aquela est~ inseri<strong>da</strong>. Dessa forma, "a teoria <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>" pa~<br />
sou a ser concebi<strong>da</strong> como "parte <strong>de</strong> uma teoria <strong>da</strong> atua~ao mais<br />
ampla ... " (Schmidt, 1978 : 18). Na mesma linha j~ <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong><br />
por BUhler e Jakobson, interessados <strong>em</strong> especificar" 0 que se<br />
faz no acto <strong>de</strong> falar" (Apud Ducrot, 1976 401), a LingUlstica<br />
Pragmatlca, ain<strong>da</strong> mais avan~a<strong>da</strong>, integra a fala na esfera mais<br />
extensa <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana. Como v<strong>em</strong>os. gradualmente, a LlngUlstica<br />
foi cumprindo urn percurso que a orientava para incluir<br />
como objeto <strong>de</strong> pesquisa, al<strong>em</strong> <strong>da</strong> lIngua enquanto sist<strong>em</strong>a,tam<br />
b<strong>em</strong> aqueles fatores ligados a ocorrencia concreta <strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a.<br />
Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, isso foi-se fazendo na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que se procurou<br />
estabelecer <strong>em</strong> que consistia 0 "sinal lingUistico original".<br />
No fundo, 0 objetivo mais amplo era prossegulr na<br />
constitui~ao <strong>de</strong> uma lingUlstica a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> a seu objeto. Esta que~<br />
tao, a primeira vista, parecia nao carecer <strong>de</strong> resposta, pois<br />
Saussure j~ houvera <strong>de</strong>finido: a LingUlstica cabe estu<strong>da</strong>r a lin
Esta nova abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> recebe a <strong>de</strong>nomina~ao <strong>de</strong> LingUisti<br />
ca <strong>de</strong> Texto. Parte do pressuposto <strong>de</strong> que a organiza~ao <strong>da</strong>s frases<br />
no texto nao ~ aleatoria, mas obe<strong>de</strong>ce a principios regulad£<br />
res que especificam como os textos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser construidos. Tais<br />
princlplos ultrapassam 0 dominio <strong>da</strong> frase, e isso t<strong>em</strong>-se constituido<br />
na principal justificativa do seu<strong>de</strong>senvolvimento. A esse<br />
respeito, sac coinci<strong>de</strong>ntes os pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Dressler (Apud<br />
Favero e Koch, 1983 : 12), <strong>de</strong> Is<strong>em</strong>berg (1977 : 67), <strong>de</strong> Lang(1977:<br />
90), Van Dijk (Apud Favero e Koch, 1983 : 79), para citar ape -<br />
nas alguns nomes.<br />
A re1a~ao<strong>da</strong> LingUistica <strong>de</strong> Texto com uma Lingtiistica<br />
<strong>da</strong> Frase, cham<strong>em</strong>os assim, nao consiste apenas numa amplia~ao do<br />
seu objeto. Ou seja, 0 probl<strong>em</strong>a nao ~ passar <strong>da</strong> frase ao texto,<br />
ou mesmo <strong>da</strong> lingua ao uso <strong>da</strong> lingua, numa dimensao puramente e~<br />
tensiva. Isso significa que nao mu<strong>da</strong> apenas a questao <strong>de</strong> como<br />
ver a lingua, mu<strong>da</strong>, sim, 'que categorias ver nesta lingua, cujo<br />
uso so se efetiva no texto, "situacionalmente condicionado". Es<br />
tas categorias compreen<strong>de</strong>m os el<strong>em</strong>entos lingUisticos e extralin<br />
gtiisticos que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a organiza~ao e funcionamento do texto,ou,<br />
noutras palavras, 0 conjunto <strong>de</strong> categorias que faz<strong>em</strong> com que<br />
uma seqUencia <strong>de</strong> frases possa ser reconheci<strong>da</strong> como texto. Que<br />
aspectos do usa <strong>da</strong> lingua esta abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> po<strong>de</strong>ria evi<strong>de</strong>nciar?<br />
Parece-nos que, entre outros aspectos, a Lingtiistica<br />
d~ Texto po<strong>de</strong>ra evi<strong>de</strong>nciar que exist<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos que nos compr~<br />
en<strong>de</strong>mos porque conhec<strong>em</strong>os a lingua e que exist<strong>em</strong>el<strong>em</strong>entos tamb<strong>em</strong><br />
que nos so compreen<strong>de</strong>mos porque sab<strong>em</strong>os al~m <strong>da</strong> lingua. A<br />
linguag<strong>em</strong>, assim <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>, implica 0 conhecimento <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<br />
circunstanciais, que inclu<strong>em</strong> 0 conhecimento do interlocutor, do<br />
saber partilhado, <strong>da</strong>s inten~oes, t<strong>em</strong>po e lugar <strong>em</strong> jogo, enfim,<br />
uma s~rie <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos funcionais que, integrados aquele conhecimento<br />
<strong>da</strong> lingua, possibilitam 0 seu funcionamento natural.Nes<br />
ses termos se explicara que a illterpreta~ao a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> <strong>de</strong>"Diretas,<br />
ja~" seria impossivel, ou pelo menos muito dificil, s<strong>em</strong> 0 recur<br />
so a contextualiza~ao <strong>de</strong> que esse texto ~ parte. Ai 0 conheci -<br />
mento do significado ou <strong>da</strong>s categorias sintaticas <strong>da</strong>s palavras<br />
seria insuficiente. A Lingtiistica <strong>de</strong> Texto po<strong>de</strong>ra evi<strong>de</strong>nciar 0<br />
aspecto <strong>da</strong> lingua integra<strong>da</strong> a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, as circunstancias <strong>de</strong>
seu funcionamento 0 que, na pratica, aponta para 0 que original<br />
mente a distingue.<br />
Desse princlpio geral se po<strong>de</strong>ria concluir que uma Lin<br />
gUlstica <strong>de</strong> Texto objetiva explicar as caracteristicas basicas<br />
do texto oral e do escrito, ou as especifica~6es gerais <strong>de</strong> tipos<br />
<strong>de</strong> texto (por ex<strong>em</strong>plo, que distin~oes ha entre um texto nar<br />
rativo, uma notlcia <strong>de</strong> jornal, um aviso, uma advertencia,etc)<br />
Objetiva, ain<strong>da</strong>, explicar como no texto os varios el<strong>em</strong>entos se<br />
pren<strong>de</strong>m uns aos outros, pelos diversos fatores <strong>da</strong> coesao textual.<br />
Ou, como 0 texto se constitui numa uni<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual, 0<br />
que permite na pratica 0 usa dos resumos, <strong>da</strong>s slnteses, <strong>da</strong>s parafrases,<br />
etc. (Cf. Fonseca e Fonseca (1977), Fonseca 1985).<br />
Enfim, a explica~ao dos fenomenos <strong>da</strong> coesao e coerencia, com os<br />
fatores que uma e outra imp1icam, supoe um tratamento do objeto<br />
1ingUIstico que ultrapasse a dimensao restrita <strong>da</strong> frase solta.<br />
L<strong>em</strong>bramos, a proposito Is<strong>em</strong>berg (1977 : 67) quando enu<br />
mera a serie <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos explicaveis apenas no ambito do texto,<br />
b<strong>em</strong> como a alusao aos fatores <strong>de</strong> coesao feita por Halli<strong>da</strong>y<br />
(Apud Favero e Koch, 1983 : 38). Marcuschi (1983 : 15) inclui tam<br />
b<strong>em</strong> nesse domlnio os fatores <strong>de</strong> "conexao conceitual-cognitiva<br />
(coerencia)".<br />
Em linhas gerias, estas seriam algumas <strong>da</strong>s atribui-<br />
~oes <strong>da</strong> LingUlstica <strong>de</strong> Texto. •<br />
R<strong>em</strong>et<strong>em</strong>os para Marcuschi (1983 : 12) que, admitindo<br />
o carater provisorio <strong>de</strong> sua posi~ao,.atribui a LingUlstica <strong>de</strong><br />
Texto "0 estudo <strong>da</strong>s opera~oes lingUlsticas e cognitivas reguladoras<br />
e controladoras <strong>da</strong> produ~ao, constru~ao, funcionamento e<br />
recep~ao <strong>de</strong> textos escritos ou orais". Na mesma linha, e ain<strong>da</strong><br />
confer indo a LingUlstica <strong>de</strong> Texto 0 carater <strong>de</strong> estudo a<strong>de</strong>quado<br />
do fenomeno lingUlstico real, se pronuncia P. Hartmann, quando<br />
diz: "Se <strong>de</strong>sejarmos praticar e <strong>de</strong>senvolver a ciencia <strong>da</strong> lingu~<br />
g<strong>em</strong> <strong>em</strong> plenitu<strong>de</strong> e diferencia~ao a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> a seus objetos, e pre<br />
ciso partir <strong>da</strong> real situa~ao do objeto no domlnio <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
lingUlstica. 0 ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma fenomenologia do objeto<br />
lingU"lstico localiza-se na textuali<strong>da</strong><strong>de</strong> do sinal lir:gUlsticoori
Nesse aspecto, coinci<strong>de</strong>m os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a LingUlstica<br />
<strong>de</strong> Texto. Ou aqueles que postulam uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> que possa<br />
integrar aspectos <strong>da</strong> lingua, enquanto uso comunicativo, <strong>em</strong> textos.<br />
Marcuschi (1983 : 3) ci ta A. Weinrich para qu<strong>em</strong> "to<strong>da</strong> li~<br />
gUlstica, mesmo a variante transformacionalista, e obriga<strong>da</strong> a<br />
iniciar com textos"; ou, mais incisi'vamente ain<strong>da</strong>, "lingU:i:stica<br />
e necessariamente lingUlstica <strong>de</strong> texto". Refor~ando esse aspecto,<br />
transcrev<strong>em</strong>os ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> Favero (1983 : 43) as palavras <strong>de</strong><br />
Weinrich acerca <strong>de</strong> como e posslvel urn estudo a<strong>de</strong>quado <strong>da</strong> sintaxe<br />
dos t<strong>em</strong>pos verbais: "Nao se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ter presente que a<br />
situa~ao comunicativa e a medi<strong>da</strong> <strong>de</strong> todo 0 sintatico. E assim ,<br />
a sintaxe po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> como a parte <strong>da</strong> ciencia <strong>da</strong> lingua -<br />
g<strong>em</strong> que estu<strong>da</strong> 0 enlace( direto ou indireto) <strong>da</strong> significa~ao com<br />
a situa~ao comunicativa".<br />
Tais concep~oes nao pareceram a todos tao fortes a<br />
ponto <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r., s<strong>em</strong> divergencias, postular uma LingUlstica<br />
4e Texto. Em seu trabalho acima referido Marcuschif1983 : 56 )<br />
anota a posi~ao <strong>de</strong> Dascal/Margalit, : que, <strong>em</strong> varlas passagens, ma<br />
~ .<br />
nifestaram-se contra essa nova praposta sobretudo no aspecto me<br />
todo16gico e analltico explicativo.<br />
De qualquer forma parece inegavel a cren~a ca<strong>da</strong> vez mals<br />
firme no princlpio <strong>de</strong> que:" na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que a lingUlstica preten<strong>de</strong><br />
exercer a fun~ao <strong>de</strong> ciencia "<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>", e a ela que<br />
cabe a an~lise <strong>da</strong> lingua que ocorre numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>efetiva.Nesta<br />
socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, entretanto, ocorre a llngua-<strong>em</strong>-fun~oes, e nunca 0<br />
amontoado <strong>de</strong> signos <strong>da</strong> lingUlstica tradicional" (Schmidt,1978 :<br />
7) .<br />
Foge a nossos prop6sitos, no presente estudo, anali -<br />
sar as diversas concep~oes j~ expressas acerca <strong>da</strong> no~ao <strong>de</strong> texto.<br />
Tentamos, no entanto, situar apenas duas entre as v~rias p~<br />
si~oes existentes: a) a no~ao <strong>de</strong> texto, na perspectiva <strong>de</strong> seus<br />
aspectos imanentes; b) a no~ao <strong>de</strong> texto, como parte <strong>de</strong> uma atua<br />
~ao social mais ampla ou 60mb un-i<strong>da</strong><strong>de</strong>cOIDUnicabva.
Na primeira se priorizam os aspectos puramente lingUisticos<br />
que estao na base <strong>da</strong> seqUencia~ao <strong>da</strong>s sentenc;as que<br />
constitu<strong>em</strong> otexto. Tudo e enfocado sob 0 ponto <strong>de</strong> vista interno<br />
ao texto. Dai por que os que se situam nessa linha <strong>de</strong>stacam<br />
os el<strong>em</strong>entos textuais <strong>da</strong> "sequencia" ou <strong>da</strong> "sucessao" <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<br />
coerent<strong>em</strong>ente "<strong>em</strong> ca<strong>de</strong>ia". Ou seja, procuram montar uma<br />
gramatica <strong>de</strong> texto, com predominancia nos aspectos sintaticos<br />
<strong>da</strong> coesao, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado aspectos conceituais e pragmaticos,<br />
Aproxima<strong>da</strong>mente, cr<strong>em</strong>os po<strong>de</strong>r dizer que, nessa concep~ao,<br />
0 texto e mais <strong>da</strong> "lingua" enquanto sist<strong>em</strong>a, do que <strong>da</strong><br />
lingua enquanto atualizac;ao comunicativa. E situado pred8mina~<br />
t<strong>em</strong>ente no ambito <strong>da</strong> estrutura lingliistica, mais como enti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
"<strong>em</strong>ica" e abstrata.<br />
A segun<strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong> LingUistica <strong>de</strong> Texto disti~<br />
gue-se pela extensao <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> a dimensao concreta <strong>da</strong> comunicac;ao.<br />
Transcen<strong>de</strong>, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente 0 ambito do verbal para inserir-se<br />
nas situa~oes <strong>de</strong> uso comunicativo e na diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
inten~oes que preten<strong>de</strong> cumprir. Abarca a linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> funcion~<br />
mentQ, , na sua dimensao acional, <strong>em</strong> que <strong>em</strong>issores e receptores<br />
sao? ':entes reais" atuantes <strong>da</strong> dinamica interpessoal <strong>da</strong> comunicac;ao(Schmidt,1978)<br />
.<br />
E aqui que se enquadra, plenamente, 0 alargamento <strong>de</strong><br />
uma "competencia" mais que "lingUistica", mais que "textual" ,<br />
para ser, naturalmente "comunicativa".<br />
Os que admit<strong>em</strong> esta posi~ao ve<strong>em</strong> a introduc;ao do co~<br />
ponente pragmatico na lingua nao apenas como uma simples oper~<br />
~ao <strong>de</strong> adi~ao <strong>em</strong> que algo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> fora e acrescentado, mas como<br />
algo naturalmente inserido, uma vez que "as opera~oes verbais<br />
nao se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> senao <strong>em</strong> associac;ao integral com os processos<br />
comunicativos concretos e no seio <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> concre<br />
ta" (Schmidt 1978 : 37).
prifueiro, 0 <strong>de</strong> que as linguas somente acontec<strong>em</strong> integra<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />
situa~6es sociais <strong>de</strong> comunica~ao, nunca,portanto, "linguistic~<br />
mente isola<strong>da</strong>s" e, segundo, <strong>de</strong> que to<strong>da</strong> realiza~ao <strong>da</strong> lingua<br />
so se <strong>da</strong> atraves <strong>de</strong> textos.<br />
A partir <strong>de</strong>sses pon tos, se a LingUis tica tenciona<br />
apreen<strong>de</strong>r seu objeto sob a forma <strong>em</strong> que ele naturalmente acontece<br />
- fIe nao como urn sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos abstratos artificiosamente<br />
preparado ~ tera que abor<strong>da</strong>r a lingua sob duas condi-<br />
~oes:<br />
'!<br />
b) <strong>em</strong> textos (Schmidt, 1978 : 8).<br />
Na pratica, essa concep~ao leva a uma composi~ao do<br />
'sist<strong>em</strong>a <strong>da</strong> lingua <strong>em</strong> tres nlveis distintos e inteiramente inte<br />
grados: a sintaxe, a s<strong>em</strong>antica e a pragmatica. 0 uso <strong>da</strong> lingua<br />
<strong>em</strong> situa~6es concretas <strong>de</strong> comunica~ao implica urn processo<br />
<strong>de</strong> "<strong>de</strong>cisao" que se faz, simultaneamente nos tres niveis men -<br />
cionados (Oller, apud, Schmidt, 1978 : 40).<br />
Abarca, portanto, 0 conjunto <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as possibilid~<br />
<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manifesta~ao concreta <strong>de</strong> urn texto. Ou, concretamente, a<br />
analise dos "atos <strong>de</strong> fala", dos aspectos i<strong>de</strong>ologicos subjacentes,<br />
<strong>da</strong>s inten~oes. Neste caso, a autonomia do texto so se <strong>da</strong><br />
totalmente na "historia" <strong>de</strong> sua realizac;ao.<br />
Como pressuposto a ser levado <strong>em</strong> conta no <strong>de</strong>senvolvi<br />
mento <strong>de</strong> nossa proposta, admitimos aqui a noc;ao <strong>de</strong> texto como:<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong> lingUlstica, intersubjetiva (compreen<strong>de</strong>ndo, portanto,<br />
<strong>em</strong>issor e receptor), t<strong>em</strong>aticamente orienta<strong>da</strong> com uma <strong>de</strong>termi<br />
na<strong>da</strong> inten~ao, com regras especlficas <strong>de</strong> organiza~ao, integra<strong>da</strong><br />
num contexto circunstancial atraves do qual as pessoas realizam<br />
uma a~ao comunicativa.<br />
Isso nos leva a admitir que, paralelas -as regras gr~<br />
maticais, que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s do construto lingUistico<br />
e, tao pertinentes quanta elas, ha regras sociaj~ que atuam co
mo "restri\;oes textuais ll ; <strong>da</strong>l, acreditamos, nao se po<strong>de</strong>r pres -<br />
cindir <strong>da</strong> contextualiza~ao.<br />
Assim sao os text os reals, <strong>em</strong> situa~oes naturais <strong>de</strong><br />
comunica\;ao. Com razoes lingUlsticas e com razoes SOClalS para<br />
a <strong>de</strong>termina\;ao <strong>da</strong>s escolhas <strong>de</strong> sua organiza~ao e uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
As primeiras s<strong>em</strong> as segun<strong>da</strong>s resultam na esterili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
dos "artificialismos" atras apontados, que <strong>de</strong>nunciam 0 trunca -<br />
mento, nao impun<strong>em</strong>ente, <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira comunica~ao.<br />
Julgamos Vlr oportuna, ain<strong>da</strong>, a observa~ao <strong>de</strong> que, no<br />
trabalho com 0 texto na escola, parece-nos mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> uma<br />
posi~ao integradora <strong>da</strong>s duas ten<strong>de</strong>ncias atras relata<strong>da</strong>s. Nao PQ<br />
<strong>de</strong>mos, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>scurar 0 carater lingUlstico <strong>de</strong> nossas<br />
abor<strong>da</strong>gens textuais (no caso, as aulas saD <strong>de</strong> "llngua"), n<strong>em</strong><br />
tampouco minimizar a inser~ao do lingUistico nos contextos reais<br />
do uso social <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>. Ou seja, 0 <strong>de</strong>senvolvimento lingUlstico<br />
que preten<strong>de</strong>mos promover na escola <strong>de</strong>ve apoiar-se no siste<br />
ma enquanto possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e nas condi~oes concretas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>sse<br />
sist<strong>em</strong>a. De maneira que 0 movimento seja <strong>de</strong> integra~ao entre<br />
a gramatica e a experiencia.<br />
Uma teoria <strong>da</strong> Ilngua para al<strong>em</strong> <strong>da</strong>s explica~oes pura -<br />
mente formais <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s lingUlsticas parece correspon<strong>de</strong>r com<br />
mais proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> a natureza do hom<strong>em</strong>, sujeito <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, e<br />
a natureza mesma <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, instrumento <strong>de</strong> uso comunicativo<br />
e<br />
interacional.
