Letras Digitais: 30 anos de teses e dissertações
Letras Digitais: 30 anos de teses e dissertações
Letras Digitais: 30 anos de teses e dissertações
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Letras</strong><br />
d i g i t a i s<br />
Teses e Dissertações originais em formato digital<br />
Convers a ao Pé d o Rád io:<br />
um estud o da interaçã<br />
o<br />
comunicador-ouvinte<br />
Antoni o Carlos do s Santos Xavier<br />
1995<br />
Programa <strong>de</strong><br />
Pós-Graduação<br />
em <strong>Letras</strong>
Ficha Técnica<br />
Coor<strong>de</strong>nação do Projeto <strong>Letras</strong> <strong>Digitais</strong><br />
Angela Paiva Dionísio e Anco Márcio Tenório Vieira (orgs.)<br />
Consultoria Técnica<br />
Augusto Noronha e Karla Vidal (Pipa Comunicação)<br />
Projeto Gráfico e Finalização<br />
Karla Vidal e Augusto Noronha (Pipa Comunicação)<br />
Digitalização dos Originais<br />
Maria Cândida Paiva Dionízio<br />
Revisão<br />
Angela Paiva Dionísio, Anco Márcio Tenório Vieira e Michelle Leonor da Silva<br />
Produção<br />
Pipa Comunicação<br />
Apoio Técnico<br />
Michelle Leonor da Silva e Rebeca Fernan<strong>de</strong>s Penha<br />
Apoio Institucional<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco<br />
Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Letras</strong>
Apresentação<br />
Criar um acervo é registrar uma história. Criar um acervo digital é dinamizar a<br />
história. É com essa perspectiva que a Coor<strong>de</strong>nação do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />
em <strong>Letras</strong>, representada nas pessoas dos professores Angela Paiva Dionisio e Anco<br />
Márcio Tenório Vieira, criou, em novembro <strong>de</strong> 2006, o projeto <strong>Letras</strong> <strong>Digitais</strong>: <strong>30</strong><br />
<strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>teses</strong> e dissertações. Esse projeto surgiu <strong>de</strong>ntre as ações comemorativas<br />
dos <strong>30</strong> <strong>anos</strong> do PG <strong>Letras</strong>, programa que teve início com cursos <strong>de</strong> Especialização<br />
em 1975. No segundo semestre <strong>de</strong> 1976, surgiu o Mestrado em Linguística e Teoria<br />
da Literatura, que obteve cre<strong>de</strong>nciamento em 1980. Os cursos <strong>de</strong> Doutorado em<br />
Linguística e Teoria da Literatura iniciaram, respectivamente, em 1990 e 1996. É<br />
relevante frisar que o Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Letras</strong> da UFPE, <strong>de</strong> longa<br />
tradição em pesquisa, foi o primeiro a ser instalado no Nor<strong>de</strong>ste e Norte do País. Em<br />
<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008, contava com 455 dissertações e 110 <strong>teses</strong> <strong>de</strong>fendidas.<br />
Diante <strong>de</strong> tão grandioso acervo e do fato <strong>de</strong> apenas as pesquisas <strong>de</strong>fendidas a partir<br />
<strong>de</strong> 2005 possuirem uma versão digital para consulta, os professores Angela Paiva<br />
Dionisio e Anco Márcio Tenório Vieira, autores do referido projeto, <strong>de</strong>cidiram<br />
oferecer para a comunida<strong>de</strong> acadêmica uma versão digital das <strong>teses</strong> e dissertações<br />
produzidas ao longo <strong>de</strong>stes <strong>30</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> história. Criaram, então, o projeto <strong>Letras</strong><br />
<strong>Digitais</strong>: <strong>30</strong> <strong>anos</strong> <strong>de</strong> <strong>teses</strong> e dissertações com os seguintes objetivos:<br />
(i) produzir um CD-ROM com as informações fundamentais das 469<br />
<strong>teses</strong>/dissertações <strong>de</strong>fendidas até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006 (autor, orientador, resumo,<br />
palavras-chave, data da <strong>de</strong>fesa, área <strong>de</strong> concentração e nível <strong>de</strong> titulação);
(ii) criar um Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, digitalizando<br />
todo o acervo originalmente constituído apenas da versão impressa;<br />
(iii) criar o hotsite <strong>Letras</strong> <strong>Digitais</strong>: Teses e Dissertações originais em formato<br />
digital, para publicização das <strong>teses</strong> e dissertações mediante autorização dos<br />
autores;<br />
(iv) transportar para mídia eletrônica off-line as <strong>teses</strong> e dissertações digitalizadas,<br />
para integrar o Acervo Digital <strong>de</strong> Teses e Dissertações do PG <strong>Letras</strong>, disponível<br />
para consulta na Sala <strong>de</strong> Leitura César Leal;<br />
(v) publicar em DVD coletâneas com as <strong>teses</strong> e dissertações digitalizados,<br />
organizadas por área concentração, por nível <strong>de</strong> titulação, por orientação etc.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento do projeto prevê ações <strong>de</strong> diversas or<strong>de</strong>ns, tais como:<br />
(i) <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>rnação das obras para procedimento alimentação automática <strong>de</strong><br />
escaner;<br />
(ii) tratamento técnico <strong>de</strong>scritivo em metadados;<br />
(iii) produção <strong>de</strong> Portable Document File (PDF);<br />
(iv) revisão do material digitalizado<br />
(v) procedimentos <strong>de</strong> reenca<strong>de</strong>rnação das obras após digitalização;<br />
(vi) diagramação e finalização dos e-books;<br />
(vii) backup dos e-books em mídia externa (CD-ROM e DVD);<br />
(viii) <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> rotinas para regularização e/ou cessão <strong>de</strong> registro <strong>de</strong><br />
Direitos Autorais.<br />
Os organizadores
Conver sa ao Pé do Rádio:<br />
um estud o da interação<br />
comunicador-ouvinte<br />
Antonio Carl os do s Santos<br />
Xavier<br />
1995<br />
Copyright © Antonio Carlos dos Santos Xavier , 1995<br />
Reservados todos os direitos <strong>de</strong>sta edição. Reprodução proibida, mesmo parcialmente,<br />
sem autorização expressa do autor.
ProO'rnm'l ,Ie·· p, "<br />
"" ., u > oS-"rndul1911o<br />
em <strong>Letras</strong> e LiDguistica<br />
UFPE<br />
UNIVERSIDADE<br />
FEDERAL DE PERNAMBUCO<br />
CENTRO DE ARTES E COMUNICAc;AO<br />
PROGRAMA DE POS-GRADUAc;XO EM<br />
LETRAS E LINGOISTICA<br />
CONVERSA AO PI: DO RADIO: UM ESTUDO DA<br />
INTERA(:AO COMUNICADOR - OUVINTE<br />
ORIENT ADOR: LUIZ ANTONIO MARCUSCHI<br />
CO-ORIENTADOR(A): DORIS DE ARRUDA CUNHA<br />
Apresentada ao Programa <strong>de</strong> P6s-Graduavao<br />
.<br />
em <strong>Letras</strong> e Linguistica da UFPE<br />
requltsito parcial para a obtenvao<br />
do Grau <strong>de</strong> Mestre em Linguistica<br />
como
Progrmna <strong>de</strong> Pas - GraduaQAo<br />
em LBtras e Linguistica<br />
U~r~
ciadiio ...<br />
Aos meus pais pelo investimento afetivo e financeiro que me transformaram em<br />
A Carmi e a Lucas pelo tempo que lhes furtei para realizar este projeto.<br />
A Luiz Antonio Marcuschi e a D6ris <strong>de</strong> Arruda Cunha pelas sabias orientafoes<br />
durante a construpio<br />
<strong>de</strong>sta dissertafiio.<br />
Aos professores e juncionarios da P6s-Graduafi'io em <strong>Letras</strong> e Lingilistica,<br />
especialmente as professoras Judith Hoffnagel, Marigia Viana, Kazue Barros por me<br />
<strong>de</strong>spertarem<br />
0 valor pelo estudo cientifico da Lingua.<br />
Ao comunicador Paulo Lopes e ao seu produtor Figeuiredo Jr. pelo acesso a<br />
informafoes fundamentais para a gravafiio do corpus,
"A interariio verbal e a realida<strong>de</strong> fundamental da lingua"<br />
BAKHTIN (1992:123)
Este trabalho analisa a relayao que se estabelece entre comunicador e ouvinte<br />
atraves do radio, tomando como estudo <strong>de</strong> caso urn dos program as <strong>de</strong> maior audiencia do<br />
Brasil: Show do Paulo Lopes. Por ser urn meio <strong>de</strong> comunicayao <strong>de</strong> facil penetrayao e<br />
acesso, 0 radio tern exercido uma importante fimyao social, seja como formador <strong>de</strong> opiniao<br />
ou funcionando como companheiro no cotidiano <strong>de</strong> seus ouvintes, constituindo-se assim urn<br />
em importante veiculo promotor <strong>de</strong> relayoes interpessoais. Partindo dos pressupostos<br />
te6ricos da Analise da Conversayao e Analise do Discurso, observamos como se processa<br />
esta interayao a partir <strong>de</strong> alguns elementos que marcam a oralida<strong>de</strong> da linguagem usada no<br />
radio, especificamente dois fenomenos presentes no texto: repetiy5es e marcadores<br />
conversaClOnalS e outros dois elementos que comp5em 0 discurso: dialogismo e<br />
envolvimento (a divisao em texto e discurso e meramente metodoI6gica). Pareceu-nos que<br />
comunicador e audiencia se envolvem e se integram mais participativamente na Interayao<br />
RadiofOnica, quando aquele direciona as suas ay5es para satisfazer as expectativas <strong>de</strong>ste,<br />
atraves da abordagem <strong>de</strong> t6picos comuns a sua rotina <strong>de</strong> vida. A utilizayao estrategica pelo<br />
comunicador <strong>de</strong> repetiyoes, marcadores conversaClOnalS, alinhamentos (footing)<br />
diversificados <strong>de</strong> falantes (animador, autor e principal), bem como os elementos dial6gicos e<br />
<strong>de</strong> envolvimento inerentes ao seu discurso mostram-se tambem como fundamentais para 0<br />
sucesso <strong>de</strong>ssa relayao. 0 comunicador parece estar sempre buscando tomar a Interac;ao<br />
RadiofOnica semelhante a conversayao, a fim <strong>de</strong>, com isso, consolidar <strong>de</strong>finitivamente a<br />
relayao com a audiencia.
1. ASPECTOS METODOLOGICOS<br />
1.1 Seleyao e Caracterizayao do Corpus<br />
1.2 Tratamento dos Dados<br />
1.3 Hip6<strong>teses</strong> <strong>de</strong> Trabalho<br />
2. ANALISE ETNOGRAFICA<br />
2.1 A Organizayao dos Quadros no Programa<br />
2.2 A Estrutura <strong>de</strong> Participayao e Produyao<br />
a) Ouvinte En<strong>de</strong>reyado<br />
b) Ouvinte nao-En<strong>de</strong>reyado<br />
c) Audiencia<br />
d) Falante Principal<br />
e) Falante Animador<br />
t) Falante Autor<br />
3. CONCEITO DE INTERACAO VERBAL<br />
3.1 0 Conceito <strong>de</strong> Interayao<br />
3. 1.1 Interayao Unilateral<br />
3.1.2 Interayao Bilateral
4. ELEMENTOS DO TEXTO E DO DISCURSO<br />
4.1 Elementos do Texto<br />
4.1.1 A Repetiyao<br />
a) As auto-repetiyoes com funyoes textuais<br />
b) As auto e hetero-repetiyoes com funyoes discursivas<br />
4.1.2 Os Marcadores Conversacionais<br />
a) Enunciayao Amistosa<br />
b) Enunciayao Publicitaria<br />
4.2 Elementos do Discurso<br />
4.2.1 Dialogismo<br />
4.2.2 Envolvimento<br />
a) Auto-Envolvimento<br />
b) Envolvimento do Falante como 0 Ouvinte<br />
c) Envolvimento do Falante com 0 Assunto<br />
96<br />
96<br />
107<br />
107<br />
107<br />
109<br />
7 ANEXOS<br />
7.1 Sistema <strong>de</strong> Transcriyao<br />
7.2 Transcriyao do Corpus<br />
122<br />
122<br />
124
Este trabalho tern por objetivo analisar a relayao que se estabelece entre 0<br />
comunicador<br />
<strong>de</strong> radio e seus ouvintes em condiyoes naturais <strong>de</strong> reCepyaO em programas <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong> audiencia, tendo em vista que este e urn dos veiculos <strong>de</strong> comunicayao <strong>de</strong> massa<br />
eletr6nicos que mais tern se <strong>de</strong>stacado no seculo xx.<br />
o nidio tern se constituido em urn importante veiculo <strong>de</strong> promoyao <strong>de</strong><br />
relayoes interpessoais, contribuindo assim para urn maior intercambio entre os homens,<br />
principalmente para aqueles que se aglomeram nos gran<strong>de</strong>s bolsoes populacionais das<br />
periferias urbanas, muitas vezes oriundos <strong>de</strong> regioes rurais <strong>de</strong> outros Estados brasileiros,<br />
que <strong>de</strong>ixam para tras terra, familia, valores eticos e morais, para, plenos <strong>de</strong> esperanya,<br />
encontrarem<br />
melhores condiyoes <strong>de</strong> vida. Solitarios, acham no radio uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
companhia e entretenimento<br />
baratos e ao mesmo tempo muito acessivel do ponto <strong>de</strong> vista<br />
da percepyao, pois nao Ihes exige, nem ao menos, que sejam alfabetizados para utiliza-Io.<br />
Isto acontece frequentemente<br />
com os imigrantes nor<strong>de</strong>stinos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sao Paulo.<br />
E inegavel 0 fato da onipresenya do radio, enquanto veiculo <strong>de</strong> comunica
e revistas, ocupando cerca <strong>de</strong> 40% da preferencia no horario das 6:00 as 18:00 horas,<br />
segundo dados <strong>de</strong> pesquisa DATAFOLHA (maio <strong>de</strong> 1995):<br />
Audiencia media diaria entre os principais veiculos <strong>de</strong> comunica
concess5es <strong>de</strong> emissoras <strong>de</strong> nidio e TV, preferencialmente em suas respectivas regi5esredutos<br />
eleitorais.<br />
o criterio politico pelo qual os parlamentares tern adquirido concess5es <strong>de</strong><br />
radiofonia no Brasil ofereceu condiy5es para 0 surgimento <strong>de</strong> urn sem-numero <strong>de</strong><br />
"profissionais" <strong>de</strong> radio, basicamente comunicadores, comprometidos politicamente com os<br />
seus patr5es-politicos, fazendo com que 0 radio e, consequentemente, 0 comunicador<br />
per<strong>de</strong>ssem 0 seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong> e assumissem uma funyao meramente <strong>de</strong><br />
instrumento propagador da "boa" imagem do parlamentar-concessionario, induzindo e<br />
conduzindo ouvintes-eleitores <strong>de</strong>savisados a elegerem estes ou aqueles candidatos,<br />
reforyados por certas praticas assistencialistas, pr6prias dos politicos sem propostas e<br />
dispostos a chegarem ou manterem-se<br />
no po<strong>de</strong>r a qualquer custo.<br />
o Brasil, pOlS, tern se apresentado como urn excelente espafo para 0<br />
florescimento <strong>de</strong> politicos-comunicadores, que apresentam seus pr6prios programas em<br />
suas respectivas emissoras para permanecerem sempre em evi<strong>de</strong>ncia, ou comunicadorespoliticos,<br />
que estao intimamente ligados ou <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> outros politicos profissionais,<br />
ambos possuindo uma caracteristica em comum, 0 populismo.<br />
Por essas e outras raz5es, conquistam a simpatia do ouvinte-eleitor, tornamse<br />
respeitados, queridos, amados, verda<strong>de</strong>iros idolos, principalmente para aqueles ouvintes<br />
mais simples e ingenuos que tern no radio, as vezes, seu unico campanheiro nas<br />
megal6poles distantes <strong>de</strong> sua terra natal.<br />
Sem duvida, 0 po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> influencia que esses comunicadores exercem sobre<br />
tais ouvintes e algo assustador. A revista Meio & Mensagem, por exemplo, em sua ediyao<br />
<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1993 publicou reportagem em que apresentava 0 comunicador da Radio Globo<br />
<strong>de</strong> Sao Paulo, Paulo Lopes - sujeito <strong>de</strong> investigayao <strong>de</strong>ssa pesquisa - como urn dos<br />
responsaveis pela vit6ria do entao candidato Paulo Maluff, do PPR paulista, a prefeitura<br />
daquela capital no pleito <strong>de</strong> 1992, quando as pesquisas <strong>de</strong> opiniao apontavam 0 senador do<br />
PT, Eduardo Suplicy, como 0 favorito ao cargo dias antes da eleiyao. 0 comunicador<br />
tambem fora indicado pela revista como principal responsavel pela maior votayao dada a urn
candidato a vereador naquela cida<strong>de</strong>, 0 qual "coinci<strong>de</strong>ntemente" era urn dos reporteres do<br />
seu programa "Show do Paulo Lopes".<br />
Embora as questoes da i<strong>de</strong>ologia que permeia 0 veiculo e da influencia que<br />
<strong>de</strong>terminados comunicadores exercem sobre a sua audiencia sejam fontes <strong>de</strong> pesquisa<br />
bastante ricas, nao nos <strong>de</strong>bruc;aremos sobre elas, ate porque ja houve muitas analises que<br />
enfocaram estes aspectos. Voltaremos a nossa atenc;ao especificamente para 0<br />
funcionamento e estruturac;ao da relac;ao entre estes dois interactantes que nao se veem,<br />
mas que parecem se enten<strong>de</strong>rem sem gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s.<br />
Consi<strong>de</strong>rando que a maioria da populac;ao tern usado 0 veiculo ingenuamente<br />
e, por conseguinte, tern sido vitima <strong>de</strong>sta perspectiva eleitoreira <strong>de</strong> fazer radiofonia, mas<br />
que, em contrapartida, tern tambem encontrado no radio urn oportuno "companheiro" para<br />
as horas <strong>de</strong> solidao no cotidiano da vida, buscamos, nesta pesquisa, basicamente <strong>de</strong>screver e<br />
analisar como se instaura a relac;ao comunicativa entre os dois sujeitos, a saber,<br />
comunicador e ouvinte <strong>de</strong> radio, partes essenciais do evento, mediados pelas ondas<br />
radioronicas.<br />
Sabe-se que na relac;ao que se da entre estes interactantes e estabelecido 0<br />
processo Produr;iio x Recepr;iio em· que 0 produtor, 0 comunicador, apresenta-se<br />
privilegiado, <strong>de</strong>vido as proprieda<strong>de</strong>s inerentes ao proprio canal pelo qual os participantes se<br />
relacionam. Isso, <strong>de</strong> urn certo modo, franquia, outorga a palavra, ao comunicador que <strong>de</strong>la<br />
faz uso conforme the convem, aflorando a sensibilida<strong>de</strong> e ativando a imaginac;ao do ouvinte,<br />
entre outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso. Este, por outro lado, tambem nao esta preso a nada<br />
materialmente concreto nem ainda a qualquer principio ou regra etica ou moral que lhe<br />
impec;am <strong>de</strong> romper com a interac;ao, realizando para isso apenas urn simples movimento em<br />
urn dos botoes do seu aparelho receptor.<br />
Nesta interac;ao nao ha contratos previamente estabelecidos entre os<br />
participantes, embora seja urn evento que ja disponha <strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong> realizac;ao e<br />
participac;ao conhecidas pela gran<strong>de</strong> maioria do universo <strong>de</strong> virtuais ouvintes.
Afigura-se, portanto, relevante estudar este tipo especifico <strong>de</strong> interayao<br />
verbal, ja que ainda nao ha estudos cientificos realizados sobre este tipo <strong>de</strong> evento<br />
interativo, principalmente com a perspectiva lingUistica sob 0 recorte da Analise da<br />
Conversayao e da Analise do Discurso.<br />
A opyao pelas teorias da Analise da Conversayao e dos pressupostos da<br />
Analise do Discurso como arcabouyos teoricos fundamentais para a investigayao a ser aqui<br />
feita <strong>de</strong>ve-se it. importancia <strong>de</strong>stes por servirem como instrumento <strong>de</strong> verificayao e<br />
observayao anaHtico-<strong>de</strong>scritiva para qualquer fen6meno interativo, inclusive a Interayao<br />
Radioffinica (doravante IR).<br />
Embora este estudo esteja centralizado na estrutura do discurso que se da<br />
pela interayao entre os sujeitos, algumas reflex6es a cerca dos topicos que lhe subjaz<br />
tambem serao efetuadas, uma vez que forma e conteudo, nao sac partes estanques, mas sac<br />
faces <strong>de</strong> uma mesma moeda.<br />
Partimos da convicyao <strong>de</strong> que a analise da InterayaO Radioffinica e pertinente<br />
e relevante para <strong>de</strong>svelar alguns dos aspectos estrategicos referentes ao texto e ao discurso<br />
que dao suporte ao fazer-linguistico <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados comunicadores <strong>de</strong> programas<br />
populares e os confirmam com picos <strong>de</strong> indices <strong>de</strong> audiencia.<br />
Na observayaO do funcionamento da InterayaO Radioffinica, uma vez que<br />
pela sua propria natureza 0 radio nao oferece possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retorno responsive imediato,<br />
serao analisados alguns elementos que marcadamente comp6em os enunciados do texto tais<br />
como as repetiy6es e os marcadores conversacionais bem como mecanismos ligados ao<br />
discurso enquanto tal, entre eles 0 dialogismo eo envolvimento.<br />
o objeto empirico que servira como fonte <strong>de</strong> manifestayao viva do tipo <strong>de</strong><br />
interayaO em estudo sera 0 programa <strong>de</strong> radio "Show do Paulo Lopes", veiculado pela<br />
Radio Globo na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sao Paulo, cuja caracterizayao completa, bem como 0 porque<br />
<strong>de</strong>ste ser 0 programa escolhido para servir <strong>de</strong> amostragem serao <strong>de</strong>vidamente apresentadas<br />
no capitulo a seguir.
Esta dissertayao e constituida <strong>de</strong> CInCOcapitulos. No capitulo 1, esHio<br />
colocados os aspectos metodol6gicos que serao utilizados. Primeiro, caracteriza-se a<br />
natureza dos dados e exp5em-se os criterios <strong>de</strong> seleyao do corpus, quando, on<strong>de</strong> e como ele<br />
foi coletado. Em seguida, colocam-se<br />
para 0 tratamento dos dados.<br />
quais sac as hipo<strong>teses</strong> <strong>de</strong> trabalho e 0 procedimento<br />
o capitulo 2 <strong>de</strong>screve etnograficamente 0 evento, focalizando as suas<br />
divers as partes. Mostram-se as diversos quadros compostos por t6picos os quais estao sob<br />
a gerencia do comunicador que os distribui ao longo do programa. Ainda sao apresentados<br />
neste capitulo os varios alinhamentos <strong>de</strong> papeis <strong>de</strong> falante e ouvinte <strong>de</strong> acordo com as<br />
estruturas <strong>de</strong> participayao e <strong>de</strong> produyao utilizados.<br />
o capitulo 3 evi<strong>de</strong>ncia qual e a <strong>de</strong>finiyao <strong>de</strong> interayao sobre a qual 0 trabalho<br />
se baseia, a saber, a postulado por van Dijk. Ela se apresenta suficientemente ampla e<br />
compativel com as teorias <strong>de</strong> analise que norteiam este trabalho.<br />
o capitulo 4 analisa elementos do texto (repetiyao e marcadores<br />
conversacionais) e do discurso (dialogismo e envolvimento) com suas respectivas bases<br />
te6ricas e os sugere estrategicos para a rnanutenyao dos t6picos e para amarrayao da interrelayao<br />
dos interactantes.<br />
As principais conclus5es da dissertayao estao dispotas no capitulo 5. Os<br />
anexos estao distribuidos da seguinte forma: Anexo I: Sistema <strong>de</strong> transcriyao<br />
citayao e Anexo II: Transcriyao do corpus utilizado nas analises.<br />
e Formas <strong>de</strong>
Como a pesquisa, em termos gerais, se msere no ambito da Analise da<br />
Conversayao, tendo tambem como suporte te6rico alguns conceitos da Analise do Discurso,<br />
e fundamental consi<strong>de</strong>rar 0 contexto <strong>de</strong> produyao e a situayao concreta <strong>de</strong> sua realizayao,<br />
sobretudo, para que haja uma interpretayao a<strong>de</strong>quada do analista, quando da analise dos<br />
dados. Por isso mesmo, 0 corpus<br />
sera observado em seu contexto <strong>de</strong> produyao e recepyao.<br />
o corpus foi coletado a partir do local <strong>de</strong> recepyao. No nosso caso, foi feito<br />
<strong>de</strong> uma resi<strong>de</strong>ncia na pr6pria cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sao Paulo, gravado em fitas cassetes.<br />
Por ser urn meio <strong>de</strong> comunicayao <strong>de</strong> massa, 0 radio oferece a vantagem <strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong>r ter a sua programayao registrada por qualquer interessado sem que seja necessario<br />
uma previa autorizayao para tal. Todavia, procuramos, oportunamente, contato com 0<br />
comunicador sujeito da nossa investigayao, em fevereiro <strong>de</strong> 1994, radialista Paulo Lopes,<br />
47 <strong>anos</strong>, 27 dos quais <strong>de</strong>dicados ao radio brasileiro, e lhe informamos a respeito, ocasiao<br />
em que realizamos uma breve entrevista <strong>de</strong> 20 minutos para checarmos informayoes basicas<br />
tais como, por exemplo, se algumas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m lingUistico-interacionais seriam ou<br />
nao tomadas conscientemente, se ele procuraria <strong>de</strong> alguma forma manter uma conversayao<br />
com a audiencia ao lhe dirigir a fala, se 0 sucesso do programa estaria baseado<br />
exclusivamente no talento do comunicador, na estrutura e nos quadros do programa ou, ate<br />
mesmo, se seria resultado <strong>de</strong> uma combinayao <strong>de</strong> ambos. Em outras palavras, buscavamos<br />
ouvir do pr6prio apresentador a sua visao do evento que ancora e inclusive uma possivel<br />
explicayao para a tao boa receptivida<strong>de</strong> da sua ayao discursiva junto ao publico. Entre<br />
outras coisas ele nos revelou que procurava fazer urn "radio muito coloquial, muito<br />
intimista". Nao costumava usar voz impostada, mas a empregava com tom natural a fim <strong>de</strong><br />
dar a impressao <strong>de</strong> estar ao lado da pessoa que 0 estivesse ouvindo.
o comunicador afirmou tambem que procurava se envolver com 0 ouvinte<br />
para ter possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordar assuntos que nao se abordam frequentemente em<br />
programas radiofOnicos; buscava ser urn interlocutor com 0 qual 0 ouvinte conseguisse<br />
fazer uma troca, abrir-se com ele. Assegurou ainda que falava "a linguagem do povo"<br />
porque veio <strong>de</strong>le e porque costuma valoriza-Io, para, em troca, receber prestigio, audiencia,<br />
carinho, etc. Enfim, 0 comunicador chegou a confessar ser ele, isto e, seu talento e carisma<br />
pessoais, 0 instrumento fundamental para a sucesso do programa, embora tenha tenuamente<br />
admitido a importancia da estrutura organizacional do programa e 0 necessaria subsidio<br />
tecnico fornecido pela emissora.<br />
o program a "Show do Paulo Lopes" (doravante PSPL), veiculado, entre<br />
8:00 e 12:00 horas da manha, <strong>de</strong> segunda-feira a sabado, ha mais <strong>de</strong> 7 (sete) <strong>anos</strong><br />
exclusivamente pela Radio Globo AM <strong>de</strong> Sao Paulo - emissora pertencente as<br />
Organizayoes Globo, foi escolhido para fazer parte <strong>de</strong>sta pesquisa, ap6s a radio-escuta 1<br />
atenta e seletiva <strong>de</strong> varios outros programas com estruturas e formas diversas. A escolha<br />
recaiu sobre este programa fundamentalmente por ser <strong>de</strong> carater ecletico-popular, isto e,<br />
conseguir amalgamar uma serie <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> programas <strong>de</strong>ntro das suas divers as<br />
sequencias e tambem por que este programa possui urn alto e constante indice <strong>de</strong> audiencia<br />
em termos <strong>de</strong> territorio brasileiro. 0 "Show do Paulo Lopes" vem mantendo nos ultimos<br />
cinco <strong>anos</strong> a li<strong>de</strong>ranya absoluta <strong>de</strong> audiencia na capital paulista, consi<strong>de</strong>rando todas as<br />
emissoras <strong>de</strong> radio da regiao metropolitana <strong>de</strong> Sao Paulo. Segundo dados do mop, este<br />
programa consegue reunir 0 maior publico <strong>de</strong> radio-ouvinte do Brasil, em proporyao a<br />
populayao <strong>de</strong> Sao Paulo, a maior cida<strong>de</strong> do Brasil, com cerca <strong>de</strong> quatro milhoes <strong>de</strong> ouvintes<br />
potenciais, constituindo, por isso, urn dos maiores fen6menos <strong>de</strong> audiencia na radiofonia<br />
brasileira atual.<br />
Pelo seu ecletismo, bem como por possuir imitadores em todo 0 Brasil, a<br />
PSPL apresenta uma gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> servir como referencial generalizador dos<br />
resultados obtidos neste trabalho. Tal heterogeneida<strong>de</strong> a torna bastante representativo do<br />
UnIverso <strong>de</strong> tipos e formatos <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> radios, sobretudo do ponto <strong>de</strong> vista da<br />
lFull
linguagem e das estrategias <strong>de</strong> catalizayao da atenyao da audiencia. Este programa reune<br />
uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registros e padroes <strong>de</strong> linguagem acompanhados por mecanismos<br />
interacionais, em razao da diversificayao dos seus quadros e participantes e da maneira<br />
propria <strong>de</strong> atingir as diferentes pessoas as quais, durante algumas horas, SaG postas na<br />
condiyao <strong>de</strong> ouvinte <strong>de</strong> urn mesmo comunicador e igual estrutura <strong>de</strong> programayao.<br />
Portanto, a estrutura ecletica e os altos indices <strong>de</strong> audiencia justificam urn<br />
estudo mais <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong>sse programa e, sobretudo, da interayao que se estabelece nele<br />
viabilizado pelas ondas radiofrequencia. Esta pesquisa nao preten<strong>de</strong> dar conta <strong>de</strong> todos os<br />
fatores que expliquem a razao do sucesso do programa especificamente, mas, sob 0 recorte<br />
da Linguistica, buscani explicitar como a interayao por ele instaurada se da e quais os<br />
mecanismos a ela relacionados contribuem mais efetivamente para a manutenyao do sucesso<br />
<strong>de</strong>sta relayao <strong>de</strong> parceria comunicador - ouvinte.<br />
Apos urn periodo <strong>de</strong> observayao e anotayoes previas a respeito do evento em<br />
analise, proce<strong>de</strong>mos a coleta dos dados randomicamente, uma vez que a estrutura dos<br />
quadros do programa se repete <strong>de</strong> segunda a sexta-feira, havendo apenas variayao no<br />
sabado quando e previamente gravado. Por isso, escolhemos urn dia da semana e realizamos<br />
a gravayao seletivamente, isto e, 0 programa passou por urn primeiro processo <strong>de</strong> ediyao<br />
simulUlneo a gravayao, haja vista que interessaria especificamente a pesquisa os momentos<br />
discursivos do comunicador ao se dirigir a audiencia, ou seja, aquela massa <strong>de</strong> ouvintes<br />
potenciais que esta fora do estudio da emissora - espayo fisico da enunciayao - e ao ouvinte<br />
que participa concretamente da comunicayao, seja falando <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do proprio estudio, par<br />
telefone ou ate mesmo por carta.<br />
Dessa forma, musicas sem vinculayao explicita com a fala do comunicador,<br />
informayoes transmitidas por terceiros, blocos comerciais gravados por outros locutores,<br />
bem como todos os 'hridos" que nao contribuiram efetivamente para a interayao nao foram<br />
gravadas.<br />
compactados<br />
o programa tern aproximadamente quatro horas <strong>de</strong> durayao, 0 qual foi<br />
em duas horas <strong>de</strong> gravayao. 0 tempo <strong>de</strong> gravayao dos dados foi consi<strong>de</strong>rado
suficiente para a pesquisa, <strong>de</strong> acordo com os seus pontos <strong>de</strong> interesse. Portanto, foram<br />
transcritas duas horas do programa "Show do Paulo Lopes", sofrendo, com a transcriyao,<br />
urn segundo processo <strong>de</strong> ediyao.<br />
Nesta segunda ediyao, [oram suprimidas falas longas dos entrevistados que<br />
se pronunciaram durante 0 evento, assim como [oram retirados comerciais ja transcritos<br />
anteriormente e vinhetas que nao interagiam diretamente com 0 comunicador.<br />
No que se refere a metodologia <strong>de</strong> analise, submetemos os dados a duas<br />
categorias anaHticas: a Analise da Conversayao e a Analise do Discurso, com 0 suporte <strong>de</strong><br />
alguns conceitos da Etnografia da Comunicayao para abarcarmos os objetivos aos quais nos<br />
propomos a atingir com este trabalho. Salientamos ainda que a analise qualitativa predomina<br />
em toda a investigayao, ja que os dados sofrem urn tratamento fundamentalmente<br />
interpretativo.<br />
Com isso, ressaltamos que os dados nao serao quantificados.<br />
Sendo aSSlm, este estudo se concentrani em algumas manifestayoes do<br />
corpus, sobretudo aquelas relacionadas' com 0 discurso do comunicador quando direciona<br />
suas ayoes lingiiisticas a audiencia cujo retorno responsive nao e imediato.<br />
Esta investigayao tern se <strong>de</strong>senvolvido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua genese, no sentido <strong>de</strong><br />
respon<strong>de</strong>r as seguintes indagayoes: como se processa a relayao entre dois interactantes<br />
mediados pelo radio, isto e, atraves das ondas <strong>de</strong> radiofrequencia ? Quais os elementos<br />
lingilisticos ligados ao texto e ao discurso que contribuem mais efetivantemente para a<br />
implementayao, manutenyao e sucesso <strong>de</strong>sta interayao ?
Orientados por esta questao, partimos para a realizayao <strong>de</strong>sta pesqulsa<br />
apoiados na seguinte hip6tese geral que se subdivi<strong>de</strong> em duas outras:<br />
a) Hi uma tentativa do comunicador <strong>de</strong> tomar a interac;ao radiofOnica muito<br />
semelhante a urn evento <strong>de</strong> fala conversacional face a face, tanto na forma <strong>de</strong> estruturayao<br />
da linguagem quanta nos t6picos abordados durante 0 evento.<br />
a. 1) Entre os varios elementos linguisticos textuais e discursivos existentes na<br />
lingua, as repetiyoes e os marcadores conversacionais, assim como 0 dialogismo e 0<br />
envolvimento sac utilizados estrategicamente pelo comunicador para indicar a similarida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ambos os tipos interacionais.<br />
a.2) Os t6picos abordados em urn evento interacional radiofOnico <strong>de</strong>vem estar<br />
relacionados aos interesses imediatos da audiencia e fundamentados em suas ativida<strong>de</strong>s<br />
cotidianas para conseguir a sua a<strong>de</strong>sao a interayao.
2. ANALISE ETNOGAAFICA DA INTERAC;Ao RADIOFONICA<br />
Em fun~ao da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer uma <strong>de</strong>scri~ao e caracteriza~ao ampla e<br />
geral da intera~ao em estudo, bem como introduzir conceitos relevantes para a<br />
compreensao das <strong>de</strong>mais partes que constituem esta pesquisa, julgamos importante inserir<br />
no trabalho consi<strong>de</strong>ra~oes<br />
sobre a organiza~ao etnografica do evento.<br />
o programa <strong>de</strong> radio que nos serviu <strong>de</strong> corpus para analise, Programa Show<br />
do Paulo Lopes (PSPL) apresenta clara estrutura~ao e organiza~ao dos diversos quadros<br />
que 0 compoem. Segue rigorosamente urn roteiro pre-estabelecido pela equipe <strong>de</strong> produyao<br />
do programa que, juntamente com 0 comunicador, 0 criou e 0 executa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987, ana em<br />
que 0 PSPL estreou na Radio Globo <strong>de</strong> Sao Paulo. Tal roteiro esquernatico e fundamentado<br />
nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rotinas da maioria das pessoas que formam a sua audiencia, ou seja, 0<br />
programa tern 0 seu esbo~o seqUencial <strong>de</strong> execw;:ao montado a partir dos Mbitos, costumes<br />
e obriga~5es .adotados diariamente pela majoritaria parcela <strong>de</strong> ouvintes que prestigia<br />
programas <strong>de</strong> radio com este formato especifico, ou seja, ec1etico-popular. Assim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 0<br />
horario em que se inicia 0 programa com a escolha estrategica da forma e do conteudo com<br />
os quais se <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> abri-Io, ate 0 horario e quadro selecionados para encerra-Io, ha uma<br />
evi<strong>de</strong>nte ten<strong>de</strong>ncia para satisfazer a certas necessida<strong>de</strong>s afetivas, psicol6gicas, espirituais e<br />
ate fisicas da audiencia .<br />
Ha uma explicita "obsessao" da equipe <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong> qualquer programa<br />
<strong>de</strong> emissora comercial por manter uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> radios ligados a sua sintonia,<br />
pois hi muito dinheiro, prestigio e po<strong>de</strong>r em jogo. Por isso, cada minuto <strong>de</strong> programa~ao e<br />
super disputado pelas emissoras concorrentes que se utilizam dos mais variados expedientes<br />
para alcanyarem seus objetivos economico-sociais.
