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Monografia de Especialização - UTFPR

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ<br />

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EXPRESSÃO GRÁFICA NO<br />

ENSINO<br />

ANA CRISTINA CORRÊA MUNARETTO<br />

RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DE APOLÔNIO POR<br />

MEIO DA INVERSÃO: Um roteiro <strong>de</strong> estudo para a<br />

formação <strong>de</strong> Professores em Geometria<br />

MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO<br />

CURITIBA<br />

2010


ANA CRISTINA CORRÊA MUNARETTO<br />

RESOLUÇÃO DO PROBLEMA DE APOLÔNIO POR<br />

MEIO DA INVERSÃO: Um roteiro <strong>de</strong> estudo para a<br />

formação <strong>de</strong> Professores em Geometria<br />

Monograa apresentada como requisito<br />

parcial à obtenção do grau <strong>de</strong> Especialista<br />

em Expressão Gráca no Ensino,<br />

Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Expressão<br />

Gráca, Setor <strong>de</strong> Ciências Exatas,<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.<br />

Orientador: Prof. Dr. Paulo Henrique<br />

Siqueira<br />

CURITIBA<br />

2010


Ao meu marido Marcelo, e aos meus lhos, Rafael e Felipe.


AGRADECIMENTOS<br />

Ao professor orientador Paulo Henrique Siqueira, <strong>de</strong> quem fui aluna em<br />

minha graduação, e que, com sua competência pedagógica inspirou-me a cursar<br />

esta nova pós graduação, na qual tive o gran<strong>de</strong> prazer <strong>de</strong> tê-lo novamente<br />

como docente. Orientador sempre disponível e co-participativo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a escolha<br />

do tema <strong>de</strong>ste trabalho conou em minha capacida<strong>de</strong>, permitindo que<br />

eu conduzisse este, segundo minhas próprias diretrizes, estimulando, assim,<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> meu espírito pesquisador.<br />

Ao meu marido, Marcelo, e aos meus lhos, Rafael e Felipe, que tanto<br />

sofreram com minha ausência quando da elaboração <strong>de</strong>sta monograa e dos<br />

diversos nais <strong>de</strong> semana durante as aulas do curso.


RESUMO<br />

Esta monograa apresenta um roteiro <strong>de</strong> estudo, direcionado a cursos<br />

superiores <strong>de</strong> Licenciatura em Matemática, visando melhorar a qualida<strong>de</strong><br />

da formação dos futuros professores em Geometria. O resultado nal <strong>de</strong>ste<br />

trabalho é a solução do famoso Problema <strong>de</strong> Apolônio. Para resolvê-lo,<br />

<strong>de</strong>senvolve-se a Geometria Inversiva priorizando uma sequência didática que<br />

leva o leitor a participar do seu processo <strong>de</strong> construção. O texto orienta<br />

ainda, algumas construções em um ambiente computacional e, num estudo<br />

guiado, faz uso da Geometria Dinâmica para promover a experimentação e<br />

a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> relações geométricas.<br />

Palavras-chave: Ensino <strong>de</strong> Geometria. Problema <strong>de</strong> Apolônio. Geometria<br />

Inversiva. Geometria Dinâmica.


ABSTRACT<br />

This monograph presents a studying guidance, meant for un<strong>de</strong>rgraduate<br />

mathematics, aiming the improvement of the graduation's quality for the<br />

inten<strong>de</strong>d geometry teachers. This work's result is the solution of the famous<br />

Apollonius' Problem. To do so, it was <strong>de</strong>veloped the Inversive Geometry<br />

prioritizing a didactic sequence that incites the rea<strong>de</strong>r to participate of its<br />

constructive process. The text also gui<strong>de</strong>s some constructions un<strong>de</strong>r a computational<br />

ambient and, un<strong>de</strong>r a gui<strong>de</strong>d study, uses the Dynamic Geometry<br />

to promote the experimentation and the discovery of geometrical relations.<br />

Keywords: Geometry teaching. Apolloniou's Problem. Inversive Geometry.<br />

Dynamic Geometry.