14 - PRODUCAO E COMPREENSAO DE TEXTO NO 1 9 GRAU MENOR<br />
J<br />
Nesta parte do trabalho objetivamos sugerir el<strong>em</strong>entos<br />
para uma proposta <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>enta~ao, ou formas alternativas,para<br />
0 ensino <strong>de</strong> lIngua materna no primeiro grau menor.<br />
S<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista os princlpios teoricos que nos ser<br />
viram <strong>de</strong> base, preten<strong>de</strong>mos conferir a essas sugestoes urn carater<br />
<strong>de</strong> inspira~ao pratica, com 0 cui<strong>da</strong>do, no entanto, <strong>de</strong> nao <strong>de</strong>s<br />
lizar para 0 escapismo mecanico, reprodutor e estatico do puro<br />
fazer.<br />
Como vimos <strong>de</strong>monstrando no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> nosso estudo ,<br />
pareceu-nos razoavel tomar como fun<strong>da</strong>mento os seguintes pressupo~<br />
tos:<br />
~19) A crian~a que ingressa no primeiro grau menor Ja<br />
?<br />
traz uma !!competencia comunicativa", adquiri<strong>da</strong> na experiencia co<br />
tidiana do uso <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>.<br />
2 9 ) Ha uma fun~ao atribul<strong>da</strong> a Escola, pelo que se justifica<br />
sua institucionaliza~ao. Aqui a conceb<strong>em</strong>os como <strong>de</strong>vendo<br />
promover 0 <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa competencia <strong>da</strong> crian~a,com vistas<br />
a habilita-Ia, progressivamente, para a satisfa~ao <strong>da</strong>s diver<br />
sas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>s comunicativas do meio <strong>em</strong> que vive.<br />
39 ) A Escola po<strong>de</strong>ra encontrar condi~oes mais a<strong>de</strong>qua -<br />
<strong>da</strong>s <strong>de</strong> cumprir esta fun~ao se ela assumir as diretrizes <strong>de</strong> uma<br />
Teoria <strong>da</strong> Lingua centra<strong>da</strong> na sua forma natural e concreta <strong>de</strong> acon<br />
tecer. 1550 a levara, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, a centrar-se no carater textual)<br />
comunicativo e interacional <strong>da</strong> lingua, numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> integra~ao<br />
com a experiencia e aptidoes <strong>da</strong> crian~a.<br />
Nesses termos, esta inclul<strong>da</strong> a trla<strong>de</strong>: aluno, institui<br />
..•.<br />
~ao e processo. 0 aluno, enquanto "sujeito-alvo" do <strong>de</strong>senvolvi -
mento objetivado; a escola, enquanto agente mediador, estimu1ador<br />
e facilitador <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolvimento; e 0 processo pe10 qual<br />
se efetivam as a1ternativas <strong>de</strong> a~ao seleciona<strong>da</strong>s.<br />
Nossas sugestoes priorizam atingir aquele el<strong>em</strong>ento f~<br />
ci1itador, pela extr<strong>em</strong>a importancia que atribuIIDos a sua atua-<br />
~ao, especialmente na etapa basilar do 1 9 grau menor. Esse obj~<br />
tivo po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sdobrar-se, <strong>de</strong> maneira que acreditamos po<strong>de</strong>r alcan-<br />
~ar os professores ja <strong>em</strong> exerclcio, b<strong>em</strong> como oferecer algum<br />
subsidio para a reflexao <strong>de</strong> como processar a forma~ao <strong>de</strong> profe~<br />
sores <strong>de</strong> lingua materna para 0 19 grau menor.<br />
A fim <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r separa<strong>da</strong>mente aspectos distintos, e~<br />
bora inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong> nossa proposta, <strong>de</strong>cidimos subdividir<br />
este ponto <strong>em</strong> dois subitens.<br />
o primeiro compreen<strong>de</strong> os aspectos conceituais e atitudinais<br />
que acreditamos po<strong>de</strong>r estar na base <strong>da</strong> postura <strong>de</strong> uma<br />
esco1a orienta<strong>da</strong> para a integra~ao dos conhecimentos lingUisticoso<br />
o segundo abrange aspectos especificos relativos ao<br />
modo como tratar algumas questoes lingUlsticas particulares.<br />
Nuns e noutros, predomina, como pricipio, a concep~ao<br />
<strong>da</strong> lingua orienta<strong>da</strong> para a expressao e comunica~ao efetiva,que,<br />
reiterando, so acontece ern textos e <strong>em</strong> situa~oes socioculturais.<br />
Comp1<strong>em</strong>entando essas observa~oes, <strong>de</strong>ixamos claro que dirigimos<br />
nossas sugestoes tanto para 0 texto oral como para 0 texto es -<br />
crito. A utiliza~ao generaliza<strong>da</strong> e freqUente que se faz, <strong>da</strong> ll~<br />
gua oral ate <strong>em</strong> meios urbanos e institucionalizados, justifica<br />
a importancia que aqui Ihe atribuimos. Por outro lado, as posi-<br />
~oes que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma concentra~ao <strong>da</strong> esco1a no ensino <strong>da</strong> lin -<br />
gua escri ta parec<strong>em</strong> apontar razoes <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mento (Cf. Kato, 1986<br />
e Perini, 1985).
a seu modo<br />
lingua.<br />
Nossa proposta se constitui num conjunto <strong>de</strong> principios<br />
gerais e compl<strong>em</strong>entares que, a longo prazo, po<strong>de</strong>m oferecer<br />
motiva~oes e subsldios para uma reformula~ao dos livros di<strong>da</strong>ticos<br />
e, a curto prazo, po<strong>de</strong>m servir para uma reorienta~ao na uti<br />
liza~ao <strong>de</strong>sses manuais. Em dimensao mais radical, acreditamos<br />
ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong>r contribuir para 0 reexame <strong>da</strong> propria questao do ensino<br />
<strong>da</strong> lingua materna no 1 9 grau menor.,<br />
Em nenhum momento atribulmos a estes principios a pr~<br />
tici<strong>da</strong><strong>de</strong> mecanicista <strong>de</strong> urn receituario. Prev<strong>em</strong>os, antes <strong>de</strong> tudo,<br />
uma base teorica abrangente, cujas aplica~oes praticas <strong>de</strong>man<strong>da</strong>m,<br />
al<strong>em</strong> <strong>de</strong> conhecimentos, a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e 0 discernimento<br />
dos professores~ Parece-nos razoavel supor que este nao e 0 lugar<br />
a<strong>de</strong>quado para <strong>de</strong>scermos as minucias praticas do "que-fazer".<br />
Objetivamos, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>em</strong> ultima instancia, atingir este par~<br />
metro, por<strong>em</strong> atraves <strong>da</strong> indica~ao <strong>de</strong> pistas implicativas que PQ<br />
<strong>de</strong>m conduzir a p/ocedimentos concretos <strong>de</strong> aplica~ao.<br />
Num primeiro momento quer<strong>em</strong>os salientar aspectos globais<br />
<strong>de</strong> nossa proposta, consi<strong>de</strong>rando algumas concep~oes e atitu<strong>de</strong>s<br />
que po<strong>de</strong>m funcionar como base <strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisoes praticas .<br />
1 9 ) Uma reorienta~ao do ensino <strong>da</strong> lingua para a produ~ao<br />
e compreensao <strong>de</strong> textos. como forma <strong>de</strong> integraqao <strong>de</strong> co-
nhecimentos implica, primeiramente, uma re<strong>de</strong>fini~ao do conceito<br />
<strong>de</strong> lIngua. Nesta op~ao, a lIngua sera vista como enti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
funcional, atualiza<strong>da</strong>, a servi~o <strong>da</strong> comunica~ao intersubjetiva<br />
e que acontece ern situa~6es concretas <strong>de</strong> uso. Esta lIngua tern,<br />
portanto, interlocutores. E contextualiza<strong>da</strong>, diversifica<strong>da</strong>, mutavel<br />
e so acontece sob a forma <strong>de</strong> textos vinculados a urn momento<br />
e a urn lugar concretos.<br />
Implicitamente, esta Vlsao <strong>de</strong>scarta os textos nao-naturalS,<br />
as frases artificiosamente programa<strong>da</strong>s ern fun~ao dos ca-<br />
50S a explicitar, ou a lista aleatoria <strong>de</strong> palavras soltas, do<br />
que so po<strong>de</strong> resultar a compreensao distorci<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma lingua abs<br />
trata, monolltica e distante <strong>da</strong>s regras comuns que coman<strong>da</strong>m a<br />
comunica~ao diaria.<br />
A priori<strong>da</strong><strong>de</strong> sera concedi<strong>da</strong> a uma lingua que e referenCla<br />
a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que a crian~a vive,lIngua que fala <strong>da</strong> sua vi<br />
<strong>da</strong>, <strong>da</strong>s suas coisas, do seu mundo real e fantastico.<br />
2 9 ) Como <strong>de</strong>correncia, impoe-se uma re<strong>de</strong>fini~ao do concei<br />
to, dos lirni'tese <strong>da</strong>s categorias gramaticais a ser<strong>em</strong> propos -<br />
tas como objeto <strong>de</strong> estudo. Partindo <strong>de</strong>sse sentido <strong>de</strong> lingua, te~<br />
tual e discursiva, assume importancia nao a discrimina~ao pur a e<br />
simples dos ditongos e hiatos, para citar apenas urn ex<strong>em</strong>plo.Mas,<br />
passa a ter priori<strong>da</strong><strong>de</strong>aprimorar as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> construir tex<br />
tis orais e escritos, ern situa~6es reais <strong>de</strong> comunica~ao. Isto,evl<br />
<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, compreen<strong>de</strong> 0 estudo e a pratica <strong>de</strong> questoes b<strong>em</strong> distintas,a<br />
nosso ver, muito mais <strong>em</strong> sintonia corn 0 que a<br />
esta vivendo lingUIstica e socialmente.<br />
39) Numa linha <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pencia, tais perspectivas con<br />
duz<strong>em</strong> a revisao do conteudo programatico <strong>de</strong> Comunica~ao e Expre~<br />
sac para, 0 1 9 grau menor. Voltando a avalia~ao ja procedi<strong>da</strong> e<br />
formaliza<strong>da</strong> no quadro "lndice dos Conteudos Gramaticais,,(l) acre-
ditamos que, na perspectiva aqui <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>, tais programas sofr~<br />
riam cortes substanciais na sobrecarga <strong>de</strong> no~oes <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>e<br />
talingUlsticas e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre re1evantes (2)<br />
Neste sentido, aceitamos correr 0 risco <strong>de</strong> propor que<br />
o estudo exp1icito <strong>da</strong>s <strong>de</strong>nomina~oes e c1assifica~oes <strong>da</strong> Gramitica<br />
seja adiado para etapas posteriores.<br />
Aos primeiros anos do 1 9 grau se <strong>de</strong>via <strong>de</strong>stinar a tarefa<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvo1ver e orientar a crian~a nas condi~oes a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s<br />
<strong>de</strong> uso <strong>da</strong> lingua oral e escrita, pe10 continuado exerclcio, rep~<br />
timos, <strong>da</strong> produ~ao e compreensao <strong>de</strong> textos, como hav<strong>em</strong>os <strong>de</strong> esp~<br />
cificar mais adiante.<br />
o percurso <strong>da</strong> crian~a por entre os trope~os <strong>da</strong>s nome~<br />
claturas', divisoes e subdivisoes, <strong>da</strong>ria lugar a experlencia <strong>de</strong><br />
construir e compreen<strong>de</strong>r 0 exerclcio <strong>da</strong> comunica~ao, <strong>de</strong> forma ori<br />
enta<strong>da</strong> e-sist<strong>em</strong>itica. 0 foco do programa <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser essencia1mente<br />
informativo, como tern sido ate agora.<br />
4 9 ) Alterar estes fatores implica airrdk rever os objetivos<br />
do ensino <strong>da</strong> lingua nesta fase, b<strong>em</strong> como os procedimentos<br />
metodo1ogicos a e1es vincu1ados. Com efeito, urn ensino que<br />
priorize amp1iar as habi1i<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> crian~a como "<strong>em</strong>issor''' e<br />
"receptor" <strong>de</strong> textos orais e escritos preve priticas e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
para al<strong>em</strong> <strong>da</strong>quelas predominantes nos 1ivros diditicos vistos.<br />
Em 1inhas gerais, tudo leva a crer que as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
do fa1ar, ouvir, 1er e escrever textos, individuais e socia1me~<br />
te significativos conduz<strong>em</strong> ao <strong>de</strong>senvo1vimento 1ingUIstico e comunicativo<br />
<strong>da</strong> crian~a muito mais, insistimos, do que <strong>de</strong>cidir<br />
12l Mato~, (7984 : 70-77) ~ob 0 tItulo "0 en~ino <strong>da</strong> innelevanate<br />
quando? ~ apne/.) enta eoJlL6i<strong>de</strong>na
por ex<strong>em</strong>plo, sobre 0 conjunto <strong>de</strong> substantivos epicenos, comuns<br />
ou sobrecomuns. Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s funcionalmente "globais" correspon -<br />
<strong>de</strong>m ao que as pesquisas <strong>em</strong> PsicolingUistica cornprovararn como<br />
mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s, uma vez que a percep~ao, <strong>em</strong> qualquer nivel, se<br />
rea1iza pe<strong>da</strong>~o por pe<strong>da</strong>~o, mas aos b1ocos, <strong>em</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s integra<strong>da</strong>s<br />
(Cf. Slobin, 1980 : 54).<br />
59) Em compl<strong>em</strong>enta~ao, tais concep~oes inc1u<strong>em</strong> uma nova<br />
perspectiva <strong>da</strong> leitura e escrita, do que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>correr, tam<br />
bern, objetivos e praticas pe<strong>da</strong>gogicas diferentes no ensino <strong>de</strong>s<br />
sas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Por essas consi<strong>de</strong>ra~6es preliminares ja po<strong>de</strong>mos conc1uir<br />
que as mu<strong>da</strong>n~as propostas r<strong>em</strong>ontam a diferen~as subs tan -<br />
ciais na forma <strong>de</strong> conceber 0 objeto lingUlstico aqui tornado como<br />
objeto <strong>de</strong> ensino sist<strong>em</strong>atico.<br />
Parece razoavel esperar que as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s referentes<br />
ao estudo <strong>da</strong> lingua nao percam <strong>de</strong> vista as condi~6es essenciais<br />
que a caracterizam. 0 conjunto <strong>de</strong>ssas condi~oes essenciais con~<br />
titu<strong>em</strong> a textuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lingua, isto e, "0 conjunto <strong>de</strong> propri~<br />
<strong>da</strong><strong>de</strong>s que uma manifesta~ao <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> humana <strong>de</strong>ve possuir para<br />
ser urn texto (discurso) (Mateus et al., 1983 : 186).<br />
Em sintese, f~rma-nos <strong>em</strong> que nesta etapa, 0 ensino <strong>da</strong><br />
lingua <strong>em</strong> textos comunicativos <strong>de</strong>veconcentrar programas, objetivos<br />
e metodologia.<br />
Po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar algumas posturas basicas do professor<br />
que, nessa linha, consi<strong>de</strong>ramos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importancia.
pela inser~~o <strong>da</strong> crian~a <strong>em</strong> seus contextos <strong>de</strong> use, sugere a conveniencia<br />
<strong>de</strong> que, nesta etapa, 0 professor priorize 0 estimulo a<br />
fluencia lingUistica. Isto significa que 0 professor <strong>de</strong>ve, antes<br />
<strong>de</strong> tudo, levar a crian~a a vivenciar a lingua pela pratica constante<br />
<strong>de</strong> falar, ouvir, ler e escrever. Para isso val<strong>em</strong> os moti -<br />
vos que a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> vai sugerindo, s<strong>em</strong> a preocupa~~o dominante<br />
<strong>de</strong> avaliar a realiza~~o ortografica, ou outras quest6es tipica -<br />
mente mec~nicas.<strong>de</strong> letras e espa~os, vacila~6es e pausas.<br />
Se a atitu<strong>de</strong> ~ a favor <strong>da</strong> fluencia,o que passa a ter<br />
interesse ~ construir, analisar, discutir, ler e ouvir textos<br />
unlca ocorrenCIa <strong>em</strong> que a crian~a po<strong>de</strong> chegar a compreen<strong>de</strong>r como,<br />
<strong>de</strong> fato, a lIngua que ela fala funciona.<br />
Nestes exercicios diarios <strong>de</strong> utiliza~~o <strong>da</strong> lingua preten<strong>de</strong>-<br />
se mui to malS que 0 treino e 0- teste sobre os nomes e as caracterlsticas<br />
que t<strong>em</strong> as uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> lingua.<br />
o que se preten<strong>de</strong> ~ a pratica <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta pelo fazer,<br />
e 0 trabalho <strong>de</strong> produ~~o do conhecimento, pelo que a crian<br />
~a apren<strong>de</strong> produzindo. Ela n~o e apenas ensina<strong>da</strong> a ver, a compreen<strong>de</strong>r<br />
como se faz<strong>em</strong> textos, ou como ~ a lingua. Ela apren<strong>de</strong><br />
a viver a forma <strong>de</strong> produ~~o, a fim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como e que<br />
se faz. t importante que 0 professor veja 0 aluno como 0 gerador<br />
do seu proprio conhecimento, 0 que so acontece pelo apren -<br />
<strong>de</strong>r a fazer, fazendo.<br />
Ou seja, 0 que se objetiva com esta atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> estlmu<br />
10 a fluencia e fazer a crian~a passar <strong>de</strong> espectador dos fatos<br />
lingUisticos, <strong>de</strong>scritos e/ou i<strong>de</strong>ntificados, para agente <strong>de</strong>cisor,<br />
<strong>em</strong> circunst~ncias concretas <strong>de</strong> tentar fazer (Matos, 1985). E<br />
pela experiencia do gozo <strong>de</strong> produzir que se po<strong>de</strong> gerar 0 gosto<br />
pela tentativa. Se a crian~a adquiriu a lingua na comunica~~o<br />
interpessoal, e tamb~m por a1 que se <strong>de</strong>ve processar 0 <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong>ssa aquisi~~o. E uma proposta coinci<strong>de</strong>nte com uma con<br />
clus~o <strong>de</strong> Kato (1986 : 120), segundo a qual uma teoria <strong>da</strong> apre~<br />
dizag<strong>em</strong> n~o po<strong>de</strong> ser, "qualitativamente" muito diferente <strong>de</strong><br />
uma teoria <strong>da</strong> aquisi~~o.