Sem duvida, e fundamental ter conhecimento da industria cultural <strong>de</strong>stes<br />
ouvintes, <strong>de</strong>scobrir-lhes<br />
os gostos, <strong>de</strong>sgostos, vonta<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos, para, <strong>de</strong>ntro do possivel,<br />
satisfaze-lo e assim conquista-lo integralmente. Esta e, portanto, uma tarefa <strong>de</strong>safiadora<br />
para os produtores e realizadores do programa, pois e necessaria muita sensibilida<strong>de</strong> na<br />
composi
especializados. Dessa forma, a emissora conseguiu montar urn perfil <strong>de</strong> ouvinte e po<strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lar 0 programa <strong>de</strong> acordo com as preferencias da audiencia .<br />
Quando do momenta<br />
da grava
Perceberemos ainda que ao longo <strong>de</strong> todo 0 programa 0 comunicador<br />
buscani i<strong>de</strong>ntificar-se com esses habitos cotidi<strong>anos</strong> dos seus interlocutores, transformando<br />
em seus os interesses dos ouvintes, falando e fazendo 0 que lhes interessa, 0 que lhes possa<br />
pren<strong>de</strong>r a aten
comunicador conversa, via telefone, com uma serie <strong>de</strong> ouvintes que alem <strong>de</strong> participarem<br />
efetivamente do quadro, aproveitam a oportunida<strong>de</strong> para dialogar com 0 comunicador e<br />
tambem fazer referencias a parentes e amigos.<br />
Ex. 04: 95-98 e 125-126.<br />
I.PL al6 I al6 I born dia I<br />
2.01 «por telefone» born dia Paulo I<br />
3.PL quem ta falando I<br />
5.01 Helena \ [...]<br />
6.PL e oferece pni quem /<br />
7.01 olha I eu vo oferecer pni minha sobrinha 1[ •••] ela ouve voce todos os dias \<br />
Atraves <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos dos pr6prios ouvintes, parece ser bastante dificil<br />
participar <strong>de</strong>ste quadro, pois a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interagir diretamente com 0 seu idolocomunicador,<br />
assim como falar ao vivo <strong>de</strong>ntro do programa ouvido por milhares <strong>de</strong><br />
pessoas, principalmente por aquelas que fazem parte da sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> rela
4.0FF<br />
5.PL<br />
6.<br />
7.<br />
8.<br />
9.El<br />
1O.PL<br />
11.<br />
12.<br />
13.<br />
sobre uma viela que conta como asfaltada mas nao//num ta ausfaltada ne /<br />
entao ela pediu pr
criminosos. Isso, na verda<strong>de</strong>, vem a se transformar em urn autentico culto aos aspectos<br />
grotescos do ser humano, as suas tragedias, adornados por urn sensacionalismo gratuito.<br />
A explorayao e exposiyao do grotesco promovidas par programas <strong>de</strong>sta<br />
natureza, dao-nos a impressao <strong>de</strong> que seus espectadores sentem urn estranho prazer em<br />
assistir ao drama do outro, isto e, possuem uma insana curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer a miseria<br />
alheia. Referindo-se ao comportamento da cultura <strong>de</strong> massa do Brasil, Muniz Sodre<br />
conceitua 0 grotesco em A Comunicac;ao do Grotesco (1988:.38-39) da seguinte forma: "e<br />
o fascinio pelo extraordinario, pela aberrac;ao, pelo sobrenatural, fabuloso, macabro,<br />
<strong>de</strong>mente - enfim, tudo que se localiza numa or<strong>de</strong>m inacessivel it "normalida<strong>de</strong>" humana -<br />
encaixa-se na estrutura do grotesco." Sodre afirma tambem que 0 grotesco caracteriza 0<br />
ethos da cultura <strong>de</strong> massa brasileira que se evi<strong>de</strong>ncia em programas <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s.<br />
Completa, dizendo que esse grotesco estaria a servwo do Sistema e preten<strong>de</strong> ser a<br />
compensayao para a angustia do cosmopolita.<br />
Veja a seguir urn trecho da narrativa da morte <strong>de</strong> urn viciado e traficante <strong>de</strong><br />
cocaina que, para nao ser pego em flagrante pela policia, engole os papelotes da droga 0<br />
qual ilustra a explorayao do grotesco.<br />
Ex. 07: 680-693.<br />
l.PL ele morreu / DUAS hora <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter engolido os papelotes <strong>de</strong> cocaina \ (3)<br />
2. vejam bem voces / 0 que que a droga po<strong>de</strong> faze \<br />
3. a <strong>de</strong>sGRA(:A que e esse negocio <strong>de</strong> DROga \ (3)<br />
4. engoliu os papelotes <strong>de</strong> cocaina / aquilo rebentou I:i <strong>de</strong>nto / ne /<br />
5. e come~ou a queima /<br />
6. a cocaina come~ou a <strong>de</strong>struir estomago / figado/ rim/<br />
7. tudo//aquela morte horrivel / os OLHOS saltaram pra FOra /<br />
8. a boca espuMA VA / 0 ouvido / saia ate FOgo do ouvido /<br />
9. e ele morreu \ (5)<br />
10. morreu tentando escapa da droga \ (3)<br />
11. morreu com a DROGA /<br />
12. no estomago / e na barriga \ ...<br />
d) Classificados do Paulo Lopes - aqui os ouvintes ligam para 0 programa, falam com 0<br />
comunicador, mas dirigem sua mensagem a urn outro ouvinte que supostamente estaria<br />
ouvindo 0 PSPL naquele momento. 0 curioso e que neste caso 0 programa e utilizado<br />
como canal <strong>de</strong> comunicayao <strong>de</strong> um ouvinte para outro e nao <strong>de</strong> urn comunicador para urn<br />
ouvinte como e <strong>de</strong> praxe. Nesta sequencia, 0 veiculo funciona como uma especie <strong>de</strong>
telefone publico, sobre 0 pressuposto <strong>de</strong> que 0 ouvinte en<strong>de</strong>reyado esteja sitonizado no<br />
programa naquele exato momenta<br />
em que consegue enviar 0 seu recado. Como nem todos<br />
que <strong>de</strong>sejam mandar suas mensagens po<strong>de</strong>m faze-Io ao vivo, <strong>de</strong>ixam-nas para que 0 pr6prio<br />
apresentador as Ieia, passando esse entao a cumprir a funyao <strong>de</strong> urn falante-animador, isto<br />
e, simples intermediario da mensagem (explicitaremos este e outros tipos <strong>de</strong> falantes em urn<br />
outro momento).<br />
o interessante e que os ouvintes parecem gostar <strong>de</strong>ssa sequencia entre outras<br />
razoes porque, entrincheirados na ausencia <strong>de</strong> imagem, tern possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer abertas<br />
<strong>de</strong>clarayoes <strong>de</strong> amor ou <strong>de</strong> 6dio para seus respectivos en<strong>de</strong>reyados. 0 radio, enquanto<br />
veiculo dotado <strong>de</strong> uma estrutura peculiar, perrnite ao participante <strong>de</strong>sta sequencia preservar<br />
sua face positiva e ameayar ou nao a face negativa 5 do ouvinte, uma vez que este nao tera<br />
condiyoes <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r simultaneamente aos enunciados daquele, ja que a interayao nao<br />
acontece ad hoc. Obseve urn exemplo:<br />
Ex. 08: 293-<strong>30</strong>1.<br />
1.PL quem e que teino telefone pra fala com 0 Paulo Lopes I ala:: I [...]<br />
2.04 Paulo Lopes I born dia \<br />
3.PL born dia \<br />
4.04 aqui e Maura Pereira do Jardim Sao Paulo I eu gostaria <strong>de</strong> manda 0 meu recado I<br />
5. para 0 Fabio Fiber \ a homem que eu amo \<br />
6. Fabio I eu senti I eul/eu te amo como os anjos amam a Deus \ «pigarreia))<br />
7. eu te adoro como os peixes adora 0 ma \<br />
8. sem voce I eu nao seriall<br />
9. sem voce eu naolleu nao po<strong>de</strong>ria viver \ [...]<br />
As pessoas em geral parecern estar sempre procurando uma maneira <strong>de</strong> dizer<br />
publicamente 0 que sent em pelas outras e 0 que pensam sobre elas ou sobre a realida<strong>de</strong> que<br />
as envolve, enfim, parecem estar sempre <strong>de</strong>sejando fazer <strong>de</strong>sabafos <strong>de</strong> sentimentos e<br />
emoyoes contidas. Aqueles que dispoem <strong>de</strong> recursos financeiros usam estrategias<br />
consagradas <strong>de</strong> propaganda e marketing como gran<strong>de</strong>s cartazes <strong>de</strong> rua, "outdoors",<br />
enquanto outros menos afortunados picham muros alheios e grafitam pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
monumentos hist6ricos, para expressarem-se. 0 radio, por sua vez, aparece como uma<br />
5Teoria da preserva
forma pnitica e barata para a expressao dos <strong>de</strong>sejos e expectativas das pessoas. Atente para<br />
este exemplo a seguir que manifesta claramente esta funcionalida<strong>de</strong> do radio:<br />
Ex. 09: <strong>30</strong>8-315.<br />
l.PL c::: recado <strong>de</strong> Susana I:i do Parque Brigito para Cari//Carem \<br />
2. 0 Carem eu quero / te parabeniza pelos seus cinco <strong>anos</strong> <strong>de</strong> casada /<br />
3. voce e 0 Julio ainda forma urn casallindo \ merecem ser muito feleizes \ [...]<br />
4. recado <strong>de</strong> Nelson da Pompeia para Rita \<br />
5. Rita / <strong>de</strong>pois daquela noite / eu nao consigo mais dormi direito \<br />
6. nao consigo dirigi mais / eu nao consigo//ate to fumando mais \<br />
7. eu nao sei que que aconteceu <strong>de</strong>pois daquela noite / eu nao tenho mais paz \<br />
8. volte \ volte pra me da paz \ ((toea uma rnusica»<br />
e) Alguem se Preocupa com Voce - eo nome do quadro equivalente a seyao dos perdidos<br />
e achados contida geralmente nos jornais. E este 0 espayo reservado para que os ouvintes<br />
possam divulgar 0 <strong>de</strong>saparecimento repentino <strong>de</strong> urn parente ou ate mesmo para apelar urn<br />
reencontrocom entes que ha, <strong>anos</strong> nao os veem. Por meio da gran<strong>de</strong> audiencia e<br />
abrangencia do veiculo, muitos conseguem encontrar a pessoa por quem estavam<br />
procurando, cujo encontro se da preferencialmente <strong>de</strong>ntro do estudio da emissora, sendo<br />
narrado com bastante emoyao pelo comunicador, que objetiva conferir credibilida<strong>de</strong> e<br />
eficiencia ao programa, pois, em ultima analise, esta prestando urn gran<strong>de</strong> serviyo <strong>de</strong><br />
utilida<strong>de</strong> publica ao imenso universo <strong>de</strong> radio-ouvintes. No exemplo a seguir, 0 proprio<br />
comunicador<br />
explica em que consiste 0 quadro:<br />
Ex 10: 326-333.<br />
l.PL alguem se preocupa com voce /<br />
2. e 0 Paulo Lopes aten<strong>de</strong>ndo as pessoas /<br />
3. que vem buscar os seus parentes / que vem procurar os seus parentes /<br />
4. 0 Antonio Santos da Silva procura 0 seu irmao Jose dos Santos Silva /<br />
5. <strong>de</strong> vinte e urn <strong>anos</strong> / 0 Zezinho \ ele tern problema mental [...]<br />
6. e sumiu do Grajau hi mais ou menos urn mes que ele sumiu \<br />
7. entao pedimos noticias <strong>de</strong>sse rapaz <strong>de</strong> vinte e urn <strong>anos</strong> que e doente mental /<br />
8. Jose dos Santos Silva / conhecido como Zezinho \<br />
Muitos chegam a emlssora ainda pela madrugada para consegUlr ser<br />
agendado e ter 0 privilegio <strong>de</strong> fazer ao vivo 0 seu apelo, 0 qual, na maioria da vezes,<br />
representa 0 unico e ultimo recur so para a resoluyao do seu problema.
A produyao recebe urn numero limitado <strong>de</strong>sses ouvintes, seleciona e instrui<br />
previamente as pessoas que vaG falar ao vivo. Semelhantemente ao quadro anterior, neste 0<br />
comunicador tambem Ie ao microfone uma lista <strong>de</strong> pessoas que ligam ou escrevem para a<br />
emissora, <strong>de</strong>sejando encontrar e rever seus parentes e amigos. a apelo e feito. Novamente,<br />
o programa <strong>de</strong>monstra assistir precisamente as carencias afetivas dos ouvintes e faze-Ios<br />
vislumbrar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizayao <strong>de</strong> urn gran<strong>de</strong> sonho furtado pelas circunstancias<br />
adversas da vida. Por isso, esta sequencia e uma das mais concorridas do programa,<br />
principalmente por esse gruPO <strong>de</strong> ouvintes que lanya 0 seu apelo, alimentando a esperanya<br />
<strong>de</strong> reencontrar pessoas queridas que foram abruptamente separadas do seu convivio social.<br />
Esta e uma maneira, sem duvida, <strong>de</strong> estabelecer uma ligayao entre 0 ouvinte<br />
que procura por alguem e 0 programa, constituindo <strong>de</strong>ssa forma uma das varias estrategias<br />
<strong>de</strong> cooptayao da atenyao valiosa da audiencia que precisara ouvir 0 programa diariamente<br />
para obter noticias <strong>de</strong> quem procura.<br />
Ern se tratando <strong>de</strong> uma metr6pole das proporyoes <strong>de</strong> Sao Paulo, on<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>saparece cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis mil pessoas por ano, perfazendo uma media total <strong>de</strong> sessenta<br />
individuos por dia, segundo dados fornecidos pela Secretaria <strong>de</strong> Seguranya Publica<br />
paulistana referentes ao ana <strong>de</strong> 1995 e publicado pela revista Isto E (No. 1338), esta apontase<br />
como uma maneira muito eficaz <strong>de</strong> conseguir a<strong>de</strong>sao da audiencia. a quadro pren<strong>de</strong> 0<br />
ouvinte pela necessida<strong>de</strong> emocional, laya-o pelo seu ponto mais sensivel, a afetivida<strong>de</strong>.<br />
Todos os quadros acima referidos acontecem <strong>de</strong>ntro da primeira hora do<br />
programa. Para cada urn <strong>de</strong>les sac reservados em media 15 minutos. Entre eles hi sempre a<br />
citayao <strong>de</strong> hora-certa, musicas e intervalos comerciais gravados ou interpretados ao vivo<br />
pelo comunicador.<br />
f) Gran<strong>de</strong> Corrente <strong>de</strong> Fe - como 0 proprio nome do quadro ja sugere, 0 comunicador<br />
transforma este trecho do programa em urn momenta <strong>de</strong> intercessao, em que ele realiza uma<br />
prece ern favor <strong>de</strong> todos os ouvintes, principalmente em favor daqueles cujos nomes sac<br />
mencionados <strong>de</strong> viva voz. Certamente, este quadro visa a atingir a religiosida<strong>de</strong> da<br />
audiencia e ao seu lado mistico.
Como ja se era <strong>de</strong> preyer, a audiencia nessa sequencia e comprovadamente<br />
a<br />
maior em to do 0 programa. Telefonemas, cartas e visitas pessoais para que se inclua 0<br />
nome na Gran<strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> Ie sac cuidadosamente atendidos e organizados em bloeos<br />
pelos produtores, a fim <strong>de</strong> que todos sejam correspondidos. A exclusao <strong>de</strong> qualquer ouvinte<br />
na orayao po<strong>de</strong> gerar uma insatisfayao tal, trazendo como consequeneia a antipatia do<br />
ouvinte para com 0 programa, culminando com a sua total falta <strong>de</strong> assiduida<strong>de</strong>. Para<br />
qualquer emissora comercial, isso representa 0 caos em todos os aspectos, sobretudo<br />
financeiro.<br />
Ex 11: 365-371.<br />
1.PL forma-se nesse momento / (3) a nossa gran<strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> fe e <strong>de</strong> amor \(3)<br />
2. nesse instante / nos fazemos silencio /<br />
3. nesse momento paramos nossas obriga~5es /<br />
4. nossos afazeres /<br />
5. para a concentra~ao tao necessaria /<br />
6. e tao importante /<br />
7. que as ben~aos <strong>de</strong> Deus recaiam sobre todos aqueles que estao orando / (3)<br />
Ap6s a leitura da extensa lista <strong>de</strong> ouvintes-jifhs, 0 comunieador assume a<br />
postura <strong>de</strong> urn virtual saeerdote, urn intermediario entre Deus e os homens, atraves dos<br />
inumeros santos mencionados<br />
antes, durante e <strong>de</strong>pois da tao esperada orayao.<br />
pastares das chamadas Igrejas Evangelicas <strong>de</strong> Libertayao como, par exemplo, a polerniea<br />
Igreja Universal do Reino <strong>de</strong> Deus, <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> varios canais <strong>de</strong> radio e uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
televisao (Re<strong>de</strong> Record), alem <strong>de</strong> muitos horarios alugados, cUJO crescimento<br />
espantosamente rapido se <strong>de</strong>u em razao, entre outras coisas, das verda<strong>de</strong>iras sess5es <strong>de</strong><br />
curan<strong>de</strong>irismo para todos os tipos <strong>de</strong> problemas hum<strong>anos</strong> atraves <strong>de</strong> veieulos <strong>de</strong><br />
comunicayao.<br />
No PSPL hi ate mesmo a solicitayao para que 0 ouvinte aproxime urn copo<br />
com agua do aparelho receptor, a fim <strong>de</strong> que, com a ingestao daquele liquido ja<br />
'hbenyoado", adquira a cura fisica ou psiquica que necessita, prMica esta adotada<br />
originalmente pela referida seita.
Ex. 12: 438-441.<br />
1.PL e agora vamos coloca 0 COl)Ocom agua e cada urn vai faze 0 seu pedido /<br />
2. voce que ta rezando / coloque a agua perto do radio /<br />
3. e com muita fe / do fundo do corac;ao pec;a a benc;ao que ce ta precisando \ (5)<br />
4. eu pec;o benc;ao nessa manha para Norberto da Conceic;ao e familia \<br />
o que malS nos chama a atenyao nessa sequencia e que as pesqUisas<br />
aferidoras <strong>de</strong> audiencia apontam 0 honirio das 9:00 horas da manha como 0 periodo em que<br />
ocorre a maior concentrayao <strong>de</strong> aparelhos <strong>de</strong> radios ligados em to do 0 Brasil. Por isso,<br />
acreditamos haver uma clara intencionalida<strong>de</strong> na escolha do honirio <strong>de</strong> veiculayao com<br />
t6pico abordado no quadro, pois se 0 pr6prio tema ja consegue aglutinar urn gran<strong>de</strong><br />
numero <strong>de</strong> interessados, 0 quadro tornar-se-a quase imbativel, quando realizado <strong>de</strong>ntro do<br />
horario <strong>de</strong> pico <strong>de</strong> audiencia. Esta suposta coinci<strong>de</strong>ncia, que preferimos i<strong>de</strong>ntifica-Ia como<br />
uma das estrategias catalisadoras <strong>de</strong> audiencia, na verda<strong>de</strong> funciona como ancora para<br />
instalar uma relayao <strong>de</strong> compromisso do ouvinte para com as outras partes do programa, it<br />
maneira do quadro AIgzu?m se Preocupa com Voce comentado anteriomente. Parte-se da<br />
hip6tese <strong>de</strong> que uma vez incluido 0 nome do ouvinte na prece, ele se sentiria constrangido a<br />
continuar ouvindo to do 0 programa, como forma <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento pelo ato <strong>de</strong> extrema<br />
"generosida<strong>de</strong>" por parte do comunicador.<br />
Logo ap6s este momenta <strong>de</strong> orayao, ainda <strong>de</strong>ntro do mesmo quadro,<br />
constata-se a presenya em estudio <strong>de</strong> algumas ouvintes que saG <strong>de</strong>nominadas pelo<br />
comunicador <strong>de</strong> mties <strong>de</strong> familia, as quais fazem uso do rnicrofone da emissora para<br />
agra<strong>de</strong>cer benyaos alcanyadas, pedidos respondidos, assim como outros escrevem ou<br />
telefonam tambem para faze-Io.<br />
Ex. 13: 420-427.<br />
1.PL aqui estao / as rnaes que vern pra agra<strong>de</strong>ce /<br />
2. e para da 0 testemunho que Deius existe /<br />
3. e 0 milagre po<strong>de</strong> acontece \<br />
4. a senhora ai qual e 0 seu nome / born dia /<br />
5.05 born dia Paulo Lopes /<br />
6. eu sou Maria Eunice do Carmo Rocha do Camargo Novo \<br />
7. eu vim aqui pra agra<strong>de</strong>ce duas gra/ylls /<br />
Essas participa
na assistencia ao programa,<br />
pois urn dia sua necessida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>sejo tambem serao atendidos<br />
por intermedio da "prece po<strong>de</strong>rosa" realizada pelo comunicador-sacerdote.<br />
g) Hor6scopo - para complementar 0 aspecto mistico do programa, durante meia hora sac<br />
introduzidos quatro bloces com indicayao <strong>de</strong> tres hor6scopos do zodiaco por vez, <strong>de</strong><br />
acordo com os meses do ano, perfazendo urn total <strong>de</strong> 12 participayoes,<br />
sendo intercalados<br />
por musicas, comerciais e referencias a ouvintes que telefonam pedindo para que 0<br />
comunicador cite seus nomes no ar. Essa pnitica <strong>de</strong> consulta diaria a astrologia e bastante<br />
comum em meios <strong>de</strong> comunicayao <strong>de</strong> massa como radio, jornal e algumas revistas dirigidas<br />
ao publico feminino.<br />
Ex 14: 510-516.<br />
l.PL minha amiga Zora Ionara nove hora e vinte nove minutos \<br />
2. tudo bem Zora / bom dia /<br />
3.E2 born dia meu amigo Paulo Lopes / ouvintes da radio globo / born dia \<br />
4. e melhor acen<strong>de</strong>r uma vela / ne Paulo / do que amaldic;o::i a escurudao \<br />
5.PL e verda[[<strong>de</strong> \ ((ar <strong>de</strong> riso))<br />
6.E2 [[Confu:: [[cio \<br />
7.PL [[e verda<strong>de</strong> \ vamo leientao / comemoramos hoje mais urn ano <strong>de</strong> vidal<br />
Parece-nos ja fazer parte do cotidiano social ritualizado <strong>de</strong> muitos ouvintes<br />
<strong>de</strong> radio e leitores <strong>de</strong> jornais e revistas consultar os astros, sobretudo em epocas atuais em<br />
que misticismo, exoterismo e esoterismo nunca estiveram tanto em evi<strong>de</strong>ncia. Segundo<br />
alguns espiritualistas esotericos, 0 mundo esta entrando numa Nova Era, na era <strong>de</strong><br />
Aquarios, a partir do ana 2.000. Isto explicaria, em parte, 0 aumento acentuado <strong>de</strong> pessoas<br />
interessadas pelos elementos misticos-religiosos do universo nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />
Vale salientar que os enunciados astrol6gicos sac lidos por uma locutora, ja<br />
conhecida entre os ouvintes - a Zora lonara - por ser uma especialista no assunto, gozando,<br />
portanto, <strong>de</strong> muita credibilida<strong>de</strong>. Ela faz as suas intervenyoes gravadas <strong>de</strong> forma tal, que 0<br />
comunicador do programa consegue simular urna conversayao, dando-nos a impressao que<br />
ambos estao interagindo ao vivo. Esta simulayao <strong>de</strong> dialogo se torna quase perfeita em<br />
razao da experiencia adquirida pelo comunicador,<br />
bem como do auxilio <strong>de</strong> urn roteiro para<br />
tal previamente montado pelos produtores<br />
do programa.
menciona mais uma longa lista <strong>de</strong> nomes, <strong>de</strong>sta vez parabenizando diretamente os ouvintes<br />
que esHio fazendo aniversario ou repassando felicitayoes solicitadas por outros. Ser<br />
lembrado no dia do seu aniversario e algo bastante importante<br />
para a maioria das pessoas<br />
em quase todas as culturas oci<strong>de</strong>ntalizadas. Este e, pois, urn costume consagrado e bastante<br />
relevante para a manutenyao das boas relayoes entre individuos que vivem em socieda<strong>de</strong>.<br />
Utilizar-se da midia eletronica para congratular alguem pela lembranya do seu nascimento e,<br />
sem duvida, urn habito muito comum <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que 0 radio se popularizou na segunda meta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ste seculo. Sabendo do valor cultural e da sua importancia para a construyao da autoestima<br />
das pessoas, os programas radiofOnicos, em sua maioria, reservam sempre urn lugar<br />
especial para as felicitayoes <strong>de</strong> aniversario. Constate no exemplo abaixo:<br />
Ex. 15: 516-522.<br />
l.PL [... ] comemoramos hoje mais urn ano <strong>de</strong> vida / [... ]<br />
2. ala Maria Rodrigues da Silva:: do Jardim Selma \<br />
3. ta festejando setenta e quatro <strong>anos</strong> <strong>de</strong> vida ai no Jardim Selma \<br />
4. parabens dos filhos familiares / especialmente da filha Maria Rodrigues Gomes \<br />
5. do Jardim Rute / Edileuza Malam /<br />
6. Edileuza Malam comemora vinte e oito <strong>anos</strong> hoje /<br />
7. parabens da:://dos sogros Lair / Italiano esposo Sidney e familiares \ [...]<br />
Ao final, ele realiza uma mensagem en<strong>de</strong>reyada a todos os que foram<br />
referidos e os que nao 0 foram tambem. Os excluidos sac incluidos nesse momento, caso<br />
evi<strong>de</strong>ntemente estejam ouvindo 0 comunicador. 0 pronome todos e extremamente<br />
funcional, principalmente neste caso, pais globaliza as a.;oes e as <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> todos as<br />
ouvintes que estao completando ida<strong>de</strong> nova e, porventura, venham a se sentir tangidos pela<br />
congratulayao. Note 0 exemplo que se segue:<br />
Ex. 16:528-529.<br />
l.PL [... ] que Deus <strong>de</strong> sall<strong>de</strong> pra TOdo::s \ [... ]<br />
2.E2 parabens pra todo mundo que esta aniversaria::ndo:: \<br />
geralmente cantor que vai ao programa com uma dupla funyao: divulgar as musicas do seu<br />
novo disco ou mais recente show, e ainda falar da sua vida pessoal, seus hobbies e habitos<br />
cotidi<strong>anos</strong>. Todavia, a inclusao <strong>de</strong>sta sequencia nao e aleat6ria, sobretudo do ponto <strong>de</strong> vista<br />
da relayao do programa para com a audiencia, pois ja ficou constatado<br />
que 0 publico possui
uma gran<strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> em saber a respeito da vida pessoal dos seus idolos, como eles sac<br />
no dia-a-dia, conhece-Ios na sua intimida<strong>de</strong>. As revistas especializadas em fofocas, as<br />
colunas sociais dos jornais exploram muito essa curiosida<strong>de</strong> exagerada do gran<strong>de</strong> publico<br />
pelo lado particular dos astros e estrelas, 0 que garante gran<strong>de</strong> vendagem <strong>de</strong>stes tabl6i<strong>de</strong>s.<br />
Ve<strong>de</strong> 0 exemplo:<br />
Ex 17: 606-611.<br />
l.PL a rainha do ro<strong>de</strong>io / Jaine \ «toea a musica da cantora)) (5)<br />
2. essa musica inclusive e muito bonita da Jaine \ realmente:: linda / formidavel /<br />
3. como vai Jaine / tudo bem / como e que voce ta / tudo certinho /<br />
4.E3 born dia Paulo / e urn gran<strong>de</strong> prazer mais uma vez esta aqui pertinho <strong>de</strong> voce /<br />
5. juntinho <strong>de</strong> voce / e dos seus ouvintes / falando mais uma vez da nossa vida /<br />
6. da musica / da minha carreira / superfeliz com tudo que ta acontecendo \ [...]<br />
Todos parecem satisfeitos com esse quadro. 0 artista divulga 0 seu trabalho,<br />
aproveitando a imensa audiencia e penetrayao do veiculo <strong>de</strong> comunicayao, 0 qual aten<strong>de</strong>ndo<br />
a curiosida<strong>de</strong> do ouvinte, pren<strong>de</strong>-o mais urn pouco a estayao. 0 ouvinte por sua vez satisfaz<br />
a sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer as peculiarida<strong>de</strong>s dos seus idolos. Enfim, todos sac beneficiados<br />
com a inseryao <strong>de</strong>ste item no programa, eis a razao da existencia pertinente <strong>de</strong>ste quadro.<br />
j) Paulo Lopes, Voce e a Verda<strong>de</strong> - e <strong>de</strong>signado para urn momenta reservado em que 0<br />
comunicador narra uma hist6ria geralmente verossimilhante e as vezes veridica, analisa-a e a<br />
comenta para os seus ouvintes, levando-os a uma reflexao sobre 0 fato. Mais uma vez ele<br />
se investe <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, para aconselhar como <strong>de</strong>ve ser 0 comportamento equal <strong>de</strong>ve ser a<br />
melhor atitu<strong>de</strong> ou escolha diante <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada situayao-problema. Entra em ayao 0<br />
comunicador-pedagogo. Sao as assen;oes do comunicador social que ganham carMer <strong>de</strong><br />
verda<strong>de</strong>s irrefutaveis<br />
diante do seu publico que nao tern condiyoes <strong>de</strong> contra-argumentar<br />
imediatamente os juizos emitidos pelo comunicador .<br />
Ex 18:619-624.<br />
l.PL amigos da radio globo / a DROga e uma <strong>de</strong>sgraf,:a\<br />
2.<br />
3.<br />
a droga e urn caminho sem VOLlta \<br />
e uma estrada que s6 tern uma mao /<br />
4. que s6 leva ao abismo \<br />
5. mas Paulo Lopes ce ta falando isso por que /<br />
6. porque a droga tern <strong>de</strong>stmido muitas familias \ [..]
Por gozar <strong>de</strong> urn gran<strong>de</strong> carinho e respeito entre os seus ouvintes, ele<br />
sutilmente prescreve as regras das a
Ele, neste caso, age como se estivesse tomando nota minunciosamente da<br />
receita, tal como a dona <strong>de</strong> casa faria, ou seja, ele fomece todos os sinais <strong>de</strong> atenyao aos<br />
enunciados da ouvinte para que haja tempo suficiente dos <strong>de</strong>mais ouvintes anotarem a<br />
receita, sem per<strong>de</strong>rem urn unico ingrediente ou modo <strong>de</strong> preparo do novo prato.<br />
m) De Corar;iio Pra Corar;ao - esse e urn dos tipicos quadros <strong>de</strong> programas radiofOnicos.<br />
Ha radios que reservam varias horas <strong>de</strong> sua programayao para realizar esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
programa. Pelo titulo ja po<strong>de</strong>mos preyer que se trata <strong>de</strong> uma sequencia na qual 0 ouvinte<br />
solicita <strong>de</strong>sesperadamente urn conselho sentimental, uma palavra que 0 auxilie a resolver<br />
dilemas passionais. Geralmente com i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> preservada por pseudonimo, pessoas<br />
buscam resolver suas dificulda<strong>de</strong>s emocionais, indagando ao comunicador, atraves <strong>de</strong><br />
cartas, 0 que <strong>de</strong>vem fazer, pressupondo que ele sabera respon<strong>de</strong>-Ia. A carta, ja copi<strong>de</strong>scada<br />
pela prodw;ao do programa, elida pelo comunicador com muitas pausas e com uma<br />
entonayao melo-dramatica, buscando interpretar a historia com a maxima fi<strong>de</strong>lidad.<br />
Ex. 20:782-787.<br />
l.PL «sobe uma musica melanc6Iica)) <strong>de</strong> cora.;ao a cora.;ao /<br />
2. a carta que eu tenho hoje /<br />
3. e da ouvinte que pe<strong>de</strong> pra se chamada <strong>de</strong> princesa <strong>de</strong> Interlagos \<br />
4. diz a carta / amigo Paulo Lopes / eu tenho vinte e sete <strong>anos</strong> /<br />
5. sou solteira e professora / e namoro uma rapaz hi cinco <strong>anos</strong> \ ...<br />
6. meu drama comeyou emjulho nas f6rias \ ele ficou em Sao Paulo / [...]<br />
o proprio Paulo Lopes nos revelara que procurava ter uma certa intirnida<strong>de</strong><br />
a distancia com 0 ouvinte e ate tocar em <strong>de</strong>terrninados assuntos que geralmente nao se<br />
tocam em programas <strong>de</strong> radio <strong>de</strong>ste tipo como, por exemplo, a relayao homem e mulher,<br />
para "aconselhar e falar com as pessoas que nao tem com quem trocar". Diz ainda que 0<br />
seu programa "e como se fosse um gran<strong>de</strong> diva ... meu program a e um diva do povo.<br />
Aborda todos os assuntos que se aborda em consultorio".<br />
Na verda<strong>de</strong>, nao preCIsa ser psicologo para perceber que ha pessoas<br />
profundamente fechadas em seus problemas, ensimesmadas,timidas e que jamais se abririam<br />
para alguem. So mesmo atraves <strong>de</strong> quadros como esse conseguem se revelar e pedir<br />
socorro. Percebendo isso a produyao estrategicamente criou este quadro. Talvez os<br />
ouvintes que escrevem tenham consciencia <strong>de</strong> que a opiniao do comunicador nao faz a
menor diferenya para 0 seu caso, mas s6 0 fato <strong>de</strong> dize-lo a alguem, <strong>de</strong>sabafa-lo, <strong>de</strong> saber<br />
que serao ouvidos (ou lidos) ja seria um bom motivo para escreverem a um programa<br />
como esse. Segundo 0 produtor executivo do programa, Figueredo Junior, muitas cartas<br />
chegam diariamente para esse quadro.<br />
o radio tem a magia <strong>de</strong> expor a cena sem revelar seus reais atores ou pelo<br />
menos ocultar a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Ha uma garantia <strong>de</strong> que 0 problema do ouvinte sera<br />
discutido e pon<strong>de</strong>rado com a maxima serieda<strong>de</strong> e sem a minima ameaya da sua imagem<br />
negativa, pois ja esta estabelecida uma relayao <strong>de</strong> confianya e respeito mutuo entre<br />
comunicador e audiencia. Assim, ele abre 0 microfone para que outros ouvintes possam<br />
expressar a sua opiniao sobre 0 fato e com isso tambem ajudar 0 ouvinte-solicitante a<br />
resolver 0 seu problema. Para fechar 0 quadro, 0 comunicador da a sua esperada opiniao.<br />
Ex. 21: 863-870.<br />
l.PL Po<strong>de</strong> da sua opiniao \<br />
2.07 eu queria dize a essa amiga / que eu ja passei a mesma coisa que ela \ [...]<br />
3.PL <strong>de</strong>ixa eu da a minha opiniao <strong>de</strong> cora~ao a cora~ao \ ... ((sobe musica melancolica))<br />
4. olha / uma das coisas que mais me chateia e a in<strong>de</strong>cisao \<br />
5. eu sou uma pessoa I voces que me ouvem ne I ja me conhecem bastante /<br />
6. eu sou uma pessoa <strong>de</strong>ll<strong>de</strong>cisao \ [...]<br />
7. eu to achando que::: esse cara ta te enrolando I enten<strong>de</strong>u I [...]<br />
Poucos sac os casos em que a ouvinte volta a escrever para dar um retorno,<br />
agra<strong>de</strong>cer os conselhos do comunicador e das outras ouvintes que contribuiram com<br />
sugest5es para 0 seu problema. Quando ha esta replica, geralmente a produyao, que faz a<br />
seleyao <strong>de</strong> quase tudo que vai ao ar, procura menciona-Ia durante 0 quadro, ate porque esta<br />
e uma forma <strong>de</strong> valorizayao do quadro, enfatizando a sua funcionalida<strong>de</strong> pratica para a vida<br />
daqueles que 0 prestigiam.<br />
n) Qual e a Branca - trata-se tambem <strong>de</strong> uma sequencia <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> publica muito<br />
parecida com 0 quadro a Cida<strong>de</strong> pe<strong>de</strong> SOS (item c) que comentamos anteriormente. Nele 0<br />
ouvinte, via telefone, rec1ama e reivindica seus direitos <strong>de</strong> cidadao junto as autorida<strong>de</strong>s<br />
constituidas. A prodw;ao mais uma vez fica encarregada <strong>de</strong> contactar os responsaveis e, na<br />
ediyao do programa seguinte, apresentar uma resposta ao ouvinte-rec1amante sob a<br />
supervisao <strong>de</strong> toda a audiencia que testemunhara a rec1amayao na ediyao atual. 0
apresentador, imediatamente apos a fala do ouvinte, repete os pontos pnnClpalS da<br />
reivindicayao, resgatando assim 0 seu papel enquanto comunicador social a serviyo da sua<br />
audiencia e sendo a sua voz ressonante mediante as violayoes da cidadania.<br />
0) Debates do Paulo Lopes durante 1:00 hora 0 comunicador se cerca <strong>de</strong> quatro<br />
convidados pela produyao, geralmente politicos, dirigentes <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s, autorida<strong>de</strong>s,<br />
especialistas, enfim, pessoas que <strong>de</strong> alguma forma esti'io investidas <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />
com<br />
a coletivida<strong>de</strong>. Juntos, <strong>de</strong>batem questoes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse socio-politico e econ6micocultural<br />
da popula
Esse tipo <strong>de</strong> norteamento<br />
feito pelo comunicador visando a esclarecer 0 que<br />
se diz durante 0 programa para manter 0 ouvinte envolvido e engajado na dicussao nao<br />
ocorre apenas neste quadro. Repete-se todas as vezes em que ele percebe que hi<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> faze-Io, como, por exemplo, ao realizar uma entrevista com uma<br />
personalida<strong>de</strong> cuja fala seja mais elaborada, diferente do coloquialismo lingufstico frequente<br />
nas suas proprias intervenyoes. 0 exemplo a seguir explicitani isso:<br />
Ex. 23: 752-762.<br />
l.E4 eu tenho <strong>de</strong>fendido a tese <strong>de</strong> que essa alian
geralmente apresenta urn pequeno atraso. Ele se caracteriza pela reintroduyao do mesmo<br />
"jingle If <strong>de</strong> abertura, <strong>de</strong>sta vez em versao instrumental, subindo ao fundo da voz do<br />
comunicador, que rapidamente se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>, agra<strong>de</strong>cendo a audiencia; promete voltar no dia<br />
seguinte, ressalvando a permissao <strong>de</strong> Deus; anuncia a pr6xima atrayao da emissora,<br />
cumprimenta as ouvintes com urn boa tar<strong>de</strong> entusiasmado e curiosamente<br />
voz para saudar as seus pais ja mortos, idiossincratizando<br />
a <strong>de</strong>sfecho do programa.<br />
Ex. 25: 1077-1082.<br />
l.PL vamos bota urn ponto final no programa \ muito obrigado \<br />
2. sao doze horas e dois minutos \ amanhii estaremos aqui / se Deus quise \<br />
3. vem ai Eli Correia / 0 homem SORRISO do radio \ passe a tar<strong>de</strong> com ele \<br />
4. boa tar<strong>de</strong> pra TOdo mundo /<br />
5. e boa tar<strong>de</strong> pra minha mae e meu pai «sussurrando))<br />
6. on<strong>de</strong> que que voces estejam \<br />
« Fim do programa exatamente ap6s quatro horas <strong>de</strong> durat;ao)).<br />
suaviza a tom <strong>de</strong><br />
Em resumo, po<strong>de</strong>mos dizer que a programa e bem estruturado <strong>de</strong>ntro da<br />
perspectiva da sua organizayao esquemMica <strong>de</strong> sequenciayao dos quadros, ja que, visando a<br />
atingir as gostos e necessida<strong>de</strong>s dos seus ouvintes, consegue tal objetivo satisfatoriamente,<br />
fato confirmado pelas estatisticas do mop. Cada quadro e, pais, inserido no programa em<br />
lugar e horaTio estrategicamente estudados, procurando constantemente a<strong>de</strong>qua-Io as<br />
rotinas da maioria das pessoas que utilizam a radio como companhia em ambientes <strong>de</strong><br />
trabalho que permitam a simultaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ayoes sem interrupyao <strong>de</strong> nenhuma <strong>de</strong>las. Par<br />
ISS0, esse formato <strong>de</strong> programa tern sido adotado pela gran<strong>de</strong> maioria das emissoras<br />
brasileiras que objetivam alcanyar um publico-alvo mais ecletico e majoritariamente<br />
feminino. Urn outro e1emento que se <strong>de</strong>staca nessa estrutura <strong>de</strong> programa sao as diversos<br />
papeis sociais assumidos pelo comunicador, quando das frequentes mudanyas <strong>de</strong> sequencia:<br />
ora e1e apresenta-se como a 0p9ao <strong>de</strong> companhia matinal para aquelas pessoas que<br />
geralmente ficam s6s, ora ele incorpora urn analista dos problemas psico-sociais <strong>de</strong> seus<br />
ouvintes; em outro momenta, 0 radialista transforma-se em guru religioso, levando consigo<br />
urn gran<strong>de</strong> numero <strong>de</strong> pessoas a realizarem rituais sacros monitorados a disHincia; em outra<br />
quadro, observa-se ele adotando uma postura <strong>de</strong> mediador politico 'heutro" em urn<br />
momenta <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate 'tlemocratico"; enfim, a comunicador e a gran<strong>de</strong> ator social com<br />
multiplas facetas, em plena palco invisivel, mas bastante audiveI: a estudio <strong>de</strong> radio, <strong>de</strong><br />
on<strong>de</strong> interpreta seus diversos papeis, cada um em seu proprio momenta e <strong>de</strong>ntro da medida<br />
necessaria.