Lista <strong>de</strong> Figuras<br />

2.1 Inversos e Conjugados Harmônicos . . . . . . . . . . . . . . . 14<br />

2.2 Construindo o inverso por meio <strong>de</strong> régua e compasso . . . . . 16<br />

2.3 Construindo o inverso em ambiente computacional . . . . . . . 17<br />

2.4 Ângulo entre circunferências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18<br />

2.5 Ângulo entre circunferências secantes . . . . . . . . . . . . . . 19<br />

2.6 Ângulo entre reta e circunferência secantes . . . . . . . . . . . 20<br />

2.7 Reta e circunferência ortogonais . . . . . . . . . . . . . . . . . 20<br />

2.8 Única circunferência ortogonal à C com centro P . . . . . . . 21<br />

2.9 Circunferências Ortogonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22<br />

2.10 Inversão por Circunferências Ortogonais . . . . . . . . . . . . 24<br />

2.11 A inversão <strong>de</strong> uma circunferência . . . . . . . . . . . . . . . . 25<br />

2.12 Conrmando a inversão da circunferência . . . . . . . . . . . . 26<br />

2.13 Possibilida<strong>de</strong>s para a inversão <strong>de</strong> uma circunferência . . . . . . 26<br />

2.14 Invertendo segmentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />

2.15 Inversão <strong>de</strong> circunferência que passa pelo centro <strong>de</strong> inversão . 28<br />

2.16 Inversão <strong>de</strong> circunferência que não passa pelo centro <strong>de</strong> inversão 30<br />

2.17 Inversão <strong>de</strong> reta e circunferência tangentes . . . . . . . . . . . 32<br />

2.18 Retas paralelas: t e a reta tangente à t ′ em O . . . . . . . . . 33<br />

2.19 Inversão preserva tangência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34<br />

2.20 Tangência em O transformada em paralelismo . . . . . . . . . 35<br />

2.21 Inversão preserva ângulo <strong>de</strong> circunferências . . . . . . . . . . . 36<br />

2.22 O inverso do centro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37<br />

2.23 O centro do inverso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38<br />

2.24 Circunferência tangente à reta r passando pelos pontos A e B 39<br />

7


2.25 Invertendo os dados do Exercício 1 . . . . . . . . . . . . . . . 39<br />

2.26 Solução do Exercício 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40<br />

2.27 Circunferência tangente à A e B passando P . . . . . . . . . . 40<br />

2.28 Invertendo os dados do Exercício 2 . . . . . . . . . . . . . . . 41<br />

2.29 Solução do Exercício 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41<br />

2.30 Circunferência tangente à r, A 1 e B 1 . . . . . . . . . . . . . . 42<br />

2.31 Invertendo os dados do Exercício 3 . . . . . . . . . . . . . . . 43<br />

2.32 Solução do Exercício 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43<br />

3.1 Caso 10 do Problema <strong>de</strong> Apolônio . . . . . . . . . . . . . . . . 50<br />

3.2 Circunferências disjuntas não concêntricas . . . . . . . . . . . 50<br />

3.3 Inversão com centro em A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51<br />

3.4 Encontrando P ′ e Q ′ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51<br />

3.5 Família <strong>de</strong> circunferências ortogonais à C e D . . . . . . . . . 52<br />

3.6 Transformação em circunferências concêntricas . . . . . . . . . 54<br />

3.7 Redução do Problema <strong>de</strong> Apolônio à um caso particular . . . 55<br />

3.8 Quatro soluções com centro em C 1 . . . . . . . . . . . . . . . 56<br />

3.9 Quatro soluções com centro em C 2 . . . . . . . . . . . . . . . 56<br />

3.10 As oito soluções invertidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56<br />

3.11 A solução do Problema <strong>de</strong> Apolônio . . . . . . . . . . . . . . . 57


Sumário<br />

1 Introdução 10<br />

2 Geometria Inversiva 13<br />

2.1 Inversão - Uma Transformação Geométrica . . . . . . . . . . . 13<br />