Isto su~6e do professor, por urn lado, <strong>de</strong>termina~~o <strong>de</strong><br />
estimular ca<strong>da</strong> pratica do aluno, aju<strong>da</strong>ndo-o a ganhar autoconfian~a<br />
quanta a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> chegar a realizar uma eomunica~~o<br />
lingUlstica efieiente, s<strong>em</strong> que, para isso,<strong>de</strong>va ter trazido a mar<br />
ca <strong>da</strong> geniali<strong>da</strong><strong>de</strong>.· Tal pratiea, n~o se consti tui <strong>em</strong> nenhuma pan~<br />
ceia, mas e provavel que, atuando <strong>em</strong> situa~6es reais <strong>de</strong> eomunie~<br />
~~o, a crian~a possa chegar, com mais gosto e mais eficieneia,ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s lingUisticas.<br />
Por outro lado, parece eonseqUente que 0 professor av~<br />
ce para al<strong>em</strong> <strong>da</strong> simplista tare fa <strong>da</strong> "ca~a aos erros", abdieando<br />
<strong>da</strong> postura corretiva que, entre outros males, gera a "ansie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
do insucesso" (Mareushi, 1986 : 4) e estabelece "a relac;ao negativa<br />
do falante com sua propria lingua" (Luft, 1985 : 104).<br />
A mot~va~ao para as eorrec;6es no oral e no escrito -<br />
<strong>de</strong>v<strong>em</strong> partir <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a eficaeia comunicativa<br />
do texto. Por esse procedimento se ating<strong>em</strong> os aspectos rea1mente<br />
pertinentes <strong>da</strong> expressao verbal. T~ efieacia eomunicativa so p~<br />
<strong>de</strong> ser avalia<strong>da</strong> na medi~a <strong>em</strong> que aqui10 sobre que fa1am e escrev<strong>em</strong><br />
as erian~as s~o situac;6es reais <strong>de</strong> comunica~~o ou <strong>de</strong>1.a.s se<br />
z .<br />
aproximam 0 mais possive1. Isso implica 0 outro lado do receptor<br />
do texto, sobre que fa1ar<strong>em</strong>os adiante.<br />
2 9 ) Pareee-nos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se<br />
na escola a conseiencia <strong>de</strong> que 0 i<strong>de</strong>al para ea<strong>da</strong> etapa - serie -<br />
e parcial, na medi<strong>da</strong><strong>da</strong>s aptid6es e limita~6es <strong>da</strong>s crianc;as,nesse<br />
perlodo do 1 9 grau.<br />
Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, conforme exp1icita Beaugran<strong>de</strong> (198&: 18),0<br />
falante real "nao internalizou a lingua na sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas<br />
apenas urn mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>la com as limita~oes e aproximac;oes eorrespo~<br />
<strong>de</strong>ntes as suas experiencias e aptid6es. Assim, a aprendizag<strong>em</strong> lin<br />
gUlstiea <strong>de</strong>ve ser como uma progressao (0 grifo e nosso)<strong>em</strong> que ea<br />
<strong>da</strong> urn transforma ou renova seu mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> diferentes fases".<br />
Isso significa que,nesse estagio, e normal que a erian .•.<br />
~a <strong>de</strong>monstre inabi1i<strong>da</strong><strong>de</strong>s para compor urn texto escrito com 0 nl-~<br />
vel coesivo, por ex<strong>em</strong>plo, on<strong>de</strong> muitos apagamentos se~po<strong>de</strong>riam ter
efetuado. Como e tamb<strong>em</strong> normal que a crian~a vacile quanta a es<br />
colha <strong>da</strong> palavra a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, ou <strong>da</strong> grafia padroniza<strong>da</strong>, e,numa car<br />
ta ao pai, para citar um caso, escreva: "Voce e 0 pai que eu<br />
mais gosto".<br />
Conciliando aquele proposito <strong>de</strong> estimular a fluencia<br />
lingUistica <strong>da</strong> crian~a com a consciencia dos limites que ela en<br />
frenta nesta altura, como proce<strong>de</strong>r, perguntamo-nos, frente a<br />
produ~ao <strong>da</strong> crian~a ain<strong>da</strong>, normalmente, com tantas incompletu -<br />
<strong>de</strong>s? Parece outra nao ser a sai<strong>da</strong> se nao a postura do respeito<br />
as suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do estimulo e do encorajamento, pelo que<br />
ela tentou e conseguiu fazer.<br />
Dal que nos pare~a importante apontar como objetivo<br />
central <strong>de</strong>sta etapa escolar, fazer a crian~a enfrentar 0 <strong>de</strong>s a-<br />
fio <strong>da</strong> lei tura, <strong>da</strong> escri ta, <strong>da</strong> fala Cal<strong>em</strong> do convers,acional),com<br />
todos os gostos e riscos que isso po<strong>de</strong> trazer.<br />
A supera~ao dos erros vai-se processando com 0 <strong>de</strong>senvolvimento<br />
que esse "gosto" vai provi<strong>de</strong>nciando e com a repeti -<br />
~ao <strong>da</strong> pratica orienta<strong>da</strong> e revista.<br />
A preocupa~ao com 0 escrever ou falar certo que, quase<br />
s<strong>em</strong>pre equivale a escrever s<strong>em</strong> erros <strong>de</strong> ortografia ou s<strong>em</strong><br />
erros <strong>de</strong> concor<strong>da</strong>ncia e regencia, por ex<strong>em</strong>plo, t<strong>em</strong> impedido a<br />
.<br />
valoriza~ao <strong>da</strong> fluencia lingUistica, <strong>em</strong> que 0 cui<strong>da</strong>do dominante<br />
seja conseguir comunicar aquilo que se preten<strong>de</strong>u, a qu<strong>em</strong> tiv<strong>em</strong>os<br />
como interlocutor.<br />
Nao parece, portanto, s<strong>em</strong> fun<strong>da</strong>mento a suposi~ao <strong>de</strong><br />
que 0 medo <strong>de</strong> errar t<strong>em</strong> freado <strong>em</strong> muitas crian~as, 0 apelo por<br />
Vlver a experiencia comunicativa,principalmente atraves <strong>da</strong> escrita.<br />
A tolerancia com as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s iniciais <strong>da</strong> crian~a<br />
nao significa uma postura <strong>de</strong> permissivi<strong>da</strong><strong>de</strong> conivente. Revela a<br />
compreensao <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>em</strong> a~ao, que implica tanto 0<br />
<strong>em</strong>penho para que nao se violent<strong>em</strong> as etapas <strong>de</strong>sse processo, co-
mo a aten~ao para nao <strong>de</strong>ixa-lo a <strong>de</strong>riva. McNeill (1976 : 2l0)an~<br />
lisando as etapas do <strong>de</strong>senvolvimento lingUistico <strong>da</strong> crian~a, se<br />
refere a que: "como acontece segui<strong>da</strong>mente na linguag<strong>em</strong> infantil,<br />
as mu<strong>da</strong>n~as superficiais nao sac urn indicador vali<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>n -<br />
~as que estao tendo lugar no sist<strong>em</strong>a subjacente <strong>da</strong> crian~a. A<br />
gramatica po<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver no silencio".<br />
3 9 ) Relacionado aos itens prece<strong>de</strong>ntes, esta 0 carater<br />
<strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>ve orientar conteudose metodologia<strong>de</strong> urn<br />
ensino <strong>de</strong> lingua, s<strong>em</strong> cair, e obvio, no utilitarismo <strong>da</strong> a<strong>da</strong>pta -<br />
4 9 ) Defen<strong>de</strong>mos a conveni~ncia <strong>de</strong> que os objetivos dos<br />
exercicios sejam explicitados, <strong>de</strong> forma que a crian~a saiba ~-<br />
ra que the conv<strong>em</strong> a aquisi~ao <strong>da</strong>quela no~ao ou habili<strong>da</strong><strong>de</strong>. 0<br />
aprendizado sist<strong>em</strong>atico <strong>da</strong> lingua se efetuara com mais proveito<br />
se tiver como base a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno,<strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> a partir<br />
<strong>de</strong> si tua~oes <strong>de</strong> confronto com 0 que ele precisa apren<strong>de</strong>r.<br />
Os manuais, pelo menos os que examinamos, sac muito<br />
omlSSOS a esse respeito. Como nos ex<strong>em</strong>plos que apresentamos, 0<br />
aluno e simplesmente levado a cumprir uma instru~ao s<strong>em</strong> nenhuma<br />
referencia ao que isso po<strong>de</strong> ajuntar ao que ele precisa saber p~<br />
ra a<strong>de</strong>quar-se as exigencias sociais <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> escrita capa -<br />
zes <strong>de</strong> criar vinculo intersubjetivo.<br />
A separa~ao <strong>de</strong> silabas, por ex<strong>em</strong>plo, po<strong>de</strong>ria ser r<strong>em</strong>e<br />
ti<strong>da</strong> para as normas <strong>de</strong> parti~ao<strong>de</strong> palavras, no final <strong>da</strong>s linhas.<br />
A questao <strong>da</strong>s conjun~oes ou dos adverbios ganharia motiva<br />
~ao se mostrasse a fun~ao que -tais uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham na rela<br />
~;<br />
~ao entre as senten~as e paragrafos do texto, b<strong>em</strong> como na pro-,<br />
gressao que vai assumindo 0 <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias. S<strong>em</strong> cair<br />
no utilitarismo superficial <strong>de</strong> que ja falei, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> no~ao po<strong>de</strong><br />
ser apontado seu potencial aplica tivo como consti tuinte .ae um<br />
tipo / fun~ao particular <strong>de</strong> texto.Isso po<strong>de</strong> ser um criterio para<br />
distin~ao <strong>da</strong> relevancia dos conteudos e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Assim,tal<br />
vez nao continu<strong>em</strong>os insistindo <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que nao coinci<strong>de</strong>m<br />
com a propria pratica social. Pelo que po<strong>de</strong>mos supor e bastante<br />
baixa a plausibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrencia, <strong>em</strong> situa~oes normais <strong>de</strong><br />
comunica~a:o, <strong>de</strong> senten~as como: "A formiga macho lutou com a<br />
aranha macho" (Bellucci, 1985 66).
Essas id~ias po<strong>de</strong>m parecer <strong>de</strong>masiado abstratas para<br />
constituir<strong>em</strong> alvo <strong>de</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que se <strong>de</strong>stina a crian~as.E!<br />
ta claro, no entanto, que essas e outras concep~oes ating<strong>em</strong> as<br />
crian~as, mais do que nos supomos, s<strong>em</strong> que pass<strong>em</strong> diretamente<br />
pelo aspecto formal <strong>da</strong>s palavras. Transitam, isso sim, atrav~s<br />
<strong>da</strong>s atitu<strong>de</strong>s com que acolh<strong>em</strong>os suas primeiras alternativas, naturalmente<br />
incompletas, <strong>de</strong> tentar a pratica <strong>da</strong> comunica~ao oral<br />
e escrita.<br />
59) Acreditamos na vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que as produ~oes dos<br />
alunos sejam socializa<strong>da</strong>s, como acontece com a comunica~ao <strong>em</strong><br />
circunstancias naturais. Tal postura implicaria <strong>em</strong> que as cria~<br />
~as less<strong>em</strong> os textos uns dos outros, com 0 que se vivenciaria a<br />
troca estabeleci<strong>da</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ate discursivo e <strong>em</strong> referencia ao<br />
que qualquer mu<strong>da</strong>n~a po<strong>de</strong>ria ser sugeri<strong>da</strong>.<br />
Dessa mane ira, a produ~ao obscura ou <strong>de</strong>sorganiza<strong>da</strong> do<br />
colega po<strong>de</strong> receber a sugestao <strong>da</strong> revisao porque 0 grupo testou<br />
que, como esta "ningu~m consegue enten<strong>de</strong>r 0 que esta escrito ".<br />
au seja, a indica~ao <strong>da</strong> falha e dos acertos parte <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> satisfazer exigencias <strong>de</strong> utiliza~ao social. Isso confere<br />
com a pratica social <strong>da</strong> crian~a e, <strong>em</strong> outra dimensao, neutraliza<br />
0 carater autoritario <strong>da</strong>s corre~oes que traz<strong>em</strong> 0 aval do "ma<br />
gister dixit", pela for~a <strong>da</strong> lei gramatical ou pela convenlen<br />
cia dos gostos pessoais.<br />
A proposito, cr<strong>em</strong>os po<strong>de</strong>r adiantar urn aspecto que co~<br />
si<strong>de</strong>ramos <strong>de</strong> importancia neste processo do <strong>de</strong>senvolvimento lingUlstico<br />
<strong>da</strong>crian~a na escola.<br />
Pelo que revelaram os manuais, a maioria <strong>da</strong>s produ-<br />
~oes que a crian~a escreve na escola nao tern leitores. A crian-<br />
~a escreve para ningu~m. A professora, no caso ~ sujeito avalia<br />
dor do texto, nao, por<strong>em</strong>, 0 outro que esta do outro lado <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ia<br />
comunicativa. "0 aluno sabe que 0 seu tinico lei tor (0 professor)<br />
~ tamb~m 0 seu juiz e se esse fato, para uma minoria,po<br />
<strong>de</strong> nao ser razao <strong>de</strong> estlmulo, para a gran<strong>de</strong> maioria ~ motivo <strong>de</strong><br />
inibj.•~ao" (Galvao, 1977 : 493).
Kato (1986 : 43), refor~ando uma i<strong>de</strong>ia, hoje consensual<br />
entre os lingUistas que se ocupam <strong>da</strong> produ~ao e compreen<br />
sac <strong>de</strong> texto, l<strong>em</strong>bra que: Ilum ato <strong>de</strong> comunica~ao verbal, seja<br />
ele oral ou escrito, po<strong>de</strong> ser caracterizado:<br />
sor<br />
a) por envolver uma rela~ao cooperativa entre <strong>em</strong>is -<br />
e receptor;<br />
No entanto, a escola parece ignorar esses princlpios<br />
quando se fixa numa pritica, <strong>de</strong> escrita principalmente, s<strong>em</strong> receptor.<br />
Re<strong>da</strong>~oes que sac feitas s<strong>em</strong> <strong>de</strong>stinatirios, sequer simulados,<br />
a julgar pela vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>queles pressupostos,esvaziam-se<br />
enquanto ate comunicativo. De fato, 0 mais primirio, lingUisticamente,<br />
e que ningu<strong>em</strong> fala para ningu<strong>em</strong>.<br />
Como <strong>de</strong>senvolver, pois, com esta pritica <strong>de</strong><br />
s<strong>em</strong> leitor, tal rela~ao <strong>de</strong> coopera~ao?<br />
Escrever, nesse ponto, se ass<strong>em</strong>elha a falar (Cf.Kato,<br />
1986 : 43). Que dire~oes, estatutos, exigencias, avalia~oes po<strong>de</strong><br />
ter uma fala s<strong>em</strong> interlocutor?<br />
Cabeao professor trazer i cena <strong>da</strong> comunica~ao escolar<br />
0 personag<strong>em</strong> do <strong>de</strong>stinatirio, que, muitas vezes po<strong>de</strong> concre<br />
tamente receber a mensag<strong>em</strong> <strong>da</strong> crian~a. Sejam os pais,outros pr~<br />
fessores <strong>da</strong> escola, os colegas, amigos, ou mesmo receptores simulados;<br />
mas que os haja. S<strong>em</strong>pre resguar<strong>da</strong>ndo 0 universe <strong>de</strong> interesse<br />
<strong>da</strong> crian~a. Enfim, ca<strong>da</strong> circunst~ncia po<strong>de</strong> cobrir as<br />
particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s do que aqui apontamos como sugestoes gerais.<br />
Nesse ponto, vale ressaltar a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que se Introduza<br />
a pritica sist<strong>em</strong>itica <strong>de</strong> que 0 propioalnno seja 0 prlmeiro<br />
leitor do seu texto ou, mais al<strong>em</strong>, 0 primeiro revisor do<br />
seu texto.
o aspecto do "<strong>em</strong>is'sor" do texto tern sido sa1ientado<br />
pe1a Lingliistica Ap1ica<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> re<strong>da</strong>~ao. Kato (1986)<br />
faz refer~ncia aos estudos <strong>de</strong> Watson e Tannon que re1aciona -<br />
ram as diferen~as formais <strong>da</strong> escrita ern fun~ao do g~nero e do<br />
registro, 0 que imp1ica, <strong>de</strong> certa forma, 0 <strong>de</strong>stinatario <strong>da</strong><br />
comunica~ao. A propasito, sintetiza Kato (1986 : 25):"... a<br />
sintaxe <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> escreve i sensive1 a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> psicologica<br />
do 1eitor. Po<strong>de</strong>-se estar escrevendo urn mesmo g~nero uma carta,<br />
por ex<strong>em</strong>p1o, para dois <strong>de</strong>stinatarios. A proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> ou intimi<br />
<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> vai receber a carta influi na forma sintaticausa<br />
<strong>da</strong> pelo seu autor. Quanto mais diferente for 0 lei tor pretendido,<br />
maior sera a comp1exi<strong>da</strong><strong>de</strong> sintatica do texto escritJ~<br />
Ern resumo, se a escola provi<strong>de</strong>ncia a re<strong>da</strong>~ao <strong>de</strong> car<br />
tas, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a professora, a urn colega, aos<br />
pais, a uma autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escola, do bairro ou <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, enfim,<br />
se a escola cui<strong>da</strong> ern'<strong>da</strong>r a re<strong>da</strong>~ao do a1uno urn <strong>de</strong>stinata<br />
rio e <strong>de</strong>stinatarios diversificados, cr<strong>em</strong>os po<strong>de</strong>r esperar uma<br />
produ~ao <strong>de</strong> textos mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> do que aquela que provim <strong>da</strong>s<br />
re<strong>da</strong>~oes mutila<strong>da</strong>s e unilaterais escritas s<strong>em</strong> receptores."Qu~<br />
do a crian~a percebe este seu papel <strong>de</strong> <strong>em</strong>issor <strong>de</strong> mensagens i<br />
que surge a preocupa~ao <strong>de</strong> tornar a mensag<strong>em</strong> eficiente" (Godoy,<br />
1977 : 93).<br />
De on<strong>de</strong> prov<strong>em</strong> a resist~ncia quase generaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
crian~a para escrever? Nao seria por razoes que tocam ca<strong>da</strong> urn<br />
..<br />
<strong>de</strong>sses pontos atras referidos? Ou seja, nao seria porque a<br />
crian~a i solicitado escrever palavras, frases e textos, s<strong>em</strong><br />
saber para qu~ e para qu<strong>em</strong> 0 faz, ~om base, as vezes, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>as<br />
e situa~oes s<strong>em</strong> significa~ao para sua experi~ncia comunlcativa,<br />
e pressionado pelos i<strong>de</strong>ais <strong>da</strong> escrita s<strong>em</strong> erros? E 0<br />
que dizer <strong>da</strong>s capias e ditados <strong>de</strong> frases e palavras soltas,<br />
ain<strong>da</strong> hoje, sugeri<strong>da</strong>s como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita escolar? Cabe<br />
l<strong>em</strong>brar ain<strong>da</strong> as palavras <strong>de</strong> Godoy (1977 : 93) :"...contar ou<br />
escrever uma estaria nao i urn ate puramente individual. E urn<br />
ate grupal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0 momento <strong>em</strong> que esta sendo elaborado, pois<br />
urn relato ou urn texto s<strong>em</strong>pre implicara numa segun<strong>da</strong> pessoa que<br />
vai ouvi-lo ou 1~-lo. Esta segun<strong>da</strong> pessoa precis a enten<strong>de</strong>r a<br />
estaria. 0 objetivo <strong>de</strong> falar ou escrever i, pois,comunicar" .
6 9 ) Um aspecto global a merecer aten~ao e, s<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong>,<br />
a distribui~ao equilibra<strong>da</strong> que 0 professor <strong>de</strong>ve fazer <strong>da</strong>s<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relativas ~lingua oral, lingua escrita e leitura.A<br />
avalia~ao dos livros did~ticos apontou para uma concentra~ao<br />
clara na lingua escrita e, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste aspecto, <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
que envolviam exercicios <strong>de</strong> gram~tica com frases e palavras<br />
soltas.<br />
Uma aprecia~ao objetiva <strong>da</strong> lingua enquanto fenomeno<br />
global aponta para a inter<strong>de</strong>pend~ncia <strong>da</strong> fala e <strong>da</strong> escrita, <strong>da</strong><br />
escrita e <strong>da</strong> leitura, tanto que, "uma vez iniciado a processo<br />
<strong>de</strong> aquisi~ao <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, parece haver uma interfe<br />
rencia reciproca, <strong>de</strong> forma que quanta mais se Ie, melhor se<br />
escreve, e quanta mais se escreve, melhor se Ie" (Kato, 1985 :<br />
5). Na base <strong>de</strong>sse principio est~ <strong>em</strong>buti<strong>da</strong> a sugestao <strong>de</strong> que estes<br />
diferentes aspectos <strong>da</strong> lingua, <strong>em</strong>issao - recep~ao, escri -<br />
ta, nao<br />
-<br />
seJam<br />
.<br />
tratados<strong>de</strong> maneira estanque, como se na ativi<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura nao estivess<strong>em</strong> implicados a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escrita,<br />
as processos <strong>de</strong> ·compreensao e a gramatica <strong>da</strong> lin~ua.<br />
7 9 ) Outro aspecto a ser salientado e a interesse <strong>da</strong><br />
escola porligar-se aos acontecimentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real <strong>da</strong> crian~a,<br />
nas mais diferentes esferas, como fonte para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
expressao. Nesse sentido nao basta que, par ocasiao do dia 7<br />
<strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro, par ex<strong>em</strong>plo, se solicite uma re<strong>da</strong>~ao sabre a In<strong>de</strong><br />
pen<strong>de</strong>ncia do Brasil. Efetivamente esta vincula~ao <strong>da</strong> escola com<br />
a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> implica trazer a ~rea escolar as acontecimentos que<br />
polarizam a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e, partir <strong>da</strong>i, <strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s as<br />
mais diversas. Des<strong>de</strong> 0 levantamento do campo lexical relativo<br />
a eles, ate as discussoes, di~logos e constru~oes <strong>de</strong> textos es<br />
critos. 0 que importa aqul e a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ligar 0 texto que se<br />
Ie e que se produz na escola f com a "texto" que a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> nos<br />
oferece para "leitura".<br />
Al<strong>em</strong> do aspecto pr~tico <strong>da</strong> motiva~ao, a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
se ado tar tal atitu<strong>de</strong> e que a linguag<strong>em</strong> aparece, <strong>de</strong> fato,como,<br />
el<strong>em</strong>ento V1VO e atual: parte e instrumento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social.