AS quadros que foram <strong>de</strong>scritos acima sao, na verda<strong>de</strong>, observado por uma<br />
perspectiva vertical, esquemas que permitem ao comunicador atuar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma estrutura<br />
especifica <strong>de</strong> programa, e assim abordar varios t6picos diferentes <strong>de</strong> acordo com os<br />
interesses <strong>de</strong> sua audiencia. Tais esquemas nao sac urn empilhamento <strong>de</strong> assuntos<br />
abordados caoticamente, mas sequencias previamente calculadas para serem inseridas nos<br />
seus <strong>de</strong>vidos lugares. Tal cuidado visa a alcan
a obtenyao <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos t6picos que provocam mais envolvimento e participayao da<br />
maioria do seu publico-ouvinte, formando 0 roteiro estrutural <strong>de</strong> t6picos potenciais que<br />
comporiam as diversas partes do programa radiofOnico com este formato.<br />
Observamos, entao, que os t6picos apresentam-se imbutidos e distribuidos<br />
<strong>de</strong> uma forma bastante peculiar no <strong>de</strong>senrolar do evento interativo radiofOnico.<br />
Nota-se que ja na introduyao hi uma tentativa para estabelecer uma<br />
interayao cordial e amistosa do comunicador para com 0 ouvinte, quando Ianya mao <strong>de</strong><br />
rotinas s6cio-culturais como, por exemplo, 0 cumprimento bom dia para atrair a simpatia da<br />
audiencia, bem como outras expressoes fMicas pr6prias <strong>de</strong> situayoes comunicativas entre<br />
interlocutores conhecidos, tais como: como vai, tudo bem.<br />
As referencias as datas comemorativas tambem nao constituem propiamente<br />
t6picos, uma vez que elas sac apenas citadas sem serem <strong>de</strong>senvolvidas. Tambem nao po<strong>de</strong>m<br />
ser consi<strong>de</strong>rados t6picos os marcadores <strong>de</strong> encerramento <strong>de</strong> interayao comuns a <strong>de</strong>spedidas,<br />
como, por exemplo, "amanha. estaremos aqui se Deus quise ".<br />
Diriamos, portanto, que em cada sequencia 0 comunicador aborda urn t6pico<br />
especifico que po<strong>de</strong>ria ser sintetizado da seguinte forma, consi<strong>de</strong>rando 0 todo do programa:<br />
- Para au Continua: escolhem-se 0 melhor cantor do dia entre as opyoes apresentadas.<br />
- A Cida<strong>de</strong> Pe<strong>de</strong> SOS: abordam-se os problemas da comunida<strong>de</strong>.<br />
- Classificados do Paulo Lopes: ouvintes enviam mensagens para parentes e amigos.<br />
- Alguem se Preocupa com voce: pessoas apelam para encontrarem outras.<br />
- Gran<strong>de</strong> Corrente <strong>de</strong> Fe: 0 comunicador reza em favor <strong>de</strong> ouvintes que Ihe pe<strong>de</strong>m.<br />
- Hor6scopo: fala-se sobre a previsao do dia para cada urn dos signos do zodiaco.<br />
- Aniversariantes do Dia: felicitam-se ouvintes que estao aniversariando.<br />
- Conversando com a Cartaz: conversa-se sobre a vida publica e privada <strong>de</strong> artistas.<br />
- Paulo Lopes, Voce e a Verda<strong>de</strong>: faz-se uma cr6nica dos comportamentos sociais.<br />
- Paulo Lopes, Voce e a Culinaria: apresenta-se uma receita <strong>de</strong> urn novo prato.<br />
- De Corar;a.oPra Corar;a.o: conselham-se ouvintes que solicitam ajuda emocionai.
- Qual e a Bronca: ouvintes fazem reclamayoes <strong>de</strong> serviyos publicos diversos.<br />
- Debates do Paulo Lopes: temas <strong>de</strong> interesse da audiencia sac <strong>de</strong>batidos por convidados.<br />
Po<strong>de</strong>mos encontrar ainda a presenya <strong>de</strong> topicos coringas, ou seJa, aqueles<br />
aos qUaIS sempre se po<strong>de</strong> recorrer em caso <strong>de</strong> turbulencia interacional causada por ma<br />
conexao entre urn t6pico e outro, tais como: falar sobre as condiyoes do tempo, a politica<br />
brasileira, a inflayao do mes, os <strong>de</strong>staques dos esportes, entre outros. Desses t6picos<br />
coringas, como <strong>de</strong> qualquer outro, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>rivar digress8es, ou seja, urn <strong>de</strong>svio rota da<br />
conversa que nao se acha diretamente relacionada ao t6pico central em andamento.<br />
A titulo<br />
<strong>de</strong> exemplificayao, dispomos <strong>de</strong> urn momenta no corpus quando 0 comunicador,<br />
conversando com uma ouvinte, usa urn t6pico coringa, fazendo logo ap6s uma digressao.<br />
Ex. 26: 134-144 e 156.<br />
l.PL urn a urn \ urn a zero pro Nelson Gonyalvesllal6 born dia radio globo /<br />
2.02 born di::a I<br />
3.PL quem ta falando I<br />
4.02 e Adlai<br />
5.PL mora aon<strong>de</strong> minha amiga I (TDF)<br />
6.02 aqui na Barra Fun::da I pertinho <strong>de</strong> voce:: I<br />
7.PL ah::: I voce e da Barra Fun::da I unh::: I<br />
8.02 eu to bern pertinho <strong>de</strong> voce \ ((ar <strong>de</strong> riso»<br />
9.PL Agora a Barra Funda e quente ein I (D)<br />
10.02 6:: se e:: \<br />
11.PL NO:::SSA \ ((risos» mas ontem chuveu ai oao I [...] (D)<br />
12. ta certo meu arnOT \ voce vai <strong>de</strong> Nelson Gonyalves ou Jose Augusto I<br />
Observe que na linha 5: "mora aon<strong>de</strong> minha amiga I, hi a introduyao <strong>de</strong><br />
uma t6pico coringa, enquanto que nas linhas 9: l""Agora a Barra Funda e quente ein /" e<br />
11: "NO:::SSA \ ((risos)) mas ontem choveu ai nao", 0 comunicador realiza uma<br />
digressao, mas preocupa-se em retornar ao t6pico em andamento como po<strong>de</strong>mos perceber<br />
na linha 12. Este retorno tern a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir a coerencia t6pica suficiente para a<br />
evoluyao da interayao. Essas rapidas <strong>de</strong>sfocalizayoes <strong>de</strong> t6pico sac introduzidas com vistas<br />
a tornar informal 0 evento, fazendo com que 0 ouvinte participe mais <strong>de</strong>scontraidamente do<br />
Em sintese, 0 exito do programa, e sobretudo da interayao, esta<br />
profundamente atrelado a performance do comunicador no processo <strong>de</strong> gerenciamento dos
diversos esquemas ou quadros dos quais <strong>de</strong>rivam os varios t6picos selecionados para<br />
compor 0 programa. Tal exito manifesta-se tambem pela inclusao <strong>de</strong> digressoes propositais<br />
com seus respectivos retornos, as quais revelam um alto grau <strong>de</strong> consciencia da necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> manter a coerecia t6pica que subjaz a to do evento interacional organizado. A dinamica<br />
que ele imprime it gerencia <strong>de</strong>sses quadros vai assegurar, juntamente com outros fatores, a<br />
participayao, 0 envolvimento e a a<strong>de</strong>sao plena do ouvinte it Interayao RadiofOnica.<br />
o soci610go amencano, Erving Goffman, que estudou as manifestayoes<br />
linguisticas da interayao face a face <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma perspectiva etnometodol6gica, entre<br />
outros trabalhos, publicou um extenso estudo, no qual tratou especificamente da estrutura<br />
do discurso, referimo-nos it Formas do Discurso (1983).<br />
A teoria <strong>de</strong> Goffman esta fundamentada sobre os seguintes constructos:<br />
Ritualizac;ao, Estrutura <strong>de</strong> Participac;ao e Estrutura <strong>de</strong> Produc;ao. Interessar-nos-a <strong>de</strong><br />
imediato apenas as suas consi<strong>de</strong>rayoes a respeito das Estruturas <strong>de</strong> Participac;ao e <strong>de</strong><br />
Produc;ao~ que compoem a Teoria do Footing ou que ele <strong>de</strong>norninou <strong>de</strong> alinhamento dos<br />
participantes em um dado evento <strong>de</strong> fala.<br />
Quanto it Estrutura <strong>de</strong> Participac;ao, no seu artigo Footing,<br />
0 autor a <strong>de</strong>fine<br />
como sendo os status <strong>de</strong> participayao dos falantes e ouvintes em relayao it produyao e<br />
recepyao dos enunciados, respectivamente. Goffman acredita ser necessario fazer uma<br />
reavaliayao das nOyoes <strong>de</strong> falante e ouvinte, pois elas ocultam uma serie <strong>de</strong> aspectos <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> fundamental importancia para a analise <strong>de</strong> interayoes. 0 autor esta<br />
convencido <strong>de</strong> que os interactantes assumem papeis sociais extremamente significativos<br />
para a realizayao e manutenyao <strong>de</strong> eventos interacionais.<br />
o autor postula dois tipos <strong>de</strong> participantes, ao nivel do ouvinte, como sendo<br />
integrantes da estrutura <strong>de</strong> participayao: a) os participantes ratificados: sac aqueles<br />
i<strong>de</strong>ntificados como componentes da interayao em andamento; b) os participantes nao
atificados: sac aqueles nao i<strong>de</strong>ntificados como componentes diretamente envolvidos na<br />
interac;ao. Apenas os participantes do primeiro tipo sac importantes para a Interac;ao<br />
Radioronica, uma vez que que 0 segundo tipo <strong>de</strong> participante nao tern compromisso algum<br />
com 0 evento interativo. 0 autor consi<strong>de</strong>ra os seguintes graus <strong>de</strong> participac;ao do ouvinte:<br />
a) Ouvinte En<strong>de</strong>rec;ado: e aquele para quem 0 falante direciona os seus enunciados, gestos<br />
e atenc;ao visual, 0 qual alimenta a expectativa <strong>de</strong> tomar 0 turno, quando a estrutura do<br />
evento oferece condic;5es para tal. Numa interac;ao face a face com dois participantes, 0<br />
ouvinte en<strong>de</strong>rec;ado e evi<strong>de</strong>ntemente<br />
0 ouvinte ratificado e que, por sua vez, espera a troca<br />
<strong>de</strong> turno; porem, na interac;ao com urn ample universo <strong>de</strong> ouvintes ratificados,<br />
como a IR,<br />
distinguir com precisao quem e 0 ouvinte en<strong>de</strong>rec;ado sem especificac;ao vocativa, ou seja,<br />
sem uma convocac;ao nominal que i<strong>de</strong>ntifique 0 ouvinte, torna-se uma tarefa bastante dificil,<br />
assim como impossivel sera a troca <strong>de</strong> turno, consi<strong>de</strong>rando-se a natureza do veiculo<br />
utilizado: 0 radio. Portanto, como na IR nao ha sinalizac;ao visual ou gestual para indicar 0<br />
en<strong>de</strong>reyamento do ouvinte, 0 falante e consi<strong>de</strong>rado realmente en<strong>de</strong>rec;ado se for<br />
especificado vocativamente<br />
ou nominalmente.<br />
Ex. 27: 697-700.<br />
1.PL born dia Selma /<br />
2.05 born dia Paulo /<br />
3.PL tudo bem minha a[[miga /<br />
4.05 [[tu::do \ e voce / [...]<br />
Neste exemplo hi uma indicac;ao explicita por melO <strong>de</strong> vocativo, Selma,<br />
alem <strong>de</strong> haver a troca <strong>de</strong> turno entre os interactantes. la no exemplo que se segue hit uma<br />
diretivida<strong>de</strong> vocativa, indicando a quem 0 falante esti se en<strong>de</strong>rec;ando, sem haver, no<br />
entanto, mudanc;a <strong>de</strong> turno:<br />
Ex.28: 571-576 e 580-581.<br />
l.PL 0 abrayo do Paulo Lopes para Terezinha /<br />
2. para 0 Miguel da Vila Li<strong>de</strong>iro /<br />
3. Ala Maria Tereza do Bras /<br />
4. Ala Maria Gonplves da Vila Alpina / [...]<br />
5. todo mundo escutando 0 Paulo Lopes /<br />
6. todo mundo ouvindo a globo:: \ ...
Contudo, no exemplo abaixo verifica-se a ausencia <strong>de</strong> diretivida<strong>de</strong> vocativa e<br />
emprego do pronome in<strong>de</strong>finido tadas, que e urn quantificador universal, e do pro nome <strong>de</strong><br />
tratamento, voce, como elementos <strong>de</strong> abrangencia e, consequentemente, como mecanismos<br />
<strong>de</strong> envolvimento <strong>de</strong> todo e qualquer ouvinte na interac;ao. Observe:<br />
Ex. 29: 11-12.<br />
1.PL mui:::to born dia a todos que esta~ ouvindo a globo: \<br />
2. vo::ce:: ouvindo a globo: / esta em primeiro luga \<br />
Assim, quando 0 comunicador nao especifica vocativamente/norninalmente a<br />
quem dirige os seus enunciados, enten<strong>de</strong>-se que todos os virtuais ouvintes sao en<strong>de</strong>rec;ados<br />
e, por conseguinte, ratificados, pois a ratificac;ao dos participantes no radio e fundamental a<br />
sua sobrevivencia enquanto veiculo promotor<br />
<strong>de</strong> interac;ao verbal.<br />
b) Ouvinte nao En<strong>de</strong>rer;ado: refere-se ao ouvinte ratificado que, to davia, em urn<br />
<strong>de</strong>terrninado momenta da interac;ao nao e 0 ouvinte objetivado pelo falante, embora possua<br />
status participativo. Quando em situac;ao <strong>de</strong> entrevista, os <strong>de</strong>mais ouvintes do programa sao<br />
ratificados, mas saD nao en<strong>de</strong>rec;ados. Eles fazem, portanto, parte da audiencia. Note no<br />
trecho abaixo que 0 comunicador <strong>de</strong>ixa marcado quem e 0 seu ouvinte-sujeito especificado<br />
da sua enuncia9ao e implicitarnente aponta a quem nao dirige a fala:<br />
Ex. <strong>30</strong>: 740-741.<br />
l.PL meus amigos / eu:: vo fahi com 0 ministro//<br />
2. 0 ex-ministro da previ<strong>de</strong>ncia 0:: Antonio Brito \<br />
o status participativo dos ouvintes nao en<strong>de</strong>rec;ados e assegurado, quando 0<br />
falante faz referencia clara a eles - melts amigos - bem como repete os elementos que<br />
indicam a quem esta se en<strong>de</strong>rec;ando - ministro, ex-ministro da previ<strong>de</strong>ncia, Antonio Brito -<br />
c) Audiencia: Goffman utiliza 0 termo para referir-se ao conjunto <strong>de</strong> ouvintes ratificados na<br />
interac;ao cujo papel basico e 0 <strong>de</strong> apreciar as pon<strong>de</strong>rac;6es do falante, sem, no entanto,<br />
gozar do direito <strong>de</strong> usar a palavra. Como a interac;ao radiofOnica e direcionada, em ultima<br />
analise, it gran<strong>de</strong> rnassa <strong>de</strong> ouvintes virtuais que nao po<strong>de</strong> tomar 0 turno no lugar relevante
para transir;iio 6 au ate mesmo fora <strong>de</strong>!e, a nao ser quando faz usa do telefone para tal, e<br />
admissivel afirmar que todo e qualquer ouvinte compoe potencialmente a audiencia<br />
ratificada do program a, uma vez que se visa a abranger estrategica e taticamente a maiar<br />
universo <strong>de</strong> participantes possivel, pais quanta maiar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participantes<br />
ratificados, maiar a prestigio da emissora e mais alto a seu faturamento.<br />
No que tange a Estrutura <strong>de</strong> Produr;iio, a que trata do falante, a autor<br />
i<strong>de</strong>ntifica diferentes formas <strong>de</strong> produyao dos atos <strong>de</strong> linguagem que vao se diversificando ao<br />
longo da sua enuciayao. Em outras palavras, hi uma caracterizayao mutavel da autoprojeyao<br />
do falante que po<strong>de</strong> assumir tres funyoes comunicativas basicas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn<br />
mesma evento interativo, as quais po<strong>de</strong>m ser preenchidas separada au acumulativamente,<br />
sao elas:<br />
d) Falante Principal: e a "ator social" que dispoe integralmente do direito a fala em uma<br />
dada circunstancia comunicativa, <strong>de</strong>vido a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social particular enquanto falante<br />
membro <strong>de</strong> urn grupo com capacida<strong>de</strong> especifica <strong>de</strong> representayao. 0 comunicador<br />
radiofOnico exerce plenamente esta funyao e nela permanece durante a maiar parte do<br />
programa, pais e ele quem <strong>de</strong>tem a controle da participayao dos <strong>de</strong>mais interactantes,<br />
bem<br />
como e a responsave! par quase todas as ayoes ocorrentes na IR. Toda a estrutura do<br />
programa e montada para a supervalorizayao do comunicador social e a reconhecimento da<br />
atribuiyao das suas funyoes, as vezes, ultrapassando as fronteiras <strong>de</strong> outras areas<br />
profissionais, tais como sacerdote, psicanalista, justiceiro, entre outros ..<br />
Da vinheta <strong>de</strong> abertura aos names <strong>de</strong> quadros do programa e ate mesmo as<br />
propagandas<br />
que faz ao vivo, tudo enfoca a importancia do comunicador para a realizayao e<br />
manutenyao do evento. A consciencia <strong>de</strong>ssa importancia do comunicador<br />
tern como ponto<br />
<strong>de</strong> partida e!e mesmo, veja as exemplos:<br />
Ex. 31: 220.<br />
6E; 0 momenta em que 0 ouvinte ent~n<strong>de</strong> como '\ndicado" para assurnir a turno conversacional. Geralrnente<br />
a conclusao <strong>de</strong> urn enunciado, a entonayao baixa, ° olhar fixe por alguns instantes, a pausa, a hesitayao<br />
fornecidos pelo falante sac marcacas do lugar relevante para transiyao, mas nao sac <strong>de</strong>finitivas para isto.<br />
(Marcuschi 1986)
Ex. 32: 293.<br />
l.PL quem esti no telefone pra fala com 0 Paulo Lopes / [... J<br />
Ex. 33: 326-327.<br />
1.PL alguem se preocupa com voce /<br />
2. eo Paulo Lopes aten<strong>de</strong>ndo as pcssoas / [... ]<br />
Ex. 34: 503-505.<br />
l.PL entao recomendamos estc plano <strong>de</strong> saudc / que e urn plano MUlto born /<br />
2. muita gente ti ligando pra Ii /<br />
3. MUltas pessoas ligam dizl/oh 0 Paulo Lopes falo /<br />
Em todos os exemplos supracitados ha urn claro <strong>de</strong>staque para 0<br />
comunicador como 0 ponto fulcral da realizayao e comando do evento, caracterizando-o<br />
como falante-principal nao apenas por isso, mas principalmente por representar uma<br />
categoria profissional que executa bem as suas atribuiyoes. 0 fato <strong>de</strong> ele mesmo se tratar na<br />
3a. pessoa, 0 Paulo Lopes, indica 0 seu interesse em conferir a si mesmo 0 status <strong>de</strong><br />
personagem publica e famosa ou <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> que esta alem <strong>de</strong>le proprio.<br />
e) Falante Animador: e 0 falante que incorpora a ativida<strong>de</strong> fisica da fala, reproduzindo<br />
textos e i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> terceiros; 0 falante nao e 0 proprietario do discurso, apenas seu portavoz.<br />
Na IR isso e bastante comum, porque 0 comunicador social tern, sobretudo,<br />
0 papel <strong>de</strong><br />
propagador das informayoes, que geralmente nao proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong>le. Assim todos os textos<br />
citados "<strong>de</strong> cor" ou lidos sac produzidos por esse tipo <strong>de</strong> falante. 0 comunicador e aqui<br />
tornado como urn facilitador da compreensao<br />
da sua audiencia mediante as complexida<strong>de</strong>s<br />
enunciativas realizadas por urn ou outro falante com grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> diferente da<br />
gran<strong>de</strong> maioria dos seus ouvintes. E urn interprete plural das lacunas e ambiguida<strong>de</strong>s<br />
sintatico-semanticas e pragmaticas <strong>de</strong>ixadas por outros falantes-interlocutores. E urn<br />
tradutor dos anseios e questionamentos da gran<strong>de</strong> audiencia muda. Mas tambem po<strong>de</strong> se<br />
tomar a voz da opressao contra essas mesmas massas, ao <strong>de</strong>spertar-Ihes<br />
<strong>de</strong> consumo com as publicida<strong>de</strong>s que anuncia.<br />
falsas necessida<strong>de</strong>s<br />
Ex. 35: 456-458.<br />
l.PL [... J olha 0 fantatico Pisos e Azulcjos que ti liquidando piso e azulejo \<br />
2. olha 0 que estao ven<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> piso e azulejo Ii / verda<strong>de</strong> mesmo \<br />
3. 0 pre~o esti espetaculi \
o comunicador<br />
fala, usa a sua voz para realizar enunciados <strong>de</strong> um outro, no<br />
caso, uma loja, um cliente.<br />
Ex. 36: 258-261.<br />
1.PL tern aqui urn abaixo-assinado I<br />
2. e dos moradores do condominia Santa Marta da travessa tres I numero vinte e cinco I<br />
3. no Parque <strong>de</strong> Taipas \<br />
4. eles pe<strong>de</strong>m pra que a SABESP tome provi<strong>de</strong>ncia quanta a falta <strong>de</strong> agua no local [... J<br />
Ex. 37: 311-314.<br />
l.PL recado <strong>de</strong> Nelson da Pompeia para Rita \<br />
2. Rita I <strong>de</strong>pois daquela noite leu nao consigo mais dormi direito \<br />
3. nao consigo dirigir mais I eu nao consigol late t6 fumando mais \<br />
4. volte I volte pra me da paz \ ((toca uma musica romantica))<br />
Ex. 38: 761-762.<br />
l.PL entao a ministro Antonio Brito falando aqui dizendo que I<br />
2. vai disputli 0 Governo do rio Gran<strong>de</strong> do Sui \ e nao a presi<strong>de</strong>ncia da Republica \<br />
No exemplo 35, 0 falante assume a fun9ao <strong>de</strong> animador por anunciar um<br />
estabelecimento comercial cujo texto, alem <strong>de</strong> ser lido, provavelmente nao the pertencia. No<br />
exemplo 36, ele incorpora a reivindicayao <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> que certamente nao era a<br />
sua, se 0 fosse estaria atuando como um falante-principal. No trecho do item 37, 0<br />
comunicador empresta a sua voz emocionada para a manifesta9ao passional <strong>de</strong> um ouvinte<br />
em estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero amoroso, enquanto que no item 38, ele e um tradutor do discurso<br />
do entrevistado, nao apenas para esclarecer aqueles ouvintes que porventura nao tenham<br />
entendido muito bem os enunciados, bem como, pela panifrase, elucidar <strong>de</strong>finitivamente<br />
uma quesHio que pairava no contexto politico da epoca quanta a candidatura a presi<strong>de</strong>ncia<br />
ou nao daquele ex-ministro.<br />
No entanto, 0 momenta que mais evi<strong>de</strong>ncia 0 tipo <strong>de</strong> falante animador e,<br />
sem duvida, 0 momento da prece, no quadro Gran<strong>de</strong> Corrente <strong>de</strong> Fe, quando 0<br />
comunicador interce<strong>de</strong> pela sua audiencia, ou seja, realiza uma ayaO por outra pessoa.
EL 39:407<br />
l.PL eu the pe~o em nome daqueles que estao rezando nesse momento / [... ]<br />
f) Fa/ante Autor: e 0 falante fonte <strong>de</strong> seus pr6prios enunciados, responsavel pela escolha<br />
dos conteudos e implica
perjormativo/ - Ex. 40: nos vamos toma provi<strong>de</strong>ncia; a gente ja tem uma resposta; Ex. 43:<br />
<strong>de</strong>ixa eu da minha opiniCio - a autoria <strong>de</strong> tais atos fica implicita como acontece em Ex. 41 e<br />
42. Neste exemplos 0 comunicador da a enten<strong>de</strong>r ser 0 proprio responsavel pelas asseryoes<br />
a respeito das drogas e quanta ao equivoco referente a hora certa.<br />
Goffman <strong>de</strong>nomina Formato <strong>de</strong> Produr;ao <strong>de</strong> urn enuciado essa relayao entre<br />
os falantes principal, animador e autor. Admite que normalmente nao ha, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
situayao interacional, a utilizayao pura <strong>de</strong> urn <strong>de</strong>sses tipos <strong>de</strong> falantes; quem interage<br />
competentemente esta sempre tentando se adaptar ao contexto, e sobretudo ao ouvinte a<br />
quem esta prioritariamente buscando ajustar-se ou mesmo proteger-se e protege-Io <strong>de</strong><br />
qualquer <strong>de</strong>sarmonia socio-cultural ou linguistica que porventura venha a ocorrer,<br />
perturbando 0 born andamento da relayao. Portanto, para 0 autor e comum e necessario que<br />
os participantes altern em frequentemente 0 seu alinhamento ou 'footing", e isto significa<br />
tambem mudanyas no formato <strong>de</strong> produyao, para que haja fluencia e harmonia na interayao.<br />
Conforme po<strong>de</strong>mos observar, 0 comunicador parece bastante consciente da<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amalgamar os tipos <strong>de</strong> falantes e alinhar-se a<strong>de</strong>quadamente para aten<strong>de</strong>r as<br />
necessida<strong>de</strong>s da audiencia - seu objetivo primario - e da propria interayao radiofOnica<br />
enquanto modalida<strong>de</strong> estruturada <strong>de</strong> interayao verbal.<br />
fenomeno muito interessante<br />
Este alinhamento <strong>de</strong> papeis <strong>de</strong> falantes feito peIo comunicador e urn<br />
na JR. Basta verificarmos 0 momento em que 0 comunicador<br />
transporta-se da funyao <strong>de</strong> falante animador, para a <strong>de</strong> falante autor, quando notaremos a<br />
sua versatilida<strong>de</strong> na interpretayao <strong>de</strong> varios papeis sociais no discurso com a<strong>de</strong>quayao e<br />
proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro dos diversos momentos e varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quadros do programa. Isso<br />
ocorre mais claramente, quando ele simula possiveis tomadas <strong>de</strong> turnos da audiencia<br />
ratificada, para conferir maior dinamismo it interayao e aproxima-Ia da conversayao,<br />
veJamos:<br />
Ex. 44: 223-225.<br />
l.PL pomada MINA.NCORA / ei::ta pomada boa ein /<br />
2. ah Paulo Lopes / pomada Min:lncora ate hoje e boa / ate hoje<br />
3. OITENta <strong>anos</strong> / ainda nao inventaram coisa melh6 \<br />
senao<br />
7Termo utilizado por Austin na sua Teoria dos Atos <strong>de</strong> Fala para significar 0 usa da for
o mesmo acontece quando ele ocupa a fun~ao <strong>de</strong> falante aUlor, projeta<br />
como seria 0 retorno responsivo do audiencia que passa a assumir 0 papel <strong>de</strong> falante au lor,<br />
no dialogo forjado.<br />
Ex. 45: 619-624.<br />
l.PL amigos da radio globo / a DROga e urna <strong>de</strong>sgra~a \ [... ]<br />
2. mas Paulo Lopes / ce ta falando isso l)or que / (3)<br />
3. porque a droga tern <strong>de</strong>struido rnuitas farnilias \ [...]<br />
A frase em negrito do exemplo aClma - linha 2 - sena 0 enunciado do<br />
suposto turno do ouvinte que nao 0 po<strong>de</strong> faze-Io, sendo aqui projetado virtualmente pelo<br />
comunicador, para criar essa atmosfera conversacional.<br />
Em seu artigo, Radio Talk (1983b:257), Goffman aponta para 0 fato <strong>de</strong> no<br />
radio haver tres formas <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong> fala: memorizas;ao, leitura ao vivo e improvisas;ao<br />
ou "fresh talk". Segundo 0 autor, a memoriza~ao e a leitura predominam<br />
quando 0 falante<br />
ocupa a fun~ao <strong>de</strong> animador. Ja a improvisa~ao e mais comum ao falante no papel <strong>de</strong> aulor.<br />
o falante principal po<strong>de</strong> incorporar as tres farmas <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong> fala, as vezes, ate<br />
simultaneamente, pois enquanto representante <strong>de</strong> urn grupo precisa ler ao vivo as propostas,<br />
memoriza-las para esclarecer quando solicitado e adicionar, <strong>de</strong> improviso, informa~5es<br />
pressupostas e/ou subentendidas nas entrelinhas textuais do grupo que representa. A partir<br />
disso, po<strong>de</strong>riamos<br />
e formas <strong>de</strong> produ~ao predominante:<br />
entao montar 0 seguinte esquema (1) que engloba esses tipos <strong>de</strong> falantes<br />
E <strong>de</strong> Goffman (1983a:284) 0 alerta para a necessida<strong>de</strong> do comunicador<br />
<strong>de</strong>stacar sempre 0 formato <strong>de</strong> produ~ao <strong>de</strong> suas afirma~5es isto e, evi<strong>de</strong>nciar que falante<br />
(principal, animador e aulor) se responsabilizara pelos enunciados realizados, caso<br />
contrario, carrera 0 risco <strong>de</strong> tomar 0 seu discurso tenso e autoritario, <strong>de</strong>sagradando assim<br />
alguns ouvintes, que nao terao a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar uma visao diferente da
colocada, em funyao da natureza do veiculo, 0 que fatalmernte provocar-Ihe-a urn certo<br />
mal-estar. Portanto, segundo 0 autor, uma estrategia padrao dos locutores <strong>de</strong> radio e<br />
resguardar-se, suavizando alguns aspectos das asseryoes com estruturas <strong>de</strong> mitigayao, ou<br />
seja, atenuadoras, tais como ilustrou em (p.284) :<br />
... se eu nao estou enganado ...<br />
...Burgemeister, se eu a pronunciei corretamente ...<br />
Ra tambem exemplos em nosso corpus que constatam essa estrategia <strong>de</strong><br />
atenuayao das asseryoes do comunicador:<br />
Ex. 46: 866-870.<br />
l.PL <strong>de</strong>ixa eu dli minha opiniao <strong>de</strong> cora~ao a cora~ao \ ... ((sobe musica melancolica»<br />
2. olha uma das coisas que mais me chateia e a in<strong>de</strong>cisao \ [... ]<br />
3. eu to achando que::: esse cara ti te enrolan::do / enten<strong>de</strong>u / [... ]<br />
TIPOS DE FALANTES FORMAS DE PRODU
Em 47, 0 comunicador<br />
entrevista urn politico do PMDB e the faz pergunta<br />
sobre uma possivel alianya dos <strong>de</strong>mais partidos contra 0 candidato a presi<strong>de</strong>nte pelo PT que<br />
estava li<strong>de</strong>rando as pesquisas <strong>de</strong> opiniao naquela ocasiao.<br />
Ex. 47: 763-765.<br />
l.PL e:: 0 senhor acha que:: essa tentativa <strong>de</strong>ssas alian~as /<br />
2. e::: pra combate a candidatura Lula / c isso ministro /<br />
3. seria uma alian~a contra a candidatura do Lula / c isso ministro / [...]<br />
No exemplo 46, 0 comunicador informa que dara a sua opiniao, a ouvinte<br />
po<strong>de</strong> nao concordar, mas aquela sera a opiniao <strong>de</strong>le, 0 que ele acha - eu to achando - a<br />
respeito da situayao. Enquanto que no exemplo 47 aparece uma pergunta <strong>de</strong> esclarecimento<br />
repetida, e isso mesmo I alem do verba ser no futuro do preterito - seria - tudo isso sendo<br />
usado como recurso mitigador, suavizador, ja prevendo uma possivel discordancia do<br />
ouvinte.<br />
E interessante i<strong>de</strong>ntificar, no fala do comunicador, esses varios niveis <strong>de</strong><br />
sutileza e perspicacia quanta a mudanya <strong>de</strong> alinhamento que perva<strong>de</strong> 0 seu fazer lingtiisticointerativo,<br />
quando flutua pelos diversos tipos <strong>de</strong> falantes com extrema discriyao e<br />
seguranya, envolvendo a audiencia no jogo <strong>de</strong> linguagem.<br />
Autorizado pelos dados do IBOP, 0 proprio comunicador, Paulo Lopes,<br />
tece os seguintes comentarios a respeito <strong>de</strong> si mesmo em entrevista que mantivemos quando<br />
da coleta do corpus: "eu sou um bom comunicador ... 0 talento, a energia do Paulo Lopes<br />
eo sucesso do programa ... fI Sem duvida, 0 proprio testemunho do comunicador a seu favor<br />
nao e por si s6 uma condiyao absolutamente suficiente para que 0 consi<strong>de</strong>remos competente<br />
do ponto <strong>de</strong> vista comunicativo, mas pelo menos revela 0 alto grau <strong>de</strong> consciencia e esforyo<br />
para se-Io.<br />
Certamente a irrefutabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa competencia comunicativa do radialista<br />
alcanyaria todos os pormenores se nos <strong>de</strong>bruyassemos sobre os aspectos morfossintaticos e<br />
lexicos-semanticos do seu discurso. Embora trabalhemos com recorte ao nivel do texto em<br />
<strong>de</strong>terminados momentos <strong>de</strong> nossa analise, enfatizaremos a instancia do discurso,
explicitando a competencia do falante (comunicador) na conduyao da interayao a partir da<br />
perspectiva do seu fazer lingiiistico-interacional e das formas <strong>de</strong> composiyao textual que<br />
dao suporte it IR. Por essa razao, muitos outros fenomenos lingiiisticos ficarao, nesse<br />
momento, <strong>de</strong> fora.