2.2 Invertendo retas e circunferências . . . . . . . . . . . . . . . . 24<br />

2.3 Proprieda<strong>de</strong>s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />

2.4 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38<br />

3 O Problema <strong>de</strong> Apolônio 44<br />

3.1 Um pouco <strong>de</strong> história . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44<br />

3.2 Resolvendo o Problema <strong>de</strong> Apolônio por meio da Inversão . . 49<br />

4 Consi<strong>de</strong>rações Finais 58<br />

REFERÊNCIAS 60


Capítulo 1<br />

Introdução<br />

"É evi<strong>de</strong>nte que a exclusão da geometria dos currículos escolares ou seu<br />

tratamento ina<strong>de</strong>quado po<strong>de</strong>m causar sérios prejuízos à formação dos indivíduos."(PAVANELLO,<br />

2004, p.3)<br />

Um trabalho a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> Geometria po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> visualização,<br />

<strong>de</strong>senho, argumentação lógica e <strong>de</strong> aplicação na busca <strong>de</strong> soluções<br />

<strong>de</strong> problemas; competências importantes na compreensão e ampliação da<br />

percepção do espaço e construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los para interpretar questões da<br />

matemática e <strong>de</strong> outras áreas do conhecimento (PCNEM, 2000). Mas, como<br />

bem sabemos, o ensino <strong>de</strong> Geometria nas escolas está longe <strong>de</strong> atingir estes<br />

objetivos. Sobre as causas que levam a esta <strong>de</strong>ciência, várias pesquisas<br />

apontam tratar-se <strong>de</strong> um círculo vicioso: Alunos <strong>de</strong>spreparados em Geometria<br />

iniciam cursos <strong>de</strong> Licenciatura. Se este curso não os prepara a<strong>de</strong>quadamente,<br />

estará qualicando prossionais incapazes <strong>de</strong> contribuir para<br />

melhoria <strong>de</strong>sta situação. É na formação do professor que este círculo po<strong>de</strong><br />

ser rompido. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma formação a<strong>de</strong>quada do professor para<br />

trabalhar a <strong>de</strong>monstração em geometria, a m <strong>de</strong> que os alunos possam se<br />

apropriar dos conceitos e habilida<strong>de</strong>s geométricas, no ensino fundamental, é<br />

uma das vertentes <strong>de</strong>fendidas por Almouloud e Mello (2000).<br />

O presente trabalho busca <strong>de</strong>senvolver um roteiro <strong>de</strong> estudo direcionado<br />

a cursos <strong>de</strong> Licenciatura e cursos <strong>de</strong> atualização <strong>de</strong> professores para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s em Geometria a partir da resolução do problema<br />

10


CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 11<br />

<strong>de</strong> Apolônio por meio da Inversão. A i<strong>de</strong>ia é explorar e <strong>de</strong>monstrar algumas<br />

proprieda<strong>de</strong>s da Geometria Inversiva, que é não-Euclidiana, e utilizá-la para<br />

resolver problemas clássicos <strong>de</strong> tangência da Geometria Euclidiana. Estes são<br />

gradativamente apresentados para a solução do problema central. Como bem<br />

sabemos, a resolução <strong>de</strong> problemas é parte importante <strong>de</strong> um currículo <strong>de</strong><br />

Matemática, pois é essencial para propiciar o <strong>de</strong>senvolvimento do raciocínio<br />

lógico. Buscar resolvê-los por meio da Inversão propiciará o estímulo do<br />

raciocínio por meio <strong>de</strong> novas perspectivas, fugindo assim, <strong>de</strong> resoluções meramente<br />

mecânicas.<br />

No Capítulo 2, as seções 1, 2 e 3 apresentam as <strong>de</strong>nições e proprieda<strong>de</strong>s<br />

da Geometria Inversiva or<strong>de</strong>nados conforme o grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> didático.<br />