sos manuais prescin<strong>de</strong> <strong>da</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos el<strong>em</strong>entos factuais e fan<br />
tasiosos que povoam a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> crian~a.<br />
8 9 ) Num ensino <strong>da</strong> lIngua que busque a integra~ao <strong>de</strong><br />
conhecimentos, a crian~a nao po<strong>de</strong> reduzir-se i categoria <strong>de</strong> ouvinte,<br />
espectador e/ou leitor do discurso explicativo do professor.<br />
Ao aluno <strong>de</strong>ve ser <strong>da</strong><strong>da</strong> a palavra. Oral e escrita. Isto sig<br />
nifica, ter <strong>em</strong> conta a aprendizag<strong>em</strong>, como fator individual,processa<strong>da</strong><br />
na intera~ao com 0 grupo.<br />
Num sentido mais profundo, isto imp6e ain<strong>da</strong> que a escola<br />
nao apenas <strong>de</strong>ve ensinar a lIngua para a comunica¥ao, mas<br />
<strong>de</strong>ve, ensinando, realizar a comunica~ao. Professor e alunos entre<br />
si, formam urn grupo que, se nao cumpr<strong>em</strong> as leis basicas <strong>da</strong><br />
coopera~ao comunicativa, po<strong>de</strong>-se duvi<strong>da</strong>r do tipo <strong>de</strong> aprendiza -<br />
g<strong>em</strong> lingUlstica que consegu<strong>em</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r. Cazacu (1979 : 83)po~><br />
tulando urn ensino relativo i lIngua materna que fosse assim um<br />
processo <strong>de</strong> aperfei~oamento <strong>da</strong> comunica~ao, prop6e: "as crian-<br />
~as <strong>de</strong>veriam ser coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> situa~ao natural <strong>de</strong> comunica~ao<br />
dialoga<strong>da</strong>, <strong>de</strong> modo que se pu<strong>de</strong>sse fa~er a analise sobre fatos<br />
~eais, in vivo e que se pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> formar habitos <strong>de</strong> exprimir-se,<br />
ad~quados is situa~5es e com a<strong>da</strong>pta~ao ao parceiro, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong><br />
senvolver uma recep~ao por interpreta~ao contextual".<br />
Como se ve, pelo estudo <strong>em</strong> situa~6es que envolv<strong>em</strong> tex<br />
.<br />
tos reais, sobre fatos reais, po<strong>de</strong>m-se <strong>de</strong>senvolver, muito mais<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente, as habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> comunica~ao, e 0 gosto por pr~s<br />
seguir na compreensao <strong>da</strong>s leis e fatores <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> dispor<br />
como agente <strong>de</strong>cisor no exercicio <strong>de</strong>ssas habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />
Esses princIpios uma vez internalizados transparec<strong>em</strong>,<br />
<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> <strong>de</strong>cisao, 0 suficiente para que a crian~a va confer indo<br />
i palavra dita 0 carater <strong>de</strong> experiencia vivi<strong>da</strong>.
tes dialetais. Efetivamente, causas diversas estio na raiz <strong>da</strong><br />
diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> falares que coexist<strong>em</strong> numa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> lingUlst~<br />
ca. Raz6es <strong>de</strong> natureza social imp6<strong>em</strong> a urn <strong>de</strong>sses dialetos 0 ca<br />
rater <strong>de</strong> norma, que passa a constituir a forma <strong>de</strong> ,expressio<br />
prestigia<strong>da</strong>.<br />
Tais principios explicam, <strong>em</strong> linhas gerais,por que<br />
uma mesma lingua difere, geografica e socialmente. Por<strong>em</strong>, tais<br />
principios nio justificam a atitu<strong>de</strong> discriminatoria com que,as<br />
vezes, a escola abor<strong>da</strong> tais diferen~as dialetais. A metafora gr~<br />
maticaliza<strong>da</strong> do "vicio <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>" <strong>de</strong>nuncia a otica precon -<br />
ceituosa com que e trata<strong>da</strong> a varia~io dialetal <strong>de</strong> pouco presti<br />
gio social e ate, par extensio, 0 sujeito-falante <strong>de</strong>sta varia<br />
~ao.<br />
L<strong>em</strong>bra-nos 0 ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Venantte (1985, 3 : 107) ,<strong>em</strong><br />
que, por alusio a fatos <strong>de</strong>ssa natureza a autora se expressa :<br />
"Daniel fala errado ...", e supomos que, se tais comportamentos<br />
se repet<strong>em</strong>, 0 sentimento <strong>de</strong> auto<strong>de</strong>precia~io vai-se consoli<strong>da</strong>n-<br />
_do. Provavelmente par isso, torn<strong>em</strong>-se muito cautelosos e mais<br />
propicios a que outros, b<strong>em</strong> faI~ntes, tom<strong>em</strong> a palavra por eles.<br />
Talvez repetindo uma i<strong>de</strong>ia comum, afirmamos nossa con<br />
vic~ao <strong>de</strong> que 0 ensino <strong>da</strong> lingua (como a educa~ao <strong>em</strong> geral) e<br />
urn ato <strong>de</strong> implica~io politica.<br />
o born senso nos leva a aceitar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Bechara<br />
(1981 38) quando atribui ao professor a tarefa <strong>de</strong> "transfor -<br />
mar 0 aluno num poliglota <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua propria lingua". Sabe -<br />
mos quao complexa e essa questao, por<strong>em</strong>, num ponto, a escola p~<br />
<strong>de</strong> ser positivamente incisiva: na atitu<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre respeitosa e<br />
estimuladora (nunc a preconceituosa e acomo<strong>da</strong><strong>da</strong>) com que se col~<br />
ca diante <strong>da</strong> crian~a, cujo falar difira dos padroes <strong>da</strong> norma cuI<br />
ta ou mais formal.
to <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> observa para estimular e nao para discriminar ou ini<br />
bir. A crian~a percebe quando suas imperfei~oes sac vistas como<br />
fenomenos naturais, previslveis e explicaveis pelas contingen -<br />
cias <strong>de</strong> sua curta vivencia.<br />
A atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> respeito, que aqui preconizamos, ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho<br />
lingtilstico <strong>da</strong> crian~a inclui, indiferent<strong>em</strong>ente, as<br />
variantes dos dialetos sociais como aqueles proprios <strong>da</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
infantil <strong>de</strong> crian~as <strong>de</strong> meios sociais favorecidos.<br />
E obvio que com esta atitu<strong>de</strong> nao tentamos neutralizar<br />
a questao, n<strong>em</strong> apontar solu~oes. Apenas nos interessa refletir<br />
sobre a base que po<strong>de</strong> gerar atitu<strong>de</strong>s positivas <strong>de</strong> encarar 0 pr~<br />
b1<strong>em</strong>a.<br />
14.2 - Aspectos especlficos<br />
Neste it<strong>em</strong> sac aponta<strong>da</strong>s diretrizes concretas para 0<br />
tratamento especlfico <strong>da</strong>s categorias <strong>de</strong> gramatica, leitura e<br />
produ~ao <strong>de</strong> textos, uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s por nos avalia<strong>da</strong>s nos livros di<strong>da</strong>ticos.<br />
Como vimos, pelos resultados obtidos, 0 tratamento <strong>de</strong>ssas<br />
questoes revelou-se ina<strong>de</strong>quado e improdutivo pela forma ate<br />
miza<strong>da</strong>\ metalingUistica, mec~nica e formal <strong>em</strong> que ~ feito.<br />
No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>ste topico, introduzir<strong>em</strong>os <strong>em</strong> rela~ao a<br />
ca<strong>da</strong> questao especifica, uma pequena justificativa teorica, a<br />
partir do que estabelec<strong>em</strong>os as priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s praticas. Indicamos,<br />
ain<strong>da</strong>, ,algumas formas <strong>de</strong> trabalhar ca<strong>da</strong> questao,apresentando as<br />
vantagens <strong>de</strong> faze-1o conforme nossa sugestao basica: no texto e<br />
<strong>de</strong>ntro do texto.<br />
Por uma razao metodologica, fugimos a or<strong>de</strong>m <strong>em</strong> que as<br />
categorias foram analisa<strong>da</strong>s, iniciando este topico pela questao<br />
mais abrangente <strong>da</strong> produ~ao <strong>de</strong> textos. A seguir, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>os<br />
aspectos 1igados a 1eitura e a exerclcios <strong>de</strong> gramatica.
Escrever, conforme assumimos aqui, compreen<strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s<br />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> vivenciar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa, intersubjetl<br />
va e funcional. Partilha com a fala dos el<strong>em</strong>entos essenciais que<br />
caracterizam a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>.Asalterac;6es,e claro, <strong>de</strong>corr<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong>s condiC;6es <strong>de</strong> produc;ao e mediac;ao <strong>em</strong> que uma e outra acontecern.<br />
Kato (1986 : 41) admite a fala e a escrita como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
comunicativas parcialmente isomorficas e isofuncionais. Se fala<br />
mos com outros, <strong>em</strong> situac;oes sociais concretas, recortando textos<br />
significativos a fim <strong>de</strong> realizarmos <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s situac;oes,<br />
o mesmo acontece quando escrev<strong>em</strong>os. Tal como a fala, a escrita<br />
tamb~mse processa com base num esfor~o <strong>de</strong> cooperac;ao m~tua <strong>em</strong><br />
que <strong>em</strong>issor e receptor se supo<strong>em</strong> partilhando 0 mesmo universe<br />
<strong>de</strong> conhecimentos e experiencias e mutuamente engajados no mesmo<br />
quadro <strong>de</strong> inten~oes, para que, ajustando-se, a comunica~ao aeon<br />
tec;a.<br />
o entendimento m~tuo, parte <strong>da</strong> interac;ao social mais<br />
ampla pretendi<strong>da</strong>, po<strong>de</strong> ser facilitado por certas leis que,intul<br />
tivamente.<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>os como falantes/ouvintes e que a teoria<br />
explicita.<br />
Assim e que urn texto oral ou escrito, antes <strong>de</strong> tudo<br />
tern que ser uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> significativa. Tern que comunicar algo ,<br />
sob pena <strong>de</strong> nao ser texto. Esse algo objeto <strong>da</strong> comunicac;ao cons<br />
titui 0 el<strong>em</strong>ento-fio que <strong>da</strong>ra, internamente, uni<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong>atica<br />
ao texto.<br />
Falamos sobre <strong>de</strong>terminados conte~dos, nos quals nos<br />
concentramos, pelo menos, naquele minimo necessarlO para estab~<br />
lecer as relac;oes distintivas. At~ mesmo no curto revezamento<br />
dos turnos conversacionais vamos mantendo uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong>atica,<br />
ressalvando, ~ claro, uma caracteristica especlfica <strong>de</strong>sse tipo<br />
<strong>de</strong> realizac;ao comunicativa, a qual favorece os saltos rapidos<br />
<strong>de</strong> urn assu~to a outro pelas associac;6es que estabelec<strong>em</strong>.
A escrita <strong>da</strong> escola centra<strong>da</strong> <strong>em</strong> frases-que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> passar<br />
<strong>de</strong> afirmativas a negativas, par ex<strong>em</strong>plo - nao conduz a internaliza~ao<br />
<strong>de</strong>ssas regras <strong>de</strong> intera~ao que mais possivelmente<br />
acontecera se prevalecer a escrita <strong>da</strong> crian~a <strong>em</strong> textos comunicativos.<br />
Se assumimos 0 ate <strong>de</strong> escrever como urn ato <strong>de</strong> comuni<br />
ca~ao verbal, assumimos que a significa~ao conferi<strong>da</strong> ao produto<br />
<strong>da</strong> escrita e uma constru~ao coletiva do <strong>em</strong>issor e receptor.<br />
Neste sentido, vimos os efeitos artificiais e inocuos que po<strong>de</strong>m<br />
resultar <strong>da</strong> pratica <strong>de</strong> uma escrita s<strong>em</strong> a previsao <strong>de</strong> urn<br />
<strong>de</strong>stinatario. Em ~ltima analise sao textos s<strong>em</strong> for~a discursiva,<br />
<strong>em</strong> que "se fala por falar" au para preencher requisitos <strong>de</strong><br />
"provas" que, as vezes,(com <strong>de</strong>sculpas pela divaga~ao) ate aeon<br />
tec<strong>em</strong> pelo "mau comportamento" <strong>da</strong> turma.<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento do texto como uni<strong>da</strong><strong>de</strong> t<strong>em</strong>atica supoe,<br />
por urn lado, uma organiza~ao interna que r<strong>em</strong>ete precisa -<br />
mente para as conexoes vincula<strong>da</strong>s a forma como a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
percebi<strong>da</strong>. Por este aspecto, <strong>de</strong>staca-se como regra do texto a<br />
obediencia ao principia <strong>da</strong> "coerencia" g.ue orienta a signific~<br />
~ao para formaliza~oes convergentes.<br />
Por outro lado, a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> do texto supoe uma organiza~ao<br />
sintatica que Ihe confere uma especie <strong>de</strong> amaTra~ao entre<br />
as diversas fatias corn que se organizou 0 parcelamento <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
global.<br />
Parece clara a rela~ao entre os <strong>da</strong>is aspectos. Tal<br />
amarra~ao que se opera, na pratica, pelos el<strong>em</strong>entos conectivos<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do sentido estabelecido entre ess~s partes ern rela~ao.<br />
Assim 0 uso <strong>de</strong> uma expressao "par outro lado", como ex<strong>em</strong>plo ,<br />
que estabelece urn elo coesivo, supoe, por sua vez, uma rela-<br />
~ao corn"0 primeiro lado" <strong>da</strong> questao analisa<strong>da</strong>.<br />
Muito mais produtivo do que reconhecer ern listas <strong>de</strong><br />
frases as conjun~oes ou/adverbios e suas classifica~oes, pod~<br />
ria ser a cria~ao <strong>de</strong> textos <strong>em</strong> que proposita<strong>da</strong>mente se exerci<br />
4,
tasse a inclusao <strong>de</strong> palavras e expressoes relacionais como:al<strong>em</strong><br />
disso, ate, no entanto, ain<strong>da</strong>, tamb<strong>em</strong>, ja, <strong>em</strong> parte, <strong>em</strong> contraparti<strong>da</strong>,<br />
<strong>de</strong>pois disso, <strong>da</strong>l, a seguir, entao, adiante, e tantos<br />
outros adverbiais <strong>de</strong> comentario, ou palavras que exercess<strong>em</strong> essa<br />
fun~ao conjuntiva ou continuativa do texto. Seria mais util, a<br />
nivel <strong>da</strong> competencia textual, trabalhar 0 use <strong>de</strong>ssas palavras<br />
<strong>de</strong> rela~ao interfrasal do que simplesmente ficar no estudo <strong>de</strong>no<br />
tativo dos sinonimos e antonimos <strong>de</strong> substantivos e adjetivos.<br />
Com rela~ao ao estudo do vocabulario feito fora do<br />
texto, com predominancia do aspecto <strong>de</strong>notativo, a extensao do<br />
conhecimento lexical teria mais sentido se fosse ensina<strong>da</strong> como<br />
forma <strong>de</strong> estabelecer este carater coesivo-dotexto pela substitui~ao<br />
<strong>de</strong> itens ou expressoes lexicais equivalentes.<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, num exercicio coletivo <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong><br />
texto, 0 professor, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> escrever a versao original <strong>da</strong>s<br />
crian~as, po<strong>de</strong>ria sugerir e orientar a substitui~ao dos termos<br />
repetidos por outros equivalentes, genericos ou especlficos. 0<br />
mesmo se po<strong>de</strong>ria fazer tentando reconhec~r no texto as expres -<br />
soes diferentes mas que y<strong>em</strong>et<strong>em</strong> para 0 meSilla referente, chamando<br />
a aten~ao <strong>da</strong> crian~a para que ela progressivamente va dominando<br />
essas regras <strong>de</strong> enca<strong>de</strong>amento e rela~oes <strong>da</strong>s varias partes<br />
<strong>de</strong> uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> textual .<br />
• Uma historia, por ex<strong>em</strong>plo, po<strong>de</strong> come~ar falando <strong>de</strong><br />
uma "on~a", que mais adiante e retoma<strong>da</strong> <strong>em</strong> "a baita on~a", "a<br />
coita<strong>da</strong>", "a bicha", a "on
A galinha ~ pequena.<br />
Ela i<strong>em</strong> doi~ p~~.<br />
Ela. -t<strong>em</strong> peJtna.~.<br />
Ela. bic.a.<br />
Ela. c.Or.? e. milho.<br />
Perguntamo-nos se a crian~a, mesmo na la. serie, reali<br />
za esse tipo <strong>de</strong> texto e se ele se constitui num ex<strong>em</strong>plo a<strong>de</strong>quado<br />
a urn trabalho que preten<strong>da</strong> <strong>de</strong>senvolver na crian~a 0 uso comunica<br />
tivo <strong>da</strong> lingua a nao ser que <strong>da</strong>l se parta, como exerclcio, para<br />
outra arruma~ao sintatica.<br />
Tamb<strong>em</strong>, na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> avalia~ao <strong>da</strong>s produ~6es <strong>da</strong>s<br />
crian~as e fun<strong>da</strong>mental a concep~ao que t<strong>em</strong>os do que e escrever<br />
urn texto. Avaliar 0 que, no texto <strong>da</strong> crian~a? 0 objeto, neste<br />
caso, val <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r muito <strong>da</strong> importancia que atribulmos a for~a<br />
comunicativa do texto ou a seu aspecto formal, ortografico e me<br />
canico ,"<br />
Se num exerclcio <strong>de</strong> re<strong>da</strong>~ao, sob 0 t<strong>em</strong>a "Meu amigo" ,<br />
a crian~a <strong>da</strong> 4a. serie come~a por "Meu amlgo e muito amigave1... "<br />
e 0 unlCO ajuste que 0 professor aponta se expressa no acento<br />
agudo que ele, <strong>em</strong> vermelho, p6e sobre a sllaba tonica <strong>da</strong> pala -<br />
vra "amigavel", que tipo <strong>de</strong> competencia esse professor preten<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolver? Como a crian~a po<strong>de</strong> perceber que preClsa cooperar<br />
com seu interlocutor para que ele 0 enten<strong>da</strong>, se a proprie<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> do que se diz conta menos do que os acentos ou letras maiusculas<br />
que se p6<strong>em</strong>?<br />
Escrever, abarca ain<strong>da</strong> uma meta que,porsua vez, implica<br />
urn plano~ Meta que po<strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong> aqui como objetivo<br />
ou inten~ao e que implica na pergunta: escrever para fazer 0<br />
,<br />
que? Para levar 0 meu leitor a que? A inten~ao do texto esta<br />
intimamente vincula<strong>da</strong> a or<strong>de</strong>na~ao que vamos <strong>da</strong>r ao <strong>de</strong>senvolvi -
mento <strong>de</strong> nossa comunica~ao. Ou seja, a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> corn que usamos<br />
a linguag<strong>em</strong> condiciona 0 plano, a or<strong>de</strong>na~ao a ser estabeleci<strong>da</strong>.<br />
Este ponto, nos r<strong>em</strong>ete para a teoria dos "atos <strong>de</strong> fala"<br />
que, s<strong>em</strong> ser· necessario <strong>de</strong>scer a consi<strong>de</strong>ra~oes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m teorIca,<br />
aqui apontamos como realiza~oes <strong>da</strong>quelas inten~oes e motiva~ao<br />
para a pergunta: "Levar a crian~a na escola a escrever 0<br />
~?<br />
que ..<br />
Se observarmos nossa produ~ao <strong>de</strong> textos oralS e escritos,<br />
nas situa~oes naturais <strong>de</strong> comunica~ao, v<strong>em</strong>os que, atraves<br />
<strong>de</strong>sses textos, realizamos atos verbais pelos quais: informamos ,<br />
perguntamos, promet<strong>em</strong>os, juramos, persuadimos, pedimos,sugerimos,<br />
aconselh~mos, convi<strong>da</strong>mos, acusamos, amea~amos, advertimos, entre<br />
t<strong>em</strong>os, comentamos, resumimos, argumentamos, <strong>da</strong>mos instru~oes,pr~<br />
testamos, ironizamos, cumprimos ritos socipis e liturgicos, enfim,<br />
praticamos uma serle <strong>de</strong> atos que, sendo verbais,nao <strong>de</strong>ixam<br />
<strong>de</strong> ser tamb<strong>em</strong> acionais.<br />
Voltando a questao atras formula<strong>da</strong>: "Levar a crian~a<br />