Este capitulo objetiva estabelecer algumas diretrizes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m conceitual,<br />
que nortearao teoricamente a <strong>de</strong>finiyao <strong>de</strong> interayao sobre a qual se fundamenta esta<br />
investigayao linguistica.<br />
Tendo como pressuposto a asseryao <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin, segundo a qual a<br />
lingua se realiza essencialmente pela interayao verbal, bem como a concepyao <strong>de</strong> interayao<br />
postulada por Van Dijk, buscaremos esboyar uma conceituayao que seja suficientemente<br />
ampla e compativel com a nossa proposta <strong>de</strong> analise da relayao que <strong>de</strong>norninamos <strong>de</strong><br />
Interayao RadiofOnica.<br />
Van Dijk discute exaustivamente, em seu trabalho A Ciencia do Texto<br />
(1989), a questao que envolve a interayao verbal. Parte prelirninarmente da Filosofia<br />
Analitica que comeyara a introduzir nos estudos da linguagem a teoria da ar;a.o.Esta teona<br />
supoe que as ayoes verbais represent am urn <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> evento, 0 qual, por sua<br />
vez, remete a uma "modificayao". Para exemplificar como esses processos acontecem, van<br />
Dijk conjectura que a queda <strong>de</strong> urn capo no chao e urn tipo <strong>de</strong> acontecimento por ter<br />
ocorrido uma modificayao no estado <strong>de</strong> 'copo sobre a mesa para copo no chao'. Assim, ao<br />
fazermos algo, por regra geral, produzimos uma modificayao em nosso corpo. A maioria<br />
<strong>de</strong>ssas ayoes sac conscientes e controladas pelo sujeito da ayao, que tern geralmente<br />
objetivo e finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finidos, quando executa urn fazer. Todavia, 0 autor ressalta que nao<br />
e apenas a ayao que caracteriza 0 comportamento humano, mas, sobretudo, a avao social, a<br />
interar;a.o. Essa, segundo ele, "se <strong>de</strong>fine como uma serie <strong>de</strong> ar;8es em que wirias pessoas<br />
se veem implicadas alternativa e simultaneamente como agentes"(p.89).<br />
Acrescenta ainda que a sucessao <strong>de</strong> ayoes na interayao sujeita-se tanto a<br />
regras convencionais, quanta a exigencias sociais, as quais tambem sac impostas aos<br />
interactantes. A intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas regras e exigencias convencionais variarao <strong>de</strong> acordo
com os papeis sociais que cada urn dos participantes <strong>de</strong>sempenharem <strong>de</strong>ntro do contexto<br />
em que elas ocorrerem.<br />
Van Dijk, ao fazer uma conexao entre intera9ao e a Teoria dos atos <strong>de</strong> fala,<br />
afirma que aquela "resulta <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> fala <strong>de</strong> diferentes interlocutores,<br />
or<strong>de</strong>nados, entre outras coisas, segundo regras convencionais ".(p.92) Em outros termos,<br />
a intera9ao e 0 lugar em que os atos <strong>de</strong> falam se realizam, uma vez que ela acontece<br />
fundamentalmente por meio <strong>de</strong>les, tanto no que Austin chamou <strong>de</strong> ato locut6rio, isto e, a<br />
materializa9ao do enunciado atraves dos sons, ritmos, entoa90es, quanta no ato ilocut6rio,<br />
a expressao verbal propriamente enunciada, em que a a9aO <strong>de</strong> dize-la ja constitui urn fazer.<br />
Van Dijk, no mesmo trabalho, <strong>de</strong>clara que 0 tra90 caracteristico da intera9ao<br />
e 0 fato <strong>de</strong> varias pessoas, juntas ou separadas, simultanea ou consecutivamente,<br />
executarem uma seqUencia <strong>de</strong> a90es. Destaca ainda que 0 requisito mais importante para a<br />
intera9ao e a conectivida<strong>de</strong> das ar;8es, isto e, todas elas <strong>de</strong>vem estar relacionadas entre si e<br />
seqUencialmente coerentes.<br />
Nestes termos, po<strong>de</strong>mos categoricamente postular .que a Intera9ao<br />
Radioronica e, <strong>de</strong> fato, urn evento interativo por apresentar os tra90s caracteristicos<br />
apontados acima por van Dijk. Na IR, comunicador<br />
e audiencia executam entre si, cada urn<br />
<strong>de</strong>les <strong>de</strong>ntro do seu espa90 interativo, a90es consecutivas, relacionadas e seqUencialmente<br />
coerentes, ainda que nao simultaneamente. Dizemos que tais a90es sac consecutivas,<br />
porque 0 comunicador, "no ar", as realiza levando em consi<strong>de</strong>ra9ao a aten9ao e a aceita9ao<br />
tacit a da audiencia dos enunciados que produz. Por essa razao, e encontrado com<br />
facilida<strong>de</strong>, permeando 0 dizer do comunicador, todo urn fazer lingUistico-interativo<br />
privilegiando <strong>de</strong>terminados elementos do texto e do discurso (6s quais serao apresentados<br />
com mais <strong>de</strong>talhes no proximo capitulo) representado pelas estruturas proposicionais,<br />
sintaticas, prosodicas, bem como recursos lexicais, semanticos e pragmaticos que sac<br />
explicitamente marcados e recorrentes na suaenuncia9ao <strong>de</strong> urn modo gera!. Adicionem-se<br />
a isso os topicos discursivos aliados as ativida<strong>de</strong>s cotidianas da audiencia que sac bastante<br />
explorados na IR, conforme vimos no capitulo anterior. Ter-se-a, entao, este evento
comunicativo radiofOnico como um dos varios tipos <strong>de</strong> interayao, do ponto <strong>de</strong> vista das<br />
ayoes interligadas dos interactantes.<br />
Sendo assim, 0 comunicador parece sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r das reayoes favor8.veis<br />
e concordantes da audiencia. para as suas proposiyoes, a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r reutilizar ou nao um<br />
<strong>de</strong>terrninado recurso linguistico-interacional ou topico como catalizador da sua atenyao em<br />
um dado momento.<br />
Vma vez checada essa reayao positiva do ouvinte as ayoes realizadas pelo<br />
comunicador, po<strong>de</strong>-se verificar entao as "mudanyas" que elas supostamente provocaram no<br />
outro (audiencia), confirmar a conectivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ayoes realizadas, fato que nas concepyao <strong>de</strong><br />
van Dijk e <strong>de</strong> extrema importancia para uma <strong>de</strong>terminada ativida<strong>de</strong> se estabelecer enquanto<br />
interayao, assim como consolidar as relayoes sequencialmente coerentes <strong>de</strong>ssas ayoes no<br />
processo interativo, no qual a participayao da audiencia e fundamental e inevitavel.<br />
Sem duvida, as ayoes do comunicador predominam sobre as acoes da<br />
audiencia, uma vez que e aquele quem inicia, direciona, alimenta, retroalimenta quando<br />
dialogiza 0 seu discurso, isto e, quando simula 0 turno do ouvinte <strong>de</strong>ntro do seu proprio<br />
turno, conduz e finaliza a Interayao RadiofOnica, ate porque 0 seu papel social <strong>de</strong><br />
comunicador-apresentador-dncora na estrutura <strong>de</strong> produyao do evento espera e exige que<br />
ele assim proceda. Contudo, nao se po<strong>de</strong> ignorar a substancial e nao menos importante<br />
participayao do ouvinte nesse evento, afinal ele e a razao maior <strong>de</strong> to do 0 aparato<br />
eletronico-interacional que se poe em funcionamento, via ondas <strong>de</strong> radiofonia. Alem disso,<br />
nao <strong>de</strong>ve ser tratado, e <strong>de</strong> fato nao 0 e, como mero objeto <strong>de</strong> ayoes linguisticas do<br />
comunicador, absolutamente inerte e alheio ao Jogo <strong>de</strong> linguagem e ao arcabouyo<br />
i<strong>de</strong>ologico a ele subjacente, pois, supreen<strong>de</strong>ntemente, e a audiencia quem <strong>de</strong> forma indireta<br />
"comanda" esta relayao, ja que com apenas um simples movimento po <strong>de</strong> <strong>de</strong>sligar 0 aparelho<br />
receptor, interrompendo,<br />
assim, a inter-relayao em andamento.<br />
Portanto, esta relayao comunicador-audiencia preClsa ser muito bem<br />
negociada entre as partes. Obviamente 0 sucesso <strong>de</strong>sta negociayao <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ra muito mais<br />
<strong>de</strong> como (quais os recursos linguisticos, interacionais e t6picos) 0 comunicador
"barganhani" com 0 ouvinte para consegUlr a sua a<strong>de</strong>sao ao processo interativo no<br />
momento e da maneira <strong>de</strong>sejada.<br />
3.1.a Interar.;ao Unilateral - ocorre quando apenas um dos interactantes toma parte ativa<br />
nas a~6es, sendo 0 agente unico, enquanto as outras pessoas envolvidas sao apenas objetos<br />
<strong>de</strong> tais a~6es. Por exemplo, uma conferencia e uma forma <strong>de</strong> intera~ao oral unilateral;<br />
3.1. b Interar.;aoBilateral - ocorre quando ha 0 envolvimento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um agente em uma<br />
serie or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> a~6es. Os interactantes po<strong>de</strong>m executar uma ou mats a~6es<br />
conjuntamente, como, por exemplo, carregar um piano, ou separadamente, como<br />
cumprimentarem-se<br />
na rua.<br />
A unida<strong>de</strong> minima do primeiro tipo <strong>de</strong> intera~ao e, por <strong>de</strong>fini~ao, a a~ao <strong>de</strong><br />
uma pessoa que se refere a outra; enquanto que a unida<strong>de</strong> minima da intera~ao bilateral e<br />
um par or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> a~6es realizadas por duas pessoas.<br />
Na Intera~ao Radiofonica, ha a sobressalencia <strong>de</strong> um dos interact antes sobre<br />
o outro. Referimo-nos a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a~6es realizadas pelo comunicador em rela~ao<br />
ao numero <strong>de</strong> a~6es realizadas pela audiencia em gera!. Isso ocorre em fun~ao das<br />
condi~6es <strong>de</strong> recep~ao da audiencia, ou seja, 0 lugar e a situa~ao potenciais e reais em que<br />
ela se encontra no momenta em que se conecta a enuncia~ao do comunicador via radio,<br />
bem como a falta <strong>de</strong> aparato tecnico-instrumental que impossibilita a sua interlocu~ao como<br />
retorno responsive imediato, caracteristica que confere dinamismo a qualquer evento<br />
interativo.<br />
o importante e que na IR ambos os interactantes sac conscios <strong>de</strong> que a ayaO<br />
<strong>de</strong> cada um e reconhecidamente relevante para que a propria rela~ao subsista enquanto tal,<br />
embora tais a~6es nao sejam local e mutuamente negociadas. 0 processo <strong>de</strong> negocia~ao e<br />
muito mais longo e presumivel do que real, ja que nao conta com a participa~ao imediata da<br />
audiencia. Em outros termos, diriamos que a negociayao na IR e processada<br />
com intervalos
<strong>de</strong> tempo muito maiores do que na conversayao face a face, 0 que nao diminui em nada a<br />
sua necessida<strong>de</strong> e relevancia neste evento.<br />
A classificay8.o vandijkiana, tal como foi apresentada,<br />
nos leva a classificar a<br />
IR como uma interay8.o aparentemente unilateral, em razao do maior numero <strong>de</strong> ayoes<br />
produzidas por urn dos interactantes, 0 comunicador. Isto nao significa afirmar a plena<br />
passivida<strong>de</strong> do ouvinte, mas apenas admitir suas ayoes em menor quantida<strong>de</strong>.<br />
Para van Dijk, uma interayao eficaz precisa cumprir requisitos cognitivos e<br />
sociais, ou seja, e necessario que todos os interactantes tenham ou suponham que tenham<br />
uma intenyao comum cogniva e social simultaneamente ao interagirem. S6 hayed<br />
comunicayao com sentido, quando urn sujeito B tomar consciencia <strong>de</strong> que a ayao do sujeito<br />
A the foi dirigida, e assim agir coerentemente. 0 autor constata, portanto, que "os<br />
participantes da interar;iio possuem uma serie <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>veres que resultam das<br />
correspon<strong>de</strong>ntes ac;oes da interar;iio ou que as <strong>de</strong>terminam ""(p.244). 0 simples ate <strong>de</strong><br />
dirigir palavras a alguem que nao po<strong>de</strong> ou nao quer escuta-Ias nao se caracteriza<br />
forma <strong>de</strong> interayao lingilistica, segundo van Dijk (p.250)<br />
como<br />
Sendo assim, na IR, nota-se que tanto 0 comunicador quanto 0 ouvinte estao<br />
predispostos a '\mificar" as suas intenyoes. 0 primeiro, quando fala, visa a satisfazer as<br />
vonta<strong>de</strong>s, necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sejos e expectativas do segundo, a fim <strong>de</strong>, em ultima analise,<br />
conquista-Io. As ayoes do comunicador assemelham-se ao jogo <strong>de</strong> seduyao, para 0 qual as<br />
"ciladas" lingUisticas e as re<strong>de</strong>s da estrutura interacional sac cuidadosamente articuladas<br />
com 0 prop6sito <strong>de</strong> "aprisionar" <strong>de</strong>finitivamente a audiencia.<br />
Na busca da captayao exata das expectativas da audiencia para com a<br />
interayao e fundamental competencia comunicativa do falante, lato sensu, da qual <strong>de</strong>riva a<br />
sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alinhar-se a<strong>de</strong>quadamente ao ouvinte quando flutua pelos diversos tipos<br />
<strong>de</strong> falantes (principal, animador e autor) bem como a forma <strong>de</strong> estruturac;iio t6pica <strong>de</strong>ntro<br />
dos quadros do programa cujos alicerces sac as ativida<strong>de</strong>s habituais da audiencia.
Esses tres componentes supracitados, entre outros que apresentaremos mais<br />
adiante, agindo conjuntamente irao, portanto, garantir a predisposiyao do ouvinte para<br />
manter-se ligado a relayao com 0 comunicador.<br />
Van Dijk assinala (p.244) que as ayoes que formam uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
interayao vem <strong>de</strong>terminadas por certas limitayoes espacio-temporais, que sao, em parte,<br />
inerentes as ayoes condicionalmente vinculadas. Geralmente nao se consi<strong>de</strong>ra interativa uma<br />
resposta a urn cumprimento feito urn ana antes.<br />
No nidio, embora comunicador e audiencia estejam distantes fisicamente urn<br />
do outro, eles vivem uma mesma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> temporal. Isto permite que 0 ouvinte entreguese<br />
ao exercicio <strong>de</strong> imaginayao e abstrayao durante 0 resgate das intenyoes profundas e<br />
superficiais esboyadas no posta e embutidas nos pressupostos e subentendidos dos<br />
enunciados que margelam 0 verbal do comunicador. Nesse momento, 0 ouvinte po<strong>de</strong><br />
experimentar uma mudanya cognitiva e social, sendo essa ultima muito pouco frequente, em<br />
relayoes comunicativas a distancia, conforme avalia van Dijk (p.250).<br />
a autor (p.252-253) faz uma oportuna <strong>de</strong>scriyao sistematica das diferentes<br />
formas <strong>de</strong> interacao linguistic a, tomando por base a conversayao A fim <strong>de</strong> verificar a sua<br />
aplicabilida<strong>de</strong> empirica, sujeita-la-emos a IR, mas antes faremos uma breve exposiyao dos<br />
tipos e dos criterios <strong>de</strong> classificayao <strong>de</strong> urn evento como interativo:<br />
1- conversar;:aocotidiana;<br />
2-conversar;:aoformal e semi-formal,o<br />
3-consulta, interrogatorio;<br />
4-exame,o<br />
5-entre vista;<br />
6-aula, seminario, conferencia;<br />
7-assemblha, congresso;<br />
8-disputa;<br />
9-<strong>de</strong>bate, forum;<br />
10 - audiencia;<br />
11 - troca <strong>de</strong> cartas (pedido/resposta),o
A <strong>de</strong>scriyao acima foi <strong>de</strong>finida a partir dos seguintes criterios que <strong>de</strong>veriam<br />
constar em cada uma <strong>de</strong>ssas manifestar;ao verbais:<br />
1-a sequencia dos atos <strong>de</strong> fala;<br />
2-as categorias dos interactantes e seus possiveis contribuintes;<br />
3-a situac;iio social (se privada, publica ou institucional);<br />
4-0 grau <strong>de</strong> convencionalizac;iio (normatizac;iio);<br />
5-0 objetivo social da interac;iio;<br />
6-as convenc;oes sociais (regras, normas e usos)<br />
Consi<strong>de</strong>rando os diversos quadros que compoem 0 programa, 0<br />
apresentador ora realiza uma consulta (Hor6scopos) e interroga os ouvintes pelo telefone<br />
(Para ou Continua), ora mantem uma entrevista com urn <strong>de</strong>terminado convidado<br />
(Conversando com 0 Cartaz). Em outros momentos, ele ensina aos seus ouvintes quais<br />
<strong>de</strong>vem ser os valores eticos, morais, politicos mais relevantes a vida ou como proce<strong>de</strong>r<br />
mediante <strong>de</strong>terrninadas situayoes-surpresas da vida (Paulo Lopes, Voce e a Verda<strong>de</strong>). Ha<br />
ainda seqiiencias inteiras em que cartas sac respondidas ( <strong>de</strong> Corac;iio pra Corac;iio) e<br />
<strong>de</strong>bates sac realizados (Debates do Paulo Lopes).<br />
Portanto, a Interayao RadiofOnica consegue convergir para si trayos <strong>de</strong><br />
quase todas as formas <strong>de</strong> interar;ao apontadas por van Dijk, constituindo-se, por isso, em<br />
uma forma hibrida <strong>de</strong> comunicayao verbal, consi<strong>de</strong>rando 0 evento em toda a sua totalida<strong>de</strong>.<br />
Quanto aos criterios vandijki<strong>anos</strong> para classificar divers as forrnas <strong>de</strong> eventos<br />
interacionais, po<strong>de</strong>mos perceber que 0 comunicador, mesmo nao estando em situayao <strong>de</strong><br />
conversayao face a face com a audiencia, realiza 0 criterio numero 1-a sequencia dos alos<br />
<strong>de</strong> fala que convem <strong>de</strong>ntro do seu discurso, talvez ate com maior fluencia e <strong>de</strong>sembarayo<br />
por nao estar sendo observado diretamente pelo ouvinte. Exemplos:
Ex. 48: 41-42.<br />
1.PL antes <strong>de</strong> toma qualquer <strong>de</strong>cisao /<br />
2. converse com 0 seu coral;ao \<br />
Ex. 49: 82-84.<br />
1.PL entao 0 neg6cio e 0 seguinte 6 / nesse verao /<br />
2. use e abuse do sabor <strong>de</strong> Mate Leao \<br />
3. AI - QUE - DE - Li - CIA \ ((efeito eco))<br />
Ex. 50: 92-94.<br />
l.PL quem vai ganM / Nelson Gon
apropriar-se do turno e pronunciar-se atraves <strong>de</strong>le, libertando-se da situac;;ao <strong>de</strong><br />
"passivida<strong>de</strong>" imposta pelas condic;;oes <strong>de</strong> recepc;;aopara a <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> ou ac;;aolinguistica,<br />
ainda que latente e inaudivel aos ouvidos do comunicador, seu ouvinte en<strong>de</strong>rec;;ado em<br />
potencial.<br />
o pr6prio comunicador instiga, provoca eleva 0 ouvinte a replicar, quando<br />
simula uma conversac;;ao, mesmo conhecendo as limitac;;oesdo veiculo, conforme po<strong>de</strong>mos<br />
verificar nos exemplos abaixo:<br />
Ex. 52: 15-17.<br />
l.PL alo alo minha amiga / como vai / tudo bem / dormiu bem /<br />
2. passou bem / ta calor e / NOSSA \ que CA-LOR hein / como ta quente// ce ve \<br />
3. essa hora da manhaja ill quente / [...]<br />
Ex. 53: 224-225.<br />
l.PL ah Paulo Lopes / pomada Minancora ate hoje e boa / ate hoje \<br />
2. OITENta <strong>anos</strong> e ainda nao inventaram coisa melh6 \<br />
Ex. 54: 619-623.<br />
l.PL arnigos da radio globo / DROga e uma <strong>de</strong>sgrac;a \<br />
2. a droga e urn caminho sem VOLta \<br />
3. e urna estrada que s6 tern urna mao /<br />
4. que s6 leva ao abismo \<br />
5. mas Paulo Lopes ce ta falando isso por que / (3) [... ]<br />
Concomitantemente aos enunciados do comunicador dirigidos ao ouvinte,<br />
aquele apresenta uma provavel "replica" para tais enunciados que este supostamente utilizalos-ia<br />
como contribuic;;ao responsiva. No exemplo 53, observa-se que a serie <strong>de</strong> perguntas<br />
comuns em aberturas conversacionais sac seguidas por micro-pausas, havendo, pois, espac;;o<br />
suficiente para 0 tipo <strong>de</strong> resposta esperada. Por outro lado, tais perguntas sao antes<br />
ret6ricas, pois buscam apenas conseguir a a<strong>de</strong>sao inicial tao importante it manutenyao da<br />
interayao. Possivel pergunta e esperada resposta ocorrem em um mesmo conjunto <strong>de</strong><br />
enunciados e sem pausas em: ah Paulo Lopes / pomada Minancora ate hoje e boa / ate<br />
hoje \. A competencia comunicativa faz com que 0 comunicador suponha uma indagac;;ao<br />
provavel do ouvinte que esteja engajado a relaC;;ao- mas Paulo / voce esta falando<br />
que /.<br />
isso por
Em suma embora na IR os interactantes tenham os papeis bem <strong>de</strong>finidos,<br />
,<br />
conforme as Estruturas <strong>de</strong> Participac;ao e Produc;ao que esboyamos, tais papeis nao saD<br />
estanques. Eles nao S3.0inamoviveis do ponto <strong>de</strong> vista da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intercambiaremse<br />
no evento, sendo necessario apenas que 0 comunicador imagine uma provavel<br />
interveny3.o da audiencia e a adicione a sua propria interveny3.o para que a IR vislumbre<br />
momentos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira<br />
conversay3.o. Certamente essa troca <strong>de</strong> papeis fica apenas ao nivel<br />
da virtualida<strong>de</strong>, da imaginay3.o do comunicador, quando busca tomar conversacional a<br />
comunicay3.so pelo radio, haja vista a impossibilida<strong>de</strong> em funyao das condiyoes <strong>de</strong> recepy3.o<br />
do veiculo.<br />
o criterio numero 3 - situac;ao social em que ocorre a Interay3.o RadiofOnica<br />
e essencialmente publica. Ondas <strong>de</strong> radio frequencia S3.0lanyadas a atmosfera oriundas <strong>de</strong><br />
transrnissores superpotentes, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emiss3.o <strong>de</strong> sinal a centenas <strong>de</strong> quilometros<br />
<strong>de</strong> distancia do local <strong>de</strong> emiss3.o, sem en<strong>de</strong>reyo especifico e ao mesmo tempo bastante<br />
especificado: os aparelhos receptores <strong>de</strong> radio <strong>de</strong> potenciais ouvintes, cujo raio <strong>de</strong> alcance<br />
esteja <strong>de</strong>ntro das fronteiras limitrofes dos sinais <strong>de</strong> radiofrequencia transmitidos pela<br />
estay3.o.<br />
Portanto, todos aqueles que se mantiverem proximos a aparelhos <strong>de</strong><br />
recepy3.o <strong>de</strong> radiofrequencia sintonizados em uma certa faixa do dial, ou seja, a que<br />
funcione a <strong>de</strong>terminada estay3.o <strong>de</strong> radio, estar3.o em condiyoes <strong>de</strong> participar da interay3.o.<br />
Por se dirigir a todos e a ninguem especificamente, isto e, por <strong>de</strong>sejar atingir<br />
o publico em geral, ja que para fazer parte do universo <strong>de</strong> ouvintes especifico <strong>de</strong> urn dado<br />
programa basta que qualquer pessoa ligue 0 seu aparelho receptor na frequencia em que<br />
opera a tal ernissora e mantenha-se relativamente atento, 0 comunicador utiliza varias<br />
estrategias linguistico-interativas, entre elas pronomes in<strong>de</strong>finidos e pessoais empregados<br />
genericamente. Eles S3.0capazes <strong>de</strong> incluir qualquer individuo como elemento integrante da<br />
sua audiencia ratificada, conforme po<strong>de</strong>mos observar no exemplo abaixo:<br />
Ex. 55: 11-12.<br />
l.PL rnui:::to born dia a todos que estao ouvindo a globo: \<br />
2. vo::ce:: ouvindo a gJobo: / esta em prirneiro Juga \
Nesse UnIverso heterogeneo <strong>de</strong> ouvintes virtuais nao sac relevantes as<br />
variaveis sexo, cor, raya, religiao, i<strong>de</strong>ologia, estrato social, nivel cultural; todos aqueles<br />
radio-ouvintes que <strong>de</strong>sejarem ser interactantes no evento po<strong>de</strong> faze-Io sem a menor<br />
restriyao. Vale salientar que evi<strong>de</strong>ntemente,<br />
cada programa <strong>de</strong> radio tern em vista urn perfil<br />
<strong>de</strong> ouvinte, ou seja, uma audiencia en<strong>de</strong>rec;;ada, para a qual a<strong>de</strong>qua 0 seu formato artistico;<br />
certamente urn programa direcionado a eleite social, que comp5e uma pequena parcela da<br />
populayao, eliminaria mais ouvintes do que contrario. Porem, nada impe<strong>de</strong> que aqueles que<br />
nao se enquadrem num <strong>de</strong>terminado perfil <strong>de</strong> ouvinte ou programa 0 ouc;;a.Ate por que se<br />
trata <strong>de</strong> uma situa
o radio, enquanto instrumento <strong>de</strong> comunicayao, foi criado fundamentalmente<br />
para encurtar as distancias entre as homens, facilitando a contacto e a troca <strong>de</strong> informayoes<br />
individuais au coletivas. No Brasil, 0 radio nasceu - em 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1922 - com 0<br />
objetivo inicial <strong>de</strong> "levar a cada canto um pouco <strong>de</strong> educar;a.o, ensino e<br />
alegria "(Ortriwano 1985: 14). As primeiras emissoras eram sustentadas por clubes ou<br />
associayoes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alistas que acreditavam no pontencial <strong>de</strong> comunicayao do novo veiculo.<br />
Posteriormente, com a aumento dos custos <strong>de</strong> manuntenyao, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associados<br />
<strong>de</strong>cresceu, fazendo com que algumas emissoras-clube chegassem a <strong>de</strong>saparecer. Contudo,<br />
<strong>de</strong>scobriu-se no radio uma excelente canal para a veiculayao <strong>de</strong> mensagens publicitarias,<br />
tranfigurando-o imediatamente. "0 que era 'erudito', 'educativo', 'cultural' transforma-se<br />
em 'popular', voltado ao lazer e it diversa.o''(p.15). 0 advento da publicida<strong>de</strong> realmente<br />
chegara no momenta exato para a subexistencia daquele midia. Porem, como consequencia,<br />
a preOCUpayaOeducativa foi sendo <strong>de</strong>ixada <strong>de</strong> lado, para dar lugar as necessida<strong>de</strong>s coletivas<br />
<strong>de</strong> recreayao e informayao em funyao da sua penetrayao nos recoditos das gran<strong>de</strong>s massas<br />
populares, com subisidios do po<strong>de</strong>r economico e interesses meramente mercantis que<br />
movem patrocinadores avidos par vultosos lucros.<br />
As radios <strong>de</strong> maior audiencia hoje em qualquer parte do Brasil sao aquelas<br />
que investem alto em programayoes <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s, direcionadas para a segmento popular<br />
especificamente as classes C, D, E, cujo po<strong>de</strong>r aquisitivo e baixo, mas 0 numero <strong>de</strong><br />
potenciais consumidores<br />
e altissimo.<br />
Poucas SaD aquelas emissoras que se arriscam a investir em programas <strong>de</strong><br />
cunha estritamente educativo au jornalistico. Geralmente as que assim proce<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sistem<br />
rapidamente, em razao da baixa audiencia que, par sua vez, afasta a maioria dos<br />
anunciantes.<br />
Curiosamente e na funyao social <strong>de</strong> entretenimento em que repousa a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instaurayao da Interayao RadiofOnica frequetemente mais eficaz, em razao,<br />
entre outros fatores, dos t6picos calcados no cotidiano dos ouvintes fartamente abordados<br />
em programas <strong>de</strong> radio <strong>de</strong> cunho popular. A gran<strong>de</strong> maioria da audiencia parece preferir<br />
ligar a radio para ouvir amenida<strong>de</strong>s a liga-lo para escutar noticias, <strong>de</strong>bates educativos,
entrevistas com especialistas, entre outros; a maior parcela da populat;ao se afasta <strong>de</strong> tudo<br />
que the exija raciocinios complexos, calculos inferenciais ou concentrat;ao em <strong>de</strong>masia.<br />
Quando esses elementos formativos e informativo s sac inseridos na programat;ao,<br />
normalmente ocupam muito pouco tempo no ar, exceto em se tratando <strong>de</strong> assunto em<br />
evi<strong>de</strong>ncia que tenha atraido gran<strong>de</strong> interesse da populat;ao, ou sac colocados em honirios<br />
alternativos nos quais 0 numero <strong>de</strong> ouvintes e consi<strong>de</strong>ravelmente menor. Po<strong>de</strong>mos citar, a<br />
titulo <strong>de</strong> exemplo, as nipidas insert;oes <strong>de</strong> noticias no PSPL, sempre nas horas cheias, bem<br />
como 0 quadro Debates do Paulo Lopes veiculado apenas na ultima hora do programa,<br />
quando 0 indice <strong>de</strong> audiencia ja <strong>de</strong>monstra uma sensivel queda, ce<strong>de</strong>ndo involuntariamente<br />
espat;o para os outros meios <strong>de</strong> comunicat;ao.<br />
A segunda funt;ao social do radio, informar <strong>de</strong> manelra mats linear e<br />
sistematica, vem a reboque, quase que somente por consistir urn imperativo legal imposta as<br />
emissoras concessionarias<br />
do servit;o <strong>de</strong> radiodifusao no Brasil.<br />
Se tomarmos 0 termo informat;ao no sentido amplo, ou seJa, aquela<br />
veiculada assistematicamente, essa funt;ao social apresenta-se mais freqiientemente nas<br />
ativida<strong>de</strong>s radiofOnicas, ja que toda relat;ao comunicativa esta calcada fundamentalmente<br />
sobre informat;oes <strong>de</strong> qualquer especie, dimensao ou abrangenci~, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mais relevantes<br />
para 0 <strong>de</strong>stino dos habitantes do tmiverso ate as mais simples e banais da vida corriqueira da<br />
populat;ao.<br />
As Conven90es, criterio 6 <strong>de</strong> van Dijk, da interat;ao pelo radio basicamente<br />
tangenciam 0 grau <strong>de</strong> convencionaliza9ao/normatiza9ao, criterio 4, ja mencionado. 0 que<br />
nos parece ficar claro e 0 conhecimento do limite <strong>de</strong> participat;ao que cada urn dos<br />
interact antes possuem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse processo comunicativo. Tanto radialista quanta<br />
audiencia estao plenamente conscios das fronteiras <strong>de</strong> suas at;oes dirigidas <strong>de</strong> urn para 0<br />
outro. Por exemplo, a audiencia espera que 0 programa, em seus diversos quadros, seja<br />
orientado e coor<strong>de</strong>nado pelo apresentador-ancora, que 0 administra com excelencia,<br />
realizando, <strong>de</strong>ntro das expectativas, todas as ativida<strong>de</strong>s que the sac outorgadas e<br />
<strong>de</strong>senvolvidas durante 0 evento. 0 ouvinte, quando participa diretamente da IR na funt;ao<br />
<strong>de</strong> falante efetivo, apenas limita-se a realizar as ayoes apontadas pelo comunicador, bem
como sabe que nao po <strong>de</strong> <strong>de</strong>longar a sua participayao,<br />
interrompido a qualquer momenta pelo apresentador.<br />
pois correra 0 risco <strong>de</strong> ter 0 tumo<br />
Observe 0 exemplo:<br />
Ex. 56: 209-213.<br />
l.PL Tereza minha amiga ai <strong>de</strong> Maua I voce vai <strong>de</strong> Nelson Gon~alves ou ze Augusto I<br />
2.03 Nelson Gon~alves \<br />
3.PL e:: oferece pra quem I<br />
4.03 ofere~o pra minha familia I Paulo meu marido \<br />
5.PL otimo entao \ urn abra~o na sua familia \ tchau querida 1[ ... ]<br />
Os termos em negrito representam as respostas super-objetivas dadas pela<br />
ouvinte, manifestando conhecer empiricamente os principios <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e relevancia<br />
conversacional tal como foi exposto por H. Grice 9.<br />
Quando <strong>de</strong>svia-se do ponto fulcral indicado, 0 proprio comunicador,<br />
polidamente, procura orienta-Io na direyao correta para a qual 0 t6pico discursivo <strong>de</strong>veria<br />
carninhar. Isso <strong>de</strong>monstra consciencia do seu papel <strong>de</strong> manipulador das ayoes interativas na<br />
IR. Atente para este exemplo ilustrativo:<br />
Ex. 57: 152-157.<br />
l.PL «risos» ta certo \ e [[ai I all<br />
2.02 [[ah:: tava com sauda<strong>de</strong>/leu t6 Iigando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes do nata::1/<br />
3.PL «risos» [[ta certo \<br />
4.02 [[mas nao consegui \<br />
5.PL t:i certo meu ami) \ voce vai <strong>de</strong> Nelson Gon~alves ou Jose Augusto /<br />
6.02 nao \ Nelson Gon~alves \ [...]<br />
Alem <strong>de</strong> utilizarem com eompeteneia dois principios cooperativos <strong>de</strong> Grice<br />
(quantida<strong>de</strong> e relevaneia), acreditamos tambem estarem claras para os interactantes da IR,<br />
pelo menos, quatro regras fundamentais, as quais foram inspiradas em quatro das cinco<br />
caracteristicas da eonversayao do mo<strong>de</strong>lo postulado por Sakes, Sehegloff e Jefferson<br />
9Grice (1975, apud. Dascal 1882), em artigo intitulado 'Logica e Conversa~ao", formula 0 que chamou <strong>de</strong><br />
Principio Cooperativo, no qual <strong>de</strong>fendc que os participantes <strong>de</strong>veriam fazer a sua contribui~ao<br />
conversacional tal como e requerida pelo intcrcambio conversacional em que estivessem engajados. Este<br />
principio se subdivi<strong>de</strong> em quatro maximas, que sac: Quantida<strong>de</strong> (fa~a a sua contribuiC;aotao informativa<br />
quanto necessaria aos prop6sitos da interac;ao),Relevancia (fa~a a sua contribuiC;aorelacionada ao topico da<br />
intera~ao), Qualida<strong>de</strong> (seja verda<strong>de</strong>iro). Modo (seja claro).
(1) a participac;ao <strong>de</strong> peEo menos dois interactantes na interac;ao; na IR<br />
comunicador e 0 ouvinte estao diretamente envolvidos no evento. No exemplo 58, os<br />
termos indicadores <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reyamento minha amiga representam a ratificayao da audiencia<br />
para a qual passani a dirigir seus atos <strong>de</strong> fala, ou seja, as mulheres especificamente. Esta e<br />
uma estrategia <strong>de</strong> tratamento globalizadora e ao mesmo tempo personificadora, pois toda e<br />
qualquer ouvinte do sexo feminino que ouya 0 programa po<strong>de</strong>ri sentir-se ratificada e<br />
consequentemente cativada pelo comunicador por consi<strong>de</strong>ri-la sua amiga. 0 uso <strong>de</strong> tais<br />
termos <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reyamento no singular, individualiza e confere exclusivida<strong>de</strong> nas ayoes entre<br />
os interaractantes, criando urn atmosfera <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> pr6pria <strong>de</strong> uma relayao a dois. Ji no<br />
exemplo 59, 0 comunicador tern como ouvinte-en<strong>de</strong>reyado uma pessoa especifica, cuja<br />
conversa e ouvida por toda a audiencia ratificada que estava sintonizada naquela emissora<br />
no momento em que os enunciados foram ao ar.<br />
Ex. 58:15-17.<br />
I.PL alo aIo minha amiga / como vai / tudo bem / dormiu bem /<br />
2. pas sou bem / ta calor e/NOSSA \ que CA - LOR ein / como ta quente// ce ve \<br />
3. essa hora da manha / ja ta quente / [...]<br />
Ex. 59: 95-99.<br />
l.PL aIo aIo bom dia /<br />
2.01 born dia Paulo ((por telefone»<br />
3.PL quem ta falando /<br />
4.01 Helena /<br />
5.PL tudo bem / Helena /<br />
6.PL oi \ tudo bem / e voce / [... ]<br />
Na Interayao radiof6nica os interactantes parecem compartilhar urn mesmo<br />
foco <strong>de</strong> atenyao, ou seja, cumprem 0 requesito (2) estarem em interac;ao centrada,<br />
convergindo, obviamente, para urn mesmo t6pico. Isso se evi<strong>de</strong>ncia quando dos<br />
telefonemas, cartas e visitas pessoais a emissora motivados por alguma necessida<strong>de</strong> ou<br />
simplesmente aten<strong>de</strong>ndo a algum apelo feito pelo comunicador. Os quadros Gran<strong>de</strong><br />
momenta <strong>de</strong> Fe e De Corac;ao pra Corac;ao, por <strong>de</strong>terem os maiores indices <strong>de</strong> audiencia,<br />
representam bons exemplos <strong>de</strong>ssa partilha <strong>de</strong> foco. A interayao na verda<strong>de</strong> s6 acontece<br />
porque hi audiencia, ito e, hi a presenya do outro, caso contririo<br />
nao haveria razao para<br />
existir, logo e inadimissivel a audiencia nao partilhar do mesmo foco <strong>de</strong> atenyao cuja<br />
inadicayao e dada pelo comunicador.
Embora haja varia
Para concluirmos este capitulo, po<strong>de</strong>riamos advogar para a comunicayao que<br />
acontece pelo didio, a partir do conceito, caracteristicas e tipos <strong>de</strong> interayao aqui<br />
discutidos, 0 status categ6rico <strong>de</strong> interac;iioplena e verda<strong>de</strong>ira, pois ela apresenta<br />
interlocutores que organizadamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn contexto hist6rico-social, por meios <strong>de</strong><br />
enunciados claros, consi<strong>de</strong>ram-se e se respeitam mutuamente no evento, esfon;ando-se e<br />
cooperando colaborativamente para 0 estabelecimento, manutenyao e sucesso da interrelayao,<br />
obviamente com a participayao mais efetiva <strong>de</strong> uns do que <strong>de</strong> outros, em funyao da<br />
natureza do canal utilizado. Este tipo interacional ainda guarda muitas semelhanyas com a<br />
conversayao, divergindo apenas no ponto relacionado a troca <strong>de</strong> falantes, quando os atos <strong>de</strong><br />
fala do comunicador sac dirigidos a audiencia impossibilitada <strong>de</strong> dar-lhe urn retorno<br />
responsive imediato.
Este capitulo visa a apontar e a <strong>de</strong>screver alguns elementos do Texto e do<br />
Discurso utilizados estrategicamente pelo comunicador, quando das suas intervenvoes na<br />
Interavao Radiof6nica.<br />
No nidio, 0 comunicador constr6i a interayao com a audiencia totalmente<br />
fundamentada na oralida<strong>de</strong> e, par isso, sac preservadas a espontaneida<strong>de</strong> e 0 dinamismo que<br />
a fala oferece aqueles que <strong>de</strong>la se utilizam. Por ser basicamente falado, 0 texto radiof6nico<br />
presssupoe rapi<strong>de</strong>z na elaborayao e na produyao. No radio, sobretudo, a fala <strong>de</strong>ve ser<br />
fluente e <strong>de</strong> facil compreensao, por conseguinte, <strong>de</strong>ve trazer imanentemente todas as marcas<br />
caracteristicas da pros6dia, fragmentayao, anacolutos, repetiyoes, correvoes, hesitayoes,<br />
marcadores conversacionais, topicalizayao, entre outros trayos da oralida<strong>de</strong>. Aqui, ocuparnos-emos<br />
especificamente com apenas duas <strong>de</strong>ssas marcas, as quais sac: repetivao e<br />
marcadores conversacionais. Tais trayos da fala receberao uma analise ao nlvel do texto,<br />
por isso serao <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> Elementos do Texto 10.<br />
Da mesma forma, serao tratados dois gran<strong>de</strong>s parametros da oralida<strong>de</strong>, os<br />
quais chama-Ios-emos <strong>de</strong> Elementos do Discurso 11, tais como 0 dialogismo <strong>de</strong>ntro da<br />
perspectiva <strong>de</strong> Bakhtin, e 0 envolvimento nas relayoes interpessoais tal como fora esbovado<br />
por Deborah Tannen e por outros lingl1istas como Chafe, Gumperz, por exemplo. Com isto,<br />
estara sendo verificada a hip6tese central <strong>de</strong>s sa pesquisa, a qual propoe que 0 comunicador<br />
utiliza-se <strong>de</strong>sses elementos estrategicamente, isto e, repetiyao, marcadares conversacionais,<br />
marcas do dialogismo e do envolvimento sac empregados, sobretudo, para tomar a<br />
comunicayao pelo nidio bem similar a conversayao.<br />
10 Queremos salientar que a divisao entre Texto e Discurso que aqui adotamos e meramente metodol6gica<br />
e se coloca longe das gran<strong>de</strong>s discurs6es conceituais a respeito <strong>de</strong>sses dois constructos fundamentais para<br />
este elelementos lingiiisticos. Sabe-se que ha lingiiistas que consi<strong>de</strong>ram Texto - '\lm produto fisico"e<br />
Discurso - '\lm processo dinamico <strong>de</strong> expressao e interpretar;ao". Outros <strong>de</strong>finem Texto como uma nor;ao<br />
aplicavel a ESTRUTURA SUPERFICIAL, e Discurso a ESTRUTURA PROFUNDA. No sentido<br />
diametralmente oposto alguns estudiosos conceituam Texto como uma nor;aoabstrata e Discurso como a sua<br />
REALIZA
Conforme ja anunciado, selecionamos duas, <strong>de</strong>ntre as varias caracteristicas<br />
da conversa
Observando a repetiyao sob a perspectiva da produyao constitufda<br />
dimensionalmente por forma e funyao, Marcuschi (1992) faz a seguinte distinyao <strong>de</strong> tipos<br />
formais do fenomeno:<br />
a) auto-repetit;oes - ocorrentes quando 0 mesmo falante produz R (repetiyao) eM (matriz).<br />
b) hetero-repetic;oes - evi<strong>de</strong>ntes quando diferentes falantes produzem Mea sua R.<br />
Visando a estrutura <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> turnos das interayoes em geral, 0 autor faz a<br />
seguinte diferenciayao:<br />
a) repetic;oes intra-turn os - sac aquelas realizadas <strong>de</strong>ntro do mesmo turno.<br />
b) repetic;oes inter-turn os - sao aquelas realizadas em turnos diferentes.<br />
Consi<strong>de</strong>rando a distribuiyao dos elementos repetidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
proposiyao oracional, baseado nos princfpios <strong>de</strong> organizayao t6pica como linearida<strong>de</strong> e<br />
seqi.ienciayao hienirquica do t1uxo informacional disposto em urn texto, Marcuschi aponta<br />
para os seguintes tipos <strong>de</strong> repetiyao:<br />
a) repetic;iio contigiia - aquela que nao perrnite a presenya <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>scontinuador<br />
discursivo como hesitayao, marcador conversacional ou qualquer fenomeno semelhante.<br />
b) repetic;iio pr6xima - aquela que permite a presenya <strong>de</strong> elementos hesitativos ou<br />
marcadores <strong>de</strong>ntro das fronteiras <strong>de</strong> urn t6pico discursivo 12, quando em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
c) repetic;iio distanciada - aquela que ocorre com a retomada do t6pico discursivo, ap6s seu<br />
Ap6s reavaliar os criterios que <strong>de</strong>terminam as divers as c1assificayoes das<br />
funyoes propostas para c1assificayao da repetiyao em tres linguas, a saber: portugues, ingles<br />
e frances, 0 autor seleciona, <strong>de</strong>ntro da dimensao funcional, dois aspectos que direcionam 0<br />
seu mo<strong>de</strong>lo te6rico. Sao, portanto, os aspectos relacionados ao texto eaodiscurso, nos<br />
quais operam 0 fenomeno da repetiyao. Desses aspectos <strong>de</strong>rivam as junc;oes textuais eas<br />
junc;oes discursivas, sobre as quais 0 autor faz a seguinte afirmayao:<br />
12Metodologicamente, 0 autor consi<strong>de</strong>ra t6pico discursivo uma unida<strong>de</strong> discursiva manifesta em<br />
proposic;:6es mutuamente relevantes <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma dimensao semantica e <strong>de</strong> uma estrutura informacional<br />
lexica e tematicamente unificadas.