São sugeridos ao leitor, a utilização <strong>de</strong> um ambiente computacional para<br />

a exploração <strong>de</strong> tais proprieda<strong>de</strong>s, estimulando novas <strong>de</strong>scobertas e outras<br />

possíveis relações existentes. Os trabalhos com a utilização da Geometria<br />

Dinâmica vêm revelando uma tendência didático-pedagógica convergente com<br />

os trabalhos da Geometria Experimental: A confrontação <strong>de</strong> resultados na<br />

construção <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados conceitos incluindo processos <strong>de</strong> validação e argumentação<br />

geométrica; como po<strong>de</strong>mos constatar por Andra<strong>de</strong> e Nacarato<br />

(2005). A seção 4 utiliza os teoremas apresentados anteriormente para resolver<br />

problemas clássicos que normalmente são apresentados em um curso<br />

<strong>de</strong> Desenho Geométrico no Ensino Superior envolvendo tangência entre retas<br />

e circunferências. Acredita-se que a resolução <strong>de</strong>stes problemas será um<br />

preparo para a resolução dos famosos Problemas <strong>de</strong> Apolônio, que consistem<br />

em problemas <strong>de</strong> tangência envolvendo três objetos, sendo estes pontos, retas<br />

e/ou circunferências.<br />

No Capítulo 3, a seção 1 apresenta o <strong>de</strong>senrolar histórico do Problema <strong>de</strong><br />

Apolônio; o seu surgimento, as frustrações diante do problema e as diferentes<br />

soluções encontradas em cada época por gran<strong>de</strong>s matemáticos. A seção 2<br />

trata <strong>de</strong> resolvê-lo por meio da inversão.<br />

O texto prioriza uma sequência didática que apresenta não somente o<br />

resultado do trabalho <strong>de</strong>senvolvido, mas instiga o leitor a participar <strong>de</strong> um<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas próprias competências por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>saos<br />

propostos. Como pré-requisito, espera-se do leitor uma familiarida<strong>de</strong>


CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 12<br />

com os conceitos básicos <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> Desenho Geométrico.


Capítulo 2<br />

Geometria Inversiva<br />

2.1 Inversão - Uma Transformação Geométrica<br />

No século XIX, Jacob Steiner <strong>de</strong>senvolveu uma geometria que permitiu resolver<br />

problemas que até então eram consi<strong>de</strong>rados irresolúveis pela geometria<br />

<strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, como, por exemplo, o problema das três circunferências<br />

<strong>de</strong> Apolônio. Outros problemas da Geometria Euclidiana também pu<strong>de</strong>ram<br />

ser <strong>de</strong>monstrados <strong>de</strong> forma mais simplicada com esta nova geometria não-<br />

Euclidiana <strong>de</strong>nominada Inversiva, como é o caso do Teorema <strong>de</strong> Ptolomeu 1 .<br />

Para dar início ao estudo da Geometria Inversiva, vamos primeiramente<br />

<strong>de</strong>nir o Inverso <strong>de</strong> um Ponto com relação à uma circunferência <strong>de</strong> certo<br />

centro e raio e <strong>de</strong>nir a Transformação <strong>de</strong>nominada Inversão fazendo uso<br />

<strong>de</strong> conceitos métricos. Vamos então, utilizar um ambiente <strong>de</strong> Geometria<br />

Dinâmica para melhor enten<strong>de</strong>r e visualizar este conceito. Posteriormente,<br />

veremos algumas consequências da <strong>de</strong>nição que nos levarão a <strong>de</strong>nir o Inverso<br />

<strong>de</strong> um ponto e a Inversão que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> conceitos métricos.<br />

Denição 2.1.1 Dada uma circunferência C <strong>de</strong> centro em O e raio r, dizemos<br />

que o inverso do ponto P ≠ O em relação à C é o ponto P ′ sobre a<br />

semirreta −→ OP que satisfaz a relação OP .OP ′ = r 2 .<br />

1 O Teorema <strong>de</strong> Ptolomeu arma que o produto das diagonais <strong>de</strong> um quadrilátero<br />

convexo inscrito numa circunferência é igual à soma dos produtos dos lados opostos.<br />