na escola a escrever 0 que?", cr<strong>em</strong>os ter nessa rela~ao nao exau~<br />
tiva do que se fazer com a linguag<strong>em</strong> uma fonte <strong>de</strong> indica~oes.Co~<br />
si<strong>de</strong>ramo - la legltima porque correspon<strong>de</strong> a significa~ao que tern<br />
a linguag<strong>em</strong> para as crian~as, pois" - 0 dizer, para elas, significa<br />
agir, fazer, interferir no mundo, relacionar-se com as pessoas"<br />
(Macedo, 1985 : 53). Al<strong>em</strong> disso, permite a diversifica~ao<br />
dos exerclcios <strong>de</strong> re<strong>da</strong>~ao que, assim po<strong>de</strong>m revelar as diferen~as<br />
<strong>de</strong> organiza~ao (<strong>de</strong> come~o, <strong>de</strong> progressao, <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>n~a <strong>de</strong> topico,<br />
<strong>de</strong> conclusao, por ex<strong>em</strong>plo) que apresentam. Sob outro aspecto esta<br />
diversifica~ao reproduz e produz a competencia comunicativa<br />
que a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> usos sociais abarca.<br />
Conforme a motiva~ao do momento e tendo <strong>em</strong> vista 0<br />
cumprimento especlfico <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>quelas inten~oes, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> escrever po<strong>de</strong>riam incluir a re<strong>da</strong>~ao <strong>de</strong>:<br />
- avisos aos colegas com formula~ao <strong>de</strong> pedidos, advertencias,<br />
sugestoes, proibi~oes;
- cartas", uns aos outros, as professoras, is pessoas<br />
<strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, a algu<strong>em</strong> que veio i escola<br />
prestar algum servi~o, a autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais,etc.;<br />
- historinhas, (cria<strong>da</strong>s livr<strong>em</strong>ente ou reinventa<strong>da</strong>s a<br />
partir <strong>de</strong> outras);<br />
A pr~p6sito, vale a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e aten~ao do grupo<br />
para captar e aproveitar os acontecimentos do dia-a-dia <strong>da</strong> esco<br />
la e adjacencias, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m buscar a motiva~ao para essas ativi<br />
<strong>da</strong><strong>de</strong>s, al<strong>em</strong> do recurso a simula~ao inteligente <strong>de</strong> uma situa~ao<br />
cria<strong>da</strong>. Os acontecimentos suce<strong>de</strong>m-se e b<strong>em</strong> podiam ser objeto <strong>de</strong><br />
discussao, explica~ao e moti va~ao para a produ~ao <strong>de</strong> textos reais<br />
e integrados na vi<strong>da</strong> e nos interesses <strong>da</strong> crian~a. Cornpare-selSSO<br />
a artificili<strong>da</strong><strong>de</strong> e inexpressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s frases que<br />
preench<strong>em</strong> as alternativas <strong>de</strong> exerclcios escritos dos manuais exa<br />
minados. Frases, cujo efeito - para citar apenas um - reduz a<br />
habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> crian~a para estabelecer a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e pTogre~<br />
sac do texto.<br />
Por que nao aproveitar os fatos reais <strong>da</strong>escola que<br />
implicam comunica~ao escrita para utilizar a participa~ao <strong>da</strong><br />
crian~a? Um ex<strong>em</strong>plo: se a escola preve um evento, e disso os<br />
pais precisam tomar conhecimento, por que 0 professor nao apr~<br />
,.<br />
veita 0 fato para viver com os alunos a experiencia <strong>de</strong> redigir
uma comunica~ao? Numa pratica <strong>de</strong>sta natureza, al<strong>em</strong> do aspecto fo!<br />
mativo <strong>da</strong> participa~ao e integra~ao <strong>em</strong> jogo, podia-se adotar uma<br />
metodologia <strong>de</strong> constru~ao eoleti va, discuti<strong>da</strong>, escri ta e revisa -<br />
<strong>da</strong>.<br />
Em textos assim, produzidos <strong>em</strong> situa~6es <strong>de</strong> fate, po<strong>de</strong>-se-a,<br />
mais produtivamente, trabalhar a a<strong>de</strong>qua~ao do lingUlstieo<br />
as restri~oes socioculturais liga<strong>da</strong>s as condi~6es <strong>da</strong> situa-<br />
~ao e <strong>da</strong>s imagens mutuas que se faz<strong>em</strong>, locutor e receptor. 0 que<br />
significa po<strong>de</strong>r avaliar ate que ponto, eumprimos como interlocutor<br />
0 aeordo cooperativo,base <strong>de</strong> to<strong>da</strong> comunica~ao intersubjetiva.<br />
Partindo assim <strong>de</strong> motiva~6es naturais, po<strong>de</strong>-se favoreeer<br />
a escrita livre, fluente e original <strong>da</strong> crian~a; uma forma tal<br />
vez <strong>de</strong> se romper com a produ~ao <strong>de</strong>stas "formas congela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> lin<br />
guag<strong>em</strong>" <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>m ser ex<strong>em</strong>plo as re<strong>da</strong>~6es escolares.<br />
Em tais exerclcios <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong> texto se po<strong>de</strong>ria<br />
ain<strong>da</strong> orientar as crian~as para a constru~ao <strong>de</strong> periodos mais<br />
complexos 0 que nao -significa perlodos mais longos. Para tal pra<br />
tica, voltamos a insistir no recurso a coor<strong>de</strong>na~ao,?~ubordina -<br />
~ao, anaforas, substitui~ao, elipses e outros<br />
;<br />
el<strong>em</strong>entos coesivos<br />
introduzidos progressivamente. Um procedimento que conduza<br />
a isso po<strong>de</strong> ser 0 <strong>de</strong> reunir frases justapostas num unlco perlodo<br />
ou paragrafo, cuja re<strong>da</strong>~ao ou re<strong>da</strong>~oes finais seriam coletimente<br />
discuti<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s.<br />
A pr~tica <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>de</strong> como realizar essas diretrizes<br />
compete, como diss<strong>em</strong>os, a observa~ao, discernimento e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
do professor. Entretanto, po<strong>de</strong>mos referir-nos a alguns pr.Q<br />
cedimentos que, somados a aspectos ja levantados, po<strong>de</strong>m servir<br />
<strong>de</strong> motiva~ao.<br />
o exerclcio <strong>da</strong> produ~ao <strong>de</strong> texto po<strong>de</strong>ria ser vivido,<br />
muitas vezes, coletivamente, no gran<strong>de</strong> grupo e <strong>em</strong> grupos meno -<br />
res <strong>de</strong>pois Acredi tamos que 0 "fazer" <strong>da</strong> prodw;:ao <strong>de</strong>ve ser ensinado,<br />
0 que significa que 0 professor <strong>de</strong>veria viver com os alunos<br />
as etapas ou os processos implicados na constru~ao <strong>de</strong>. mm<br />
texto.
o grupo po<strong>de</strong>ria come~ar por <strong>de</strong>cidir-se quanta ao que<br />
val fazer. Urn ex<strong>em</strong>plo: uma carta ao prefeito <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> pedindo<br />
que provi<strong>de</strong>ncie ilumina~ao a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para a rua <strong>da</strong> escola. Seguia-se<br />
uma discussao, com anota~oes no quadro, sobre as partes<br />
que tern uma carta,' sobre como vai ser dividido e organizado 0<br />
que se vai dizer e que caracterlsticas formais <strong>de</strong>ve ter uma car<br />
ta dirigi<strong>da</strong> a uma autori<strong>da</strong><strong>de</strong>. Procedia-se entao a composi~ao do<br />
texto. Ca<strong>da</strong> urn la ajuntando a sua parte na progressao <strong>da</strong> mensag<strong>em</strong><br />
e professor competia escrever tal qual eles foss<strong>em</strong> dize~<br />
do. Conc Iul<strong>da</strong> a carta, ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> conj unto, e advertidos para a fu~<br />
~ao do que iam realizar, passava-se entao a rever ca<strong>da</strong> parte do<br />
texto, discutindo e <strong>de</strong>cidindo <strong>em</strong> grupo a alternativa mais a<strong>de</strong> -<br />
qua<strong>da</strong>, levando <strong>em</strong> conta 0 conjunto <strong>de</strong> fatores pragmaticos envolvidos,<br />
inclusive 0 fate <strong>de</strong> as <strong>em</strong>issores ser<strong>em</strong> crian~as. Nessas<br />
revisoes do texto para a escolha <strong>da</strong> versao final, as crian-<br />
~as teriam, ao vivo, a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> experienciar 0 processo<br />
global <strong>da</strong> re<strong>da</strong>~ao cui<strong>da</strong><strong>da</strong>, que supoe i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s, cortes e re<br />
cortes, supressoes, permutas e outros tantos ajustes. Ca<strong>da</strong> reformula~ao,<br />
inclusive as gramaticais, serla justifica<strong>da</strong> com<br />
base nas conven~oes sociais estabeleci<strong>da</strong>s para esse tipo <strong>de</strong> ate<br />
verbal.'."...as conven~oes 1exico-gramaticais necessarias_ para a<br />
escrita <strong>de</strong> uma carta nao sac as mesmas necessarias para escrever<br />
uma historia ou para fazer urn anuncio" CRego, 1982 2).No<br />
final, po<strong>de</strong>riam vir os <strong>de</strong>talhes do preenchimento do envelope,<strong>da</strong><br />
fun~ao do correia, uma serie <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos que, sendo parte <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> crian~a, po<strong>de</strong> motiva-las. Muito mais, nos parece, do<br />
que receber a or<strong>de</strong>m : "Narre urn baile entre as flores <strong>de</strong> urn ja!<br />
dim". Nao preten<strong>de</strong>mos com esta observa~ao anular <strong>da</strong> pratica <strong>de</strong><br />
escrita <strong>da</strong>s crian~as 0 recurso a fantasia, tao apropriado a<br />
essa faixa etaria. 0 que esta <strong>em</strong> jogo aqui e reparar como parece<br />
nao ser vivido com a crian~a'esse processD <strong>de</strong> pensar, criar,<br />
planejar, escrever,rever'e TeEa'Zer 0 texto, tal como uma escrl-<br />
ta madura<br />
-<br />
preve.<br />
Cr<strong>em</strong>os po<strong>de</strong>r esperar <strong>de</strong> uma pratica assim processual,<br />
crltica e participativafa supera~ao <strong>da</strong> escrita mecanica do "fazer<br />
por fazer" <strong>em</strong> que 0 recurso mais comum e a "estrategia do<br />
preenchimento": dizer ate completar 0 limite <strong>da</strong>s linhas ou do<br />
t<strong>em</strong>po. Esta pratica seria reitera<strong>da</strong>, constante, incisiva. C A
proposito, vale perguntar: que coisas os alunos ve<strong>em</strong> 0 professor<br />
escrever?) Os efeitos, acreditamos, conduziriam para aquilo que<br />
apontamos: uma integra~ao <strong>de</strong> conhecimentos que resulta no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
real <strong>da</strong> competencia comunicativa.<br />
Cabe-nos ain<strong>da</strong> referir-nos a produ~ao <strong>da</strong> historinha<br />
tao a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> a forma <strong>de</strong> intera~ao fantasiosa que a crlan~a <strong>em</strong>preen<strong>de</strong><br />
com seu mundo <strong>de</strong> fa<strong>da</strong>s, bichos, bruxas e super-herois .<br />
A<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>, se 1evarmos <strong>em</strong> conta 0 genero expressivo <strong>de</strong>ssas<br />
historias que, por isso, muito se aproximam <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> cri<br />
an~a centra<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> primeira pessoa. Kato (1986 : 125)faz<br />
referencia ao gosto <strong>da</strong> crian~a pe1a historia - <strong>em</strong> quadrinhos<br />
e mostra como esse tipo <strong>de</strong> texto, por retratar um tipo <strong>de</strong> 1inguag<strong>em</strong><br />
que ela ja domina, po<strong>de</strong> constituir-se num "elo <strong>de</strong> transi<br />
~ao" entre a experiencia oral e 0 texto escrito propriamente di<br />
to. Os mesmos procedimentos <strong>da</strong>s produ~oes coletivamente pensa -<br />
<strong>da</strong>s, planeja<strong>da</strong>s, escritas e revistas po<strong>de</strong>riam ser uma <strong>da</strong>s alte~<br />
nativas <strong>de</strong> estimular a autoconfian~a <strong>da</strong> crian~a na sua capacid~<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir.<br />
Os exercrci~s <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong>ssas historinhas podiam<br />
va1er-se <strong>de</strong> motiva~oe~ varia<strong>da</strong>s, que significass<strong>em</strong> cria~oes ou<br />
reprodu~oes <strong>de</strong> outras historias li<strong>da</strong>s, com altera~oes <strong>de</strong> personagens,<br />
<strong>de</strong> situa~oes, <strong>de</strong> circunstancias que levariam necessari~<br />
mente a uma reorganiza~ao <strong>da</strong> historia e outras escolhas lexicogramaticais.<br />
Voltamos a este aspecto quando, mais adiante, ~ndi<br />
camos algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se po<strong>de</strong>m fazer com 0 texto do manual.<br />
Levando <strong>em</strong> conta 0 aspecto <strong>da</strong> socializa~ao <strong>da</strong> produ -<br />
~ao <strong>da</strong> crian~a ja referido atras, 0 professor po<strong>de</strong>ria criar situa~oes<br />
<strong>em</strong> que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar tivesse acesso as histori -<br />
nhas <strong>da</strong>s crian~as. Concretamente isso podia acontecer <strong>em</strong> exposi<br />
~oes, permutas, compila~ao <strong>em</strong> livrinhos, 0 que <strong>da</strong>ria ain<strong>da</strong> a<br />
oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar as <strong>da</strong>dos contextuais <strong>da</strong> capa do livro,<br />
titulo, ilustra~oes, <strong>da</strong>tas, etc.
ca constante, motiva<strong>da</strong> e orienta<strong>da</strong> <strong>da</strong> produ~ao escrita <strong>de</strong> textos<br />
comunicativos, mais produtivamente po<strong>de</strong>mos ultrapassar 0 <strong>de</strong>sgosto<br />
e os preconceitos com que, mais adiante, nossos alunos assu -<br />
m<strong>em</strong> a tare fa <strong>da</strong> escrita.<br />
Uma escola <strong>em</strong> que prevalece a produ~ao oral e escrita<br />
do professor (e do autor do livro di<strong>da</strong>tico) po<strong>de</strong> estar na raiz<br />
<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s com que se enfrenta 0 uso <strong>da</strong> Ilngua escrita.<br />
Quanto a produ~ao <strong>de</strong> textos orais, <strong>em</strong> termos generi -<br />
cos, val<strong>em</strong> muitos aspectos ja referidos no it<strong>em</strong> anterior. No en<br />
tanto, compete-nos acrescentar algumas observa~oes.<br />
Primeiramente, foi posslvel constatar, como, nos manualS<br />
di<strong>da</strong>ticos, predominam os exerclcios com utiliza~ao <strong>da</strong> Iln<br />
gua escrita. As razoes para esse procedimento sao varias e nao<br />
nos cabe analisa-las aqui. Apenas l<strong>em</strong>bramos que "a concep~ao g~<br />
ral que existe sobre a Ilngua enquanto fenomeno "puro" (Cazacu:<br />
1979 : 68) po<strong>de</strong> ter contribuldo para que a escola se excusasse,<br />
como fun~ao legltima, <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>r tamb<strong>em</strong> <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> produ-<br />
,<br />
~ao oral.<br />
As ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s,neste campo especlfico,po<strong>de</strong>riam abran<br />
ger dois tipos <strong>de</strong> realiza~ao: os que se configuram <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s<br />
categorias do dialogo e dos uses conversacionais e aqueles outros<br />
que se enquadram como falas <strong>de</strong> um <strong>em</strong>issor para varios receptores.<br />
Ambos admit<strong>em</strong> contextos e regras <strong>de</strong> ocorrencia distintos<br />
e podiam constituir-se <strong>em</strong> materia <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>.<br />
Quanto aos primeiros, dialogos e usos convercionais,<br />
se po<strong>de</strong>ria aproveitar a motiva~ao, ja referi<strong>da</strong>, dos acontecimen<br />
tos socialmente significativos.<br />
Teoricamente, "0 dialogo se caracteriza pel a presen~a<br />
real e ativa, no mlnimo <strong>de</strong> dois participantes, que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penham.<br />
alternativamente. 0 papel <strong>de</strong> locutor e <strong>de</strong> ouvinte e que faz<strong>em</strong><br />
com que, par sua replica. a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> informa~ao transmiti-
<strong>da</strong> pela linguag<strong>em</strong> progri<strong>da</strong> ... " (Cazacu, 1979 : 69). Como se ve,a<br />
troca, a pergunta e a resposta a replica, a <strong>de</strong>fesa <strong>em</strong> refor~o do<br />
ponto <strong>de</strong> vista, imprim<strong>em</strong> ao dialogo urn careter dinamico que se<br />
traduz numa forma especifica <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>. A troca que,<strong>em</strong> princi<br />
pia e entre dois, po<strong>de</strong>, por extensao, incluir urn grupo maior que<br />
chega ate a conversa
~<br />
preen<strong>de</strong> aqueles textos inseridos <strong>em</strong> situa
um pouco <strong>de</strong> erros, mais a gente feis 0 livro". Em tais avalia -<br />
~oes um ponto fun<strong>da</strong>mental e aju<strong>da</strong>r a crian~a na constitui~ao <strong>de</strong><br />
uma auto-imag<strong>em</strong> positiva, a fim <strong>de</strong> que ela se acredite po<strong>de</strong>ndo<br />
e sabendo 0 suficiente para tentar produzir. Neste particular ,<br />
e ja adiantando, l<strong>em</strong>bramos "0 conceito positive <strong>de</strong> si enquanto<br />
1eitor" (Hosserfe1d, apud Silva, 1985 : 144) como uma <strong>da</strong>s estra<br />
tegias que especificam 0 prot"otipo <strong>de</strong> lei tor <strong>de</strong> "sucesso".
Ler e escrever envolv<strong>em</strong> processos e fun~oes parcialme~<br />
te s<strong>em</strong>elhantes iqueles envolvidos com as correspon<strong>de</strong>ntes ativid!<br />
<strong>de</strong>s <strong>da</strong> fala. Assim, este it<strong>em</strong> esti, <strong>de</strong> certa forma, relacionado<br />
com virios dos aspectos tratados nas observa~oes sobre a produ -<br />
c;ao <strong>de</strong> textos.<br />
o esclarecimento <strong>da</strong>s "estrategias cognitivas e metacognitivas",<br />
envolvi<strong>da</strong>s no processo <strong>da</strong> leitura, tern constituldo<br />
uma irea <strong>de</strong> interesse para a LingUlstica e PsicolingUlstica cont<strong>em</strong>poraneas.<br />
0 proprio <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s teorias sobre leitura<br />
acompanhou, <strong>em</strong> boa medi<strong>da</strong>, a trajectoria <strong>da</strong> LingUlstica, cuja<br />
evolu~ao, como vimos, processou-se gra<strong>da</strong>tivamente <strong>em</strong> direc;ao ao<br />
texto (Kato, 1983).<br />
Numa rela~ao bastante estreita, as concep~oes do objeto<br />
lingUistico, enquanto urn todo, reflet<strong>em</strong>-se sobre as concep-<br />
~oes <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s e condi~oes <strong>de</strong> uso. Sobre a leitura, tamq<strong>em</strong><br />
suce<strong>de</strong>ram-se hipoteses e mo<strong>de</strong>los, com os quais se procurava eiplicar<br />
0 que acontece na leitura e como acontece a , compreensao<br />
que atraves <strong>de</strong>la se processa. 0 aspecto sob 0 qual enfocamos aqul<br />
a leitura permite que <strong>de</strong>ix<strong>em</strong>os <strong>de</strong> expor aqueles mo<strong>de</strong>los, <strong>em</strong>bora<br />
os tenhamos <strong>em</strong> vista nas consi<strong>de</strong>rac;oes a seguir feitas. Em nosso<br />
caso a concepc;ao <strong>de</strong> leitura que assumimos resulta <strong>de</strong> uma compos~<br />
c;ao dos el<strong>em</strong>entos que, nas virias abor<strong>da</strong>gens, pareceram pertineQ<br />
tes para 0 trabalho com 0 1 9 grau menor.<br />
Numa perspectiva teorica <strong>em</strong> que a textuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lIngua<br />
constitui uma <strong>de</strong> suas marcas fun<strong>da</strong>mentais, a leitura recobra<br />
seu cariter substancial <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicac;ao verbal.<br />
Tal como acon tece com os "a tos <strong>de</strong> fala ",a lei tura tamb<strong>em</strong><br />
prev~ a bipolari<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>em</strong>issor e receptor, <strong>em</strong>penhados num<br />
"contrato <strong>de</strong> cooperac;ao" <strong>em</strong> que conhecimentos sac partilhados.