"numa formular;ao nao muito precisa, po<strong>de</strong>r-se-ia dizer que as funr;oes<br />
textuais estao na or<strong>de</strong>m da produr;ao e voltam-se mais acentuadamente para as<br />
ativida<strong>de</strong>s em que 0 falante se acha envolvido, ao passo que as funr;oes<br />
discursivas dizem respeito sobretudo a recepr;aoe, como tal, orientam-se para<br />
as ativida<strong>de</strong>s em quefalante e ollvinte estao engajados" (p.114).<br />
o autor propoe, entao, uma ampla caracterizayao dos aspectos formais e<br />
funcionais, textuais e discursivos os quais sintetizamos no esquema abaixo, para que<br />
tenhamos uma melhor visualizayao da ayao da repetiyao e, em seguida, relizarmos a amilise<br />
do fen6meno na Interayao Radiof6nica com mais clareza e precisao.<br />
Monitorados pelo este esquema resumitivo, po<strong>de</strong>remos entao mapear as<br />
manifestayoes do fen6meno repetiyao na interayao em analise. Certamente nem todos os<br />
tipos formais ou funcionais po<strong>de</strong>rao ser encontrados aqui, nem ainda buscaremos explicitar<br />
todas as suas apariyoes, e muito menos as quantificaremos, apenas intentaremos evi<strong>de</strong>nciar<br />
as que nos parecem mais relevantes para a Interayao Radiof6nica. A propria transcriyao do<br />
corpus procurou <strong>de</strong>stacar a presenya da repetiyao no aspecto da produyao, auto e heterorepetiyao,<br />
intra-turno e contigila, por ser mais facilmente perceptivel, conforme mostram os<br />
exemplos abaixo:<br />
Ex. 61: 8-11.<br />
I.PL bo:m dia / (M)<br />
2. bo:m dia / (Rl)<br />
3. bo:m dia / (R2)<br />
4. muito born dia (R3) a todos que estao ouvindo a globe: \
Resumo com os tipos <strong>de</strong> funl,:oes da repetil,:ao <strong>de</strong>ntro d6s aspectos formais e funcionais<br />
Dimensao Aspecto Marca tipo<br />
Forma Produl,:ao auto-repetil,:ao<br />
hetero-repetil,:ao<br />
Distribuil,:' 0<br />
repetil,:ao contigiia<br />
repetil,:ao proxima<br />
reneticao distanciada<br />
Funl,:ao Texto coesao seqiiencial,:ao<br />
referencial,:ao<br />
formulal,:ao<br />
reconstrul,:ao <strong>de</strong> estruturas<br />
correl,:ao<br />
expansao<br />
parentetizal,:ao<br />
enquadramento<br />
Discurso compreensao intensifical,:ao<br />
reforl,:o<br />
escIarecimento<br />
topico<br />
amarral,:ao intermitente<br />
reintrodul,:ao <strong>de</strong> topico<br />
<strong>de</strong>limital,:ao <strong>de</strong> episOdios<br />
argumentativida<strong>de</strong> reafirmal,:ao<br />
contraste<br />
contestal,:ao<br />
intera~ao<br />
monitoral,:ao <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> turno<br />
ratifical,:ao do papel <strong>de</strong> ouvinte<br />
cria~iio <strong>de</strong> humor/ironia<br />
incorpora~ao<br />
responsivida<strong>de</strong><br />
Ex. 62: 61-64.<br />
l.PL se voce que//separ:i::: /<br />
2. se voce acha que <strong>de</strong>ve ir embo::ra / (M)<br />
3. se voce acha que <strong>de</strong>ve muda::: / (R1)<br />
4. se voce acha que <strong>de</strong>ve larga tu:::do / (R2)<br />
Nao e dificil se perceber que tanto no exemplo 61 quanta no 62 hci uma<br />
nitida retomada dos elementos lexicais (M) sem varias;oes formais, reutilizando inclusive a
mesma estrutura oracional e igual curva entoacional, no caso, ascen<strong>de</strong>nte. Apenas na ultima<br />
sentenya do exemplo 61, linha 4, ocorre urn ajuntamento <strong>de</strong> vocabulos ao item repetido<br />
"born dia" sem ocorrencia do alongamento <strong>de</strong> vogal e uma curva entoacional <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte<br />
por ser final <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> comunicativa. A primeira frase do exemplo 62, que correspon<strong>de</strong> it<br />
M, repete-se nas duas DC, constituindo assim as Rs; embora haja variayao nos verbos finais<br />
<strong>de</strong> cada sentenya, todos, no contexto, parecem ter a mesma significayao: ir embora,<br />
muda,<br />
larga tudo.<br />
Analisaremos a seguir as ocorrencias <strong>de</strong> repetiyoes realizadas pelo mesmo<br />
falante, no caso 0 comunicador, quando tais repetiyoes textuais atuam como elementos da<br />
progressao t6pica ou quando reformulam as contribuiyoes, a fim <strong>de</strong> conferir mais clareza it<br />
id6ia exposta.<br />
a) funr;ao <strong>de</strong> coesao - esse tipo atua na progressao temcitica, atrav6s dos processos <strong>de</strong><br />
seqiienciayao e referenciayao. As ilustrayoes abaixo esclarecerao urn pouco mais esse tipo<br />
<strong>de</strong> repetiyao ocorrente na JR.<br />
Ex. 63: 23-29.<br />
l.PL hoje e quarta-feira dia dois <strong>de</strong> fevereiro \ (M)<br />
2. hoje e dia <strong>de</strong>llda apresentayao do senh61 (RI)<br />
3. hoje e dia da Nossa Senhora das Can<strong>de</strong>ias I (R2)<br />
4. hoje e dil/dia <strong>de</strong> Sao Feliciano <strong>de</strong> Roma \ (R3)<br />
5. hoje e aniversario da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ltu \ (M) al6 ltu:: I (RI) urn abraco ai \ (M)<br />
6. tanta gente que ouve 0 Paulo Lopes I em Itu \ (R2)gran<strong>de</strong> abral,:o ai \ (R)<br />
7. paraMns pelo aniversario da cida<strong>de</strong> ein 1[ ... ] (R)<br />
Ex. 64: 35-44.<br />
l.PL antes <strong>de</strong> toma qualque <strong>de</strong>cisiio / (M) da sua vida / seja ela qual for / (M)<br />
2. qual for \ <strong>de</strong>cisiio <strong>de</strong> amor I (RI)<br />
3. <strong>de</strong>cisiio <strong>de</strong> sentimento I (R2)<br />
4. <strong>de</strong>cisiio financeira / (R3)<br />
5. <strong>de</strong>cisiio <strong>de</strong> emprego / (R4)<br />
6. num importa qual seja a <strong>de</strong>cisao \ (R)<br />
7. antes <strong>de</strong> toma qual que <strong>de</strong>cisiio I(R)<br />
8. converse com 0 seu coral,:iio \ (M)<br />
9. pergunte pro seu coracao / se voce <strong>de</strong>ve faze aquilo ou nao \ (R)<br />
10. ouya a sua INTUH;:Ao \ [...]
Em ambos os exemplos, e evi<strong>de</strong>nte a presen
Ex. 66:11-14.<br />
l.PL rnui:::to born dia a todos que estilo ouvindo a globo: \ (M)<br />
2. vo::ce:: ouvindo a globo: \ esta em prirneiro luga \ (Rl)<br />
3. bom dia a todas as rnulheres I (R2)<br />
4. que ouvem at 0 Paulo Lopes I born dia a todas as miles <strong>de</strong> familia I (R3)<br />
o trecho quase inteiro e uma reedi~ao <strong>de</strong> SI mesmo, com pequenas<br />
modifica~oes. 0 falante vai amalgamando elementos lexicos a informa~oes ja fornecidas,<br />
fazendo variar os en<strong>de</strong>re~ados, pois parte <strong>de</strong> elementos lexicais mais macros e in<strong>de</strong>finidos<br />
como ocorrem com os pronomes todos e voce que, nesse caso, po<strong>de</strong>m se referir a qualquer<br />
ouvinte, para sintagmas mais especificos como rnulheres e rnaes <strong>de</strong> fa rnilias, sempre<br />
formulando ora~6es, reaproveitando estruturas anteriores como born dia, ouvindo e<br />
c) fum;Cio <strong>de</strong> formular;Cio com correr;Cio - repetiyao com variayao cuja funyao e corrigir a<br />
sequencia textual. As ilustra~oes abaixo mostram muito bem esse tipo:<br />
Ex. 67:133-134.<br />
l.PL alo alo I um a urn \ (M)<br />
2. um a um nao \ um a zero pro Nelson Gon~alvesll [...] (R)<br />
Ex. 68: 326-328.<br />
I.PL alguern se preocupa com voce I<br />
2. e 0 Paulo Lopes aten<strong>de</strong>ndo as pessoas I<br />
3. que vem buscar os parentes I (M) que vern procurar os parentes I (R)<br />
Ex. 69: 740-742.<br />
l.PL rneus arnigos leu:: vo fala com 0 rninistro II (M)<br />
2. 0 ex-rninistro da previ<strong>de</strong>ncia 0:: Antonio Brito \ (Rl)<br />
3. 0 ex-ministro Antonio Brito ta no telefone I (R2)<br />
E CUflOSO observar que nos tres exemplos as repetiyoes sac contiguas,<br />
exatamente porque 0 falante havia percebido 0 equivoco imediatamente ap6s a sua<br />
realiza~ao, sem, no entanto, permitir que houvesse tempo para que se fizesse qualquer<br />
comentario sobre a gafe cometida. Em 67, 0 result ado da disputa entre os cantores fora<br />
corrigido por meio <strong>de</strong> uma repeti~ao seguida <strong>de</strong> reconstru~ao da senten~a - urn a urn para<br />
urn a zero, as curvas entoacionais<br />
no trecho apontam para uma real correyao e nao para<br />
algum tipo <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira por parte do falante; em 68, 0 verbo mais a<strong>de</strong>quado seria
procurar e nao buscar, cuja a reparayao e feita <strong>de</strong> pronto; e finalmente em 69, Rl e R2<br />
<strong>de</strong>monstram<br />
a correyao por repetiyao feita pelo falante para com 0 antigo cargo ocupado<br />
pelo ouvinte em urn <strong>de</strong>terminado momenta <strong>de</strong> sua carreira politica: ministro. Sendo Rl<br />
repetiyao reparadora<br />
e R2 confirmayao da correyao realizada.<br />
d) junr;fio <strong>de</strong> jormular;fio com enquadramento - e uma repetiyao que ocorre no inicio e no<br />
fim <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ia exposta, cuja intenyao e <strong>de</strong> reforyar uma tese proposta, trabalhando<br />
perspectiva <strong>de</strong> uma sintagma, seja na <strong>de</strong> uma estrutura oracional.<br />
seja na<br />
Ex. 70: 59-66.<br />
l.PL entao antes <strong>de</strong> toma uma <strong>de</strong>cisao na sua vida I seja ela qual 10 I<br />
2. antes <strong>de</strong> toma qual que <strong>de</strong>cisao I consuIte 0 seu corat;ao \ (M)<br />
3. se voce quellsepara::: I<br />
4. se voce acha que <strong>de</strong>ve ir ernbo::ra I<br />
5. se voce acha que <strong>de</strong>ve rnuda::: I<br />
6. se voce acha que <strong>de</strong>ve larga tu:::do I<br />
7. converse com 0 seu corat;ao \ (R)<br />
8. pergunte pra ele \<br />
Ex. 71: 257-264.<br />
l.PL bern I nos vamos aten<strong>de</strong>r aqui urn abaixo-assinado I (M)<br />
2. tern aqui urn abaixo-assinado I (Rl)<br />
3. e dos rnoradores do condominio Santa Marta da travessa tres I nllinero vinte e cineol<br />
4. no Parque <strong>de</strong> Taipas \<br />
5. eles pe<strong>de</strong>m pra que a SABESP tome provi<strong>de</strong>ncia quanto a faHa <strong>de</strong> agua no local \<br />
6. os rnoradores nao agiientam mais a falta d'agua I<br />
7. e no condominio Santa Marta no parque <strong>de</strong> Taipas \<br />
8. eles mandaram urn abaixo-assinado I (R2) nos vamos torna urna provi<strong>de</strong>ncia I<br />
Em 70 n6s encontramos a orayao consulte 0 seu cora":3o ocupando a<br />
funyao matricial em relayao it outra orayao converse com 0 seu cora~3o cuja funyao e <strong>de</strong><br />
fechar 0 enquadramento daquele t6pico referido. No item 71, a repetiyao tripla dos<br />
sintagmas urn abaixo-assinado tambem opera com a mesma finalida<strong>de</strong>: enquadrar 0 t6pico<br />
recem-aberto; apresenta tambem uma repetiyao parafrastica na linha 1, nos vamos aten<strong>de</strong>r<br />
aqui urn abaixo-asssinado, e linha 8, eles rnandararn urn abaixo-assinado / nos vamos<br />
torna urna provi<strong>de</strong>ncia / enquadrando 0 segmento t6pico tratado.
d) jum;fio <strong>de</strong> jormulac;fio com expansfio - e marcada fundamentalmente pela intenc;ao <strong>de</strong><br />
retomar literalmente urn dado elemento, acrescentando uma nova informac;ao ao fluxo<br />
verbal.<br />
Ex. 72:640-645.<br />
l.PL mas era viciado em cocaina \ nao conseguia larga 0 vicio \<br />
2. pas sou tambem a ven<strong>de</strong>r urn pouco / porque precisava <strong>de</strong> dinheiro / (M)<br />
3. e achou que era facil \ 0 dinheiro faci! \ (Rl)<br />
4. aquele dinheiro (R2) que eu digo que e dinheiro maiDIto / (R3)<br />
5. chamado dinheiro FAcil \ (R4)<br />
6. 0 dinheiro do <strong>de</strong>monio \ e ele entao / (R5)<br />
o falante, referindo-se ao termo dinheiro, utiliza-se <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong><br />
retomadas do mesmo item lexical, adicionando-Ihe sintagmas <strong>de</strong>terminantes e<br />
qualificadores, os quais vaG fazendo progredir 0 t6pico por meio <strong>de</strong> novas informac;6es<br />
justapostas ao elemento matriz.<br />
Este grupo possibilita a manifestac;ao <strong>de</strong> caracteristicas basicas do texto<br />
falado como, por exemplo, 0 envolvimento entre os interactantes. Ele funciona na<br />
facilitac;ao da compreensao, na conduc;ao do t6pico, na argumentac;ao e na pr6pria interac;ao<br />
como urn todo. Repetis:oes <strong>de</strong>ssa natureza sac <strong>de</strong> extrema importancia para a Interas:ao<br />
RadiotOnica que, por ser unilateral, busca integrar ao maximo a sua audiencia <strong>de</strong> todas as<br />
maneiras possiveis e a<strong>de</strong>quadas. Vejamos, entao, como ela se apresenta nos seus varios<br />
subtipos aplicados ao discurso do comunicador.<br />
a) na junc;iio <strong>de</strong> jacilitador da compreensiio - com <strong>de</strong>staque para as auto-repetic;6es que<br />
operam reforc;ando ou esclarecendo uma i<strong>de</strong>ia ja posta.<br />
a.l) rejorc;o - permitem ao ouvinte uma melhor visualizayao da proposiyao anteriormente<br />
colocada, sem acrescentar informayao nova, como bem indica 0 exemplo abaixo:<br />
Pro~rilma <strong>de</strong> 1"6 -Craclul19aO 78<br />
- eln <strong>Letras</strong> e Lingul:3tica
Ex. 73: 386-393.<br />
I.PL est'io orando pedindo benc;ao/<br />
2. pedindo protec;ao/<br />
3. pedindo PAZ \ (5) (M)<br />
4. paz e uma coisa tao importante / pra todos nos \ (RI)<br />
5. paz na familia / (R2)<br />
6. paz no trabalho / (R3)<br />
7. sossego /<br />
8. e seguranc;a/<br />
Dentro do quadro do programa a que esse trecho pertence, Gran<strong>de</strong> Corrente<br />
<strong>de</strong> Fe, paz e urn item lexical fundamental e referente semantico essencial, por essa razao 0<br />
comunicador 0 emprega exaustivamente, fazendo indicayoes textuais das diversas areas da<br />
vida humana nas quais ela, a paz,<strong>de</strong>ve-se fazer presente. Ap6s 4 (quatro) ocorrencias do<br />
mesmo vocabulo, 0 apresentador 0 retoma atraves <strong>de</strong> sin6nimo: sossego, e hip6nimo:<br />
seguram;a. Esta mais que explicita a intenyao do falante corn essa repetiyao, a qual e <strong>de</strong><br />
reforyar 0 dito principalmente, mas tambem opera consolidando urn dos seus diversos<br />
papeis sociais: 0 <strong>de</strong> sacerdote ou guru espiritual.<br />
a.2) esclarecimento - sac auto-repetiyoes que realizam acrescimos explicativos a mesma<br />
i<strong>de</strong>ia. Observe a poryao ilustrativa a seguir.<br />
Ex. 74: 679-691.<br />
1.PL e ele morreu \ (3) (M)<br />
2. ele morreu / (RI) DUAS horas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter engolido os papelotes <strong>de</strong> cocaina \ (3)<br />
3. vejam bem voces 0 que que a droga po<strong>de</strong> faze \<br />
4. a <strong>de</strong>sGRA
graduais antes do 6bito oearrer <strong>de</strong> fato. Tais acrescimos e explicayoes implantam uma forte<br />
carga <strong>de</strong> emoyao e suspense it narrativa em andamento, exatamente buscando catalizar<br />
ainda mais a atenyao da audiencia, muitas vezes, avidas por hist6rias horripilantes como<br />
esta ..<br />
b) na func;ao <strong>de</strong> organizac;ao do t6pico discursivo - esse tipo <strong>de</strong> repetiyao realiza sua<br />
funyao <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia maior do que 0 nivel da frase. Dois procedimentos<br />
<strong>de</strong>ssa funyao ficaram mais evi<strong>de</strong>ntes no nosso corpus:<br />
<strong>de</strong>correntes<br />
b.l) amarrac;ao intermitente - refere-se ao aparecimento frequente do elemento repetido,<br />
formando amarras, permitindo a manutenyao <strong>de</strong> ganchos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn mesmo t6pico e<br />
ligayoes importantes<br />
entre eles sem ter que recorrer a retomadas.<br />
Ex. 75: 866-875.<br />
l.PL <strong>de</strong>ixa eu da a minha opiniao <strong>de</strong> cora9ao a cora9ao \ .,.<br />
2. olha / uma das coisas que mais me chateia e a in<strong>de</strong>cisao \ (M)<br />
3. eu sou uma pessoa / voces que ouvem ne / ja me conhecem bastante /<br />
4. eu sou uma pessoa <strong>de</strong>//<strong>de</strong>cisao \ (Rl) [...]<br />
5. eu t6 achando que::: esse cara ta te enrolan: :do / enten<strong>de</strong>u /<br />
6. ja acostumou com voce / voce ja acostumou com ele /<br />
7. ta naquela coisa <strong>de</strong> maria-mole / enten<strong>de</strong>u / fica assim / na valsa /<br />
8. no vai levando / acho que voce:://ou ele te que au nao que \<br />
9. ou ele te que TOda / ou te <strong>de</strong>ixa \ ne / 0 que nao po<strong>de</strong> fica e nessa in<strong>de</strong>cisao \ (R2)<br />
10. nessa anglistia / (R3) ne / uma hora que:: /<br />
Nessa sequencia, observa-se que 0 t6pico em discussao e a in<strong>de</strong>cisao tanto<br />
da ouvinte, que pe<strong>de</strong> conselho ao comunicador, quanta do seu namorado que ap6s 5 <strong>anos</strong><br />
<strong>de</strong> namoro nao sabe se vai ou nao casar com ela. Para <strong>de</strong>senvolver 0 t6pico, 0 falante<br />
utiliza-se <strong>de</strong> termo do mesmo campo semantico (tomando a perspectiva enciclopedica <strong>de</strong><br />
campo semantico) angustia, as quais sao localizadas em diversos pontos relativamente<br />
pr6ximos no discurso do comunicador, operando no <strong>de</strong>senvolvimento t6pico sem, no<br />
entanto, aumentar 0 volume <strong>de</strong> informayoes, ou seja, servindo como lembrete <strong>de</strong> qual esta<br />
sendo 0 nucleo do t6pico ora em foco.<br />
b.2) <strong>de</strong>limitac;ao <strong>de</strong> epis6dio (t6pico) - e urn tipo <strong>de</strong> auto-repetiyao discursiva que emoldura<br />
o inicio eo fim <strong>de</strong> trechos <strong>de</strong> t6picos abordados no discurso. Esta profundamente vinculado
a fun~ao discursiva da repeti~ao que visa a facilitar a compreensao, tal como mostra a<br />
sequencia abaixo:<br />
Ex. 76:541-558.<br />
l.PL [...] daqui a pouco tern os <strong>de</strong>bates \ (M)<br />
2. e todo mundo fica escutando os <strong>de</strong>bates ne / (Rl)<br />
3. HOje nos vamos fala dos seguintes assunto /<br />
4. a onda <strong>de</strong> castra
c.l) ratificaC;ilo do papel <strong>de</strong> ouvinte ou confirmac;ilo do dito - serve para indicar atenyao a<br />
conversayao e confirmar a posiyao <strong>de</strong> ouvinte, conforme po<strong>de</strong>mos encontrar nos exemplos<br />
a segUlr:<br />
EL 77: 176-187.<br />
l.PL ala:: /<br />
2.03 born dia \<br />
3.PL quem fala /<br />
4.03 e Terezinha \ (M)<br />
5.PL Tereza mora aon<strong>de</strong> Tete / (R)<br />
6.03 Mami \ (M)<br />
7.PL Maua::: / (R)<br />
8.03 aha \<br />
9.PL e ai ta chovendo muito \ (M)<br />
10.03 chovendo mui::to \ (R)<br />
11.PL e MESMO / Terezinha ai [[Maua /<br />
12.03 [[foi <strong>de</strong>mais \<br />
Conforrne po<strong>de</strong>mos perceber, 0 exemplo 78 aponta para a hetero-repetiyao<br />
cuja funyao e ratmcar 0 papel <strong>de</strong> ouvinte bem como confirmar as informayoes fornecidas<br />
pelos interiocutores. Na linha 5 a R confirma 0 nome da interiocutora e adiciona urn<br />
tratamento carinhoso e intimista por parte do comunicador quando faz a abreviayao - Tete.<br />
N a alinha 7 a R confirma 0 bairro em que mora a ouvinte. A pergunta feita na ocorrencia M<br />
da linha 9 e respondida por uma R.<br />
EL 78: 705-717.<br />
l.PL a Selma / qual e a receita que voce vai da /<br />
2.05 e arroz doce Butui \ (M)<br />
3.PL muito born \ varno la entao I arroz doce Butui \ (R)<br />
4.05 ah \ isso \ e uma xicara <strong>de</strong> cha / (M)<br />
5.PL uma xicara <strong>de</strong> cha / (R)<br />
6.05 <strong>de</strong> arroz Butui / (M)<br />
7.PL Butuil (R)<br />
8.05 lavado e escorrido \<br />
9.PL cer::to /<br />
10.05 uma pitada <strong>de</strong> sat / (M)<br />
II.PL pitada <strong>de</strong> sa:: I / (R)<br />
12.05 uma lata <strong>de</strong> leite mo~a / (M)<br />
13.PL lata <strong>de</strong> leite mo::~a / (R)<br />
Nesse segmento, por se tratar <strong>de</strong> urn quadro do programa em que uma<br />
receita <strong>de</strong> culinaria e passada por uma ouvinte ao comunicador pelo telefone e<br />
consequentemente a audiencia <strong>de</strong> urn modo geral, percebe-se uma tentativa explicita do<br />
apresentador em repetir lentamente todos os itens anunciados, para que haja tempo
suficiente da audiencia acompanha-Ios e anota-Ios, bem como a or<strong>de</strong>m correta dos<br />
ingredientes e 0 modo <strong>de</strong> preparo daquele novo prato. Portanto, alem <strong>de</strong> esta sendo<br />
estrategico, quando se utiliza da repetivao para fins <strong>de</strong> confirmavao da sua posivao <strong>de</strong><br />
ouvinte naquele evento interacional, 0 comunicador <strong>de</strong>monstra tambem esta sendo tatico<br />
por agir visando a aten<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong> imediata do seu publico.<br />
c.2) incorporar;ao - e uma hetero-repetivao contigua que endossa a fala do interlocutor que<br />
entrega 0 turno, servindo ainda para <strong>de</strong>monstrar bastante envolvimento entre os falantes.<br />
Em 77, isso fica muito claro:<br />
Ex. 79: 995-997.<br />
l.E7 acabO 0 cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego da CMTC \ (M)<br />
2.PL e isso ai algumas pessoas e:: e contra/porque acabO 0 cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego mermo (RI)<br />
3. a CMTC tinha uma pon;ao <strong>de</strong> cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego hi ne / (R2)<br />
Contigi.iamente it fala do interlocutor, 0 comunicador repete quase que<br />
totalmente 0 mesmo enunciado, suprimindo apenas 0 elemento CMTC, 0 qual e colocado<br />
na frase seguinte, acrescentando os sintagmas centrais cabi<strong>de</strong> <strong>de</strong> emprego. Dessa forma,<br />
garante-se 0 valor da i<strong>de</strong>ia apresentada pe10 interlocutor e ao mesmo tempo preserva 0<br />
envolvimento entre os participantes<br />
da interavao.<br />
N a seqUencia 80 po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>tectar, sem maiores dificulda<strong>de</strong>s, a presenva<br />
tanto da funvao da repetivao ratificando ouvinte, quanta incorporando<br />
i<strong>de</strong>ia anunciada:<br />
Ex. 80: 1053-1058.<br />
l.E5 e um punhal que a pessoa entia na:://no estomago / (M)<br />
2. atravessa / ... (M)<br />
3.PL atravessa e::: / (R)<br />
4.E5 atravessa e rasga / (M) praticamente:: e uma morte:: e:: certa e na hora \<br />
5.PL 0 sujeito entia uma espada:: na barriga assim:: no no estomago e rasga tudo/ (R)<br />
6. se chama HARAQUIRI \<br />
Certamente hi variavao lexical na repetivao <strong>de</strong> alguns itens e na<br />
restruturavao <strong>de</strong> algumas oravoes, mas e inegavel a incorporavao dos vocabulos estomago
e rasga, linha 5, e 0 sinal <strong>de</strong> atenyao do ouvinte atravessa em 3, funcionando como<br />
repetiyoes que indicam envolvimento.<br />
c.3) responsivida<strong>de</strong><br />
- consiste em retomar a pergunta na resposta com mudanya entoacional<br />
<strong>de</strong> final ascen<strong>de</strong>nte para urn <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte ou continuativo ou vice-versa. Constata-se esse<br />
tipo nos dois segmentos ilustrativos abaixo:<br />
Ex. 81: 97-103.<br />
l.PL quem ta falando I<br />
2.01 Helena \ (M)<br />
3.PL Helena \ tudo bem Helena I (R)<br />
4.01 Oi \ tudo bem I e voce I<br />
5.PL tu fali'>comigo onte I<br />
6.01 nao \ onte foi outra \ hoje nao \ (M)<br />
7.PL onte foi outra Helena I (R)<br />
Ex. 82: 136-140.<br />
l.PL quem ta falando /<br />
2.02 e Adlai<br />
3.PL mora aon<strong>de</strong> minha amiga I<br />
4.02 aqui na Barra Fun::da I pertinho <strong>de</strong> voce:: I (M)<br />
5.PL ah::: I voce e da Barra Fun::da I unh::: I (R)<br />
A responsivida<strong>de</strong> em 81 manifesta-se quando 0 comunicador, ao indagar 0<br />
nome da ouvinte com quem comeyou a falar pelo telefone, repete-o ap6s ela ter-Ihe<br />
contado, linhas 2 e 3. 0 mesmo ocorre com a unida<strong>de</strong> comunicativa onte foi outra nas<br />
linhas 6 e 7. Ja na sequencia 82, a responsivida<strong>de</strong> se apresenta apenas com 0 sintagma<br />
Barra Funda, nas linhas 4 e 5, falado pela ouvinte e <strong>de</strong>pois repetido pelo comunicador.<br />
Conforme previamos, 0 fenomeno da repetiyao aparece com bastante<br />
frequencia na fala do comunicador, confirmando assim 0 seu papel fundamental na<br />
composiyao do texto radiofOnico, principalmente no que se refere a sua funyao <strong>de</strong><br />
tematizayao, isto e, operando como continuador e condutor do t6pico discursivo. Quando 0<br />
meio <strong>de</strong> comunicayao e 0 radio, em que nao hi a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> turno imediato<br />
para maiores esclarecimentos por parte da audiencia, a repetiyao tern urn trabalho vital para<br />
a manutenyao da pr6pria interayao instzl.Urada, exigindo do comunicador-ancora muita<br />
clareza na forma e, sobretudo, no conteudo semantico das intenyoes que <strong>de</strong>seja veicular por<br />
intermedio da linguagem. Em outras palavras, 0 sentido, <strong>de</strong>ntro do contexto da Interayao
RadiotOnica, precisa ser constantemente retomado, resconstruido, resgatado por meios <strong>de</strong><br />
enunciados simples ou complexos, segmentos textuais i<strong>de</strong>nticos ou semelhantes, pr6ximos<br />
ou distantes, a fim <strong>de</strong> garantir interpreta~5es que nao ameacem a imagem positiva do<br />
falante, no caso 0 comunicador nem da emissora, a qual representa, provocando, <strong>de</strong>sta<br />
forma, a <strong>de</strong>ssintoniza~ao <strong>de</strong> milhares receptores an6nimos que formam a gran<strong>de</strong> al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
audiencia que, espera-se esteja minimamente atenta a todos os lances da intera~ao em<br />
andamento.<br />
Ainda <strong>de</strong>ntro da perspectiva que observa os elementos que comp5em 0<br />
enunciado, abordaremos a seguir os Marcadores Conversacionais como fen6menos<br />
intrinsecos ao texto falado, 0 que, em ultima analise, vai tambem nos servir <strong>de</strong> esteio para a<br />
hip6tese basilar <strong>de</strong>sse trabalho a qual postula que 0 comunicador utiliza propositadamente,<br />
na Intera~ao RadiotOnica, os tra~os e contornos <strong>de</strong> uma intera~ao conversacional.<br />
A concep~ao <strong>de</strong> Marcadores Conversacionais que utilizamos e a esbo~ada<br />
por L. A. Marcuschi em: Marcadores Conversacionais do Portugues Brasileiro:<br />
Formas, Posi~oes e Fun~oes (1989:281-320). Nesse artigo, 0 autor apresenta os<br />
marcadores como sendo elementos tipicos <strong>de</strong> fala utilizados em gran<strong>de</strong> escala para<br />
organizar as ativida<strong>de</strong>s dos interactantes, mais especificamente, auxiliando-os a construir e<br />
dar coerencia e coesao textuais, bem como articulando os atos interlocut6rios <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> urn<br />
contexto conversacional. Nesse sentido, eles marcam pragmaticamente as condi~5es <strong>de</strong><br />
produ~ao na rela~ao interpessoal. Por operarem apontando sempre para alguma fun~ao<br />
interacional na conversa~ao, sao chamados <strong>de</strong> Marcadores Conversacionais (1989:282).<br />
Geralmente os MCs nao sao nem fazem parte <strong>de</strong> qualquer classe gramatical<br />
por nao se enquadrarem nos criterios tradicionais <strong>de</strong> classifica~ao da NGB (Nomenclatura<br />
Gramatical Brasileira) a qual os <strong>de</strong>nomina vagamente <strong>de</strong> "palavras <strong>de</strong>notativas",<br />
"expletivas" ou <strong>de</strong> "realce". Ao mesmo tempo,<br />
elementos <strong>de</strong> todas as classes gramaticais e
formas sintaticas po<strong>de</strong>m, a priori, funcionar como MCs (Roulet et al., 1985 apud. Marcuschi<br />
1989:290). Eles sac i<strong>de</strong>ntificados nao pela cIasse gramatical, mas peia fun
o autor faz ainda referencia a urn terceiro tipo <strong>de</strong> MC nao-lingliistico<br />
<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> marcador nao-verbal, 0 qual nao foi trabalhado por nao dispor <strong>de</strong> material<br />
em vi<strong>de</strong>o-teipe, impedindo assim a observayao <strong>de</strong> gestos, olhares, mimicas.<br />
Urn esquema resume os aspectos formais dos MCs para uma melhor i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
conjunto e visualizayao dos diversos tipos:<br />
verbais~<br />
./ Iexicalizados<br />
nao Iexicalizados<br />
No tocante as posiyoes dos MCs <strong>de</strong>ntro do discurso, Marcuschi (1989:291)<br />
citando K. Lichem (1981), 1. Rehbein (1979) entre outros autores, afirma que suas posic;8es<br />
can6nicas sac as iniciais e finais. Consi<strong>de</strong>ra ainda que na interayaO 0 locutor organiza 0 seu<br />
texto 0 tempo todo, dando-Ihe oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inserir MCs em qualquer ponto da ca<strong>de</strong>ia<br />
discursiva. Por isso, consi<strong>de</strong>ra como posiyoes possiveis todas as que sac indicadas no<br />
esquema abaixo:
~sc<br />
Segundo 0 autor, as posic;8es mediais concemem a pontos localizados<br />
intratumo ou intra UC, operando como conectores <strong>de</strong> organizas;ao verbal e cognitiva. Ele<br />
ainda constatou que ha urn maior numero <strong>de</strong> formas e varias;oes <strong>de</strong> MCs em posis;oes<br />
iniciais do que em posis;oes finais. Isto acontece porque e no inicio <strong>de</strong> (UCs) que 0 locutor<br />
anuncia 0 que e como vai fazer e em razao do comeyO <strong>de</strong> intervenyoes ser 0 lugar da<br />
coesivida<strong>de</strong> sintagmatica na ca<strong>de</strong>ia discursiva, nao po<strong>de</strong>ndo as Ucs ficarem soltas.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista semantico, os MCs sac esvaziados <strong>de</strong> conteudo<br />
significativo, ou seja, nao colaboram diretamente para 0 <strong>de</strong>senvolvimento informacionaI do<br />
t6pico discursivo ern andamento, mas servem para hierarquizar e seqiienciar atos realizados<br />
pelos interlocutores (p.<strong>30</strong>4).<br />
Funcionalmente, eles operam mais como articufadores <strong>de</strong> refac;8es textuais,<br />
impedindo que a conVerSayaO se tome uma sucessao <strong>de</strong> blocos monologais. Portanto,<br />
assumem 0 papel <strong>de</strong> pontuadores da fa/a, em razao <strong>de</strong> agir como fatores <strong>de</strong> segmentayaO<br />
<strong>de</strong> texto. Na verda<strong>de</strong>, os MCs trabalham dando suporte a pr6pria interac;ao e, par esse<br />
motivo, nao sac discursivamente<br />
<strong>de</strong>scartaveis.<br />
l3UC = Unida<strong>de</strong> Comunicativa<br />
14MC = Marcador Conversacional; IT = Inkio <strong>de</strong> Turno; MUC = Meio <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> comunicativa; FU =<br />
Final <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> comunicativa; or = Ouvinte no lnkio turno; OM = Ouvinte no Meio <strong>de</strong> turno; OF =<br />
Ouvinte no Final <strong>de</strong> turno.
Po<strong>de</strong>-se dizer tambem que os MCs funcionam como monitores da atenyao<br />
do ouvinte para com 0 falante e <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> aprovayao discursiva para 0 dito do falante em<br />
relayao ao ouvinte. Serve ainda para 0 interactante atenuar opiniao, reformular estruturas<br />
oracionais, marcar hesitayoes, bem como manifestar suas asseryoes ou indagayoes <strong>de</strong>ntro da<br />
ca<strong>de</strong>ia enunciativa.<br />
Verificaremos a ocorrencia <strong>de</strong> Marcadores Conversacionais apenas quando<br />
o comunicador interage especificamente com milhares <strong>de</strong> ouvintes-virtuais que compoem a<br />
sua audiencia geral, os quais nao retroalimentam a interayao, pelo menos, imediatamente,<br />
isto e, nao assumem 0 papel <strong>de</strong> falante. Em outras palavras, veremos se e como os MCs se<br />
apresentam quando 0 discurso produzido por apenas urn dos interactantes.<br />
Por conseguinte,<br />
s6 os MCs produzidos pelo falante serao estudados. Para isso, analisaremos isoladamente<br />
dois momentos especificos e pontualizados <strong>de</strong>ntro da IR que <strong>de</strong>nominaremos <strong>de</strong>:<br />
Enuncial;ao Amistosa (EA) e Enuncial;ao Publicitaria<br />
(EP).<br />
a) Enuncial;ao Amistosa - saG momentos durante a IR em que 0 comunicador dirige-se<br />
especificamente it audiencia, objetivando manter 0 contato interativo por meio <strong>de</strong><br />
comentarios<br />
rapidos sobre assuntos triviais e amenida<strong>de</strong>s, opinioes e conselhos a ouvintes<br />
que os solicitam, advertencias relativas a regras e comportamentos sociais entre outras<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>s sa natureza. No exemplo abaixo, po<strong>de</strong>-se observar os MCs enca<strong>de</strong>ando os<br />
diversos segmentos dos enunciados amistosos realizados:<br />
Ex. 83: 44-51.<br />
I.PL [...] na verda<strong>de</strong> eu falo isso sabe por que /<br />
2. porque muitas vezes faz a gente po::r simples mente pel a razao \<br />
3. sabe / a gente fala assim / ah: a razao diz que eu <strong>de</strong>vo faze isso \<br />
4. eu fiz as contas eu acho que eu <strong>de</strong>vo faze \ eo COral;aO/ (3)<br />
5. a gente tem que consulta 0 coral;ao da gente \<br />
6. porque quando a gente faz uma coisa que no fundo a gente nao queria \<br />
7. sabe / ai a gente sofre <strong>de</strong>pois \ uma mulhe por exemplo que casa s6 por dinheiro /<br />
8. a vida <strong>de</strong>la vira urn inferno \ (3) e verda::<strong>de</strong> \<br />
Ex. 84: 866-879.<br />
1. PL <strong>de</strong>ixa eu da minha opiniao <strong>de</strong> coral;ao a coral;ao \ ...<br />
2. olha / uma das coisas que mais me chateia e a in<strong>de</strong>cisao \<br />
3. eu sou uma pessoa / voces que me ouvem ne / ja me conhecem bastante /<br />
4. eu sou uma pessoa <strong>de</strong>//<strong>de</strong>cisao \ [... ]<br />
5. eu to achando que::: esse cara ta te enrolan::do / enten<strong>de</strong>u /<br />
6. ja acostumou com voce / voce ja acostumou com ele /<br />
7. ta naquela coisa <strong>de</strong> maria-mole / enten<strong>de</strong>u / fica assim / na val sa /<br />
8. no vai levando / acho que vocc:://ou ele te que ou nao te que \
9. ou ele te que TOda / ou te <strong>de</strong>ixa \ ne / 0 que nao po<strong>de</strong> e fica nessa in<strong>de</strong>cisao \<br />
10. nessa angtistia / ne / uma hora que:: /<br />
11. outa hora nurn que:: /<br />
12. urna hora gos::ta /<br />
13. outa hora num gos::ta /<br />
14. isso e horrivel \ tern que torna urna <strong>de</strong>cisao \<br />
Em ritmo conversacional, como se estivesse face a face diante da audiencia,<br />
o comunicador vai montando a interac;;aoem tom aconselhador, conciliador, admoestativo,<br />
conduzindo 0 interlocutor a uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexao sobre 0 assunto em pauta, <strong>de</strong> uma<br />
forma sorrateira e gradual, muito semelhante a urn bate papo pessoal informal, isto e, uma<br />
conversa sem tensao.<br />
Expressoes ou orac;;oes inteiras como: na verda<strong>de</strong>, sabe, assim, olha, eu<br />
acho que, eu to achando que situadas em inicio <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s comunicativas atenuam as<br />
<strong>de</strong>clarac;;oes pessoais que serao colocadas posteriormente, conforme assegura Margaret<br />
Rosa: "e inegavel que algumas <strong>de</strong>ssas expressoes remetem <strong>de</strong> forma privilegiad.a a uma<br />
"moldura" cognitiva, que pre para para 0 que vai ser dito adiante"(1992:66). Alem <strong>de</strong><br />
funcionarem como atenuadores, esses marcadores dao a partida, engatam a enunciac;;aoque<br />
e <strong>de</strong>senvolvida com mais fluencia ao longo das diversas ca<strong>de</strong>ias do discurso.<br />
Outros MCs operam "costurando" as sentenc;;as, conectando as i<strong>de</strong>ias<br />
textualmente e, concomitantemente, articulando a interac;;ao como ocorre, por exemplo,<br />
com os marcadores localizados no meio das unida<strong>de</strong>s comunicativas (UC) intra-turnos: ai,<br />
por exemplo, assim, encontniveis em 83 e 84.<br />
Hi ainda os MCs posicionados estrategicamente nos finais <strong>de</strong> turnos ou <strong>de</strong><br />
unida<strong>de</strong>s comunicativas<br />
que funcionam como elementos fMicos, isto e, servem para garantir<br />
o contato com 0 interlocutor. Na IR esses elementos que, <strong>de</strong> certa forma, tentam manter 0<br />
ouvinte atento it interac;;ao sac <strong>de</strong> fundamental importancia, uma vez que, <strong>de</strong> imediato,<br />
atitu<strong>de</strong> alguma da audiencia assegura aa camunicador que ela permanece "plugada" ao<br />
evento interativo, cancordando au divergindo dos atos <strong>de</strong> fala por aquele veiculados.<br />
Temos entao: sabe porque, enten<strong>de</strong>u, curvas entoacionais ascen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
necessariamente<br />
inseridas no final das unida<strong>de</strong>s comunicativas.