13


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 14<br />

Observe que, pela <strong>de</strong>nição, se P ′ é o inverso <strong>de</strong> P, então, P é o inverso<br />

<strong>de</strong> P ′ . Agora, para <strong>de</strong>nir uma função que associe a cada ponto P ≠ O do<br />

plano, o seu inverso, vamos fazer uso da seguinte proposição:<br />

Proposição 2.1.1 Os pontos P e P ′ são inversos em relação à circunferência<br />

C <strong>de</strong> centro O e raio r se, e somente se, são conjugados harmônicos 2<br />

em relação ao diâmetro AB <strong>de</strong>terminado pela interseção da reta OP com a<br />

circunferência C.<br />

Demonstração:<br />

Figura 2.1: Inversos e Conjugados Harmônicos<br />

Consi<strong>de</strong>rando o alinhamento na or<strong>de</strong>m A, P ′ , B e P, como na Figura 2.1,<br />

temos:<br />

AP<br />

BP = AP ′<br />

BP ′ ⇔<br />

AO + OP<br />

OP − OB<br />

=<br />

AO + OP<br />

′<br />

OB − OP ′ ⇔ r + OP<br />

OP − r = r + OP ′<br />

r − OP ′ ⇔<br />

⇔ (r + OP )(r − OP ′ ) = (r + OP ′ )(OP − r) ⇔<br />

⇔ r 2 − r.OP ′ + OP .r − OP .OP ′ = r.OP − r 2 + OP ′ .OP − OP ′ .r ⇔<br />

2 Dados três pontos colineares A, B e P , com A ≠ B, dizemos que P ′ é o conjugado<br />

harmônico <strong>de</strong> P em relação ao segmento AB se AP<br />

BP = AP ′<br />

BP ′


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 15<br />

⇔ 2.r 2 = 2.OP .OP ′ ⇔ OP .OP ′ = r 2<br />

Assim, pelas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conjugados harmônicos, po<strong>de</strong>mos concluir<br />

a existência e a unicida<strong>de</strong> do inverso <strong>de</strong> cada ponto P ≠ O com relação<br />

à circunferência C, logo, <strong>de</strong>notando por E o plano Euclidiano, po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>nir uma transformação <strong>de</strong> E \ {O} nele mesmo. A esta transformação<br />

bijetiva damos o nome <strong>de</strong> Inversão. Note que esta transformação é uma<br />

involução, pois, ela mesma é a sua inversa. Queremos agora estendê-la a<br />

todo plano E, ou seja, como <strong>de</strong>nir o inverso <strong>de</strong> O? Para isso, vejamos como<br />

se comportam as transformações <strong>de</strong> pontos próximos <strong>de</strong> O e o que acontece<br />

quando invertemos pontos distantes <strong>de</strong> O. Apresentamos duas construções<br />

para obter o inverso <strong>de</strong> um ponto. Na primeira construção sugerimos o uso<br />

<strong>de</strong> régua e compasso para que o leitor manipule tais instrumentos:<br />

1. Construa um círculo <strong>de</strong> centro O e raio qualquer. Tome um ponto P<br />

qualquer, inicialmente fora do círculo;<br />

2. Construa a semirreta −→ OP e o ponto médio do segmento OP;<br />

3. Construa um círculo auxiliar com centro neste ponto médio e diâmetro<br />

OP. Obtenha os pontos <strong>de</strong> interseção A e B dos dois círculos. Construa as<br />

semirretas que partem <strong>de</strong> P e passam por A e B;<br />

4. Construa a corda que une os pontos A e B. Obtenha o ponto <strong>de</strong><br />

interseção <strong>de</strong>ste segmento com a semirreta inicial −→ OP. Chame-o <strong>de</strong> P ′ . Veja<br />