Isso se <strong>da</strong> atraves <strong>da</strong> media~ao <strong>de</strong> textos escritos, produzidos'com<br />
significado, inten~oese objetivos.<br />
Na leitura, 0 <strong>em</strong>issor, tal qual 0 receptor,enfrentam 0<br />
<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> "solitarios", mas cooperativamente solitarios,<br />
na tarefa <strong>de</strong> conseguir a intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> comunica~ao auten<br />
tica. (1)<br />
o leitor, nesse plano, <strong>de</strong>sloca-se <strong>da</strong>quela dimensao me-<br />
- .<br />
canlca e passiva <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> apenas se espera "a <strong>de</strong>codifica
~<br />
Como se ve e este aspecto nos interessa <strong>de</strong> perto - a<br />
leitura ativa ultrapasse 0 aparato puramente linear e visual do<br />
texto, como vai al<strong>em</strong> <strong>da</strong> simples comprensao episodica do mesmo.Ob<br />
viamente, trata-se aqui <strong>de</strong> uma concep~ao, que tern <strong>em</strong> mente 0 lei<br />
tor maduro, ou seja, aquele que opera num nivel <strong>de</strong> processamento<br />
que prescin<strong>de</strong> <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong>talhe por <strong>de</strong>talhe.<br />
Nessa linha <strong>de</strong> princlpios assentamos as diretrizes e<br />
sugestoes <strong>de</strong> como trabalhar a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> leitura no 1 9 grau me<br />
nor.<br />
Como para a produ~ao <strong>de</strong> textos, urn dos objetivos primordiais<br />
do exerclcio <strong>da</strong> leitura,nesta etapa, <strong>de</strong>ve ser 0 <strong>de</strong> formar<br />
leitores, pelo estlmulo continuado a que as crian~as entr<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> contacto com os livros, com os textos, com imagens graficas ,<br />
enfim, com todos os dispositivos que possam fazer germinar 0 go~<br />
to pela leitura.<br />
Para isso po<strong>de</strong> concorrer uma serie <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s e ativi<br />
<strong>da</strong><strong>de</strong>s que favore~am esse contacto e fa~am <strong>de</strong>le urn momenta agrad~<br />
vel, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta, <strong>de</strong> troca,<strong>de</strong> encantamento e prazer. 0 "como<br />
fazer'! <strong>de</strong>talhado, ca<strong>da</strong>circunst~ncia vai ditando. Po<strong>de</strong>r-se-ia recorrer<br />
a outros textos al<strong>em</strong> dos previstos nos manuais, e cuja<br />
finali<strong>da</strong><strong>de</strong> primeira po<strong>de</strong>ria ser criar esse gosto do 'entretenimento<br />
pela leitura, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proviria 0 resto.<br />
Efetivamente, a experiencia <strong>da</strong> 1eitura na escola tern -<br />
se concentrado muito no recurso ao texto do livro a que,por obri<br />
ga~ao, se segue 0 exerclcio <strong>de</strong> interpreta~ao com perguntas e res<br />
postas. Em que ocasiao, portanto, a escola tern cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> criar<br />
o habito <strong>da</strong> leitura pelo prazer <strong>de</strong> faze-lo? Por que a ca<strong>da</strong> leitura<br />
<strong>de</strong> texto, ou livro, tern que seguir-se a "interpreta~ao" ou<br />
a "ficha <strong>de</strong> leitura", como se ler fosse sacar informa~oes <strong>de</strong> <strong>de</strong>positos<br />
alheios? Zilberman (1982 : 17), nesse sentido,conc1ui que<br />
"a crian~a afasta-se <strong>de</strong> qualquer leitura, mas sobretudo dos livros,<br />
seja por ter si<strong>de</strong> alfabetiza<strong>da</strong> <strong>de</strong> maneira insatisfatoria ,<br />
seja por rever na literatura experienc~sdi<strong>da</strong>ticas que <strong>de</strong>seja es<br />
quecer". A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> crlan~a <strong>de</strong> vivenciar sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> lu
dica e fantasiosa Ja constitui forte motiva~ao para que' a leve -<br />
mos a leitura <strong>da</strong>s historinhas, <strong>da</strong>s fabulas, dos contos e po<strong>em</strong>as<br />
infantis .<br />
.Para a genese <strong>de</strong>sse leitor e obvio que muito po<strong>de</strong> contribuir<br />
todo 0 ambiente <strong>da</strong> escola, inclusive a assidui<strong>da</strong><strong>de</strong> com<br />
que a crian~a contata "programas <strong>de</strong> leitura" que envolv<strong>em</strong> tamb<strong>em</strong><br />
os professores, supostamente, leitores (Cf. Matos, 1983 :51-57).<br />
Outro gran<strong>de</strong> objetivo <strong>da</strong> leitura a ser <strong>de</strong>senvolvido nes<br />
ta etapa, seria levar a crian~a a <strong>de</strong>scobrir a leitura como fonte<br />
<strong>de</strong> informa~ao e como via <strong>de</strong> acesso aos bens culturais <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Iniciamos por indicar que a escolha do texto esta vincula<strong>da</strong><br />
ao objetivo geral e particular que se preten<strong>de</strong>. (1) Aquele<br />
criar ~osto pela leitura constitui-se num objetivo preliminar<br />
e base para outros mais especlficos, e supoe a orienta~ao <strong>da</strong> cri<br />
an~a para a leitura compl<strong>em</strong>entar que po<strong>de</strong> fazer fora <strong>da</strong> escola ~<br />
leitura <strong>de</strong> livros e <strong>de</strong> muitas outras especies <strong>de</strong> textos;leituras<br />
para puro entretenimento e leitura com finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s utilitarias .<br />
Neste aspecto, um exerclcio po<strong>de</strong>ria ser levar a crian~a a <strong>de</strong>sc~<br />
brir quanta coisa ela po<strong>de</strong> Ie;' na rua. Assim, po<strong>de</strong>rlamos contribuir<br />
para neutralizar a i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> leitura como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar,<br />
apenas,<strong>de</strong>pois <strong>da</strong> qual 5e faz urn exerclcio.<br />
Objetiuos especlficos para a leitura estao na <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>~<br />
Cla <strong>da</strong>s varias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se po<strong>de</strong>m realizar com 0 texto, como<br />
se pren<strong>de</strong>m tamb<strong>em</strong> a natureza do texto <strong>em</strong> questao.<br />
( 1) Ma/tcfL6chi (1986 : Z3) apo nm :th.~ eJU:t~O-6 pMa a -6 ue.~ao do mate..tLia.£..<br />
<strong>de</strong>. .£..e.dwz.a. a MJr.. .bLa.ba.£..h.a.dol1a U co.£..a:<br />
"a) :te.X:tM <strong>de</strong>. '
Urn ensino <strong>da</strong> lingua corn base no texto preve a mUltipli<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e uma tipologia<strong>de</strong> texto 0 mais diversi<br />
fica<strong>da</strong> posslvel. Assim se possibilita a crian~a entrar ern contac<br />
to corn os aspectos reais do uso <strong>da</strong> lingua.<br />
Apontamos alguns <strong>de</strong>sses objetivos especlficos <strong>da</strong> leitu<br />
ra do texto:<br />
a) tomar conhecimento <strong>de</strong> ocorrenc~s atuais, para 0<br />
que se presta 0 recurso ao jornal, a revistas,aos<br />
cartazes, aos avisos, aos bo1etins (Cf. Correia,<br />
1977 : 46);<br />
b) - seguir instru~oes; nesse aspecto, diversas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
podiam ser realiza<strong>da</strong>s como : ler e interpr~<br />
tar receitas culinarias, indica~oes <strong>de</strong> transito e<br />
acesso a algum ponto, as propostas <strong>da</strong>s tarefas e<br />
exercicios ou outras que orientam a utiliza~ao <strong>de</strong><br />
aparelhosmecanicos e similares;<br />
d) - colher in£0~ma~6es especificas, 0 que po<strong>de</strong> levar<br />
a leitura <strong>de</strong> outros textos;<br />
e) - estabelecer confronto entre tipos <strong>de</strong> textos dife<br />
rentes, real~ando as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> urn;<br />
i) - i<strong>de</strong>ntificar a i<strong>de</strong>ia principal do texto ou do paragrafo;<br />
j) - recrear-se, atraves <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> fic~ao, text os<br />
ludicos e literarios.
Enfim, uma serie <strong>de</strong> metas praticas e especifica<strong>da</strong>s que<br />
confer<strong>em</strong> a leitura urn carater <strong>de</strong> busca orienta<strong>da</strong> e, principalmente,<br />
b<strong>em</strong> sucedi<strong>da</strong>.<br />
A especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses objetivos contribui para que as<br />
instru~oes com que se propoe a leitura <strong>de</strong>svi<strong>em</strong>-se <strong>da</strong>quele objetivo<br />
generalizado e in<strong>de</strong>finido <strong>de</strong> "leia para enten<strong>de</strong>r 0 que 0 autor<br />
quis dizer") ou outros s<strong>em</strong>elhantes. 0 outro gran<strong>de</strong> fim <strong>da</strong> leitura<br />
escolar <strong>de</strong>finido aqui como 0 <strong>de</strong> "formar leitores" tamb<strong>em</strong> anu<br />
la a insistencia na <strong>de</strong>codifica~ao mecanica, conforme v<strong>em</strong>os na repeti~ao<br />
dos cliches: "leia pausa<strong>da</strong>mente", "leia observando os sinais<br />
<strong>de</strong> pontua~ao", etc.<br />
Quanto a isso, sugerimos que as instru~oes com que se<br />
expoe 0 texto a crian~a po<strong>de</strong>riam variar <strong>de</strong> acordo com os objetivos<br />
pretendidos <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> caso particular. No geral, seria <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
formular proposi~oes que aju<strong>da</strong>ss<strong>em</strong> a crlan~a a adiantar<br />
expectativas ou "fazer predi
- anuncios e mensagens publicitarias,ricos no uso <strong>de</strong><br />
metaforas, metonimias, homonimias, trocadilhos,etc.,<br />
pelo que se prestam a uma leitura criativa e contex<br />
tualiza<strong>da</strong>;<br />
proverbios populares etc~~ s<strong>em</strong>pre com a preocupa~ao<br />
<strong>de</strong> incluir t<strong>em</strong>as do interesse <strong>da</strong> crian~a e vincula<br />
dos a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do momento.<br />
Aesta altura, conv<strong>em</strong> l<strong>em</strong>brar que a escola <strong>de</strong>ve evitar,<br />
sob 0 pretexto <strong>de</strong> "simplificar" textos e exercicios, 0 usa <strong>de</strong><br />
uma linguag<strong>em</strong> que representa estagios ja superados pela crian~a.<br />
Neste caso, inclu<strong>em</strong>-se muitos textos e exerClClOS <strong>de</strong>stinados,<br />
principalmente, as duas 1 a~ series.<br />
Por esta amostrag<strong>em</strong> fica implicita nossa posl~ao quan<br />
to -a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> textos que a escola <strong>de</strong>ve provi<strong>de</strong>nciar. A<br />
justificativa para isso radica no <strong>em</strong>penho para que a crian~a ,si~<br />
t<strong>em</strong>aticamente, confronte a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> usos e <strong>de</strong> fun~6es<br />
a que se presta a lingua na varie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> situa~6es <strong>em</strong> que acontece.<br />
Des<strong>de</strong> esta constata~ao compete ao professor aju<strong>da</strong>r a crian~a<br />
a i<strong>de</strong>ntificar as diferen~as lexicais e <strong>de</strong> organiza~ao dos
textos ern fun~ao <strong>da</strong>quelas diferen¥as <strong>de</strong> usos. Noutras palavras,<br />
a crian~a iria sendo conduzi<strong>da</strong> a perceber que uma carta, por<br />
ex<strong>em</strong>plo, requer urn come~o, urn <strong>de</strong>senvolvimento, urn final, ou supoe<br />
escolhas lexicais diferentes do que requer uma historia, ou<br />
urn aviso, ou uma instru~ao, por ex<strong>em</strong>plo. Essas diferen~as nao<br />
seriam apenas objeto <strong>de</strong> observa~oes fortuitas, mas constituiriam<br />
programa <strong>de</strong> ensino - aprendizag<strong>em</strong>,nos textos que, a partir <strong>de</strong>stes<br />
padroes, a crian~a era solicita<strong>da</strong> a produzir.<br />
A especifica~ao que fiz<strong>em</strong>os dos posslveis objetivos com<br />
que a crian~a Ie 0 texto (al<strong>em</strong> <strong>da</strong>quela leitura pelo simples prazer<br />
<strong>de</strong> faze-lo) nos encaminha para outro ponto: que outras ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
podiam ser feitas corn base no texto?<br />
A resposta exaustiva a essa pergunta podia abranger mUl<br />
to mais do que aqul preten<strong>de</strong>mos ..Tentamos, no entanto, juntar a<br />
tantas outras, algumas sugestoes <strong>de</strong> trabalhos a ser<strong>em</strong> propostos<br />
a partir dos textos dos manuais e Dutros <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>ncia diversa.<br />
1 9 ) Parece-nos conveniente que a primeira abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> do<br />
texto se fa~a.a partir <strong>de</strong>le como unr:u:ido.So <strong>de</strong>pois e que se ju~<br />
ficaria 0 estudo <strong>de</strong> suas partes (mesmo assim s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>r a_ perspe£<br />
tiva global). A discussao coletiva do texto seria urn dos expedientes<br />
praticos para a realiza~ao <strong>de</strong>sse objetivo, atraves <strong>da</strong> troca<br />
<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, <strong>da</strong> analise <strong>da</strong>s conclusoes tira<strong>da</strong>s,<strong>da</strong>s consi<strong>de</strong>ra -<br />
~oes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m textual ou discursiva. Ou seja, uma discussao participa<strong>da</strong><br />
e criativa <strong>em</strong> que se processe, junto corn a compreensao<br />
do texto, a cornpreensao <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> cornunicativa e social, que<br />
a lingua possibilita. lfAparent<strong>em</strong>ente simples, esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> baseia-se<br />
no pressuposto teorico <strong>de</strong> que 0 conhecimento <strong>em</strong> torno do<br />
do t<strong>em</strong>a ou assunto do texto e urn auxllio fun<strong>da</strong>mental para uma me<br />
lhor compreensao lf (Marcuschi, 1986 : 26).<br />
2 9 ) Tal como sugere 0 livro di<strong>da</strong>tico, 0 lfvocabulario "<br />
do texto po<strong>de</strong>ria ser objeto <strong>de</strong> estudo. No entanto, a forma <strong>de</strong><br />
pro ce<strong>de</strong>r e que apontarlamos como tendo outros criterios. Ao inves<br />
<strong>de</strong> 0 autor do livro "supor" as palavras <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s pelos<br />
alunos, por que nao leva-Ios a i<strong>de</strong>ntifica-las a partir <strong>de</strong> seus
epertorios lexicais? Ain<strong>da</strong>, por que
Em sintese, 0 estudo do vocabulario po<strong>de</strong>ra ser b<strong>em</strong><br />
mais produtivo, se se mantiver s<strong>em</strong>pre a rela~ao <strong>da</strong> palavras ta~<br />
to com 0 sist<strong>em</strong>a <strong>da</strong> lingua, como com as a~oes que atraves <strong>de</strong>la<br />
realizamos.<br />
Dai que, "0 melhor processo para a aquisl~ao <strong>de</strong> vocabulario<br />
e aquele que parte <strong>de</strong> uma experi~ncia real e nao apenas<br />
simula<strong>da</strong>, pois so ela permite assimilar satisfatoriamente conceitos<br />
e i<strong>de</strong>ias que traduzam impressoes vivas. E inutil ou, pe-<br />
10 menos, improflcuo tentarmos traduzir impressoes ou jUlzos que<br />
a experi~ncia, lato sensu, nao nos proporcionou" (Garcia, 1977:<br />
148).<br />
3 9 ) as exerclcios <strong>de</strong> interpreta~ao,assim chamados,ta~<br />
b<strong>em</strong> reclamam outro estatuto <strong>de</strong> realiza~ao, com base nas conceE<br />
~oes <strong>de</strong> leitura e lei tor <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s no inlcio <strong>de</strong>ste topico. Em<br />
primeiro lugar, acreditamos nao ser aquele mo<strong>de</strong>le <strong>da</strong>s perguntas<br />
e respostas a forma necessariamente a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para testar a compreens~o~do<br />
texto que a crian~a conseguiu processar. Ain<strong>da</strong> mais<br />
que, <strong>de</strong> tao habituais, passam a ser mecanicamente resolvi<strong>da</strong>s s<strong>em</strong><br />
quase na<strong>da</strong> acrescentar a habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura <strong>da</strong> crlan~a, pri~<br />
cipalmente pela maneira epi<strong>de</strong>rmica como apenas recuperam as<br />
el<strong>em</strong>entos essencialistas e obvios do texto.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos outras intromissoes no texto como ~o<strong>de</strong>ndo,<br />
mais internamente, alcan~ar seu conteudo e for~a comunicati<br />
va. Par ex<strong>em</strong>plo:<br />
- levar a crian~a, e1a mesma, a fazer perguntas sabre<br />
o texto; (1)
- solicitar <strong>da</strong>dos ou conlusoes dos alunos e pedir que<br />
eles indiqu<strong>em</strong> <strong>em</strong> que el<strong>em</strong>entos lingUisticos, ou nao,<br />
se basearam para as formula~oes que fizeram~<br />
- pedir, antes <strong>da</strong> leitura, que levant<strong>em</strong> expectativas<br />
e, <strong>de</strong>pois, procur<strong>em</strong> no texto el<strong>em</strong>entos que possam<br />
confirma-las ou nega~las~<br />
- real~ar, com os alunos, os conhecimentos previos e<br />
el<strong>em</strong>entos implicitos que foram necessarios para que<br />
se compreen<strong>de</strong>sse 0 texto~<br />
chamar a aten~ao para os elos coesivos e, progressl<br />
vamente, levar a crian~a a i<strong>de</strong>ntifica-los, a fim <strong>de</strong><br />
que ela va <strong>de</strong>tectando 0 texto como uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> inte<br />
gra<strong>da</strong>;<br />
pedir a crian~a que <strong>de</strong>scubra rela~oes <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhan -,<br />
~as e diferen~as entre personagens: que estabele~a<br />
contraste entre casos, eventos ou comportamentos> ou<br />
aSSOCle causas e efeitos, vantagens e <strong>de</strong>svantagens,<br />
etc;<br />
conduzir a crian~a para que perceba a inten~ao do<br />
autor ao dizer 0 que diz: Por que 0 autor esta dizendo<br />
isto? A qu<strong>em</strong> interessa que ele 0 diga? Por<br />
que esta dizendo <strong>de</strong>ste modo e nao <strong>de</strong> outro? Como<br />
seria se mu<strong>da</strong>ss<strong>em</strong> as circunstancias?<br />
- levar 0 aluno a posicionar-se frente a opiniao do<br />
autor, se for 0 caso;<br />
dirigir a crian~a para re1acionar 0 texto com outro,<br />
OU t<strong>em</strong>as afins.<br />
Ou seja, viver com 0 a1uno 0 processo <strong>da</strong> "Leitura nas entrelinhas"<br />
(Scott, 1983 101-123) que requer mais do que 0 conheci -<br />
mento sobre a lingua.<br />
Interessa-nos advertir que apBs a 1eitura <strong>de</strong> alguns<br />
textos - principalmente <strong>de</strong> textos 1iterarios <strong>de</strong> muita for~a es
tetica - mais vale nao fazer pergunta,n<strong>em</strong> comentario .menhum. 0 ob<br />
jetivo, nesse caso, foge a compreensao do aspecto proposicional,<br />
para se apren<strong>de</strong>r a viver a frui~ao do gozo estetico. As analises<br />
criticas virao com 0 t<strong>em</strong>po. Fun<strong>da</strong>mentalmente 0 que importa nesta<br />
etapa e incr<strong>em</strong>enta~na cria~ao.o gosto pela gra~a e produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> leitura.<br />
4 9 ) 0 texto ain<strong>da</strong> se presta i realiza~ao <strong>de</strong> muitas tarefas.<br />
Principalmente aquelas que apontariamos como <strong>de</strong> cria~ao<br />
<strong>de</strong> textos a partir <strong>de</strong> outros; pratica, a nosso ver, importante ,<br />
nesta fase <strong>em</strong> que a cr1.an~a precisa do suporte dos "mo<strong>de</strong>los", p~<br />
ra, recriando-os, exercitar suas capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s comunicativas.<br />
Embora 0 assunto <strong>em</strong> pauta seja a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> leitura,<br />
nao consi<strong>de</strong>ramos digressao ter, naturalmente, passado i produ -<br />
~ao <strong>de</strong> textos a partir <strong>da</strong>queles trazidos para leitura. Nao ;nos<br />
afastamos <strong>da</strong>quele principio que reune !fa leitura e a escrita como<br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunica~ao verbal" (Kato, 1986, 42). Recriar 0<br />
texto, falado ou escrito, e uma forma <strong>de</strong> processar a compreensao<br />
<strong>de</strong>le mesmo e <strong>de</strong> outros te~tos.<br />
a) Po<strong>de</strong>mos trabalhar os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>contextualiza~ao<br />
do texto (Marcuschi, 1983 : 15), para, entre outras fun~oes, aj~<br />
<strong>da</strong>r a crian~a a levantar perspectivas sobre 0 mesmo.<br />
Urn <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos e 0 titulo do texto,a partir do<br />
que muito se po<strong>de</strong> criar como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
- que fa~a predi~oes sobre 0 texto com base nos termos<br />
do titulo;<br />
- que avalie 0 grau <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do titulo e justifl<br />
que sua avalia~ao;
- que encontre no texto os el<strong>em</strong>entos impllcitos ou expllcitos<br />
que autorizam a formula~ao do tltulo;<br />
- que altere 0 tltulo como se aqueletexto nao fosse uma<br />
hist6ria mas fosse uma notlcia, por ex<strong>em</strong>p~o, e,assim,<br />
procure distinguir os tipos especlficos <strong>de</strong> tltulos;<br />
- que sugira urn tltulo com base nos el<strong>em</strong>entos nao ditos<br />
literalmente, ou outro <strong>de</strong> cariter ir3nico, ou su<br />
gestivo, ou apelativo;<br />
- que estebele~a confronto entre tltulos diferentes <strong>da</strong><br />
dos pela imprensa ao mesmo acontecimento.<br />
Muitas <strong>de</strong>ssas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, principalmente<br />
nos primeiros dois anos, ser feitas coletivamente, 0 que se torna<br />
enriquecedor pelas alternativas que as discussoes levantam.<br />
Dutro el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>. contextualiza~ao do texto a ser trabalhado<br />
e 0 inlcio do texto.<br />
- chamar a atenc;ao <strong>da</strong> crian~a,e~faze-la reparar nos<br />
distintos come~os que tern os diferentes tipos <strong>de</strong> tex<br />
to. Para isso, con£ronta-los e especificar as dife -<br />
ren~as;<br />
- solicitar <strong>da</strong> crian~a que, a partir do inlcio do texto,<br />
preveja seu prosseguimento, seu final~ au, at~<br />
mesmo, as caracterlsticas do autor ou <strong>da</strong>s persona -<br />
gens;<br />
- sugerir a crian~a que formule outro inlcio para 0<br />
texto. Nesse caso po<strong>de</strong>m-se prever altera~oes no con<br />
teudo e na inten~ao do texto;
pedir -a crian~a que se pronuncie sobre a a<strong>de</strong>quaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
do inicio; e outras manipula~oes que vaG ocorrendo<br />
como consequencia natural <strong>da</strong> pratica criativa e<br />
critica que esses procedimentos comportam.<br />
b) Po<strong>de</strong>m-se exercitar, ain<strong>da</strong>, outras reconstru~oes tex<br />
tuais a partir do meio ou do final do texto. As propostas podiam<br />
ser feitas conduzindo a que certas altera~oes no meio do texto ,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, implicass<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>n~a no termino, no inicio ou mesmo<br />
no tItulo do texto. De forma a que a produ~ao final tivesse s<strong>em</strong>pre<br />
a distin~ao <strong>de</strong> um texto unificado, <strong>de</strong> forma coesiva e concei<br />
tual.<br />
No trabalho com estas partes do texto - meio e fim - se<br />
po<strong>de</strong>ria, com relevancia, exercitar 0 <strong>em</strong>prego dos termos conecto -<br />
res - conjun~oes, adverbios, locu~oes prepositivas, ou expressoes<br />
mo<strong>da</strong>lizadoras ou acauteladoras : <strong>de</strong> fato, itens pertinentes na<br />
organiza~ao e condu~ao <strong>da</strong> progressao t<strong>em</strong>atica do texto. Para isso,<br />
progressivamente, tais el<strong>em</strong>entos iam sendo reconhecidos e introdu<br />
zidos.nos exercicios. Aqui, tamb<strong>em</strong> se po<strong>de</strong>ria sugerir amplia~ao<br />
ou redu~ao dos el<strong>em</strong>entos dot~exto.<br />
Parece-nos admissivel que/por esse caminho, aproxim<strong>em</strong>onos<br />
mais <strong>da</strong>quele objetivo <strong>de</strong> ir ampliando a competencia <strong>da</strong> cria~<br />
~a, e <strong>de</strong> maneira a nao interromper sua experiencia <strong>de</strong> vivenciar a<br />
comunica~ao.<br />
Lu~ava ~om 0 bu~~inho, ~om 0 po~~o e que~ia 6a~e~ ate<br />
no ~oi~ado do ~a~inho.