o trecho ilustrativo a seguir e pleno <strong>de</strong> alongamentos<br />
<strong>de</strong> vogais, hesitayoes,<br />
entoayoes ascen<strong>de</strong>ntes indagativas, alem <strong>de</strong> conter 0 MC que dize que, segundo Marcuschi,<br />
indica "que apresentara ou uma especificac;Cio ou uma parafrase <strong>de</strong> um argumento ja<br />
posto"(p.<strong>30</strong>0). 0 autor ainda faz referencia a E. Giilich/Th. Kotschi (1983. apud. Marcuschi<br />
1989) que trataram 0 Me como um marcador <strong>de</strong> reformulac;ao parafrastica com a funyao<br />
textual do conector pragmatico<br />
para enca<strong>de</strong>ar a interayao. No enunciado abaixo, esse MC<br />
apresenta nao uma panifrase ou especificayao qualquer, mas uma repetiyao da informayao ja<br />
posta, no caso, uma informayao urn tanto quanta incomum e provoca estranheza: a onda <strong>de</strong><br />
castrayaO humana. Mesmo assim, conservou-se a sua funyao textual <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento<br />
referencial proativo e retroativo, conduzindo e orientando as ativida<strong>de</strong>s dos interactantes.<br />
Vejamos agora 0 segmento 85:<br />
Ex. 85: 541-551.<br />
I.PL [...] daqui a pouco tern os <strong>de</strong>bates \<br />
2. e todo mundo fica escutando os <strong>de</strong>bates ne /<br />
3. HOje nos vamos fala dos seguintes assuntos /<br />
4. a onda <strong>de</strong> castra9ao chega na zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo \<br />
5. castraram homem na zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo \<br />
6. ih::: se essa onda pe::ga ein / e:::u hein /<br />
7. que dize que a onda <strong>de</strong> castrac;:aoja cheg6 a zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo e/<br />
8. quem e que foi castrado ai ein / ai na zona leste /<br />
9. quem e foi castrado hein /<br />
10. e:::u hein / «risos)) foi mermo e/(3)<br />
11. nos vamo conta tudo hoje no <strong>de</strong>bate e/e:::ita /<br />
o comunicador aqui pressupos que a audiencia especifica da regiao (zona<br />
leste da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Sao Paulo) on<strong>de</strong> ocorreu 0 fato estaria ouvindo 0 seu programa, bem<br />
como ja possuisse tal informayao, por isso dirigiu-Ihe diretamente os atos <strong>de</strong> linguagem.<br />
Embora muito surpreso com aquele acontecimento, preservou 0 tom amistoso e<br />
conversacional, chegando ate mesmo a sorrir da tragedia da castrayao. Teceu ainda<br />
pequenos comentarios <strong>de</strong> repudio em forma <strong>de</strong> expressoes interjeitivas tais como: ne, e:::u<br />
hein, foi mermo e, e:: ita.<br />
b) EnuncialYao Publicihiria - sac momentos durante a IR em que 0 comunicador dirigi-se<br />
tambem especificamente a audiencia, mas com a pretensao <strong>de</strong> persuadi-Ia a comprar os<br />
produtos e serviyos que the sac apresentados ao vivo. Aqui, talvez mais do que em qualquer<br />
outro momento da JR, e necessario conseguir urn total engajamento e uma ampla aceitayao
da audiencia como resposta esperada aos apelos COmerClaIS,uma vez que sac os<br />
patrocinadores<br />
que mantem 0 programa no ar.<br />
Neste sentido, parece-nos que 0 comunicador concentra na EP (enunciayao<br />
publicitaria) urn redobrado<br />
esforyo para conquistar a a<strong>de</strong>sao completa da audiencia atraves<br />
<strong>de</strong> mecanismos tipicos da fala e, sobretudo, pr6prios das conversayoes. Com certeza, os<br />
MCs se evi<strong>de</strong>nciarao naturalmente em todas as formas, funyoes e posiyoes em razao dos<br />
objetivos do comunicador.<br />
Ex. 86: 68-72.<br />
l.PL olha ai / reumatismo / artrite / artrose / tome Reumartrose \<br />
2. voce as vezes tern problema <strong>de</strong> coluna ne /<br />
3. ih:: problema <strong>de</strong> coluna e duro ein /<br />
4. tome Reumartrose \ nao tern contra indica9ao \<br />
5. Reumartrose a venda nas farmacias e drogarias \<br />
Percebe-se, sem qualquer dificulda<strong>de</strong>, que 0 fragmento acima se enquadra<br />
plenamente no perfil da EP. Trata-se <strong>de</strong> urn texto publicitario, 0 qual e prioritariamente<br />
planejado para convencer e persuadir 0 ouvinte a a<strong>de</strong>rir a uma i<strong>de</strong>ia ou praticar uma ayao<br />
<strong>de</strong>sejada como comprar urn produto, por exemplo. Mesmo contendo informac;oes centrais<br />
escritas, 0 texto recebe alguns acrescimos <strong>de</strong> natureza oral para adquirir mais interativida<strong>de</strong>,<br />
tais como MCs verbais e suprassegmentais<br />
que os revestem <strong>de</strong> fluencia e dinamismo.<br />
o marcador olha ai no inicio da unida<strong>de</strong> comunicativa indica a tentativa do<br />
apresentador atrair a atenc;ao da audiencia para algo importante que comec;ani a ser dito<br />
logo a seguir. Ele busca criar a expectativa <strong>de</strong> que uma boa surpresa esta para acontecer.<br />
Nas entrelinhas <strong>de</strong>sse marcador po<strong>de</strong>-se ler entre outras coisas: "olha ai, se voce tern<br />
problemas <strong>de</strong> reumatismo, artrite, artrose" ou ainda "olha ai, chegou 0 que voce precisava<br />
para acabar com 0 seu reumatismo, artrite ou artrose"; ambos seriam exemplos <strong>de</strong><br />
enunciados esteriotipados <strong>de</strong> texto <strong>de</strong> propagandas, que, nesse caso, por uma questao <strong>de</strong><br />
economia linguistica, acreditamos, nao ficaram explicitos.<br />
A pergunta <strong>de</strong> funyao puramente interativa "voce as vezes tern problema <strong>de</strong><br />
coluna ne" combinada ao conjunto <strong>de</strong> curvas entoacionais ascen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes,
apoiadas pelos marcadores ne, ih::, ein compoem 0 quadro prosodico. Essa combinayao da<br />
a esse momento da interayao bastante flui<strong>de</strong>z e uma ilusao <strong>de</strong> participayao da audiencia,<br />
fazendo com que ela se veja como interactante efetivo <strong>de</strong> ayoes interlocucionais concretas<br />
ou como sujeito da enunciayao. Enfim, a localizayao e a inseryao dos MCs verbais e<br />
prosodicos <strong>de</strong>ntro da ca<strong>de</strong>ia discursiva em 86 visam fundamentalmente a convencer<br />
persuadindo a audiencia pela relayao <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> entre esta e 0 comunicador.<br />
Ressaltamos ainda que 0 pronome opera como globalizador da audiencia,<br />
uma vez que gran<strong>de</strong> parte dos brasileiros ja se queixou algum dia <strong>de</strong> dores na coluna. Em<br />
outras palavras, 0 comunicador<br />
procura enquadrar todos os seus potenciais ouvintes <strong>de</strong>ntro<br />
do universo da enunciayao publicitaria, pois quanta mais pessoas comprarem 0 tal produto,<br />
melhor para todos aqueles que <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pendam, inclusive 0 proprio radialista.<br />
Ex. 87: 74-84.<br />
I.PL pois e\eu tenho avisado aqui que nesse verao use e abuse \<br />
2. beba Mate Leao \ e::: Mate Leao bem gelado ein /<br />
3. po<strong>de</strong> toma assim puro / ou com umas gotinhas <strong>de</strong> limao \<br />
4. Mate Leao e <strong>de</strong>licioso / saudavel / e ren<strong>de</strong> /<br />
5. ren<strong>de</strong> /<br />
6. ren<strong>de</strong> muito mais \<br />
7. com apenas uma caixinha <strong>de</strong> duzentos gramas /<br />
8. voce faz ate <strong>de</strong>zesseis litros <strong>de</strong> Mate Leao pra toda familia \<br />
9. entao 0 neg6cio e 0 seguinte 6 / nesse verao /<br />
10. use e abuse do sabor <strong>de</strong> Mate Leao \<br />
11. AI QUE -DE - LI - CIA \ «efeito eco»<br />
o segmento acima e aberto pelo MC pois e que organiza a inseryao <strong>de</strong> urn<br />
tema, no caso cha-mate, possivelmente ja posto em urn outro momento da interayao, sendo<br />
apenas reafirmado. 0 emprego do tempo verbal no preterito perfeito composto - eo tenho<br />
avisado vem indicar uma informayao pressuposta, portanto <strong>de</strong>ve ser aceita pela audiencia<br />
sem qualquer questinamento. Tal marcador - pois e - esta servindo entao <strong>de</strong> caminho ou<br />
atalho "generosamente" aberto para 0 engate e instaurayao eficaz da enunciayao publicitaria<br />
que e geralmente autoritaria.<br />
No <strong>de</strong>correr do texto, 0 comunicador leva 0 ouvinte a experiencias<br />
sinestesicas como sabor puro ou limonado (gustayao)<br />
e ainda gelado (tilctil) do produto,<br />
entremeando MCs verbais festivo "e:::",indagativo "hein" e hesitativo" assim" seguidos<br />
pelas <strong>de</strong>vidas curvas entoacionais indicadas pelas barras ascen<strong>de</strong>ntes( / ) e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes( \ )
Ap6s alguns excessos <strong>de</strong> adjetivayao (<strong>de</strong>licioso, saudavel e rendoso), 0<br />
comunicador insere, na linha 9, 0 MC oracional <strong>de</strong> carater semantico e pragmlitico: entao 0<br />
negocio e 0 seguinte 0, para fazer uma breve retomada do ponto central da enunciayao<br />
publicitaria que e "tome Mate Leao".<br />
Finaliza expondo a sua opiniao ja conhecida sobre 0 produto com uma<br />
excessiva carga emocional expressa atraves dos elell),entos pros6dicos, incluindo ate mesmo<br />
escanyao silabica e efeito-eco produzido eletronicamente pela mesa <strong>de</strong> audio. Todos esses<br />
recursos <strong>de</strong> natureza linguistico-interativa aqUl utilizados objetivaram outorgar<br />
credibilida<strong>de</strong>, serieda<strong>de</strong> e ao produto que tao veementemente foi recomendado.<br />
EL 88: 456-467.<br />
I.PL [... ] olha 0 fant£1stico Pisos e Azulejos que t£1liquidando piso e azulejo \<br />
2. olha 0 que estao ven<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> piso e azulejo 1£1/ verda<strong>de</strong> rnesrno \<br />
3. 0 pre~o e espetacuhi \<br />
4. piso /<br />
5. portas /<br />
6. janelas /<br />
7. mas a gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e que e piso e azulejo e que ti born <strong>de</strong>rnais ne /<br />
8. ah tern jogo <strong>de</strong> banheiro / tudo pra voce compni / se bem atendido /<br />
9. facilita pagarnento /<br />
10. cheque pre-datado /<br />
11. ta vendo s6 / ce po<strong>de</strong> compni material <strong>de</strong> constru~ao /<br />
12. com mais facilida<strong>de</strong> no fant£1stico Pisos e Azulejos \<br />
As duas pnmelras unida<strong>de</strong>s comunicativas <strong>de</strong>sse segmento apresentam 0<br />
mesmo MC <strong>de</strong> inicio <strong>de</strong> unida<strong>de</strong> comunicativa olha; a (mica diferenya entre elas e 0 que<br />
existente na segunda e ausente na primeira. Na linha 7, 0 MC mas iniciando a DC nao esta<br />
negando 0 dito e muito menos propondo uma reor<strong>de</strong>nayao em urn outro ponto <strong>de</strong> vista<br />
equivalendo a "eu tenho a impressCio que", como argumenta Marcuschi (1989:299) e sim<br />
confirmando que os principais produtos da liquidayao sac mesmo "pisos e azulejos",<br />
embora a loja venda tambem por "prec;o espetacula: portas, jane/as e jogos <strong>de</strong> banheiro".<br />
Se esse marcador for interpret ado tradicionalmente como conjunyao adversativa, ou seja,<br />
ocupando funyao sintatica na enunciayao, corre-se 0 risco <strong>de</strong> apontar injustamente<br />
contradiyao e incoerencia no dizer do comunicador.
Na mesma DC ha ainda a dupla presen9a do queismo (Mollica. 1989) e que<br />
e, e que, indicado que, embora tendo a mao 0 texto escrito como fonte central <strong>de</strong><br />
informa9ao, 0 apresentador<br />
a sua classica fun9ao fdtica<br />
insere estruturas pr6prias do texto falado. a marcador De ocupa<br />
ao final da unida<strong>de</strong>.<br />
Entre as linhas 8 e 11 <strong>de</strong>tectam-se os MC ah e ta veDdo so. a primeiro e urn<br />
MC verbal nao lexicalizado, em inicio <strong>de</strong> DC, que permite-nos inferirmos que 0 falante<br />
havia se esquecido <strong>de</strong> mencionar urn dos produtos Gogo <strong>de</strong> banheiro) em prom09ao, mas<br />
que 0 faz em tempo habil. Ja 0 segundo marcador e verbal oracional, cujo papel e, baseado<br />
nos enunciados das DCs anteriores, dar urn "xeque-mate" no ouvinte, negando-lhe qualquer<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obje9ao e com isso faze-Io inconscientemente concordar em comprar no<br />
armazem <strong>de</strong> constru9ao indicado.<br />
A aferese do verbo e do pronome <strong>de</strong> tratamento que provoca uma redu9ao<br />
silabica do som inicial <strong>de</strong> urn vocabulo como em ta por esta e ce por voce contribui<br />
bastante para tomar informal a rela9ao entre os interactantes e, consequentemente, tomar<br />
uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> compra importante e necessaria ao ouvinte, uma vez que a indica9ao partira <strong>de</strong><br />
alguem com quem mantinha uma certa intimida<strong>de</strong> e ate confian9a.<br />
Portanto, parece-nos ter ficado claro que os MCs empregados na IR e aqui<br />
analisados, alem <strong>de</strong> cumprirem muito bem as suas fun90es intratextual e interativa,<br />
<strong>de</strong>sempenharam urn relevante papel, quando da busca do comunicador por tomar a<br />
Intera9ao Radiof6nica semelhante a conversacao. Eles (MCs) aproximam os interactantes,<br />
propiciando uma rela9ao tanto mais amistosa quanta mais confian9a a audiencia creditar ao<br />
apresentador, fator que tambem corrobora para a tese da multi-funcionalida<strong>de</strong> dos<br />
marcadores conversacionais postulada por Marcuschi (1989: 282).
Nos ultimos <strong>anos</strong>, gran<strong>de</strong> parte dos linguistas interacionistas (Tannen - 1989,<br />
Gumperz -1882, Chafe -1982) tern realizado seus estudos lingtiisticos consi<strong>de</strong>rando<br />
como<br />
imprescindivel a tese <strong>de</strong> que nao existe interayao sem envolvimento entre os participantes <strong>de</strong><br />
urn dado evento interacional. Esse postulado tern muita relayao com a concepyao <strong>de</strong><br />
Bakhtin 0 qual advoga ser toda interayao essencialmente dial6gica (1992).<br />
Num pnmelro momento, apresentaremos os aspectos relacionados ao<br />
dialogismo subjacentes it linguagem, quer oral ou escrita, esposados por Bakhtin, dos quais<br />
<strong>de</strong>rivam a questao referente ao envolvimento essencial as relar;5es interpessoais, cujos<br />
aspectos serao trabalhados em urn momenta imediatamente posterior.<br />
Mikhail Bakhtin, consi<strong>de</strong>rado urn dos serni6logos maIS importantes da<br />
cultura europeia, publicou, em urn dos seus dirvesos ensaios, uma brilhante formulayao<br />
conceptual que <strong>de</strong>spertou especial interesse em muitos estudiosos. Trata-se da sua teona a<br />
respeito do carMer dial6gico da linguagem, que, segundo ele, subjaz a todas as estruturas<br />
discursivas, mesmo aquelas produzidas por unico falante. Ele afirma que a comunicayao s6<br />
existe na reciprocida<strong>de</strong> do diaJogo, transcen<strong>de</strong>ndo a simples transmissao <strong>de</strong> mensagem.<br />
Interpretou 0 ato <strong>de</strong> comunicar como urn processo pelo qual 0 emissor estabelece com 0<br />
receptor uma relayao <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong> e troca <strong>de</strong> papeis. Esse e, pois, 0 fulcra da Teoria do<br />
Dialogismo que alicen;a as pesquisas <strong>de</strong> Bakthin nas <strong>de</strong>mais areas da ciencias humanas nas<br />
quais se arvorau a pensar e escrever, da Epistemologia a Filosofia da Linguagem.<br />
A nOyao dial6gica que, conforme 0 autor, perpassa todo discurso esta<br />
diretamente vinculada a duas categorias linguisticas obrigat6rias na construyao do diaIogo<br />
que SaD0 eu e 0 tu que se i<strong>de</strong>ntificam, se reconhecem e se alternam nas funyoes <strong>de</strong> falante e<br />
ouvinte.
A respeito <strong>de</strong>ssa rela9ao entre eu e tu, E. Benveniste, procurando conceituar<br />
subjetivida<strong>de</strong>, afirma que "A linguagem so e possivel porque cada locutor se apresenta<br />
como sujeito, remetendo a ele mesmo como 'eu' no seu discurso. Por isso, 0 'eu' prop8e<br />
uma outra pessoa, aquela que sendo embora exterior a "mim", torna-se 0 meu eco - ao<br />
qual digo 'tu' e que me diz tu"(1991:286). Para Benveniste (293), esses dois elementos nao<br />
se op5em, antes, se completam mutuamente, por serem simultaneamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e<br />
reversiveis <strong>de</strong>ntro do discurso, "que e a lingua enquanto assumida pelo homem que fala, e<br />
sob a condic;Cio da intersubjetivida<strong>de</strong>, {mica que toma possivel a comunicac;Cio<br />
lingiiistica ".<br />
Em urn outro trabalho, Benveniste (1989:84)., falando sobre a enuncia9ao,<br />
afirma que "0 ato individual <strong>de</strong> apropriac;Cioda lingua introduz aquele que fala em sua<br />
fala". Com isso, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a id6ia <strong>de</strong> que cada locutor 6 urn co-locutor, quando este esta em<br />
rela9ao constante com a sua enuncia9ao, marcada pelos indices <strong>de</strong> pessoa ( rela9ao eu e tu).<br />
Esclarece que 0 termo eu <strong>de</strong>nota 0 individuo que profere a enuncia9ao, e 0 termo tu, 0<br />
individuo que esta presente como alocutario. Porem reconhece que 0 eu - EGO - possui<br />
uma transce<strong>de</strong>ncia em relac;ao ao tu, mas nem por isso nem urn dos dois termos se concebe<br />
sem 0 outro (p.85).<br />
Em Estetica da Cria~ao Verbal (1992:290), Bakhtin critica, <strong>de</strong>nominando<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>storcida, a visao da Linguistica <strong>de</strong> Saussure e <strong>de</strong> Vossler que isolava 0 locutor da<br />
rela9ao com os outros parceiros (ouvinte ou receptor) da comunicac;ao, al6m <strong>de</strong> lhes<br />
atribuir passivida<strong>de</strong> neste complexo processo. Em contraposic;ao <strong>de</strong>clara que 0 ouvinte, ao<br />
receber e compreen<strong>de</strong>r uma significac;ao linguistica, adota uma postura responsiva ativa:<br />
concorda, discorda, completa, enfim, esta planejando constantemente<br />
uma possivel resposta<br />
aos enunciados produzidos pelo falante. 0 falante, por sua vez, busca obter do ouvinte<br />
uma compreensCio responsiva ativa a qual po <strong>de</strong> oearrer tanto atraves <strong>de</strong> uma resposta<br />
f6nica subsequente a urn ato f6nico (como uma tomada <strong>de</strong> turno, por exemplo) quanta por<br />
meio <strong>de</strong> ato ou execw;ao <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m ou pedido. Tal resposta, seja f6nica ou<br />
comportamental, po<strong>de</strong> permanecer, por algum tempo, como compreensCio responsiva <strong>de</strong><br />
ac;Cioretardada, pois "cedo ou tar<strong>de</strong>, 0 que foi ouvido e compreendido <strong>de</strong> modo ativo
Nesta perspectiva bakhtiniana <strong>de</strong> comunica~ao, a Intera~ao Radioffinica, a<br />
principio, unilateral ilustra perfeitamente<br />
essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser vista realmente como uma<br />
intera~ao por conter no seu bojo 0 ambito da compreensao responsiva ativa, pois a<br />
audiencia, na impossibilida<strong>de</strong> estrutural <strong>de</strong> dar uma resposta semelhantemente ffinica aos<br />
enunciados do comunicador, <strong>de</strong>monstra possuir compreensao responsiva <strong>de</strong> a~ao retardada,<br />
quando respon<strong>de</strong> aquele por meio <strong>de</strong> comportamentos objetivos como telefonemas, cartas e<br />
visitas pessoais ao local <strong>de</strong> produ~ao do discurso radiof6nico.<br />
Falante e ouvinte sac percebidos por Bakhtin como protagonistas da<br />
intera~ao, seja ela conceituada <strong>de</strong> monologica ou dialogica, oral ou escrita. 0 falante<br />
sempre espera do ouvinte, uma resposta, uma obje~ao, uma a<strong>de</strong>sao ou uma<br />
complementa~ao ao dito. Muitas vezes: "0 pr6prio locutor como tal ja Ii um<br />
respon<strong>de</strong>nte"(1992:291) exatamente por nao ser 0 primeiro a romper 0 eterno silencio <strong>de</strong><br />
urn mundo mudo, pressupondo, ah~m da existencia do sistema linguistico que utiliza, a<br />
existencia dos enunciados anteriores <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> si mesmo ou <strong>de</strong> outros com os quais<br />
mantem alguma relayao, ora fundamentando-se<br />
neles, ora polemizando com eles.<br />
o semiologo sovietico, ao <strong>de</strong>finir 0 enunciado como a unida<strong>de</strong> real da<br />
comunicac;fio verbal, aponta a in<strong>de</strong>terrninayao e confusao terrninologica acerca <strong>de</strong>sse termo<br />
(enunciado ) fundamental na Linguistica como con sequencia <strong>de</strong> se menosprezar esta<br />
<strong>de</strong>finiyao <strong>de</strong> enunciado enquanto unida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> comunicayao verbal. Para ele, a existencia<br />
da fala so e possivel na concretiza~ao dos enunciados par urn individuo: sujeito <strong>de</strong> um<br />
discurso-jala (1992:293). Eo enunciado que indica a alternancia <strong>de</strong> urn sujeito falante, que<br />
transfere a palavra ou 0 turno 15 a urn outro/tu, instrumentalizado pela expressivida<strong>de</strong> como<br />
urn mudo "dixi", percebido como sinal <strong>de</strong> que 0 falante terminou, ou complementou a sua<br />
intervenyao. Essa alternancia <strong>de</strong> sujeitos falantes constitui a marca da fronteira do<br />
15 Em momento algum dos seus escritos Bakhtin usa a palavra furno, porem os termos palavra e<br />
enunciado, quando veem acompanhados por verbos como transfere e entrega, permitem que sejam<br />
compreendidos como furno.
enunciado, ou lugar relevante para a transifiio como preferem os conversacionalistas <strong>de</strong><br />
linha etnometodol6gica, como Sacks, Shegloff e Jefferson (1974).<br />
Acrescenta Bakhtin que 0 criterio que <strong>de</strong>termina 0 acabamento <strong>de</strong> urn<br />
enunciado e a "possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r - mais exatamente, <strong>de</strong> adotar uma atitu<strong>de</strong><br />
responsiva para com ele (1992:299); aponta como exemplo disso a execuyao <strong>de</strong> uma<br />
or<strong>de</strong>m ou pedido, quando se pergunta a alguem quantas horas sac e urn outro alguem 0<br />
respon<strong>de</strong>.<br />
Bakhtin ressalta que 0 enunciado, por ocupar uma funyao <strong>de</strong>finida (grifo do<br />
autor) <strong>de</strong>ntro da esfera da comunicayao verbal, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado reayao-resposta a<br />
outros enunciados, com os quais conta, refuta-os, confirma-os, etc. Tornados como e10s na<br />
ca<strong>de</strong>ia da comunicayao verbal, <strong>de</strong> acordo com a percepyao bakthiniana, os enunciados se<br />
refletem e se respon<strong>de</strong>m mutuamente, mesmo que <strong>de</strong>rivem <strong>de</strong> falantes diferentes. Por isso,<br />
postula que:<br />
''por mais monologico que seja um enunciado (uma obra cientifica ou filosofica,<br />
por exemplo), por mais que se concentre no seu objeto, ele niio po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser<br />
tambem, em certo grau, uma resposta ao que ja foi dito sobre 0 mesmo objeto,<br />
sobre 0 mesmo problema, ainda que esse carater <strong>de</strong> resposta niio receba uma<br />
expres~iio externa bem perceptivel" (1992:317).<br />
Ao introduzir a nOyaO <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong> dialogica, isto e, "0 enunciado do<br />
outro percebido em sua alterida<strong>de</strong> e introduzido no nosso enunciado", que estaria contida<br />
em todos os enunciados realizados ou por realizar, 0 semi610go sovietico esboya com<br />
explicitu<strong>de</strong> e didatismo a sua teoria do dialogismo na Iinguagem. Argumenta que 0 nosso<br />
pensamento nos mais divers os ambitos do conhecimento<br />
humano como das artes, ciencias e<br />
filosofia, por exemplo, nasce e forma-se "em interm;iio e luta com 0 pensamento alheio, 0<br />
que niio po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> refletir nas formas <strong>de</strong> expressiio verbal do nosso pensamento"<br />
(1992:317).<br />
As fnigeis fronteiras enunciativas, alem <strong>de</strong> apontar as possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
alternancia <strong>de</strong> sujeitos falantes, infiltram e difun<strong>de</strong>m 0 discurso do outro/tu, instaurando
essa inter-rela
Embora essa sequencia seja produzida completamente por urn tinico falante,<br />
as fronteiras dos enunciados estao claramente <strong>de</strong>marcadas pelas curvas entoacionais<br />
ascen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes que as contornam, sinalizando espayOS discursivos<br />
diferenciados, ou seja, os padroes <strong>de</strong> entoayao propiciam a projeyao da presumida<br />
intervenyao indagativa do ouvinte no conjunto enunciativo do falante. Neste ponto, 0<br />
dialogismo se manifesta em toda a sua plenitu<strong>de</strong>, quando da ocorrencia do jen6meno do<br />
turno intra-turno,<br />
isto e, urn forjado turno inteiro da audiencia inserido no mesmo turno do<br />
comunicador: ah Paulo Lopes / pomada Minancora ate hoje e boa /, inclusive com<br />
marcador conversacional nao-lexicalizado: ah, e convocayao pelo nome da pessoa com<br />
quem se fala, garantindo assim todo 0 aparato necessario para que tal intervenyao seja<br />
i<strong>de</strong>ntificada enquanto enunciado do outro/tu, nao coinci<strong>de</strong>nte com 0 eu que <strong>de</strong>tem, na<br />
verda<strong>de</strong>, 0 po<strong>de</strong>r da palavra. 0 comunicador que <strong>de</strong>sempenhava 0 papel <strong>de</strong> falante autor<br />
troca <strong>de</strong> alinhamento (footing), logo assume 0 papel <strong>de</strong> falante animador, para abrigar a<br />
presumivel voz do outro/tu <strong>de</strong>ntro do seu discrso. Urn eu fala por urn outro, consolidando<br />
aquilo que Goffinan (1983) chamou <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong><br />
biografica.<br />
Quando da realizayao <strong>de</strong> uma analise mars <strong>de</strong>talhada dos padroes<br />
entoacionais do fragmento 89, observa-se, entre outras coisas, a provavel intenyao do<br />
falante <strong>de</strong> apresentar 0 produto como urn elemento ja constituinte do repert6rio <strong>de</strong><br />
conhecimentos partilhados dos interactantes: pomada Minancora / ei::ta pomada boa ein<br />
/, cabendo ao alongamento da vogal e aos MCs a funyao <strong>de</strong> meros confirmadores da "boa"<br />
qualida<strong>de</strong> da pomada. A suposta pergunta do ouvinte, na linha 2, tern, <strong>de</strong> acordo com nosso<br />
ponto e vista, uma dupla finalida<strong>de</strong>: serve como recurso ret6rico para a apresentayao<br />
dos<br />
OITEnta <strong>anos</strong>, bastante enfatizados, <strong>de</strong> existencia do produto no mere ado - <strong>de</strong>ixando nas<br />
entre linhas que a tal pomada havia vencido 0 teste do tempo, logo estaria comprovada a<br />
sua eficiencia; opera tambem como indice indicativo da presenya do outro/tu nesse dialogo<br />
virtual. a Me ne verda<strong>de</strong>, na linha 8, tenta representar que 0 outro/tu foi retoricamente<br />
consultado a respeito da qualida<strong>de</strong> e, sobretudo, lembrado como participante que<br />
provavelmente estaria produzindo uma compreensao responsiva ativa concordante e<br />
convergente com todas ou, pelo menos, com gran<strong>de</strong> parte das asserr;;oes feitas pelo falante,<br />
pois ja teria resolvido a sua dtivida quanta a qualida<strong>de</strong> do medicamento, quando fizera a<br />
suposta pergunta.
Ex. 90: 479-482.<br />
l.PL reumatismo / artrite / artrose / voce ja sabe \ tome Reumartrose \<br />
2. mas Paulo num tern contra indical,:iioesse remCdio /<br />
3. nao \ nao tern contra indica
coloquial "a gente" equivalente ao "n6s", que tern valor inclusivo, e no caso, tambem<br />
persuasivo, cuja finalida<strong>de</strong> e 0 estabelecimento <strong>de</strong> uma 'i<strong>de</strong>ntificayao" entre comunicador e<br />
audiencia; tais pronomes sac encontniveis<br />
nas linhas 5, 6, 8, 9, 18. As pausas longas, acima<br />
<strong>de</strong> 3 (tres) segundos marcadas na transcriyao, funcionam nao s6 como momenta para<br />
planejamento verbal, mas tambem como espayO supostamente<br />
concedido para a intervenyao<br />
do outro/tu, ou seja, a pista para 0 ouvinte tomar 0 turno no "lugar relevante para<br />
transir;iio", estrategia sobremodo abstrata em face as condiyoes <strong>de</strong> produyao e recepyao.<br />
Ex. 90: 41-60.<br />
l.PL antes <strong>de</strong> toma qualque <strong>de</strong>cisao /<br />
2. converse com seu cora~ao \<br />
3. pergunte pro seu cora~ao / se voce <strong>de</strong>ve faze aquilo ou nao \<br />
4. ou~a a sua INTUICAo \ (3) na verda<strong>de</strong> eu falo isso sabe por que /<br />
5. por que muitas vezes faz a gente po::r simplesmente pela razao \<br />
6. sabe / a gente fala assim / ah:: a razao diz que eu <strong>de</strong>vo faze isso \<br />
7. eu fiz as contas eu acho que eu <strong>de</strong>vo faze \ e 0 corac;ao/ (3)<br />
8. a gente tern que consulta 0 cora~ao da gente \<br />
9. por que quando a gente faz alguma coisa que no fundo a gente nao queria /<br />
10. sabe / ai a gente sofre <strong>de</strong>pois \<br />
11. uma mulhe par exemplo que casa s6 por dinheiro /<br />
12. a vida <strong>de</strong>la vira urn inferno \ (3) e verda::<strong>de</strong> \<br />
13. uma pessoa que s6 pensa em coisas materiais /<br />
14. s6 em coisas materiais \ a vida / fica muito difi::cil \<br />
15. por que tern aver razao \ e verda<strong>de</strong> \ ce tern que consulta sua razao \<br />
16. mas acima <strong>de</strong> tudo tern que consulta sua razao \<br />
17. mas acima <strong>de</strong> tudo tern que consulta 0 cora~ao \<br />
18. por que se nao a gente / acaba sofrendo muito \ (3)<br />
19. entao antes <strong>de</strong> toma uma <strong>de</strong>cisao na sua vida / seja ela qual fO/<br />
20. antes <strong>de</strong> toma qualque <strong>de</strong>cisao / consulte 0 seu cora~ao \<br />
Vejamos mais urn segmento que contem expressoes evi<strong>de</strong>nciadoras do<br />
dialogismo, antes <strong>de</strong> fecharmos essa questao.<br />
Ex. 92: 585-602.<br />
l.PL e eu queria falli pra voce / do Emes Confec~6es\<br />
2. [...J Emes Confec~6esven<strong>de</strong> realmente por urn pre~o espetacula \<br />
3. MUITAS donas <strong>de</strong> casa / e a dona <strong>de</strong> casa e que sabe faze economia /<br />
4. muitas donas <strong>de</strong> casa tao indo I,icompni \ por que /<br />
5. porque acabam comprando por urn pre~o que vale a pena \<br />
6. jogo <strong>de</strong> len~ol /<br />
7. jogo <strong>de</strong> CAma /<br />
8. jogo <strong>de</strong> MEsa /<br />
9. jogo <strong>de</strong>/I<strong>de</strong> banho / ne /<br />
10. edredon / e::: / toalha <strong>de</strong> praia / TUdo que voce pensa / tern la /<br />
11. no nosso querido Emes Confec~6es/<br />
12. que e urn gran<strong>de</strong> atacadista aqui <strong>de</strong> Sao Paulo \<br />
13. so pro ce te uma idcia / eles estao ven<strong>de</strong>ndo umjogo <strong>de</strong> cama da SANTISTA /<br />
14. olha so / jogo <strong>de</strong> cama da Santista / TRES pe~as por cinco mil e duzentos \<br />
15. num vale apena ir I:i /<br />
Programa <strong>de</strong> P 6s - G r a d n a 9ii0 103<br />
em Let fa" e Linguistics,<br />
UFPE
16. claro que vale \ entao eu vo dar 0 en<strong>de</strong>re~o e 0 telefone \<br />
17. 0 en<strong>de</strong>re~o e estrada Sao Joao Climaco cento e viote e sete \<br />
18. eu sei que c urn pouco lon:::ge / eu sei que c:: / ...<br />
Trata-se <strong>de</strong> mais urn texto publicitario feito ao vivo pelo comunicador, cujas<br />
informayoes principais esHio escritas em urn script. Contudo, 0 pr6prio locutor se encarrega<br />
<strong>de</strong> encharca-Io com elementos da oralida<strong>de</strong>, consequentemente intensificando as matizes<br />
dial6gicas. A comeyar da unida<strong>de</strong> comunicativa que abre este fragmento, eu queria fahi<br />
pra voce, a qual em sua totalida<strong>de</strong> constitui um MC verbal que sugere a introduyao <strong>de</strong> urn<br />
novo t6pico a interayao em andamento, ao mesmo tempo que busca individualizar, <strong>de</strong> uma<br />
certa maneira, 0 outro/tu, aqui representado pelo pronome <strong>de</strong> tratamento coloquial voce,<br />
chamando-nos a atenyao para 0 que sera dito a seguir. Tal individualizayao nada mais e do<br />
urn simples simulacro <strong>de</strong> particularizayao do ouvinte, pois a captayao das ondas <strong>de</strong> nidiofrequencia<br />
e algo que foge aos dominios e aos objetivos <strong>de</strong> qualquer veiculo eletronico <strong>de</strong><br />
comunicayao. Quanto maior 0 universo <strong>de</strong> ouvintes melhor, em todos os aspectos, para a<br />
emissora. Qualquer restriyao <strong>de</strong> audiencia constitui urn contra-senso na proposta <strong>de</strong> urn<br />
veiculo que pretenda ser popular na acepyao do termo. Na verda<strong>de</strong>, esse direcionamento<br />
sugerido pelo pronome citado vem a ser mais urn recurso estrategicamente disposto no<br />
discurso para gerar a tao importante e nao menos necessaria dialogicida<strong>de</strong> , inclusive com<br />
troca <strong>de</strong> alinhamento (footing).<br />
Colabora tambem para a sustenta9ao <strong>de</strong>sse dialogismo linguistico a pergunta<br />
ret6rica, num vale apena ir hi /, a qual, <strong>de</strong> fato, nao busca respon<strong>de</strong>r propriamente a uma<br />
indagayao. Constitui-se antes <strong>de</strong> urn tipo <strong>de</strong> mecanisme pelo qual se procura levar 0<br />
interlocutor a respon<strong>de</strong>r exatamente aquilo que <strong>de</strong>sejamos que responda. Mesmo antes que<br />
o ouvinte tivesse tempo <strong>de</strong> pensar em uma resposta, 0 comunicador<br />
rapidamente ja conclui<br />
por ele: claro que vale \ . 0 pr6prio falante ja e urn respon<strong>de</strong>nte, ou <strong>de</strong> outra forma, 0<br />
pr6prio locutor ja e urn alocutario do seu pr6prio discurso, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> envolver 0<br />
outro/tu no discurso, como bem afirma 0 semi610go sovietico.<br />
Sutilmente essa resposta conclusiva do apresentador,<br />
reforyada pe1a unida<strong>de</strong><br />
comunicativa, enHio eu vo dar 0 en<strong>de</strong>re~o e 0 telefone \ . que tern aparencia meramente
fatica, po<strong>de</strong> representar gran<strong>de</strong> perigo ao livre direito <strong>de</strong> escolha da audiencia, ja que, por<br />
gozar <strong>de</strong> urn certo prestigio e autorida<strong>de</strong> perante esse publico, a 'ingenua" assen;ao do<br />
comunicador funcionaria persuasivamente, foryado-o suavemente a escolher a loja<br />
"recomendada" para fazer suas compras, ainda que <strong>de</strong>snecessarias.<br />
E possivel que a campreensaa respansiva ativa da audiencia nao tenha a<br />
ayao tao longamente retardada, pois a frequencia <strong>de</strong> campanhas promocionais daquele<br />
cliente, Emes Confecyoes, e bastante alta durante 0 programa <strong>de</strong> radio. Certamente estava<br />
havendo algum retorno financeiro provocado pelas respostas em forma <strong>de</strong> compras dos<br />
ouvintes. Eis, portanto, aqui a manifestayao clara <strong>de</strong> uma das afirmayoes bakthinianas <strong>de</strong><br />
que mais cedo ou mais tar<strong>de</strong> aquilo que se ouviu e se compreen<strong>de</strong>u ativamente encontra<br />
reflexo no discurso ou no comportamento do ouvinte (1992:291). Se essa resposta nao<br />
ocorreu num tempo ja-aqui, ocorreu, se quer ao menos, num momenta par-vir nao muito<br />
distante.<br />
Acenando ainda como uma das representayoes <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong>s dial6gicas<br />
bastante salientes em 92, sem duvida, esta 0 turno do outro/tu representativo<br />
da alterida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> papeis incluso no univoco turno do falante: rnuitas donas <strong>de</strong> casa estao indo hi<br />
cornpra \ por que / ; 0 en<strong>de</strong>re.;o e Estrada<br />
Sao Joao Clirnaco cento e vinte e sete \ eu<br />
sei que e urn pouco lon:::ge / eu sei que e:: / 0 turno da audiencia representado pela<br />
expressao indagativa por que e a projeyao da pergunta<br />
6bvia, no enten<strong>de</strong>r do falante, que<br />
po<strong>de</strong>ria ter sido formulada pelo ouvinte. Ela (a indagayao pressuposta da audiencia)<br />
tambem surge para aten<strong>de</strong>r a intenyao <strong>de</strong> ressaltar que vale a pena comprar pelos preyOS da<br />
loja. Na segunda representayao<br />
<strong>de</strong> turno <strong>de</strong> urn outro/tu plasmado na intervenyao do falante<br />
unico, marca <strong>de</strong> polifonia explicita, nota-se que 0 MC verbal oracional repetido eu sei que<br />
e, constituido <strong>de</strong> verbo epistemico saber, previne-se <strong>de</strong> uma possivel reclamayao por parte<br />
da audiencia em funyao da distancia da se<strong>de</strong> daquele estabelecimento comerciaI. Mas, toda<br />
distancia e relativa do ponto on<strong>de</strong> se esta ao que se <strong>de</strong>seja if. Talvez, antevendo replicas <strong>de</strong><br />
ouvintes da capital paulista, 0 comunicador imediatamente neutraliza qualquer objeyao<br />
nesse sentido.