Figura 2.2.<br />

Esta construção é sugerida em Pogorelov 3 , mas, é aplicável somente quando<br />

o ponto P é externo à circunferência.<br />

Desaamos o leitor com os seguintes exercícios:<br />

1) Os passos 1, 2 e 3 acima constituem procedimento padrão para a<br />

construção <strong>de</strong> retas tangentes a um círculo por um ponto dado fora <strong>de</strong>ste.<br />

Prove que <strong>de</strong> fato estas semirretas são tangentes ao círculo dado.<br />

2) Prove que P ′ é o inverso <strong>de</strong> P mostrando que satisfaz a proprieda<strong>de</strong><br />

da <strong>de</strong>nição.<br />

3 POGORELOV, A. Geometry, Mir. Publishers, 1987.<br />


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 16<br />

Figura 2.2: Construindo o inverso por meio <strong>de</strong> régua e compasso<br />

Para a segunda construção do Inverso <strong>de</strong> um ponto, sugerimos ao leitor,<br />

a utilização <strong>de</strong> um ambiente computacional como, por exemplo, o GeoGebra<br />

ou o Cabri II Plus. As guras <strong>de</strong>ste texto foram construídas utilizando o Geo-<br />

Gebra. Embora as duas construções possam ser feitas facilmente com régua<br />

e compasso; em um ambiente <strong>de</strong> geometria dinâmica a função "Inversão"<br />

po<strong>de</strong> ser usada para construir imagens <strong>de</strong> guras por esta transformação.<br />

Isto facilitará a compreensão <strong>de</strong> importantes proprieda<strong>de</strong>s da inversão que<br />

não são intuitivas. Vamos à construção:<br />

1. Desenhe a circunferência <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro em O e raio r;<br />

2. Marque um ponto qualquer P e <strong>de</strong>senhe a semirreta −→ OP;<br />

3. Passando por O, trace a perpendicular à semirreta −→ OP e assinale os<br />

pontos A e B <strong>de</strong> intersecção com a circunferência;<br />

4. Trace a semirreta −→ AP e assinale o ponto C, outro ponto que intersecta<br />

a circunferência;<br />

5. Trace a semirreta BC;<br />

−→<br />

6. Assinale o ponto P ′ , inverso <strong>de</strong> P, que resulta da intersecção das<br />

semirretas −→ OP e BC.<br />

−→<br />

Ao contrário da construção anterior, esta é aplicável também quando P é<br />

um ponto interno à circunferência e, <strong>de</strong> fato, P ′ assim construído (ver Figura<br />

2.3) é o inverso do ponto P, pois os triângulos retângulos △OP A e △OBP ′


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 17<br />

Figura 2.3: Construindo o inverso em ambiente computacional<br />

OA<br />

são semelhantes, logo, = OP<br />

OP ′ OB , ou seja, OA.OB = OP .OP ′ . Como<br />

OA = OB = r, então, OP .OP ′ = r 2 .<br />

Depois <strong>de</strong> provado que P ′ assim construído é o inverso do ponto P, manipule<br />

o ponto P e observe o que acontece com o seu inverso. O que acontece<br />

quando P é externo ou interno ao círculo? Em particular, o que ocorre com<br />

P ′ quando P está sobre a circunferência? Com esta manipulação, po<strong>de</strong>mos<br />

observar que ao afastarmos P do centro O, o ponto P ′ aproxima-se <strong>de</strong> O e,<br />

se aproximarmos o ponto P do centro O, então, P ′ afasta-se <strong>de</strong> O. Voltamos,<br />

então, ao questionamento: Como <strong>de</strong>nir o inverso <strong>de</strong> O? Pela análise feita,<br />

po<strong>de</strong>mos concluir que se quisermos que O tenha um inverso, este <strong>de</strong>ve estar<br />

innitamente longe. Postulamos, então, a existência <strong>de</strong> um ponto i<strong>de</strong>al,<br />

chamado <strong>de</strong> ponto no innito e que <strong>de</strong>tonaremos por Ω, tal que O é o inverso<br />