Um d~a, 0 Qoelho ~e~olveu <strong>de</strong>~a6~a~ 0 leaD pa~a uma luta.<br />
Que ~u~p~e~a! O~ b~Qho~ v~e~am <strong>de</strong> to<strong>da</strong> pa~te <strong>da</strong> 61o~e~ta pa-<br />
~a tO~Qe~ p~lo Qoelho.<br />
No d~a <strong>da</strong> luta, 0 Qoelho ve~o <strong>de</strong>nt~o do Qa~eo <strong>da</strong> ta~ta<br />
~uga e a~~im ~e <strong>de</strong>6en<strong>de</strong>u <strong>de</strong> todo~ o~ ~oeo~ do leao.<br />
Ai! a~! Eu nao agrrento. A ba~~~ga <strong>de</strong>~te Qoelho e ma~~<br />
duna do que eimento!<br />
"Como voc~ escreveria esse texto <strong>de</strong> maneira que no final<br />
se-less~: E assim continou a fama do le~o campe~o <strong>de</strong> brigas"?<br />
A recria~~o do texto po<strong>de</strong>ria tamb<strong>em</strong> ser~coletiva, 0 que vai suscitando<br />
discuss6es a partir <strong>da</strong>s v~rias il~ernativas aponta<strong>da</strong>s.<br />
59) Tamb<strong>em</strong> se po<strong>de</strong> fazer corn a crian~a a recria~~o do<br />
texto, mantendo todos os pontos conceituais, mas alterando a formula~~o<br />
lexical e sint~tica. V~rios grupos podiam produzir suas<br />
versoes e,no final, se pro ce<strong>de</strong>r a uma avalia~~o corn base <strong>em</strong> crite<br />
rios lingUisticos, comunicativos e pragm~ticos. Po<strong>de</strong>r-se-ia 'perguntar,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, que versao est~ mais persuasiva, mais inte -<br />
ressa<strong>da</strong> <strong>em</strong> provocar a <strong>em</strong>patia com 0 leitor, mais incisivamente ape<br />
lativa, mais objetiva, mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> a este ou aquele tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<br />
tinat~rio.<br />
~9) Gutra ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> possivel e transpor 0 conteudo e a<br />
forma <strong>de</strong> uma historia, por ex<strong>em</strong>plo, para composl~ao <strong>de</strong> uma noticia<br />
ou outros tipos <strong>de</strong> textos, salientando s<strong>em</strong>pre as diferen~as<br />
estruturais <strong>em</strong>ergentes por causa dos aspectos funcionais distin -
Nao se po<strong>de</strong> esperar que as crian~as, apenas intuitivamente,<br />
<strong>de</strong>scubram e possam explicitar esses fatos. 0 que se supoe<br />
e que a escola se encarregue <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar a inicia~ao <strong>da</strong> crian~a<br />
nesses aspectos textuais e discursivos, s<strong>em</strong> preocupa~oesmui<br />
to i<strong>de</strong>aliza<strong>da</strong>s, mas atenta a soli<strong>de</strong>z <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> aClrnula<strong>da</strong>na<br />
pratica reflexiva e criativa.<br />
Tudo leva a crer que as diretrizes aqui sugeri<strong>da</strong>s, <strong>de</strong><br />
produ~ao, leitura e recria~ao do teXto, conduzam a crian~a a<br />
fluencia e for~a comunicativa, muito mais do que sublinhar encon<br />
tros consonantais, silabas mais fortes ou os substantivos primitivos<br />
do texto. Tais no~oes, legltimas e necessarias, virao a<br />
seu t<strong>em</strong>po.<br />
" as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que caracterizam 0 born leitor, com~<br />
~am a nascer ou amorrer a partir dos sete anos, <strong>da</strong> alfabetiza~ao,<br />
nos primeiros contatos do aluno corn 0 texto. Tudo 0 que v<strong>em</strong> <strong>de</strong>~<br />
pois e so refor~o e terapia" (Zilberman, 1~82 : 59).
Inicialmente, cumpre-nos situar 0 que significam exe~<br />
~ .<br />
C1C10S gramaticais na perspectiva dos el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong>s proposta que<br />
aqui apresentamos.<br />
Partimos do pressuposto <strong>de</strong> que exercitar a gramatica<br />
esta essencialmente presente s<strong>em</strong>pre que trabalhamos com a crian-<br />
~a a produ~ao e compreensao <strong>de</strong> textos orais e escritos. Ou seJa,<br />
no momento <strong>em</strong> que a crian~a esta apren<strong>de</strong>ndo as regras <strong>de</strong> como<br />
construir ou enten<strong>de</strong>r os diversostipos <strong>de</strong> comunica~ao verbal esta<br />
apren<strong>de</strong>ndo,ou melhor, esta ampliando 0 conhecimento <strong>da</strong> gramatica<br />
<strong>de</strong> sua lingua. E esta fazendo <strong>de</strong> forma a parecer muito mais<br />
a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> do que suger<strong>em</strong> os livros di<strong>da</strong>ticos, porque 0 faz vivendo<br />
situa~6es reais <strong>de</strong> comunica~ao, as quais, nao saG possiveis<br />
s<strong>em</strong> 0 recurso as regras <strong>da</strong> gramatica <strong>da</strong> lingua. Na produ~ao, e<br />
pela produ~ao, as regras VaG <strong>em</strong>ergindo naturalmente,s<strong>em</strong> as abstra~oes<br />
<strong>da</strong> lingua <strong>de</strong>scontextualiza<strong>da</strong> que resulta falsea<strong>da</strong> e pe-<br />
Nao v<strong>em</strong>os justificavel, pois,que, a estas alturas, a<br />
crian~a seja submeti<strong>da</strong> a uma pratica que separe aulas <strong>de</strong> re<strong>da</strong>-<br />
~ao, <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> gramatica. Como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s integra<strong>da</strong>s que<br />
sao, tornam-se equivocas quando trata<strong>da</strong>s <strong>de</strong> forma estanque. A<br />
percep~ao que as crian~as vaG construindo dos fatos <strong>da</strong> lingua<br />
reflete muito <strong>da</strong>s concep~oes que mant<strong>em</strong>os e <strong>da</strong> forma como as<br />
passamos.<br />
.<br />
Um ensino com base na produ~ao e compreensao <strong>de</strong> textos<br />
encaminha a aprendizag<strong>em</strong> <strong>da</strong> lIngua como um todo integrado<br />
<strong>em</strong> que, como na vi<strong>da</strong>, nao se para <strong>de</strong> falar ou escrever, para<br />
apren<strong>de</strong>r como e que se fala ou se escreve.<br />
Como <strong>de</strong>correncia <strong>de</strong>sse pressuposto, admitimos 0 ensi<br />
no <strong>da</strong> gramatica, nesta etapa, prescindindo <strong>da</strong> explicita~ao <strong>da</strong>s
<strong>de</strong>nomina~6es e classifica~6es gramaticais que contam nos ·livros<br />
di<strong>da</strong>ticos.<br />
A lingua serve a comunica~ao e intera~ao pessoal, como<br />
po<strong>de</strong> servir para eX~licar seu pr6rpio funcionamento e nomear as<br />
uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s que a constitu<strong>em</strong>. De acordo com a conclusao <strong>de</strong> Soares<br />
(1976 : 17), <strong>da</strong>i prov<strong>em</strong> dois objetivos distintos para 0 ensino<br />
<strong>da</strong> lingua, conforme privilegi<strong>em</strong> urn ou outro aspecto. NO 199rau ,<br />
<strong>de</strong>ve prevalecer 0 estudo <strong>da</strong> lingua enquanto servindo aquele pri<br />
meiro objetivo, muito mais ain<strong>da</strong> tratando-se do 19 grau menor.<br />
Por todos esses el<strong>em</strong>entos, consi<strong>de</strong>ramos ina<strong>de</strong>quado e<br />
inoportuno introduzir a crian~a <strong>de</strong>ste periodo escolar na discrimi<br />
na~ao tao <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>de</strong> nomes, <strong>de</strong> categorias e subdivisoes, tao<br />
abstratas e metalingUisticas. Tao distante <strong>da</strong> vivencID <strong>da</strong> crian~a<br />
<strong>em</strong> sua experiencia natural <strong>de</strong> falante.<br />
Por que nao reduzir 0 estudo <strong>da</strong> gramatica no 19 grau<br />
aquil0 que Genouvrier e Peytard (1976: 225) <strong>de</strong>nominaram "grarnatica<br />
nao consciente"?<br />
Em sintese, propomos 0 estudo <strong>da</strong> gramatica integrado a<br />
to<strong>da</strong>s aquelas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> produ~ao e compreensao .<strong>de</strong> texto,atras<br />
sugeri<strong>da</strong>s. Isto implica urn ensino <strong>da</strong> gramatica que nao apenas<br />
<strong>de</strong>riva do texto mas que esta inclui<strong>da</strong> no texto,como uma <strong>da</strong>s condi~oes<br />
imanentes <strong>de</strong> sua realiza~ao.<br />
Quanto a rnetodologia,ja nos adiantamos, quando <strong>de</strong>finimos<br />
0 texto como 0 campo <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> lingua. Adiantarnos ain<strong>da</strong><br />
quando especificamos que as tarefas <strong>de</strong> leitura, produ~ao, recria<br />
~ao e compreensao <strong>de</strong> textos <strong>de</strong>viam polarizar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s di<strong>da</strong>ticas.<br />
1550 equivale a optar por uma metodologia <strong>de</strong> ensino globaliza<strong>da</strong>,<br />
centra<strong>da</strong> nos aspectos relevantes do todo, sern a frag -<br />
menta~ao pouco fecun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s analises parciais.<br />
Preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver a seguir algumas diretrizes <strong>de</strong><br />
como se po<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a este ensino <strong>de</strong> uma gramatica parte <strong>da</strong><br />
lingua, no periodo especifico do 19 grau menor.