Em sintese: antecipayao <strong>de</strong> possiveis replicas da audiencia inseridas na<br />
pr6pria intervenyao do falante, presenya <strong>de</strong> MCs verbais e pros6dicos preenchendo e<br />
contornando fronteiras enunciativas, pausas mais longas em finais <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<br />
comunicativas sugerindo entrega <strong>de</strong> turno it audiencia, perguntas ret6ricas, modalida<strong>de</strong><br />
verbal imperativa, emprego do pronome pessoal coloquial a gente igual a nos com valor<br />
inclusivo e do pronome <strong>de</strong> tratamento voce com simulada particularizayao foram alguns dos<br />
mecanismos explicitos que asseguraram<br />
0 fen6meno do dialogismo subjacente ao discurso<br />
<strong>de</strong> urn modo geral e especificamente aos conjuntos enunciativos ocorrentes na IR; porem<br />
tais mecanismos nao saD os unicos utilizados pelo comunicador <strong>de</strong> radio. E provavel que 0<br />
envolvimento, que sera observado a seguir, venha complementar 0 conjunto <strong>de</strong> estrategias<br />
dial6gicas imanentes a toda e qualquer interayao.<br />
Jonh Gumperz (1982 apud. Tannen 1989) consi<strong>de</strong>ra 0 envolvimento<br />
conversacional a base para to do 0 entendimento lingi.iistico, pois pressup5e participayao<br />
ativa e nao uma mera questao <strong>de</strong> compreensao passiva dos interactantes. Nas pesquisas que<br />
realizou sobre as estrategias discursivas em comunicay5es inter-culturais, ele percebeu a<br />
necessida<strong>de</strong> dos interlocutores partilharem conhecimentos linguisticos e s6cio-culturais para<br />
que 0 envolvimento conversacional seja estabelecido e mantido. Assim, 0 autor <strong>de</strong>monstra<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>ia da importancia <strong>de</strong> uma homogeneida<strong>de</strong> cultural e linguistica para que haja<br />
envolvimento na conversayao.<br />
Contudo, Tannen (1989: 10) consi<strong>de</strong>ra tal homogeneida<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>alizayao<br />
que nunca sera completamente realizada, pois individuos criados em uma "mesma cultura"<br />
po<strong>de</strong>m exibir multiplas diferenyas tais como: regionais, etnicas, <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> genero,<br />
individuais e <strong>de</strong> classes SOCIalS,mas nem por isso as pessoas <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> se envolver<br />
conversacionalmente. A autora ressalta' que 0 que po<strong>de</strong> levar os interlocutores a
incompreensoes e mas interpretayoes sac seus estilos conversacionais ou, nos termos <strong>de</strong><br />
Gumperz, as pistas conversacionais.<br />
o envolvimento tambem e a tematica <strong>de</strong> uma extensa pesqUlsa sobre as<br />
dimensoes que distinguem a lingua falada da lingua escrita realizada por Wallace Chafe<br />
(1982). 0 autor acredita ser ele uma das categorias fundamentais da oralida<strong>de</strong>. 0 autor<br />
aponta fragmentar;ao e envolvimento como caracteristicas da lingua falada, enquanto que<br />
integrar;ao e distanciamento<br />
caracterizam a lingua escrita.<br />
Tannen (1985b: 17) salienta que integrayao e fragmentayao<br />
sac categorias da<br />
superficie do discurso, enquanto que envolvimento e distanciamento estao ao nivel mais<br />
profundo. Acrescenta dizendo que tais categorias nao sac mutuamente exclu<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que estejam operando em diferentes niveis.<br />
Em urn outro artigo, Chafe (1985), convencido ser 0 envolvimento uma<br />
categoria peculiar a lingua falada, propoe tres manifestayoes tipol6gicas para 0 fen6meno:<br />
a) Auto-Envolvimento - eo envolvimento do falante consigo mesmo, que se constitui dos<br />
seguintes trayos:<br />
- pronomes <strong>de</strong> 1a. pessoa e possessivos correspon<strong>de</strong>ntes;<br />
- enunciados como "eu acho", "eu sei" e <strong>de</strong>mais verbos epistemicos, referentes ao processo<br />
mental do falante;<br />
b) Envolvimento do Falante com 0 Ouvinte - e referente a dinamica da interayao com 0<br />
interlocutor, sendo marcado pelos seguinte elementos:<br />
- uso <strong>de</strong> pronomes <strong>de</strong> 2a. pessoa tu 16;<br />
- citayao e evocayao do nome do ouvinte;<br />
- respostas a questoes formuladas pelo interlocutor;<br />
- emprego <strong>de</strong> marcadores conversacionais;<br />
- expressoes formulaicas (proverbios, ditos populares, e expressoes esteriotipadas, frases<br />
feitas)<br />
16No portugues doBrasil, 0 uso do tu e substituido por voce como forma <strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> e como tratamento<br />
<strong>de</strong> igual para igual ou <strong>de</strong> superior para inferior.
c) Envolvimento do falante com 0 assunto - refere-se ao compromisso pessoal com 0<br />
conteudo do esta sendo falado, cujas marc as sac;<br />
- emprego <strong>de</strong> vocabulario expressivo (adjetivos e interjeiyoes);<br />
- redundancia e exageros do falante;<br />
- uso <strong>de</strong> discurso direto;<br />
- utilizayao <strong>de</strong> particulas adverbiais modalizadoras;<br />
Este tres tipos <strong>de</strong> envolvimento <strong>de</strong>finidos por Chafe, afirma Tannen<br />
(1989: 11), que se pensara, a principio, distintos sobrepoem-se uns aos outros <strong>de</strong>ntro dos<br />
espayos discursivos em que se realizam. A autora avalia que a nOyao <strong>de</strong> envolvimento para<br />
Chafe <strong>de</strong>screve urn estado interne mais psicol6gico que se mostra em fenomenos<br />
lingtiisticos observavis.<br />
Tannen (1989: 16) advoga ser a conversayao muito mais do que a alternancia<br />
<strong>de</strong> duas pessoas nos papeis <strong>de</strong> falante e ouvinte. A autora <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a vertente <strong>de</strong> pesquisa<br />
que trabalha a nOyao <strong>de</strong> conversayao como uma llproduyao compartilhada ll . Para ela, 0 falar<br />
possui elementos e trayos da compreensao da mesma forma que 0 ouvir. Nesses termos,<br />
falar e urn processo tao ativo e dinamico quanta ouvir, ou seja, 0 ouvinte e urn co-autor do<br />
discurso no processo interativo.<br />
Tannen conclui que nao ha interayao sem envolvimento, enten<strong>de</strong>ndo 0<br />
segundo termo como urn 0 conjunto <strong>de</strong> estrategias verbais <strong>de</strong> som, ritmo e significado que<br />
constroem os sentidos por meio <strong>de</strong> uma mutua participayao dos interactantes<br />
no evento.<br />
A conclusao <strong>de</strong> Tannen parece encontrar evi<strong>de</strong>ntes ressonancias no processo<br />
<strong>de</strong> interayao pelo radio, embora a sua nOyao <strong>de</strong> envolvimento esteja quase sempre<br />
relacionada a conversayao enquanto tipo especifico <strong>de</strong> interayao verbal. 0 fato <strong>de</strong><br />
encontrarmos freqiientes marcas <strong>de</strong>sse fen6meno na interayao em analise, certamente<br />
ratificara a hip6tese <strong>de</strong> que 0 comunicador tentar aproximar a Interayao Radiof6nica <strong>de</strong> uma<br />
conversayao informal.
Ainda que 0 fen6meno do envolvimento esteja intrinsecamente atre1ado e<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do dialogismo linguistico e constitua mais uma das suas caracteristicas,<br />
julgamos interessante analisa-Io isoladamente em funyao da sua imporHincia para 0 sucesso<br />
das re1ayoes interpessoais.<br />
Portratar-se tambem <strong>de</strong> uma relayao inter-pessoal, aIR certamente ja estaria<br />
completamente tomada por estrategias <strong>de</strong> envolvimento, uma vez que esse ele e prerequesito<br />
a instaurayao e manutenyao <strong>de</strong> qualquer evento interacional. Contudo,<br />
selecionamos algumas sequencias <strong>de</strong> enunciados infiltrados na enunciayao do radialista em<br />
que 0 fenomeno do envolvimento ocorre <strong>de</strong> forma mais explicita, muitas vezes<br />
manifestando as marc as tipol6gicas apresentadas por Chafe.<br />
Os exemplos a seguir foram escolhidos tambem por ocorrerem em momentos<br />
em que 0 comunicador<br />
direciona os seus atos enunciativos exclusivamente para a audiencia.<br />
Ex. 93: 438-451.<br />
I.PL e agora vamos coloca 0 copo com agua e cada urn vai faze urn pedido /<br />
2. voce que ta rezando / coloque a agua perto do radio /<br />
3. e com MUIta fe / do fundo do cora~ao pel;a a benl;aO que ce ta precisando \ (5)<br />
4. eu pe~o benl;aO nessa manha para Norberto da Conceil;ao e familia \<br />
5. benc;ao para Wan<strong>de</strong>rly /<br />
6. Regiane Fema<strong>de</strong>s intemada no hospital Servido Municipal \<br />
7. benc;ao para Lourisana Tibolas Vieira Arruda \<br />
8. benc;ao para familia Paiva Bemar<strong>de</strong>s \ «comunicador If: lista com varios nomes))<br />
9. e pe1a alma <strong>de</strong> Pedro Selestino <strong>de</strong> Santana \<br />
10. que Cristo esteja com TOdos e Cristo aben
interlocutores da IR, pois cria entre eles uma certa cumplicida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntificayao misticoreligiosa<br />
17. I<strong>de</strong>ntificar-se sempre com 0 povo e a meta <strong>de</strong> qualquer programa <strong>de</strong> radio que<br />
vise a indices estratosfericos <strong>de</strong> audiencia. 0 processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificayao mediado pe10s<br />
elementos do campo semantico da religiao perva<strong>de</strong>m os enunciados com itens essenciais<br />
como: reza, fe, henr:;ao,alma, Cristo, Ave Maria. Tal i<strong>de</strong>ntificayao gera, em ultima analise,<br />
envolvimento. Po<strong>de</strong>mos ainda dizer, <strong>de</strong> acordo com a tipologia <strong>de</strong> Chafe, que 93 apresenta<br />
explicitamente auto-envolvimento em eu pe-;o; e envolvimento com 0 ouvinte em voce, ce,<br />
entre outros elementos menos patentes.<br />
Em 94, objetivamos especificamente mostrar 0 envolvimento <strong>de</strong>c1arado do<br />
comunicador com <strong>de</strong>terminados ouvintes que se dao 0 trabalho <strong>de</strong> escrever ou telefonar<br />
para 0 programa sirnplesmente para ouvir os seu nomes evocados no ar ao vivo. A fim <strong>de</strong><br />
nao quebrar-lhes as expectativas, 0 apresentador assim 0 faz, aproveitando tambem para<br />
inc1uir toda a audiencia e nao <strong>de</strong>ixar a interayaO restrita a urn grupo <strong>de</strong> supostos<br />
privilegiados.<br />
Ex. 94: 573-581.<br />
l.PL 0 abra~o do Paulo Lopes para Terezinha /<br />
2. para Manuel da Vila Li<strong>de</strong>iro /<br />
3. alo Maria Tereza do Bras /<br />
4. alo Maria Gon~alves da Vila Alpina /<br />
5. alo SueIi::: do Jardim Olin::da /<br />
6. urn abra~o pra Valeria da Vila Matil<strong>de</strong> /<br />
7. Dirce da Mooca /<br />
8. todo mundo escutando 0 Paulo Lopes /<br />
9. to do mundo ouvindo a globo:: \ ...<br />
o excerto 94 sobre 0 qual recai a nossa pr6xima amilise compoe uma das<br />
vinhetas-<strong>de</strong>-chamada que informam as pr6ximas atrayoes do programa. Nele 0 comunicador<br />
tenta estirnular a audiencia a continuar ouvindo a emissora motivada pela discussao dos<br />
mais variados temas da agenda nacional e local como, por exemplo, politica <strong>de</strong> privatizayao<br />
<strong>de</strong> ernpresas estatais como Telebras e CMTC (Companhia Municipal <strong>de</strong> Transportes<br />
Coletivos) e tragedias humanas como a tentativa <strong>de</strong> suicidio <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>putada fe<strong>de</strong>ral e a<br />
17Essa i<strong>de</strong>ntifica«ao mistico-religiosa refere-se especificamente ao catolicismo, ja que 75% dos brasileiros, a<br />
gran<strong>de</strong> maioria, <strong>de</strong>c1ara-se a<strong>de</strong>pta a essa ala do Cristianismo, segundo recente pesquisa realizada pelo<br />
Datafolha publicada em Veja (No.: 1393).
castrayao <strong>de</strong> urn homem em Sao Paulo. Estrategicamente a cada vinheta-<strong>de</strong>-chamada ao<br />
vivo so saD mencionados dois dos quatro temas que serao abordados no quadro. Sendo<br />
assim, po<strong>de</strong>-se encontrar no segmento abaixo os temas da castrayao fisica <strong>de</strong> urn homem e a<br />
quebra do monopolio da Petrobras e Telebras, com nitida enfase do apresentador para 0<br />
primeiro topico.<br />
Ex. 95: 541-559.<br />
l.PL (...] daqui a pouco tern os <strong>de</strong>bates \<br />
2. e todo mUDdofica escutando os <strong>de</strong>bates De/<br />
3. HOje nos vamos faleidos seguintes assuntos /<br />
4. a onda <strong>de</strong> castrac;aochega a zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo \<br />
5. castraram homem na zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo \<br />
6. ih::: se essa onda pe::ga eiD / e:::u ein /<br />
7. que dize que a onda <strong>de</strong> castrac;aoja cheg6 a zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo e /<br />
8. quem e que foi castrado ai ein / ai na zona leste /<br />
9. quem e que foi castrado ein /<br />
10. e:::u ein / ((risos)) foi mermo e / (3)<br />
11. nos vamo conta tudo hoje no <strong>de</strong>bate e / e:::ita /<br />
12. [...] que e que voce acha <strong>de</strong> acaba com 0 monop6lio /<br />
13. num <strong>de</strong>ixa a Petrobras / <strong>de</strong>ixa outras empresas entrarem /<br />
14. pra da mais emprego pras pessoas /<br />
15. <strong>de</strong>ixa as empresas entrarem no ramo <strong>de</strong>:: telefone /<br />
16. ce acha born isso / nos vamos discutir esse e outros assuntos /<br />
17. nos <strong>de</strong>bates do Paulo Lopes as onze horas \<br />
18. quem escuta os <strong>de</strong>bates / fica sabendo <strong>de</strong> tudo \<br />
19. hoje em dia TOdo mundo tern que ta bern informado \<br />
Como se po<strong>de</strong> perceber, as marcas cristalizadas <strong>de</strong> envolvimento foram<br />
bastante exploradas. Tais marcas apresentam-se em forma <strong>de</strong> MCs verbais e pros6dicos:<br />
ne, ih:::, e::u, ein, que e que, que dize, ce acha, curvas entoacionais, tom <strong>de</strong> voz se<br />
alternando entre 0 altruista, divertido e tenso; pronome <strong>de</strong> la. pessoa explicito ou<br />
implicito na <strong>de</strong>sinencia verbal: nos, vamos; referencia ao outro/tu interlocutor da<br />
interayao encarnados no pronome <strong>de</strong> tratamento: voce, ce; vocabulario expressivo: todo<br />
mundo, repetil;ao dos sintagmas castrar;ao, e <strong>de</strong>bates, interjei(,:oes exageradas seguidas<br />
<strong>de</strong> alongamento vocalicos enfMicos (ih::, e::u ein, e:::ita); expressi'Jes formulaicas<br />
comuns em meios <strong>de</strong> comunicayao: ficar sabendo <strong>de</strong> tudo, TOdo mundo tern que estar<br />
bem informado. Ha, conforme ja apontou Tannen, a sobreposiyao natural dos trayos<br />
indicativos <strong>de</strong> envolvimento.
AS exemplos 96 e 97 foram retirados do quadro <strong>de</strong> Corac;Cio a corac;Cio, no<br />
qual a ouvinte conta numa carta 0 seu problema e pe<strong>de</strong> conselho ao apresentador. A<br />
correspon<strong>de</strong>ncia elida no ar ao vivo. Prevendo a possibilida<strong>de</strong> da intera9ao ficar restrita<br />
apenas a ambos os interessados, isto e, "conselheiro" e aconselhada, 0 comunicador<br />
incentiva a audiencia em geral a telefonar para 0 programa, sugerindo alternativas para a<br />
solu9ao daquele dilema, conforme ilustra 0 fragmento 96 abaixo:<br />
Ex. 96: 816-822.<br />
l.PL e ai que que voce acha que ela <strong>de</strong>ve faze / ce viu a hist6ria <strong>de</strong>la /<br />
2. volta /<br />
3. volta e tal / e agora nao sabe 0 que que faz /<br />
4. 0 que que voce acha / telefone pni ca /<br />
5. <strong>de</strong> sua opinHio \ po<strong>de</strong> figa \<br />
6. dois cinco dois / meia quato oito quato /<br />
7. e dois cinco dois meia nove / meia cinco \<br />
quatro vezes par meio <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> fala diretos diferentes como mostram as linhas 1, 4 e 5,<br />
alem <strong>de</strong> urn ato <strong>de</strong> fala indireto quando apresenta duas linhas telef6nicas disponiveis -<br />
representam,<br />
em urn plano micro, exatamente 0 cuidado <strong>de</strong> nao <strong>de</strong>ixar toda a audiencia fora<br />
da intera9ao, assim como, em urn plano mais macro, envolve-Ia nas a95es e <strong>de</strong>cis5es que se<br />
dao no <strong>de</strong>senrolar do programa.<br />
No entanto, ap6s a participavao <strong>de</strong> varios ouvintes pelo telefone, 0<br />
comunicador resolve finalmente dar a sua tao esperada opiniao-conselho aquela confusa<br />
ouvinte.<br />
Ex. 97: 866-879.<br />
l.PL <strong>de</strong>ixa eu da a minha opiniao <strong>de</strong> cora
o simples fato <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r uma pergunta ja indica que ha uma relaC;ao<strong>de</strong><br />
envolvimento entre respon<strong>de</strong>nte e indagante ou falante e ouvinte, conforme a tipologia <strong>de</strong><br />
Chafe. Certamente, outros elementos dispostos na superficie textual van consolidar esse<br />
envolvimento mais individualizado entre comunicador e ouvinte, quais sejam: frequente<br />
emprego do pronome <strong>de</strong> 2a. pessoa tu e seu substituto no nivel linguistico coloquial voce;<br />
uso <strong>de</strong> expressoes esteriotipadas tais como ta naquela coisa <strong>de</strong> maria-mole, na valsa, no<br />
vai levando; intensa presenc;a <strong>de</strong> MCs verbais e tambem pros6dicos, por exemplo: <strong>de</strong>ixa<br />
eu da minha opiniao, olha, enten<strong>de</strong>u, eu to achando que, alongamento <strong>de</strong> vogais,<br />
entre outros; Cabe dizer que todos esses recursos foram utilizados pelo comunicadorconselheiro<br />
para nao s6 estabelecer 0 envolvimento, mas tambem para proteger a imagem<br />
negativa da ouvinte e preservar a sua auto-imagem positiva diante <strong>de</strong> seu universo potencial<br />
<strong>de</strong> ouvintes, que venha em algum momenta contar 0 seu drama e pedir-Ihe conselho.<br />
Quanto mais iS80 acontecer, mais expectativa <strong>de</strong> resposta sera gerada e, consequentemente,<br />
mais ouvintes estarao atentos e "escravizados" a audiencia <strong>de</strong> cada programa.<br />
Contam tambem como forma <strong>de</strong> envolvimento as diversas trocas <strong>de</strong><br />
alinhamento (footing) durante as inumeras situac;6es vividas pelo comunicador no<br />
programa; para cada uma <strong>de</strong>las, ele tern ou precisa ter urn diferente papel ou personagem<br />
social para ser bem sucedido na sua dificil funC;ao <strong>de</strong> comunicador locutor-enunciador <strong>de</strong><br />
radio.<br />
Para concluir, observaremos os mecanismos <strong>de</strong> envolvimento inseridos nos<br />
enunciados finais do corpus em analise.<br />
Ex. 98: 1077-1082.<br />
l.PL vamos bota urn ponto final no programa \ muito obrigado \<br />
2. SaD doze horas e dois minutos \ amanha cstarernos aqui / se Deus quise \<br />
3. vem ai Eli Correia / 0 homem SORRlSO do nidio \ passe a tar<strong>de</strong> com ele \<br />
4. boa tar<strong>de</strong> pra TOdo mundo /<br />
5. e boa tar<strong>de</strong> pra minha mile e meu pai \ ((sussurrando))<br />
6. on<strong>de</strong> que que voces estejam \
Finalizando 0 programa e consequentemente a IR iniciada hi quatro horas<br />
atnis, e cujo tempo ja se excedia em dois minutos, linha 2, nada mais a<strong>de</strong>quado do que usar<br />
a ret6rica do atalho, isto e, empregar frases-feita, esteriotipadas por ser partilhada pelo<br />
senso comum da audiencia e, por isso, <strong>de</strong> facil compreensao:<br />
vamos bota urn ponto final,<br />
seguida por uma outra expressao pret a porter, mensagem-cliche: se Deus quise. Tais<br />
'f6rmulas" linguisticas engessadas parecem agradar bastante a esse <strong>de</strong>terminado publico.<br />
Esta ultima especificamente revel a urn <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> reencontro no dia seguinte, alem <strong>de</strong><br />
expressar cumplicida<strong>de</strong> mistico-religiosa que se complementa com a saudayao do<br />
comunicador dirigida a seus pais ja falecidos: boa tar<strong>de</strong> pra minha mae e meu pai \ on<strong>de</strong><br />
que que voces estejam \. Embora, a principio, isso faya <strong>de</strong>sviar 0 foco <strong>de</strong> envolvimento da<br />
audiencia para os pais do apresentador, tal atitu<strong>de</strong> ganha 0 senti do oposto, pois isso<br />
<strong>de</strong>monstra respeito e carinho filiais, comportamento mais que valorizado pela gran<strong>de</strong><br />
maiaria dos seus ouvintes, sobretudo as donas-<strong>de</strong>-casa, maes e as mulheres em geral que<br />
comp5em 93% da audiencia total do programa. Chega-se, <strong>de</strong>s sa forma, ao fim do<br />
envolvimento, logo da interayao entre comunicador e ouvinte pelo radio.
Buscamos neste trabalho <strong>de</strong>screver e analisar como acontece a interayao<br />
entre comunicador e ouvinte mediado pelo nidio. Para isso, tomamos, como estudo <strong>de</strong> caso,<br />
urn dos programas radioronicos <strong>de</strong> maior indice <strong>de</strong> audiencia do Brasil: 0 Programa Show<br />
do Paulo Lopes. Este programa tambem fora escolhido por ser <strong>de</strong> carMer e<strong>de</strong>tico-popular,<br />
e assim representar urn amaJgama <strong>de</strong> uma serie <strong>de</strong> outros programas <strong>de</strong>ntro dos seus<br />
diversos quadros e seqiiencias, abrangendo urn universo maior e mais heterogeneo <strong>de</strong><br />
ouvintes potenciais. Por esta razao, tern sido plagiado por emissoras <strong>de</strong> nidio em quase to do<br />
o Brasil, possibilitando-nos,<br />
por isso, fazermos algumas generalizay6es a partir <strong>de</strong>le.<br />
Po<strong>de</strong>mos afirmar, finalmente, que 0 nidio continua muito forte enquanto<br />
veiculo <strong>de</strong> comunicayao <strong>de</strong> massa, sociabilizador <strong>de</strong> informay6es e, sobretudo, enquanto<br />
meio viabilizador <strong>de</strong> relay6es inter-pessoais a distancia. Embora estejamos vivendo em<br />
epoca <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s avanyOS cientificos e tecnol6gicos, principalmente, na area da<br />
comunicayao, cujo <strong>de</strong>senvolvimento tern ocorrido <strong>de</strong> forma assustadora, transformando 0<br />
mundo em uma al<strong>de</strong>ia global atraves <strong>de</strong> computadores superpotentes e sateIites ultramo<strong>de</strong>rnos<br />
que permitem 0 acesso rapido e preciso as informay6es necessarias a vida<br />
humana, 0 radio permanece e permanecera interligando falantes, consolidando<br />
relacionamentos,<br />
mais apare1hado.<br />
unindo gentes tal como tern feito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua origem, hoje certamente<br />
Acreditamos que este veiculo sempre tera 0 seu espayo garantido entre os<br />
<strong>de</strong>mais meios <strong>de</strong> comunicayao, por, entre outras raz6es: a) ser <strong>de</strong> facil utilizayao, isto e, nao<br />
exigir conhecimentos especificos para se usa-Io como ser alfabetizado, por exemplo; b) ser<br />
mais acessivel economicamente, e portanto, mais popular; c) servir <strong>de</strong> companhia durantes<br />
as ativida<strong>de</strong>s cotidianas dos ouvintes, po<strong>de</strong>ndo ser transportado para quase todos os<br />
ambientes sem impedir a realizayao <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s simultaneamente, visto que s6<br />
necessita <strong>de</strong> urn dos sentidos, a audiyao.
A <strong>de</strong>speito dos mais mo<strong>de</strong>rnos meios e instrumentos<br />
<strong>de</strong> comunicayao e suas<br />
formas interativas, a relayao pelo fCldio- Interayao Radiof6nica - apresenta-se funcional e<br />
atualizada as necessida<strong>de</strong>s emergentes dos interactantes e, por isso, resiste a prova do<br />
tempo e as vantagens tecnol6gicas das mo<strong>de</strong>rnas formas <strong>de</strong> relayao inter-pessoal como, por<br />
exemplo, a interayao pela televisao.<br />
o pnmelro fator diz respeito a capacida<strong>de</strong> do comunicador, ancora da<br />
relayao, <strong>de</strong> aproximar a Interayao Radiof6nica da Interayao Conversacional, utilizando para<br />
isso elementos do Texto como Repetiyao e Marcadores Conversacionais e elementos do<br />
Discurso como Dialogismo e Envolvimento, entre outros que nao foram aqui estudados em<br />
funyao do recorte que a analise recebeu.<br />
As Repetiyoes e os Marcadores Conversacionais apresentam-se bastante<br />
frequentes ao longo da IR. Aquelas funcionam basicamente mantendo a clareza dos t6picos<br />
abordados e construindo a coesao e coerencia textuais necessarias. Estes, por sua vez,<br />
trabalham ancorando interativamente os interlocutores no evento, engaja-os mutuamente ao<br />
tornarem a relayao informal.<br />
Embora 0 Dialogismo e 0 Envolvimento seJam elementos inerentes a<br />
linguagem, e por conseguinte a interayao, em <strong>de</strong>terminados momentos da IR 0 comunicador<br />
<strong>de</strong>mosntra utilizar-se estrategicamente <strong>de</strong>stes elementos discursivos como forma explicita<br />
<strong>de</strong> virtualizar urn dialogo com a audiencia, objetivando envolve-Ia por completa na<br />
interayao. Parece que vem conseguindo tal intento, pelo menos os dados do mop para<br />
programas <strong>de</strong> radio que assim proce<strong>de</strong>m apontam nessa direyao.<br />
o segundo fator sobre 0 qual acreditamos estar aliceryada a Interayao<br />
Radiof6nica e 0 que se refere a utilizayao <strong>de</strong> t6picos que tenham ligayao com as ativida<strong>de</strong>s<br />
cotidianas do publico com 0 qual busca interagir. Isto acontece atraves dos varios quadros<br />
do programa que abordam diferentes t6picos <strong>de</strong> interesse da audiencia.
Percebemos,<br />
na inclusao <strong>de</strong>sses t6picos, uma clara tentativa <strong>de</strong> incorporayao<br />
dos gostos, <strong>de</strong>sejos, vonta<strong>de</strong>s, expectativas e habitos dos ouvintes para, <strong>de</strong>ssa forma,<br />
estabelecer uma i<strong>de</strong>ntificayao efetiva entre os interactantes. Nessa busca ininterrupta pela<br />
i<strong>de</strong>ntificayao, 0 comunicador encarna, muda e migra <strong>de</strong> papeis inumeras vezes no evento;<br />
enfim, procura alinhar-se a audiencia pelas diferentes funyoes <strong>de</strong> falante (principal, animador<br />
e autor), que 0 contexto the exige, tal como urn ator social que, na metafora <strong>de</strong> Goffman<br />
(1883b), salta com varios pes <strong>de</strong> urn lado para 0 outro sem, no entanto, tirar os dois que<br />
estao fincados no chao. A dinamica que ele impoe tanto it gerencia dos t6picos quanta a<br />
flutuayao <strong>de</strong> papeis <strong>de</strong> falantes asseguram a participayao e a integrayao da audiencia it<br />
Interayao Radiof6nica.<br />
Na combinayao harmoniosa <strong>de</strong>sses dois fatores suapracitados e que se<br />
sustenta 0 processo interacional entre 0 comunicador e a audiencia, diga-se <strong>de</strong> passagem,<br />
co-produtores<br />
e cuplices do discurso que se constr6i pelo nidio.<br />
Acreditamos, com esse trabalho, ter iniciado 0 <strong>de</strong>svelamento, pelo menos, <strong>de</strong><br />
parte da complexa Interayao Radiof6nica,<br />
uma das inumeras formas <strong>de</strong> interayao humana, a<br />
a qual, para Bakhtin, constitui a realida<strong>de</strong> fundamental da lingua.
ADORNO, T.W & HORKHEIMER, M. (1986). "0 Escalrecimento como Mistificayao das<br />
Massas" Adorno/Horkheimer. In: Dialetica do Esclarecimento. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
Zahar (pp.113-156).<br />
BAKHTIN, M(V. N. Volochinov). (1990). Marxismo e Filosofia da Linguagem. Sao<br />
Paulo, Hucitec.<br />
_____ 1992. "Os generos do Discurso". In: Estetica da Cria~ao Verbal. Sao Paulo,<br />
Fontes (pp.277-326).<br />
BARROS, Diana Luz. (1993). Procedimentos <strong>de</strong> Reformula
CUNHA, D. A. (1992). Urn Leitura da Abordagem Bakhtiniana do Discurso Reportado.<br />
Investiga.;oes. (2): 105/118. Recife: Ed. da UFPE.<br />
DASCAL, Marcelo. (1982). "Relevancia conversacional. In: DASCAL, M. (org.)<br />
Fundamentos Metodologicos da Lingiiistica vol. IV: Pragmatica. Campinas,<br />
UNIC AMP , (pp.105-131).<br />
DASCAL, Marcelo e KATRIEL. (1982). "Digressions: a study in conversational coherence.<br />
In:PETOFI, 1. S. (ed.) Text vs Sentence. Papers in TextIinguistics, vol. III.<br />
Hamburg: Buske.<br />
FOPP A, K. (1990). 'Topic progression and intention". In: MARCOV A, I & FOPP A, K<br />
(orgs), The Dynnamic of the dialogue. University of Berne, Harveter Wheatshe.<br />
GARFINKEL, Harold. (1967). Studies in Etnomethodology. Englewood Cliffs (New<br />
Jersey) Prentece-Hall.<br />
_______ . (1983a). "Footing". In: Forms of Talk. Phila<strong>de</strong>lphia: University of<br />
Pensylvania Press.<br />
_______<br />
. (1983b). "Radio Talk". In: Forms of Talk. Phila<strong>de</strong>lphia: University of<br />
Pensylvania Press.<br />
GRICE, H. P. (1983). "L6gica e Conversas;ao". In: DASCAL, M. Fundamentos<br />
Metodologicos da Lingiiistica, vol 1. Campinas, UNICAMP, (pp.81-103).<br />
GUIMARAEs, Eduardo. (1987). Texto e Argumento. Campinas, Pontes.<br />
GUMPERZ, John. 1. (1982). Discourse Strategies. Cambridge, Cambridge University<br />
Press.<br />
GUTIERREZ, F. (1978). Linguagem Total: Vma Pedagogia dos Meios <strong>de</strong><br />
Comunica.;ao. Sao Paulo, Sumus.<br />
HILGERT, Jose Gaston. (1993a). "Esbos;o <strong>de</strong> uma fundamentas;ao te6rica para 0 estudo<br />
das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> formulas;ao textual. In: CASTILHO, A. (org.) Gramatica do<br />
Poartugues Falado, vol II. Campinas, UNICAMP.
________ . (1993b). "Procedimento <strong>de</strong> reformulayao : a panifrase. In: PRETI,<br />
D. (arg.). Analise <strong>de</strong> Textos Orais, vol 1. Sao Paulo: FFLCHIUS.<br />
HYMES, Dell. (1986). Fondations in Sociolinguistics: an ethnographic approach.<br />
London: Tavistock.<br />
_____<br />
. (19193). A Coesao Textual e A Constrw;ao do Sentido. Campinas,<br />
UNICAMP (mimeo).<br />
LOPES, M. 1. Y.(1988). 0 Radio dos Pobres: estudo sobre comunicacao <strong>de</strong> massa,<br />
i<strong>de</strong>ologia e marginalida<strong>de</strong> social. Sao Paulo, Ediyoes Loyola.<br />
MARCONDES, C. Filho. (1985). Politico e imagimirio nos meios <strong>de</strong> comunica~ao para<br />
massas no Brasil. Sao Paulo, Sumus.<br />
MARCUSCID, L. A. (1975). Linguagem e Classe Sociais. Introdu~ao it teoria critica<br />
dos c6digos lingiiisticos <strong>de</strong> Basil Bersnstein. Porto Alegre, MovimentolEditora<br />
da UFRS.<br />
________<br />
. (1986). Analise da Conversa~ao. Sao Paulo, Atica.<br />
________ . (1989). "Marcadores Conversacionais no Portugues Brasileiro:<br />
farmas, posiyoes e funvoes". In: CASTILHO A. (org.) Portugues Culto<br />
Falado no Brasil. Campinas, UNIC AMP , (pp.281-320).<br />
________ . (l992b). A Repeti~ao na lingua falada: formas e fun~oes. Tese<br />
para concurso <strong>de</strong> Professor Titular. Recife, UFPE.<br />
MOLLICA, M. C. <strong>de</strong> Magalhaes. (1989). Queismo e <strong>de</strong>queismo no portugues do Brasil.<br />
Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio <strong>de</strong> Janeiro, UFRJ.<br />
OCBS, Elinor. (1979). "Planned and unplanned discourse". In: GIV6N T. (ed.). Syntax<br />
and Semantic. Vol. 12. New York, Aca<strong>de</strong>mic Press. (pp.51-80).<br />
ORLANDI, Eni. (1987). A Linguagem e seu Funcionamento. Campinas, Pontes.
PORCHAT, M. E. (1986). Manual <strong>de</strong> radiojornalismo<br />
Brasiliense.<br />
(Jovem Pan). Sao Paulo,<br />
_____ . (1990). A Linguagem da TV: 0 Impasse entre 0 falado eo escrito. Sao<br />
Paulo, FLCHIUSP (mimeo).<br />
ROCCO, M. T. F. (1988). Lianguagem Autoritaria: Televisao Persuasiva. Sao Paulo,<br />
Brasiliense.<br />
RODRIGUES, A. C. S. (1993). "Lingua falada e lingua escrita". In: PRETI, D. (org.),<br />
Amilise <strong>de</strong> textos orais. Sao Paulo, FLCHlUSP, (pp.13-32).<br />
ROULET, E. et.al. (1985). L'articulation<br />
Berne, Peter Lang.<br />
du Discours en Fran~ais Contemporain.<br />
SCHEGLOFF, E. JEFFERSON, G. & SACKS, H. (1974). "A Simplest Systematics for the<br />
Organization of Turn-Takiing for Conversation. In: Language, Vol. 50, (pp.696-<br />
735).<br />
STUBS, M. (1983). Discourse Analysis. The Socialinguistic Analysis of Natural<br />
languge. Oxford, Basil Blockwell.<br />
TANNEN, D. (1985a). "Relative focus on involvment in oral and weritten discourse. In:<br />
OLSON, D et al (eds.). Literacy language and learning: the nature and<br />
sequence of reading and writing. Cambridge, Cambridge University, (pp.124-<br />
147).<br />
_____ . (1989). Talking voices: Repetition, dialogue and imagery in<br />
conversational discourse. Cambridge, Cambridge University Press.<br />
VOGT, Carlos. (1984). "Estrutura e Funyao da Linguagem". In: Subsidios a Proposta<br />
Curricular <strong>de</strong> lingua Portuguesa para 020Grau. Sao Paulo, SECENP, Vol. I,<br />
(pp ..33-41).