<strong>de</strong> Ω e Ω é o inverso <strong>de</strong> O.<br />

Agora, fazendo OP crescer innitamente ao longo <strong>de</strong> uma reta qualquer,<br />

notamos que é necessário postular também que Ω está em todas as retas.<br />

Assim, ao adicioná-lo ao plano Euclidiano, passamos a ter um plano on<strong>de</strong><br />

todas as retas têm pelo menos um ponto em comum. A este novo plano


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 18<br />

damos o nome <strong>de</strong> Plano Inversivo e <strong>de</strong>notamos por E ∞ .<br />

Denição 2.1.2 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro em O e raio r. A<br />

transformação geométrica em E ∞ que associa a cada ponto P ≠ O o seu<br />

inverso P ′ em relação à C e é tal que O é o inverso <strong>de</strong> Ω e Ω é o inverso <strong>de</strong><br />

O é <strong>de</strong>nominada Inversão.<br />

Esta <strong>de</strong>nição, como mencionado anteriormente, faz uso <strong>de</strong> conceitos<br />

métricos da Geometria Euclidiana, uma vez que o inverso <strong>de</strong> um ponto P<br />

foi <strong>de</strong>nido como sendo o ponto P ′ que satisfaz a relação OP .OP ′ = r 2 . A<br />

proposição que veremos a seguir, permitirá abandonarmos tais conceitos e, <strong>de</strong><br />

fato, abordarmos uma nova geometria: A Geometria Inversiva. Antes disso,<br />

para dar seguimento ao nosso estudo, precisaremos <strong>de</strong> algumas proprieda<strong>de</strong>s<br />

do Desenho Geométrico que estão enunciadas a seguir através <strong>de</strong> lemas. Sugerimos<br />

ao leitor procurar <strong>de</strong>monstrá-las a m <strong>de</strong> melhor se apropriar <strong>de</strong>stes<br />

conceitos que serão amplamente utilizados.<br />

Denição 2.1.3 Sejam C e D duas curvas que se interceptam em um ponto<br />

P . Se C e D possuem tangentes s e t, respectivamente, em P , então, dizemos<br />

que o ângulo entre C e D em P é o ângulo entre s e t. Em particular, dizemos<br />

que C e D são ortogonais em P se s e t são perpendiculares.<br />

Figura 2.4: Ângulo entre circunferências


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 19<br />

Lembremos que uma reta tangente à uma reta em qualquer ponto é a<br />

própria reta. Logo, o ângulo entre uma circunferência C e uma reta tangente<br />

t à C no ponto P é <strong>de</strong> zero grau, pois, a reta tangente à t é a própria t e a<br />

reta tangente à C no ponto P é a reta t, ou seja, o ângulo entre t e C é o<br />

ângulo entre t e t.<br />

Lema 2.1 Sejam C e D duas circunferências secantes nos pontos P e Q.<br />

Então, o ângulo entre C e D no ponto P é igual ao ângulo entre C e D no<br />

ponto Q.<br />

□<br />

Figura 2.5: Ângulo entre circunferências secantes


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 20<br />

Lema 2.2 Sejam C uma circunferência e r uma reta secante à C nos pontos<br />

P e Q. Então, o ângulo entre C e r no ponto P é igual ao ângulo entre C e<br />

r no ponto Q.<br />

Figura 2.6: Ângulo entre reta e circunferência secantes<br />

Lema 2.3 Sejam C uma circunferência e r uma reta. Então, r é ortogonal<br />

à C se e somente se r passa pelo centro <strong>de</strong> C.<br />

□<br />

Figura 2.7: Reta e circunferência ortogonais


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 21<br />

□<br />

Lema 2.4 Com centro em um ponto P fora da circunferência C passa uma<br />

única circunferência D ortogonal à C.<br />

Figura 2.8: Única circunferência ortogonal à C com centro P<br />

Agora, para motivar e melhor enten<strong>de</strong>r a proposição a seguir, recorramos,<br />

novamente, ao uso da geometria dinâmica:<br />

1) Construa uma circunferência C <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro O;<br />