Admitimos, portanto, como Erocedimento geral,o ensino<br />
<strong>da</strong> gramatica, <strong>de</strong> forma imElicita (s<strong>em</strong> nomes e classifica~oes),<br />
e comunicativa (com base <strong>em</strong> situa~oes naturais <strong>de</strong> intera~ao ve!<br />
bal). Dai pOI' que nao conseguimos separar 0 exerC1ClO escolar<br />
<strong>da</strong> produ~ao e compreensao do texto, do exercicio <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong><br />
gramatical. Tudoesta inteiramente integrado~ nao se po<strong>de</strong><br />
preten<strong>de</strong>r exercitar composi~ao ou leitura <strong>de</strong> textos per<strong>de</strong>ndo<br />
<strong>de</strong> vista a questao lexical, sintatica ou s<strong>em</strong>antica <strong>da</strong> lingua.<br />
o que se po<strong>de</strong> e especificar, com clareza, a questao que num<br />
<strong>de</strong>terminado momenta sera particulariza<strong>da</strong>.<br />
Como Erocedimentos especificos, sugerimos partir <strong>da</strong> constata~ao<br />
do fato (objeto <strong>de</strong> estudo), numa atitu<strong>de</strong> dinamica que<br />
ultrapassa 0 simples reconhecimento mecanico. Nesta dimensao<br />
ja estamos incluindo 0 segundo passo que seria a explica~ao do<br />
fato. S<strong>em</strong> a P!eocupa~ao <strong>de</strong> nomear ou <strong>de</strong> efetuar classifica~oes.<br />
S<strong>em</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m prescritiva. Nessa etapa 0 fun<strong>da</strong>mental e<br />
explici tar por que tais fatos acontec<strong>em</strong>. Em ca<strong>de</strong>ia, viria 0 momento<br />
<strong>da</strong> aplica~ao reflexiva e critica, admitindo a progressivatestag<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong>s alternativa~, com a natural ocorrencia dos primeiros<br />
insucessos e partindo <strong>da</strong>i para novas aquisi~oes.<br />
Esses passos podiam ser <strong>da</strong>dos sist<strong>em</strong>aticamente <strong>de</strong> for<br />
ma a criar urn projeto <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> dos fatos <strong>da</strong> lingua. Para<br />
isso, acreditamas ser fun<strong>da</strong>mental a realiza~ao <strong>de</strong> produ~oes coletivas,<br />
principalmente na introdu~ao <strong>de</strong> novos itens, <strong>em</strong> que<br />
esses passos podiam ser <strong>de</strong>stacados e discutidos no grupo, aca<br />
ban<strong>da</strong> pOI' se impor<strong>em</strong> como alternativas metologicas individuais.<br />
o carateI' geral que assume esta primeira formula~ao <strong>de</strong><br />
nossa proposta, limita--nos quanto a <strong>de</strong>senvolver urn maior nume-<br />
1'0 <strong>de</strong> questoes. Confessamos ain<strong>da</strong> nossa hesita~ao quanto a conveniencia<br />
<strong>de</strong> apresentarmos ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>masiado particulares. Jul<br />
gamos mais <strong>de</strong> acordo com a natureza <strong>de</strong>ste trabalho ~apresentar<br />
hipoteses <strong>de</strong> aplica~ao. A nosso vel', po<strong>de</strong>m motivar,na pratlca<br />
reflexiva <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> contexto, 0 exercicio concreto apropriado a<br />
ca<strong>da</strong> caso. Uma leitura dos el<strong>em</strong>entos implicados nas sugestoes<br />
que faz<strong>em</strong>os po<strong>de</strong> l'evelarquanta preten<strong>de</strong>mos ser praticos,mesmo quando<br />
nao chegamasa superficie<strong>da</strong> "tarefa formula<strong>da</strong>".No fundo,0 que sugerimos se<br />
dS,
<strong>de</strong>s tina che gar ate a sal a <strong>de</strong> aul a. Os tennos <strong>em</strong> que lSSO val aconte -<br />
cer <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do discernimentodo professor e <strong>da</strong>s condi
<strong>de</strong> pontua~ao <strong>de</strong> urn texto e discutir com 0 grupo as varias alter<br />
nativas <strong>de</strong> pontua-lo, relacionando s<strong>em</strong>pre SlnalS e conteudo,sinais<br />
e intera~oes comunicativas pretendi<strong>da</strong>s pelo autor. Este<br />
exerclcio feito coletivarnente se constituiria numa oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
favoravel para levantar as implica~oes do <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> tais sinais<br />
como pistas facilitadoras <strong>da</strong> intera~ao autor X leitor. Nes<br />
se sentido, uma visao menos rlgi<strong>da</strong> ou menos inflexlvel dos usos<br />
<strong>de</strong>sses sinais, funcionaria como estlmulo ao exerclcio <strong>da</strong> escrita<br />
s<strong>em</strong> 0 bloquio <strong>da</strong> expectativa ansiosa do erro. Alias, esta<br />
atitu<strong>de</strong> ja foi referi<strong>da</strong> como benefica e po<strong>de</strong>-se aplicar a qualquer<br />
aspecto, nesta etapa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> escolar, quando a preocupa~ao<br />
bi?Jca e com a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> comunica
cia. Fora do texto, a distin~ao entre os varios pronomes pessoais,<br />
por ex<strong>em</strong>plo. nao requer maiores habili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que 0 recurso purame~<br />
te mn<strong>em</strong>onico.<br />
As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensao <strong>de</strong> um texto po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>verse<br />
a improprie<strong>da</strong><strong>de</strong> com que um "ele" e <strong>em</strong>pregado.Com efeito 0 usa<br />
dos pronomes requer mais que 0 conhecimento <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>nomina~oes<br />
classificatorias e diferen~as morfologicas <strong>de</strong> genero e numero,como<br />
aparece nos manuais.<br />
o <strong>em</strong>prego <strong>da</strong> classe pronominal supoe um referente, antece<strong>de</strong>nte<br />
ou conseqUente, com 0 qual se relaciona na fun~ao-anaf~<br />
rica ou cataforica - <strong>de</strong> substitul-lo. Como acontece nos ex<strong>em</strong>plos:<br />
a) 0 le~o valevLt.~o eJ1..a c.ampeao- <strong>de</strong> bJ1..igaJ.>. A bic.haJ1..a<strong>da</strong><br />
do mato mOJ1..J1..ia<strong>de</strong> medo <strong>de</strong>le.<br />
b) 0 le.~o tic.ou c.aIdo <strong>de</strong>. lIngua <strong>de</strong>. t OJ1..a. Ele gJ1..itava .<br />
c.} 0 le.ao pe.J1..<strong>de</strong>.u bJ1..iga; iJ.>to eoelho<br />
-<br />
a 0 nao e.J.>p e.J1..a va .<br />
d} o leaD peJ1..<strong>de</strong>.u a b4i9 a, 0 que. noi uma v e.J1..gonha<br />
-<br />
e) A ne.J.>:ta do eaJ.>amen:to <strong>da</strong> baha:tinha, paJ1..a J.>uhpJl..eJ.>a<br />
<strong>de</strong> todoJ.>, ela eonJ.>eguiu ehe.gaJ1.. a :t<strong>em</strong>po. E ve.J1..<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
pela pJl..imeiJl..a vez, a bie~a4a<strong>da</strong> viu a :tWL:taJl..uga eneabe.caJ1..<br />
a nila doJ.> convi<strong>da</strong>doJ.>. (7)<br />
(7) 0 gJl....i.ta earn urn :tJl..acaJ1..eneJl..e.-J.>e aa :te.nmo 4e.neJl..eYL:te,a gJl....i.na earn<br />
caJ.>, aa e.le.meYL:ta pILOnominal <strong>de</strong>. .6ub.6;t..[;tu..[Cao.<br />
<strong>da</strong>..L.o:tJl..a
Urn exerclcio <strong>de</strong> tratar os pronomes, po<strong>de</strong>ria ser solicitar<br />
<strong>da</strong>s crian~as que estabele~am as rela~oes entre os termos<br />
referentes e os pronomes substituidores.Ou ain<strong>da</strong>, a pratica( <strong>de</strong><br />
efetuar essas substitui~oes, nos exerclcios <strong>de</strong> revisao dos textos<br />
dos alunos. A partir <strong>de</strong>:"Minha escola e gran<strong>de</strong> e muito boni<br />
ta. Minha escola t<strong>em</strong> salas espa~osas e ventila<strong>da</strong>s", se po<strong>de</strong>ria<br />
sugerir: "minha escola e gran<strong>de</strong> e muito bonita. Suas salas<br />
Tamb<strong>em</strong> valeria a pena testar os efeitos <strong>de</strong> imprecisao<br />
e ambigtii<strong>da</strong><strong>de</strong> se tais substitui~oes nao se efetuam <strong>de</strong> acordo<br />
com as restri~oes previstas. Mais que 0 simples reconhecimento<br />
<strong>da</strong>s diferentes classes e formas <strong>de</strong> pronomes, 0 que resulta -<br />
rla <strong>de</strong>ste procedimento seria a compreensao do uso <strong>de</strong>sta categoria<br />
como fat or <strong>de</strong> coesao do texto oral e escrito.<br />
Advirtimos para um aspecto que consi<strong>de</strong>ramos importante:<br />
0 ensino - aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong> itens como este, supoe lr al<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong> pura referencia conceitual - "para cumprir um ponto do pro -<br />
grama". Constitui-se numa no~ao que gera uma habili<strong>da</strong><strong>de</strong> comunicativa<br />
que precisa ser reitera<strong>da</strong>mente ensina<strong>da</strong>. Para isso, Insistimos,<br />
os exerclcios <strong>de</strong> comp05{~ao e <strong>de</strong> revisao (principal -<br />
mente estes) favorec<strong>em</strong> a que sed~scubra, inclusive, a fun~ao<br />
economica dos pronomes na substitui~ao <strong>de</strong> termos ja referidos.<br />
39) Na mesma linha <strong>da</strong> coesao textual, teria relevan -<br />
Cla 0 estudo <strong>da</strong>s conjun~oes,tt<strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s rela~oes significativas<br />
que estabelec<strong>em</strong> entre as ora~oes <strong>de</strong>ntro do perlodo,entre<br />
os perlodos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um paragrafo, entre os paragrafos ,no inte<br />
rior do texto" (Favero e Koch, 1983 . 41).<br />
- as crian~as, <strong>em</strong> textos ja produzidos, i<strong>de</strong>ntificass<strong>em</strong><br />
essas rela~oes e as palavras que as autoriza -<br />
- construlss<strong>em</strong> elas mesmas textos <strong>em</strong> que estabeleces<br />
s<strong>em</strong> algumas <strong>de</strong>ssas rela~oes, sugeri<strong>da</strong>s ou nao;
- experimentass<strong>em</strong> alterar a rela~ao conceitual entre<br />
perlodos ou entre paragrafos pelo uso <strong>de</strong> conjun-<br />
~oes diferentes;<br />
- experimentass<strong>em</strong>, ain<strong>da</strong>, diversificar 0 usa <strong>de</strong>ssas<br />
conjun~oes com 0 fim <strong>de</strong> expressar inten~oes dife -<br />
rentes;<br />
se incentivasse 0 usa <strong>da</strong>s varias conjun~oes coor<strong>de</strong><br />
nativas e subordinativas, a fim <strong>de</strong> que se superasse<br />
aquela predominancia dos usos infantis <strong>em</strong> alguns<br />
poucos ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong>sses conectivos;<br />
- se ampliasse 0 repertorio <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> conexao<br />
introduzindo, progressivamente, itens novos.<br />
Quando nos referimos a no~ao dos "atos <strong>de</strong> fala" como<br />
recurso para gera~ao <strong>de</strong> textos diversificados, tlnhamos tamb<strong>em</strong><br />
presente como se po<strong>de</strong>ria vivenciar al a conexao coor<strong>de</strong>nativa e<br />
subordinativa na varie<strong>da</strong><strong>de</strong> que comportam.<br />
Nesse sentido, vale ampliar 0 termo "conjun~ao" para<br />
abarcar outras categorias que cumpr<strong>em</strong> esta fun~ao <strong>de</strong> estabele -<br />
cer rela~oes coesivas. Entre as principais, citam-se: os adverbios,<br />
preposi~oes e locu~oes respectivas, a1<strong>em</strong> dos "itens conti<br />
nuativos como : "<strong>da</strong>l , entao, a seguir, etc (Favero e Koch, 1983:<br />
41) .<br />
A crian~a usa normalmente esses termos. De _ maneira<br />
que a escola caberia prover a amplia~ao <strong>de</strong>les e exercitar 0 seu<br />
uso <strong>em</strong> perlodos, paragrafos e textos mais complexos.<br />
As composl~oes e revlsoes oralS e escritas 0 con<br />
fronto com textos ja produzidos constitu<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> duvi<strong>da</strong>, a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para esse tipo <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>.<br />
49) A questao dos primitivos e <strong>de</strong>rivados,ao inves<br />
do enfoque apenas <strong>de</strong>nominativo e classificatorio,po<strong>de</strong>ria ser ex-
plora<strong>da</strong> no texto, como melO <strong>de</strong> amplia~ao do repertorio lexical e<br />
como "pista" para reconhecimento do sentido <strong>da</strong> palavra. Neste par<br />
ticular, po<strong>de</strong>r-se-ia atrair a percep~ao <strong>da</strong> crian~a para a <strong>de</strong>scoberta<br />
<strong>de</strong> palavras recern-cria<strong>da</strong>s a partir <strong>de</strong> radicais prefixos e<br />
sufixos disponlveis. A i<strong>de</strong>ntifica~ao dos el<strong>em</strong>entos cognatos tern<br />
sido aponta<strong>da</strong> como estrategia <strong>de</strong> leitura (Cf. Silva, 1985 :144).<br />
Constatamos como os manuais privilegiam 0 aspecto <strong>de</strong>notativo<br />
<strong>da</strong>s palavras, no tratamento <strong>da</strong>dos aos "sinonimos e antoni<br />
mos" que vai <strong>da</strong> la. a 4a. serie. Pareceria mais util verificar,<strong>em</strong><br />
textos, <strong>de</strong> outros e dos alunos, a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido que as<br />
palavras vaG assumindo, e como isso se constitui num processo vivo<br />
<strong>de</strong> criar e recriar as palavras. Para isto, muito po<strong>de</strong>m contribuir<br />
os textos literarios (os "po<strong>em</strong>inhas", sobretudo), as anedotas,<br />
os proverbios, as adivinha~oes, os anuncios, os trocadilhos ,<br />
as propagan<strong>da</strong>s,etc. 0 importante e que se inicie a crlan~a no jogo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir 0 carater dinamico e flexlvel <strong>da</strong>s palavras.<br />
59) 0 estudo <strong>da</strong> flexao dos verbos, ligado inevitavel -<br />
mente a questao <strong>da</strong> concor<strong>da</strong>ncia, po<strong>de</strong>ria ser feita atraves <strong>de</strong><br />
exerclci6s como 0 que sugerimos abaixo, a ~partir do seguinte tex<br />
to:<br />
/ .<br />
Ena uma v~z um m~~i~o qu~ tnop~~ou ~o an~o-~n~~.<br />
El~ ~aiu d~ ~ana ~o ~h~o b~m ma~hu~ado. Fi~ou za~gado<br />
e pegou a po~ta do anco-ini~ e <strong>de</strong>u um ~O ~om ela ~uma anvone<br />
gno~~a.<br />
Pa~~oa 0 t<strong>em</strong>po e 0 ah~o-ihi~ qU~hia ih <strong>em</strong>bona paha ou<br />
tno~ ~a~to~ do ~~u. F~z bOh~a e ~a<strong>da</strong>. Mai~ 6oh~a, e ~a<strong>da</strong> ai~<strong>da</strong>.<br />
O-€-hou<strong>em</strong> volta:
Ah, menino! Sotte-me, que eu atendo ao que VOQe qui-<br />
-6 elL •<br />
Vaquete dia <strong>em</strong> diante, 0 menino -6e diveILtia muito.Que-<br />
ILia urn e-6QoILILegadolL:Qharnava 0 anQo-Ini-6. Quenia bninQan <strong>de</strong> putan<br />
Qon<strong>da</strong>:Qhamava 0 anQo-Ini-6.<br />
"Vamos imaginar que essa histaria aconteceu corn dois<br />
meninos. Que modificac;oes voce faria no texto"?<br />
.•. .<br />
Num exerC1ClO como este a vantag<strong>em</strong> estava ern que a<br />
concor<strong>da</strong>ncia era vista <strong>de</strong> forma contextualiza<strong>da</strong> e global.<br />
Outra alternativa,.seria: "Reescreva a texto como ten<br />
do sido voce 0 ~enino que tropec;ou no arco-iris". Ou ain<strong>da</strong>, s<strong>em</strong><br />
pre atraves <strong>da</strong> discussao coletiva, se po<strong>de</strong>ria reescrever 0 texto<br />
usando os verbos no "presente histarico", 0 que levaria a<br />
uma natural mu<strong>da</strong>nc;a <strong>da</strong> flexao t<strong>em</strong>poral do verbo.<br />
Nesse aspecto, l<strong>em</strong>bramos Matos (1984 : 70) quando mo~<br />
tra como a insistencia no ensino <strong>de</strong> "vas, vosso, vossa, etc. e<br />
irrelevante , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0 ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> "aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> (lingUi~<br />
tica, social, cultural)".<br />
69) A especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> certas flexoes <strong>de</strong> genero po<strong>de</strong>ria<br />
cobrar mais relevancia se fosse r<strong>em</strong>eti<strong>da</strong> para a dimensao<br />
lexical. Formas como : genro-nora, padrinho-madrinha, carneiro-
ovelha, rei-rainha, etc., no uso <strong>da</strong> lIngua significam, al<strong>em</strong> <strong>da</strong><br />
simples diferen~a <strong>de</strong> categoria, acrescimos ao repertorio vocab~<br />
lar. Esse tratamento confirma 0 enfoque aplicativo que vimos ~<br />
do ao ensino <strong>da</strong> gramatica. Insistir na distin~ao <strong>de</strong> genero nas<br />
formas regulares, -inclusive pelo recurso <strong>da</strong> anteposi~ao do arti<br />
go, nao acrescenta muito ao que a crian~a naturalmente ja reali<br />
za.<br />
Quanto as flex6es <strong>de</strong> numero dos substantivose adjet!<br />
vos, acreditamos que 0 melhor exercicio seria crlar uma motiva-<br />
~ao para fazer variar a perspectiva <strong>de</strong> flexao do texto, como<br />
ex<strong>em</strong>plificamos atras.<br />
79 ) No tratamento dos diminutivos e aumentativos se<br />
<strong>de</strong>veriam levar <strong>em</strong> conta as utiliza~6es afetivas e conotativas<br />
<strong>de</strong>ssas flexoes. Isto requer aten~ao para as varia~6es dialetais<br />
e estillsticas que afloram <strong>em</strong> text os do dia-a-dia, e que evi<strong>de</strong>n<br />
ciam quanta <strong>de</strong>ssas flex6es distanciam-se <strong>da</strong> referencia a categQ<br />
cia dimensional dos seres.<br />
,<br />
Ems1~tese, vernos 0 tratamento <strong>da</strong> questao grarnatical<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> duas gran<strong>de</strong>s perspectivas inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />
A primeira, pontua 0 aspecto do conteudo.Em conseque~<br />
CIa, por urn lado, <strong>de</strong>s carta 0 estudo <strong>da</strong>s <strong>de</strong>nomina~6es,.classifica~oes<br />
e subdivis6es, ex<strong>em</strong>plifica<strong>da</strong>s nos manuais di<strong>da</strong>ticos. Por<br />
outro lado, prioriza as no~oes (s<strong>em</strong> as names, enfatizamos) que<br />
diretamente implicam habili<strong>da</strong><strong>de</strong> para compreeri<strong>de</strong>re produzir textos,<br />
orais e escritos, <strong>de</strong> tipos e fun~6es diferentes. Nao nos<br />
aparece relevante, para citar apenas urn ex<strong>em</strong>plo, apontar quan -<br />
tas letras e quantos fonernas entram na constitui~ao <strong>de</strong> <strong>de</strong>terrnina<strong>da</strong>s<br />
palavras. Concretamente, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> dirnensao aqui focaliza<br />
<strong>da</strong>.<br />
A segun<strong>da</strong> perspectiva, abarcando 0 aspecto rnetodologico,<br />
aponta para que nao se separe 0 estudo <strong>da</strong> gramatica <strong>da</strong><br />
ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produ~ao e compreensao <strong>de</strong> textos. Mas, pela prat!
ca, se vivencie·uma gramatica integra<strong>da</strong> na ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> verbal.Portanto,<br />
indicamos a supera~ao do ensino atomizado <strong>da</strong> frase e <strong>da</strong><br />
pa1a.vra iso1a<strong>da</strong>, <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente classificatorio e prescritivo."Uma<br />
lingua apresenta<strong>da</strong> como urn quebra-cabe~as morfo-sintactico ou<br />
como uma armadi1ha.ortografica ten<strong>de</strong>ra a ser urn ponto <strong>de</strong> chega<strong>da</strong><br />
ou uma barreira que se sa1ta,s<strong>em</strong> mesmo 1he prestar aten~ao"<br />
(Adragao, 1977 : 74).<br />
Concor<strong>da</strong>mos com Garcia (1977 : 238) quando diz: ..." a<br />
experiencia nos ensina que os <strong>de</strong>feitos mais graves nas re<strong>da</strong>~oes<br />
<strong>de</strong> a1unos do curso fun<strong>da</strong>mental - e ate superior - <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> menos<br />
dos <strong>de</strong>s1izes gramaticais que <strong>da</strong>s falhas <strong>de</strong> estrutura~ao <strong>da</strong> frase,<br />
<strong>da</strong> incoerencia <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias, <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> ausencia<br />
<strong>de</strong> rea1ce. A priori<strong>da</strong><strong>de</strong> e, portanto, para urn ensino-aprendizag<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> que a crian~a e leva<strong>da</strong> a produzir e compreen<strong>de</strong>r textos reais,<br />
passando <strong>da</strong> analise <strong>da</strong> lingua para 0 exercicio <strong>da</strong> produ~ao e<br />
recep~ao <strong>da</strong> lingua, <strong>em</strong> contextos <strong>de</strong> comunica~ao.
15 - OBSERVACOES FINAlS<br />
J<br />
Este trabalho t<strong>em</strong> a inten~ao <strong>de</strong> valer como crltlca e<br />
como proposta. Critica a forma como v<strong>em</strong> sendo processado 0 ensi<br />
no <strong>da</strong> lingua no 1 9 grau menor. Proposta, enquanto lan~a perspe~<br />
tivas <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> lingua, diferentes <strong>da</strong>quelas que prevale -<br />
c<strong>em</strong> na maioria dos livros di<strong>da</strong>ticos.<br />
Neste duplo sentido, 0 presente estudo vale tamb<strong>em</strong> cQ<br />
mo contribui~ao que, esperamos, possa junt8r-se, <strong>em</strong> alguns aspectos,<br />
a tantas outras que se alinham pelos mes~os interesses .<br />
Nao t<strong>em</strong> a pretensao <strong>de</strong> inovar, n<strong>em</strong>, tampouco acredita ser r<strong>em</strong>e<br />
dio para todos os males. Espera, apenas, po<strong>de</strong>r motivar outros<br />
estudos e outras praticas. Guar<strong>da</strong>, subjacentes, principios teoricos<br />
como respaldo <strong>da</strong> a~ao criadora e produtiva que preten<strong>de</strong><br />
gerar. E um trabalho prbjectivo. Revela a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>. ter<br />
escutado, aqui e ali, in<strong>da</strong>ga~oes e probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> professores e<br />
alunos. Respon<strong>de</strong> a um <strong>de</strong>sejo muito profundo <strong>de</strong> nao ser<strong>em</strong> totalmente<br />
vas tais in<strong>da</strong>ga~oes. Nao t<strong>em</strong> a ingenui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> querer dizer<br />
"a palavra"; quis apenas optar pela a~ao cooperativa <strong>da</strong> reflexao<br />
critica. S<strong>em</strong> trazer receitas ne~ respostas. Trazendo tal<br />
vez motivos, linhas, por on~e se pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> encontrar alternati -<br />
vas <strong>de</strong> me1horia. Traz, contudo, uma certeza : a <strong>de</strong> nao po<strong>de</strong>r calar,<br />
<strong>em</strong>bora tenha conseguido dizer muito menos do que pensou e<br />
quis dizer.<br />
Este trabalho nao conta apenas com fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />
investiga~ao bib1iogra£ica. De forma acumulativa, se foi e1aborando<br />
no convivio com escolas do 1 9 grau e se foi consoli<strong>da</strong>ndo<br />
no contacto com a experi~ncia pe<strong>da</strong>gogica <strong>de</strong> esco1as alternativas.<br />
Nesse sentido e tamb<strong>em</strong> um trabalho que se apoia na for~a<br />
<strong>de</strong> uma experiencia parcial, mas afetiva e refleti<strong>da</strong>. Se nao diz<strong>em</strong>os<br />
na<strong>da</strong> <strong>de</strong> novo, diz<strong>em</strong>os com a novi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> quis saber<br />
pelo estudo e pela pratica.
Em sintese, quis<strong>em</strong>os <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r 0 ensino <strong>de</strong> uma lingua<br />
real, contextualiza<strong>da</strong>, expressao <strong>de</strong> uma experlencia parti1ha<strong>da</strong><br />
socialmente ou cria<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma fantansiosa. Vma forma mais coe<br />
rente <strong>de</strong> <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />
lingua que a crian~a, natura1mente, vivencia.<br />
A consistencia dos pressupostos teoricos <strong>em</strong> que nos<br />
baseamos nos leva a crer que as gran<strong>de</strong>s diretrizes aqui <strong>de</strong>li -<br />
nea<strong>da</strong>s se po<strong>de</strong>riam aplicar al<strong>em</strong> do 19 grau menor. Afinal, os<br />
objetivos centrais do ensino <strong>da</strong> lIngua permanec<strong>em</strong>, como permanece<br />
a for~a comunicativa e acional <strong>da</strong> textuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> lIngua.
BELLUCCI, Maria Eugenia (1985): E Hora <strong>de</strong> Apren<strong>de</strong>r - 4a.<br />
S.Pau10, Scipione Autores Editores.<br />
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