A prop6sito da transcri
Cumpre salientar que todos os interlocutores indicados sao ouvintes que se<br />
alternam na posic;ao <strong>de</strong> falante corn 0 comunicador, enquanto a audiencia ern geral nao tern<br />
como faze-lo, dadas as condic;5es <strong>de</strong> recepc;ao.<br />
Para Marcuschi, transcrever e teorizar e selecionar para melhor traduzir a<br />
perspectiva do analista corn suas necessida<strong>de</strong>s. Por isso, do ponto <strong>de</strong> vista visual, esta<br />
transcric;ao contemplou uma dterminada organizac;ao dos fen6menos lingiiisticos ern<br />
observac;ao, a saber:<br />
(1) Repetir;8es - aparecem ern sentido vertical, ou seja, uma abaixo da outra,<br />
respeitando 0 criterio <strong>de</strong> completu<strong>de</strong> da unida<strong>de</strong> comunicativa;<br />
(2) Marcadores Conversacionais - continuarao transcritos normalmente <strong>de</strong><br />
acordo corn 0 lugar ern que aparecem <strong>de</strong>ntro da Unida<strong>de</strong> Comunicativa.<br />
Buscamos, <strong>de</strong>ntro do possivel, tomar a completu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada duas Unida<strong>de</strong>s<br />
Comunicativas como limite para a extensao <strong>de</strong> cada linha transcrita. Portanto, 0<br />
procedimento<br />
<strong>de</strong> citac;ao sera 0 seguinte:
1.V Paulo Lopes e tao legal I e 0 amigo das donas <strong>de</strong> casa \<br />
2. companheiro alegrando 0 seu dia I 0 Show do Paulo Lopes esteientrando no ar \<br />
3. motorista empregada dona <strong>de</strong> casa I estudante balconista e copeiro /<br />
4. fazendo amigos pelo ana inteiro I 0 amigao Paulo Lopes /<br />
5. esta entrando no ar \<br />
6. no ar \ 0 que acontece nas mas I<br />
7. como esta 0 seu dia I informayao e noticia / <strong>de</strong>scontrayao e alegria \<br />
8.PL bo:m di:a I<br />
9. bo:m di:a I<br />
10. bo:m di:a I<br />
11. mui:::to born dia a todos que estao ouvindo a globo: I<br />
12. vo::ce:: ouvindo a globo: \ esta em primeiro Juga \<br />
13. born dia a todas as mulheres I ((com bastante entusiasmo»<br />
14. que ouvem ai 0 Paulo Lopes I born dia a todas as maes <strong>de</strong> familia I<br />
15. al6 al6 minha amiga I como vai / tudo bem I dormiu bem I<br />
16. passou bem I ta calor e I NOSSA \ que CA - LOR ein I como teiquentellce ve \<br />
17. essa hora da manha / ja ta quente /<br />
18. <strong>de</strong> noite e quente \<br />
19. <strong>de</strong> tar::<strong>de</strong> aquele calor que ninguem aguenta \ e num e I<br />
20. muito born dia a todas os comerciantes /<br />
21. que esm ouvindo tambem 0 Paulo Lopes I<br />
22. born dia meu amigo \<br />
23. hoje e quarta-feira dia dois <strong>de</strong> fevereiro \<br />
24. hoje e dia <strong>de</strong>llda apresentayao do senh6 I<br />
25. hoje e dia da Nossa Senhora das Can<strong>de</strong>ias I<br />
26. hoje e di//dia <strong>de</strong> Sao Feliciano <strong>de</strong> Roma \<br />
27. hoje e aniversario da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Itu \ al6 Itu:: I urn abrayo ai \<br />
28. tanta gente ouve 0 Paulo Lopes I em Itu \ gran<strong>de</strong> abrayo ai \<br />
29. parabens pelo aniversario da cida<strong>de</strong> ein I<br />
<strong>30</strong>. hoje dia <strong>de</strong> Iemanja \ la na Bahia dia <strong>de</strong> Iemanja \<br />
31. e dia tamb6m do agente fiscal \<br />
32. com a benyao <strong>de</strong> Deus / e proteyao da Nossa Senhora Aparecida /<br />
33. nos estamos iniciando mais urn Show do Paulo Lopes ((efeito eco»<br />
34. oito horas / oito minutos \ ((sobe urn fundo musical melancolico»<br />
35. antes <strong>de</strong> toma qualque <strong>de</strong>cisao I da sua vida I seja ela qual for I<br />
36. qual for \ <strong>de</strong>cisao <strong>de</strong> arnor /<br />
37. <strong>de</strong>cisao <strong>de</strong> sentimento I (3)<br />
38. <strong>de</strong>cisao financeira /<br />
39. <strong>de</strong>cisao <strong>de</strong> emprego /<br />
40. nurn importa qual seja a <strong>de</strong>cisao \<br />
41. antes <strong>de</strong> toma qualque <strong>de</strong>cisao /<br />
42. converse com 0 seu corayao \<br />
43. pergunte pro seu corayao I se voce <strong>de</strong>ve faze aquilo ou nao \<br />
44. ouya a sua INTUI
57. mas acima <strong>de</strong> tudo tern que consultar 0 cora
114.PL NO - SSA \<br />
115.01 foi coisa horrivel aqui no parque Sao Lucas oUm I mais choveu MESMO \<br />
116.PL da medo ne I<br />
117.01 ah da I da urn pouquinho <strong>de</strong> medo ne Paulo I<br />
118. as turma que ta fora Ivai chegando ne I<br />
119.PL claro \ e verda<strong>de</strong> e isso mesmo \<br />
120.01 e:: \ mas Deus e born \<br />
121.PL i:::sso Helena \<br />
122.01 Deus olha pra n6s todos \<br />
123.PL Nelson Gon
171.02 [[ta obrigado \<br />
172.PL tchau querida /<br />
173.02 tchau \<br />
174.PL brigado \ DO::is a zero pro Nelson Gonc;alves\<br />
175. alo radio globe born dia:: /<br />
176. alo:: /<br />
177.03 born dia \<br />
178.PL quem fala /<br />
179.03 e Terezinha \<br />
180.PL Terezinha mora aon<strong>de</strong> Tete /<br />
181.03 Mami \<br />
182.PL Maua::: /<br />
183.03 aha \<br />
184.PL e ai ta chovendo muito \<br />
185.03 chovendo mui::to \<br />
186.PL e tv1ESMO/ Terezinha ai [[Maua /<br />
187.03 [[foi <strong>de</strong>mais \<br />
188.PL voce ficou ate com medo /<br />
189.03 fiquei \<br />
190.PL quando 0 ceu escurece::[[u / voce diz W/<br />
191.03 [[NO::SSA SEnhora \ e dava cada esTRONDO /<br />
192.PL e verda<strong>de</strong> e:: \ voce tern mais medo do reh'impago/ da trovoada / ou da chuva /<br />
193.03 ah: mais e quando tern vento \<br />
194.PL ah::: 0 vento ne /<br />
195.03 junto ne /<br />
196.PL e:: \<br />
197.03 ai da medo \<br />
198.PL eu tenho medo <strong>de</strong> reliim[[::pago /<br />
199.03 [[unh:<br />
200.PL tenho medo <strong>de</strong> trovoa[[::da /<br />
201.03 [[unh \<br />
202.PL eu me escondo <strong>de</strong>baixo da cama \<br />
203.03 ah: nao adianta nada \ ((risos»<br />
204.PL nao \ eu corro pro//pra cima da minha mulher /<br />
205. agarro minha mulher / ela para com isso \<br />
206. eu digo / nao \ mas eu to com medo \ ((risos»)<br />
207. a gente quando e crianc;atern medo ne /<br />
208.03 aha \<br />
209.PL Tereza minha amiga ai <strong>de</strong> Maua / voee vai <strong>de</strong> Nelson Gonc;alvesou Ze Augusto /<br />
210.03 Nelson Gonc;alves\<br />
211.PL e:: ofereee pra quem /<br />
212.03 oferec;opra minha familia / Paulo meu marido \<br />
213.PL 6timo entao \ urn abrac;ona sua familia \ tchau querida /<br />
214.03 tcha[[u \<br />
215.PL [[tehau tchau \ urn abrac;o\ ((sobe musica <strong>de</strong> Nelson Gonc;alves»<br />
216. Nelson Gonc;:alvesganh6 <strong>de</strong> TRES a zero \<br />
217. aqui na radio globe / eom a musica <strong>de</strong> 19ual pra Igual \<br />
218. a participac;:ao<strong>de</strong> Roberta Miranda nessa musiea \<br />
219. nove hora tern Ave Maria \<br />
220. nove horas 0 Brasil reza com Paulo Lopes aqui::: /<br />
221.V radio glo:::bo::: / ((toea a musica do Nelson Gonc;alves»<br />
222.PL aqui no Show do Paulo Lopes com Nelson Gonc;alves»<br />
223. pomada MINA.NCORA/ ei::ta pomada boa ein /<br />
224. ah Paulo Lopes / pomada Minancora ate hoje e boa / ate hoje \<br />
225. OITENta <strong>anos</strong> / ainda nao inventaram nada melh6 \<br />
226. poma da Minancora pra assaduras /<br />
227. pra cravos /
228. espinhas I<br />
229. para queimaduras /<br />
2<strong>30</strong>. ne verda<strong>de</strong> I pomada Minancora \ e realmente uma BELEZA \<br />
231.V globe::: \ «entra comerciais gravados» 0 amigao Paulo Lopes I<br />
232.PL oferta <strong>de</strong> hoje do meu I do nosso querido Davo Supermercado pra voce I<br />
233. olhai minha amiga dona <strong>de</strong> casa I hoje tern no Davo oleo Lisa I<br />
234. Oleo Lisa trezentos e oitenta e cinco \ sardinha tipo [...]<br />
235. entao tern hoje minha amiga I oleo Lisa a vonta<strong>de</strong> pra senhora compni \<br />
236. ill custando esse oleo Lisa quatrocento e trinta I<br />
237. eles estao ven<strong>de</strong>ndo por trezentos e oitenta e cinco I [...J<br />
238. vale a pena compni no Davo Supermercado IORGU:::LHO da zona leste \<br />
23 9. oito horas trinta minutos \<br />
240. V a Cida<strong>de</strong> Pe<strong>de</strong> S 0 S\<br />
241.PL bem I ontem nos aten<strong>de</strong>mos aqui 0 pedido da nos sa ouvinte Joana I<br />
242. Joana mora ai na cida<strong>de</strong> Carvalho I ela pediu pra asfaltar urna viela \<br />
243. nao foi isso Joana I<br />
244.0ff sobre uma viela que conta como asfaltada mas naollnum ta ausfaltada ne I<br />
245.PL entao ela pediu pra asfalta essa viela I na travessa da rua T I U \<br />
246. nos entramos em contato com a regional Itaquera /<br />
247. e ill no telefone 0 admistrad6 da regional I 0 Jose Janareli \<br />
248. born dia Janareli I<br />
249.El born dia Paulo Lopes I born dia ouvinte \<br />
250. em atenc;ao ao pedido dos seus ouvinte I pedir sobre a pavimentac;ao da viela I<br />
251. [...] e vamo faze urn esforc;o I pra ve se a gente consegui ainda esse ana I<br />
252. faze a pavimenta9ao da viela \<br />
253.PL ill certo enmo \ eu te agra<strong>de</strong>90 I tomara que esse ano enmo I<br />
254. voces consigam pavimenta essa viela ai \<br />
255. ill born I ele vai come9ar os estudos I porque tern faze urn levantamento I<br />
256. como e que e I 0 que que vai precisa I ta certo nao I ok \<br />
257. bem I nos vamos aten<strong>de</strong>r aqui urn abaixo-assinado I<br />
258. tern aqui urn abaixo-assinado I<br />
259. e dos moradores do condominio Santa Marta da travessa tres I numero vinte e cinco I<br />
260. no Parque <strong>de</strong> Taipas \<br />
261. eles pe<strong>de</strong>m pra que a SABESP tome provi<strong>de</strong>ncia quanta a falta <strong>de</strong> agua no local \<br />
262. os moradores nao aguentam mais a falta d'agua I<br />
263. e no condominio Santa Marta no parque <strong>de</strong> Taipas \<br />
264. eles mandaram urn abaixo-assinado I nos vamos toma uma provi<strong>de</strong>ncia I<br />
265. e amanha as oito I a gente jei tern urna resposta aqui I<br />
266. para os moradores ai do Parque <strong>de</strong> Taipas \<br />
267.V a Cida<strong>de</strong> Pe<strong>de</strong> S 0 S «entra bloco comercial» [... J<br />
268. Paulo Lopes \<br />
269.PL pois e I 0 nosso querido Armarinhos Fernando ne I<br />
270. que e 0 maior centro atacadista <strong>de</strong> Sao Paulo I<br />
271. Armarinhos Fernando tern botoes I<br />
272. perfumarias /<br />
273. linhas I<br />
274. rendas I<br />
275. aten
286. e tambem tern tudo em perfumaria I<br />
287. linhas I<br />
288. e rendas \<br />
289. Armarinhos Fernando tern 0 pre((o melhor aqui em Sao Paulo \<br />
290. sac cinco lojas na rua vinte cinco <strong>de</strong> mar((o I<br />
291. [...] eu falei ARMARINHOS::: FERNANDO ((efeito eco))<br />
292.V alo I Classificados do Paulo Lopes born dia I<br />
293.PL quem e ta no telefoene pra fala com Paulo Lopes I alo:: I<br />
294.04 Paulo Lopes I born dia \<br />
295.PL born ilia \<br />
296.04 aqui e Maura Pereira do Jardim Sao Paulo I eu gostaria <strong>de</strong> manda 0 meu recado I<br />
297. para 0 Fabio Fieber \ 0 homem que eu amo \<br />
298. Fabio I eu senti leu/leu te amo como os anjo amam a Deus \ ((pigarreia))<br />
299. eu te adoro como os peixes adora 0 ma \<br />
<strong>30</strong>0. sem voce I eu nao seriall<br />
<strong>30</strong>1. sem voce eu naolleu nao po<strong>de</strong>ria viver \<br />
<strong>30</strong>2. Paulo I eu quero aproveita I e parabenizei voce pelo seu aniversario I<br />
<strong>30</strong>3. muitos <strong>anos</strong> <strong>de</strong> vida I<br />
<strong>30</strong>4. muitas felicida<strong>de</strong> I<br />
<strong>30</strong>5. e continui sendo 0 radialista que voce e \ muito obrigado \<br />
<strong>30</strong>6.PL ta certo \ brigado Maura I muito obrigado \<br />
<strong>30</strong>7. meu aniversario e amanha I ne hoje nao \ [... ]<br />
<strong>30</strong>8. e recado <strong>de</strong> Susana la do Parque Brigito para Cari//Carem \<br />
<strong>30</strong>9. 0 Carem eu quero I te parabeniza pelos seus cinco <strong>anos</strong> <strong>de</strong> casada I<br />
310. voce e 0 Julio ainda forma urn casallindo \ merecem ser felizes \<br />
311. recado <strong>de</strong> Nelson da Pompeia para Rita \<br />
312. Rita I<strong>de</strong>pois daquela noite I eu nao consigo mais dormi direito \<br />
313. nao consigo dirigir mais I eu nao consigol late to fumando mais \<br />
314. nao sei que que aconteceu <strong>de</strong>pois daquela noite I eu nao tenho mais paz \<br />
315. volte I volte pra me da paz \ ((toea uma musica romantica)) [...]<br />
316. eo samba do bau da felicida<strong>de</strong> que 0 maio sucesso ne I<br />
317. voce sabia que 0 maio sucesso do carnaval e esse samba do bau::: I [...J<br />
318. eu aviso ai ao pessoal <strong>de</strong> Taboao da Serra I que domingo agora e 0 show I<br />
319. e 0 sorteio da casa ai pra Taboao da Serra \<br />
320. casa mobiliada que 0 bau vai da I domingo agora as onze horas I<br />
321. vai ser 0 gran<strong>de</strong> show com Luis:://Luis Ricardo e 0 conjunto UM Toque a Mais I<br />
322. e 0 sorteio <strong>de</strong>ssa casa \ ainda da tempo pro ce compra 0 carne e quem sabe I<br />
323. voce po<strong>de</strong> ganha essa casa \ ne /<br />
324.V radio globo::: \ (( entra 0 bloco comercial))<br />
325. [...] aqui alguem se preocupa com voce \<br />
326.PL alguem se preocupa com voce I<br />
327. eo Paulo Lopes aten<strong>de</strong>ndo as pessoas I<br />
328. que vem buscar os seus parentes I que vem procurar os seus parentes I<br />
329. 0 Antonio Santos da Silva procura 0 seu irmao Jose dos Santos Silva I<br />
3<strong>30</strong>. <strong>de</strong> vinte e urn <strong>anos</strong> I 0 Zezinho \ ele tern problema mental I<br />
331. e sumiu do Grajau ha mais ou menos urn mes que ele sumiu \<br />
332. entao pedimos noticia <strong>de</strong>sse rapaz <strong>de</strong> vinte e urn <strong>anos</strong> que e doente mental I<br />
333. Jose dos Santos da Silva I conhecido como Zezinho \<br />
334. Carlos Alberto Pinto procura sua irma I Ana Lucia Pinto \<br />
335. vinte <strong>anos</strong> que nao ve a irma \ e la <strong>de</strong> Minas Gerais I<br />
336. ta fazendo esse apelo aqui \<br />
337. quem conhece ai a Ana Lucia Pinto I f6 vizinho <strong>de</strong>la I amigo I<br />
338. fala com a Ana Lucia Pinto I pra entrar em contato aqui com a radio globo I<br />
339. que 0 irmao <strong>de</strong>la I 0 Carlos Alberto esta a procura <strong>de</strong>la \<br />
340. Jose Camilo da Silva I procura tambem sua irma I Ana Louren((o <strong>de</strong> Jesus \<br />
341. casada com Jose Sodre \ <strong>de</strong>zesseis nso que nao ve a Irma \<br />
342. 0 apelo que faz lepra ve se encontra essa irma \<br />
343. cujo nome eu repito I Ana Louren((o <strong>de</strong> Jesus \
344. [...] ai qualque coisa / voces po<strong>de</strong>m liga aqui pra globo viu /<br />
345. qualque coisa po<strong>de</strong> liga pro show do Paulo Lopes \<br />
346. 0 telefone e oito vinte seis / trinta sessenta e cinco \<br />
347. se voce sabe <strong>de</strong> alguem que nos estamos procurando /<br />
348. ligue pra esse telefone / oito vinte seis / trinta sessenta e cinco \<br />
349.V radio globo / aqui alguem se preocupa com voce \ « entra bloco comercial »<br />
350.PL mandano urn abra
402. MOStra 0 caminho certo /<br />
403. 0 caminho da digniDA <strong>de</strong> /<br />
404. da responsabilida<strong>de</strong> /<br />
405. da <strong>de</strong>cencia \<br />
406. oh Sao Judas Ta<strong>de</strong>u / padroeiro das causas impossiveis /<br />
407. eu Ihe pec;o em nome daqueles que estao rezando nesse momenta /<br />
408. e que estao com problemas \ oh Sao Judas Ta<strong>de</strong>u / realiza 0 milagre \<br />
409. aju<strong>de</strong> esse nosso irmao que ta sofrendo \ ...<br />
410. eu pec;o a Nossa Senhora Aparecida / que olhe pelos enFERmos /<br />
411. Nossa Senhora das Grac;as que tantos milagres tern FElto /<br />
412. que ore por aqueles que estlao doENtes /<br />
413. por aqueles que estao nos 1eitos dos hospiTAlS /<br />
414. por aqueles que estao passando momentos diFIceis \ (7)<br />
415. tanta emoc;ao nesse momenta /<br />
416. tanta energia nesse insTANnte /<br />
417. que nos sentimos a presenc;a <strong>de</strong> Deus /<br />
418. a forc;a e a luz <strong>de</strong> Jesus /<br />
419. para abenc;oa todos aqueles que tern fe \ (3) e aqui estao as maes <strong>de</strong> familia \<br />
420. aqui estao / as maes que vem pra agra<strong>de</strong>ce /<br />
421. e para d:i 0 testemunho que Deus existe /<br />
422. e que 0 milagre po<strong>de</strong> acontece \<br />
423. a senhora ai qual e 0 seu nome / born dia /<br />
424.05 born dia Paulo Lopes /<br />
425. eu sou Maria Eunice do Carmo Rocha do Camargo Novo \<br />
426. eu vim aqui pra agra<strong>de</strong>ce duas grac;as /<br />
427. a primeira foi que eu nao consiguia me engravida \<br />
428. ai fiz urn pedido pra Nossa Senhora e consegui \<br />
429. 0 outro / foi urn pedido que eu fiz pro meu marido conseguir emprego \<br />
4<strong>30</strong>. tambem consegui \ quero agra<strong>de</strong>ce a Sao Judas Ta<strong>de</strong>u /<br />
431. Nossa Senhora aparecida /<br />
432. e todos os santos e /<br />
433. ao Paulo Lopes com toda a sua:: turma do radio \<br />
434. muito obrigado \<br />
435.PL <strong>de</strong> nada \ e:: voce ai quale 0 seu nome / born dia / [... ]<br />
436. 10uVAdo seja 0 Name do SenHO Jesus CRISto /<br />
437. para SEMpre louvado \<br />
438. e agora vamos coloca 0 copo com agua e cada urn vai faze 0 seu pedido /<br />
439. voce que ta rezendo / coloque a agua perto do radio /<br />
440. e com MUIta fe / do fundo do corac;ao pec;a a benc;ao que ce ta precisando \ (5)<br />
441. eu pec;o benc;ao nessa manha par Norberto da Conceic;ao e familia \<br />
442. benc;ao para Wan<strong>de</strong>rly /<br />
443. Regiane Fernan<strong>de</strong>s internada no Hospital Servido Municipal \<br />
444. benc;ao para Lourisana Tibola Vieira arruda \<br />
445. benc;ao para a familia Paiva Bernar<strong>de</strong>s \ «(comunicardor Ie lista com varios nomes»<br />
446. [... ] e pel a alma <strong>de</strong> Pedro Selestino <strong>de</strong> Santana \<br />
447. que Cristo esteja com TOdos e Cristo abenc;oe a todos \<br />
448. oh Nossa Senhora tao po<strong>de</strong>rosa Nossa Senhora \<br />
449. tome conta da nossa ca::sa / Nossa Senhora /<br />
450. habite a nossa ca::sa \<br />
451. reze comigo a Ave Maria \<br />
452. ((em seguida, faz a orac;ao da Ave Maria tal como urn padre»<br />
453.V radio globe:: \ «entram bloco 0 comercial e finaliza com umjing1e»<br />
454. [... ] a radio globe esta em meu corac;ao:: \<br />
455.PL a globe esta no seu corac;ao \ e voce esta no nosso ta certo /<br />
456. [... ] olha 0 fantastico Pisos e Azulejos que ta liquidando piso e azulejo \<br />
457. olha 0 que estao ven<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> piso e azulejo la / verda<strong>de</strong> mesmo \<br />
458. 0 prec;o e espetacula \<br />
459. piso/
460. portas /<br />
461. janelas /<br />
462. mas a gran<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e que e piso e azulejo e que ta born <strong>de</strong>mais ne /<br />
463. ah tern jogo <strong>de</strong> banheiro / tudo pra voce compra / se bem atendido /<br />
464. facilita pagamento /<br />
465. cheque pre-datado /<br />
466. ta venda so / ce po<strong>de</strong> compra material <strong>de</strong> constrw;ao /<br />
467. com mais facilida<strong>de</strong> / no fantastico Pisos e Azulejos \<br />
468. na Penha / avenida Gabriela Mistral/mil duzentos e oitenta e tres /<br />
469. Guaianases rua Luis Mateus seissentos e treze /<br />
470. e Sao Miguel / avenida Sao Miguel nove mil quinhentos e oitenta e nove \<br />
471.V globo::: /<br />
472. nove horas e vinte e tres minutos \<br />
473.PL «comunicador fala sobre musica» ala Elza <strong>de</strong> Guarulhos /<br />
474. aI6 Nei<strong>de</strong> da Mooca /<br />
475. al6 Helena <strong>de</strong> Itaquera /<br />
476. urn abral;o pra Lucia do Jardim Aricanduva \<br />
477. al6 Mara da Cohab urn abral;o / ... [... ]<br />
478. «apos a rnusica» Erro Maior aqui no Show do Paulo Lopes \<br />
479. reumatisrno / artrite / artrose / voce ja sabe \ tome Reurnartrose \<br />
480. mas Paulo num tern contra indical;aO esse remedio /<br />
481. nao \ nao tern contra indical;ao \ para reurnatismo / artrite / artrose /<br />
482. tome RE-MAR-TRO-SE \<br />
483.V a globo Sao Paulo:: e cern por cento voce:: \ «entra 0 bloco comercial»<br />
484.PL [...] hoje em dia todo mundo precisa <strong>de</strong> urn plano <strong>de</strong> saU<strong>de</strong> \<br />
485. quanto e que ta urn plano <strong>de</strong> san<strong>de</strong> \<br />
486. quanta e que ta urn plano medico particula ein /<br />
487. ta: vinte paus /<br />
488. <strong>de</strong>zoito paus / urna consuita \<br />
489. eo exame /<br />
490. quanto custa urn exame /<br />
491. entao voce faz urn plano <strong>de</strong> sau<strong>de</strong> e paga quato mil /<br />
492. cinco mil /<br />
493. seis mil /<br />
494. e voce tern direito a exames /<br />
495. consuitas /<br />
496. tern direito a tudo isso \ e ou nao e /<br />
497. tern planas a partir <strong>de</strong> tres mil e quinhentos cruzeiros 1
518. ta festejando setenta e quatro <strong>anos</strong> <strong>de</strong> vida ai no Jardim Selma \<br />
519. parabens dos filhos familiares / especialmente da filha Maria Rodrigues Gomes \<br />
520. do Jardim Rute / Edileuza Malamam /<br />
521. Edileuza Malamam comemora vinte e oito <strong>anos</strong> hoje /<br />
522. parabens da:://dos sogros Lair / Italiano / esposo Sidney e familiares \<br />
523. quatro <strong>anos</strong> da cida<strong>de</strong> Eri Carvalho ta fazendo Aline Araujo \<br />
524. alo Aline Araujo da cida<strong>de</strong> Eri Carvalho /<br />
525. parabens <strong>de</strong> toda a familia e da vov6 Leticia \((comunicador !ista outros aniversariantes»<br />
526. [...] que Deus <strong>de</strong> sau<strong>de</strong> pra TOdo::s \ [...] ((comunicador sobrepoes a uma musica»<br />
527.V [..] aquele abra~o[[:::<br />
528.PL [[Zora Ionara como e que san as pessoas no dia <strong>de</strong> hoje / ein Zora /<br />
529.E2 parabens pra todo mundo que esta aniversarian::do:: \<br />
5<strong>30</strong>. a pessoa do dia dois <strong>de</strong> fevereiro pertence ao terceiro dia e grau /<br />
531. do segundo <strong>de</strong>canato do signa <strong>de</strong> Aquario / tern aptidoes para ciencias / [...]<br />
532.PL [...] esse e 0 samba da VaiVai musica <strong>de</strong> numero dois \<br />
533. se voce gosta / vai liga e vota na musica numero do::is \ ...<br />
534. musica nUmerotre::s / Camisa Ver<strong>de</strong> e Bran::co:: /<br />
535. pois e:: / essa e a musica numero tres 0 samba da Camisa Ver<strong>de</strong> e Branco /<br />
536. voce liga aqui pro Paulo Lopes na Globo e vota /<br />
537. dois cinco dois / meia quatro / oito quatro /<br />
538. e dois cinco dois / meia nove / meia cinco po<strong>de</strong> liga:::: /<br />
539.V a globo Sao Paulo / e cern porcento voce::: \<br />
540.PL globo e voce / TOdo dia / a maior audiencia do BRASIL::: \ ((efeito eco»<br />
541. [...] daqui a pouco tern os <strong>de</strong>bates \<br />
542. e todo mundo fica escutando os <strong>de</strong>bates ne /<br />
543. HOje n6s vamos fala dos seguintes assuntos /<br />
544. a onda da castra~ao chega na zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo \<br />
545. castraram homem na zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo \<br />
546. ih::: se essa onda pe::ga ein / e:::u ein /<br />
547. que dize que a onda da castra~aoja chego a zona leste <strong>de</strong> Sao Paulo e/<br />
548. quem e que foi castrado ai ein / ai na zona leste /<br />
549. quem e que foi castrado ein /<br />
550. e:::u ein / ((risos» foi mermo e / (3)<br />
551. . n6s vamo conta tudo hoje no <strong>de</strong>bate e / e:::ita /<br />
552. [...] que e que voce acha <strong>de</strong> acaba com 0 monop61io/<br />
553. num <strong>de</strong>ixa s6 a Petrobras / <strong>de</strong>ixa outras empresas entrarem /<br />
554. pra da mais emprego pras pessoas /<br />
555. <strong>de</strong>ixa as empresas entrarem no ramo <strong>de</strong>:: telefone /<br />
556. ce acha born isso / nos vamos discutir esse e outros assuntos /<br />
557. nos <strong>de</strong>bates do Paulo Lopes as onze horas \<br />
558. quem escuta os <strong>de</strong>bates / fica sabendo <strong>de</strong> tudo \<br />
559. e hoje em dia / TOdo mundo tern que ta bem informado \<br />
560.V e isso mesmo Paulo Lopes /<br />
561.PL [...] hoje tern 61eoLisa \ e muita gentejii ta indo Iiicompra ein /<br />
562. to sabendo que tern ate fila pra compra 61eoLisa \ e verda<strong>de</strong> e/<br />
563. oleo Lisa//tambem olhe 0 pre~o \ oleo Lisa trezentos e oitenta e cinco \<br />
564. 0 que tern <strong>de</strong> gente comprando cinco /<br />
565. seis /<br />
566. sete latas <strong>de</strong> oleo Lisa /<br />
567. 0 pre~o ta 6timo \<br />
568. [...] minha gente / e GOS-TO-SO ((efeito eco» compra no Davo Supermercado \<br />
569. Vila Industrial / Avenida do orat6rio quato milequinhentos /<br />
570. e na cohab urn Itaquera em Guaianases /<br />
571. estrada <strong>de</strong> Itaquera Guaianases numero dois mil \<br />
572. sao nove horas e quarenta e quato minutos \<br />
573. 0 abra~o do Paulo Lopes para Terezinha /<br />
574. para 0 Manuel da Vila Li<strong>de</strong>iro /<br />
575. ala Maria Tereza do Bnis /
576. Alo Maria Gonc;:alves cIa VIla Alpina /<br />
577. alo Sueli::: do Jardirn Olin::da /<br />
578. urn abrac;:opra Valeria da Vila Matil<strong>de</strong> /<br />
579. Dirce da Mooca /<br />
580. todo rnundo escutando 0 Paulo Lopes /<br />
581. todo rnundo ouvindo a globe:: \ ...<br />
582. ((sobe urna rnusica)) Em Nome do Arnor \<br />
583. sac nove horas e quarenta e sete rninutos \<br />
584. nove e quarenta e sete \<br />
585. e eu queria fal
634. eu vou Ihes contar urn caso que aconteceu ONtem aqui em Sao Paulo \<br />
635. urn homem / <strong>de</strong> trinta e seis <strong>anos</strong> / 0 nome <strong>de</strong>le e Jurandir Cesar Vital da Silva \<br />
636. mais conhecido como carioca \ trinta e seis <strong>anos</strong> \ ele era serralheiro \<br />
637. tinha ate urna boa profissao \<br />
638. tinha uma mulhe /<br />
639. tinha urna filha /<br />
640. mas era viciado em cocaina \ nao conseguia larga 0 vicio \<br />
641. passou a tambem ven<strong>de</strong>r urn pouco / porque precisava <strong>de</strong> dinheiro /<br />
642. e achou que era facil \ 0 dinheiro facil \<br />
643. aquele dinheiro que eu digo que e dinheiro malDIto /<br />
644. charnado dinheiro FAcil \<br />
645. 0 dinheiro do <strong>de</strong>monio \ e ele entao /<br />
646. vendia / usava /<br />
647. vendia / usava cacaina \ (4)<br />
648. urn ano / ninguem <strong>de</strong>scobriu \<br />
649. DOIS <strong>anos</strong> / ninguem <strong>de</strong>scobriu \<br />
650. TRES <strong>anos</strong> se passaram / e ninguem <strong>de</strong>scobriu \<br />
651. ele achou que ninguem nunca ia <strong>de</strong>scobri /<br />
652. que ele vendia cocaina /<br />
653. que cheirava cocaina \ (3) mas urn dia a casa cai \ ... e <strong>de</strong>scobrirarn \<br />
654. a policia come90u a ficar <strong>de</strong> olho nele /<br />
655. a policia come90u a receber informa90es /<br />
656. <strong>de</strong> que ele / esse homem / Jurandir Cesar Vital da Silva /<br />
657. tava transando cocaina / no centro <strong>de</strong> Sao Paulo \ (3)<br />
658. pois policiais / forarn encarregados <strong>de</strong> dar 0 flagrante \...<br />
659. eles vasculhararn aqui /<br />
660. vasculhararn ali /<br />
661. e encontraram esse homem /<br />
662. Jurandir Cesar Vital / 0 carioca <strong>de</strong> trinta e seis ANOS /<br />
663. encontrararn na pra9a Frank Rossevelt \<br />
664. ai <strong>de</strong>ram a voz <strong>de</strong> prisao pra ele /<br />
665. ce ti preso \ (3)<br />
666. mas ele / que tava com quinze papelotes <strong>de</strong> cocaina / (3)<br />
667. pra nao se preso em flagrante com aquela droga /<br />
668. ele ENGOLIU<br />
669. engoliu os papelotes <strong>de</strong> cocaina \ ...<br />
670. meus arnigos / ouvintes da radio globo /<br />
671. aquela cocaina / caiu no est6mago daquele homem /<br />
672. quinze papelotes / e come90u a come TUdo /<br />
673. come90u no mesmo insTANte a <strong>de</strong>strui TOdo 0 organismo DEle /<br />
674. no mesmo momenta ele passou mal \ (3)<br />
675. ai / levarami/os policiais levararn imediatamente pra santa casa \ ...<br />
676. os medicos da santa casa /<br />
677. retiraram cinco papelotes que estavam agarrados na garGANTA \ (5)<br />
678. mas 0 resto nao po<strong>de</strong> ser retirado \<br />
679. e ele morreu \ (3)<br />
680. ele morreu / DUAS horas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter engolido os papelotes <strong>de</strong> cocaina \ (3)<br />
681. vejarn bem voces / 0 que que a droga po<strong>de</strong> faze \<br />
682. a <strong>de</strong>sGRA
692. que essa noticia I seja uma adverteneia I pra MUIta gente \<br />
693. que ta metido com essa <strong>de</strong>sGRA
749. 0 senhOseria candidato a presi<strong>de</strong>ncia da Repu:::blica /<br />
750. eo senhOteria urn nome pra indica pra presi<strong>de</strong>nte da Repu:::blica /<br />
751. ein Antonio Brito \<br />
752.E4 eu tenho <strong>de</strong>fendido a tese <strong>de</strong> que essa alian~a e necessaria /<br />
753. nao por razoes eleitorais / nao para montar urn equa~ao / que ganha elei~ao \<br />
754. isto ja valeria / mas e mais que isso \<br />
755. 0 pais nao suporta /<br />
756. 0 pais nao tolera mais /<br />
757. governos que ganham e nao governam \ [...]<br />
758. e digo issomuito a vonta<strong>de</strong> / porque nao sou candidato a presi<strong>de</strong>ncia da Republica \<br />
759. tenho compromisso assumido com os meus companheiros no Rio Gran<strong>de</strong> do Sui /<br />
760. <strong>de</strong> disputar 0 Governo do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sui \<br />
761.PL entao 0 rninistro Antonio Brito falando aqui dizendo que /<br />
762. vai dispuci 0 Governo do Rio Gran<strong>de</strong> do Sui \ e nao a presi<strong>de</strong>ncia da Republica \<br />
763. e:: 0 senhor acha que:: essa tentativa <strong>de</strong>ssas alian~as /<br />
764. e::: pra combate a candidatura Lula / porque::: /<br />
765. seria uma alian~a contra a candidatura do Lula / e isso ministro /<br />
766.E4 acho que e muito ruim / quando em politica /<br />
767. as pessoas se organizam CONtra \<br />
768. movimento tal nasceu CONtra /<br />
769. movimento tal se organizou contra \<br />
770. eu nao fa~o politica contra \ eu gosto <strong>de</strong> fazer politica a favor \<br />
771. e no caso / uma alian~a / dos setores sociais-<strong>de</strong>mocratas / trabalhistas /<br />
772. tern que ser uma alian~a a favor \ a favor <strong>de</strong> que /<br />
773. <strong>de</strong> transforma~ao da socieda<strong>de</strong> brasileira / sem radicalismos /<br />
774. sem exclusoes /<br />
775. programa esse que tern que ser acertado entre os diversos partidos \<br />
776. em segundo lugar / urn programa a favor / que 0 pais tenha governo / [...]<br />
777. porque 0 povo brasileiro tern sido surpreen<strong>de</strong>nte nas sua <strong>de</strong>cisoes /<br />
778. e geralmente / toma as <strong>de</strong>cisoes no penUltimo/ ou no ultimo momenta \<br />
779.PL ta certo \ ta ai a palavra do ex-ministro da previ<strong>de</strong>ncia social Antonio Brito \<br />
780. muito obrigado / urn born dia pro senM \ [...]<br />
781.V <strong>de</strong> cora~ao pra cora~ao \<br />
782.PL ((sobe uma musica melanc6Iica)) <strong>de</strong> cora~ao a cora~ao/<br />
783. a carta que eu tenho hoje /<br />
784. e da ouvinte que pe<strong>de</strong> pra se chamada <strong>de</strong> princesa <strong>de</strong> Interlagos \<br />
785. diz a carta / amigo Paulo Lopes / eu tenho vinte e sete <strong>anos</strong> /<br />
786. sou solteira e professora \ namoro urn rapaz h
807. num que nem ouvi fahi em casamento \<br />
808. e eu to com a cabe
864.PL po<strong>de</strong> da sua opinii:lo\<br />
865.07 eu queria dize pra essa amiga I que eu passei a mesma coisa que ela \ [...]<br />
866.PL <strong>de</strong>ixa eu da a minha opiniao <strong>de</strong> cora
922. aprovando em termo:: ate mesmo da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 6nibus \<br />
923.PL elleu uma vez aqui I tava comeyando a privatizayao I<br />
924. eu abri os telefones do programa e perguntei I<br />
925. voce e a favor ou contra a privatizayao da CNTC I a maio ria I a favor I<br />
926. todos queriam a privatizayao da CNTC I<br />
927. ate porque achavam que 0 governo tern mais e que fiscaliza I<br />
928. e nao se dona <strong>de</strong> empresa <strong>de</strong> 6nibus I<br />
929. compra parafuso I<br />
9<strong>30</strong>. compra borracha I<br />
931. compra pneu I<br />
932. essas coisas I sabe I<br />
933.E5 Paulo Lopes I s6 pra terminar pra nao monollmonopoliza I<br />
934. eu resumiria dizendo 0 seguinte I ganh6 a populayao I<br />
935. porque ganh6 mais mil 6nibus novos I<br />
936. portanto e 6nibus em boas condiyoes I etecetera \<br />
937. ganh6 a Prefeitura <strong>de</strong> Sao Paulo I<br />
938. que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> coloca quatrocentos milhoes <strong>de</strong> d6lares por ano I<br />
939. ou seja I urn milhao e meio <strong>de</strong> d6lares I para cobri a diferenya <strong>de</strong> custo da CNTC I<br />
940. que na realida<strong>de</strong> servia apenas para aten<strong>de</strong> I a vinte e sete mil funciomirios \<br />
941. bons funciomirios por sinal I acho que 0 po<strong>de</strong>r publico nao po<strong>de</strong> assumiri isso \<br />
942. e finalmente I BOM para todos nos \<br />
943. porque na realida<strong>de</strong> I<br />
944. com:: a economia que a prefeitura vai fazer dos quatrocentos e cinquenta milhOes I<br />
945. nos teremos mais creche I<br />
946. teremos rnais hospitais I<br />
947. teremos mais habitayao \<br />
948.PL ta certo \ <strong>de</strong>ixa eu ouvi aqui a opiniao I do Jorge Dnis I<br />
949. meu querido amigo Jorge Dnis I a sua opiniao \<br />
950.E6 Paulo: I nosso querido <strong>de</strong>putado Hanashiru I<br />
951. e homem que n6s ja conhecemos pela sua capacida<strong>de</strong> I<br />
952. e n6s ja cumprimentavamos em outra oportunida<strong>de</strong> I<br />
953. e agora tornamos a cumprimenta-Io e alem <strong>de</strong> cumprimenta Paulo Maluff I<br />
954. veja essa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> privatizayao I foi pregada /<br />
955. <strong>de</strong> urna forma MUlto ativa pelo gollpelo prefeito Paulo Maluff\ [... J<br />
956. ao povo que e 0 povo que paga isso \<br />
957.PL mas 0 Paulo Malufftava::: comentando comigo esses dias I<br />
958. e tava dizendo que JA. uma parte <strong>de</strong>sse dinheiro da CNTC por exemplo I<br />
959. eja tava empregando em constrU
980. e:: todo mundo ta querendo a privatiza
1038.<br />
1039.<br />
1040.<br />
1041.<br />
1042.<br />
1043.<br />
1044.<br />
1045.<br />
1046.<br />
1047.<br />
1048. E8<br />
1049. PL<br />
1050. E8 sei nao \<br />
tent6 uma vez I nao conseguiu<br />
tento a segunda vez I nao conseguiu \<br />
ela ingeriu e::: fortes comprimidos \<br />
foi levada pra uma clinica em Brasilia \ ne I como e que voces vem isso I<br />
e::: uma coisa que nos choca:: nos preocu::pa I<br />
ou a natureza humana estei sujeita a essas coisas I<br />
o Celso <strong>de</strong> Freitas que que ce acha I<br />
la no Japao I quando alguem e pilhado e::: em corrup~aollele<br />
se mata I<br />
urn::: ministro e:: <strong>de</strong>scobre que ele ta metido em corrup