2) Construa um ponto P qualquer;<br />

3) Construa o inverso P ′ <strong>de</strong> P em relação à C;<br />

4) Construa uma circunferência D qualquer passando por P e P ′ . Para<br />

isso, construa a mediatriz do segmento P P ′ . O centro O 1 <strong>de</strong> D <strong>de</strong>ve estar<br />

sobre a mediatriz;<br />

5) Construa a reta r passando por O e por uma das intersecções A das<br />

circunferências C e D;<br />

6) Construa a reta s passando por O 1 e por A;<br />

7) Marque a medida do ângulo entre as retas r e s.<br />


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 22<br />

Figura 2.9: Circunferências Ortogonais<br />

As retas r e s são perpendiculares? Movimente o centro O 1 . A medida do<br />

ângulo permanece a mesma? O que po<strong>de</strong>mos concluir? Agora construa uma<br />

outra circunferência que passe por P mas não passe por P ′ . Da mesma forma<br />

construa as retas r e s. Qual é a medida do ângulo entre elas? Movimentando<br />

o centro <strong>de</strong>sta nova circunferência, tente fazer com que a medida do ângulo<br />

seja <strong>de</strong> 90 o . O que você po<strong>de</strong> notar?<br />

Com a exploração feita acima, po<strong>de</strong>mos enunciar a seguinte proposição:<br />

Proposição 2.1.2 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro O e raio r. Se O,<br />

P e P ′ estão alinhados, então, P e P ′ são inversos em relação à C se, e<br />

somente se, qualquer circunferência que passe por P e P ′ for ortogonal à<br />

circunferência C.<br />

Demonstração:<br />

(⇒) Suponhamos que P e P ′ são inversos em relação à C. Seja D uma<br />

circunferência que passa por P e P ′ e r uma reta que passa por O e é tangente<br />

à D. Chamemos o ponto <strong>de</strong> tangência <strong>de</strong> A. Por potência <strong>de</strong> pontos, temos


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 23<br />

que OP .OP ′ = OA 2 . Por serem P e P ′ inversos em relação à C, temos que<br />

r 2 = OP .OP ′ = OA 2 , ou seja, r 2 = OA 2 . Assim, A ∈ C, logo, A ∈ C ∩ D.<br />

Agora, seja s uma reta perpendicular à r passando por A. Então, s é tangente<br />

à C no ponto A, pois s é perpendicular ao raio OA. Portanto C e D são<br />

ortogonais.<br />

(⇐) Seja D uma circunferência ortogonal à C e que passa por P e P ′ .<br />

Então, se A é um ponto <strong>de</strong> intersecção entre C e D, a reta r tangente à D<br />

no ponto A é perpendicular à reta s tangente à C no ponto A. Assim, a reta<br />

r passa por O. Por potência <strong>de</strong> ponto, temos que r 2 = OA = OP .OP ′ , logo,<br />

P e P ′ são inversos em relação à C.<br />

Portanto, para construir o inverso do ponto P em relação à circunferência<br />

C, basta construirmos duas circunferências ortogonais à C passando por P.<br />

O outro ponto <strong>de</strong> interseção das circunferências será o ponto P ′ procurado,<br />

pois P e P ′ pertencem ao eixo radical 4 das circunferências construídas e, por<br />

ser C ortogonal à elas, o centro O <strong>de</strong> C pertence ao eixo radical. Assim,<br />

os pontos P, P ′ e O estão alinhados e o pelo teorema anterior, P e P ′ são<br />

inversos em relação à C. Veja a Figura 2.10. Logo, po<strong>de</strong>mos substituir as<br />

<strong>de</strong>nições dadas acima, pela que segue:<br />

Denição 2.1.4 Sejam C uma circunferência e P um ponto.<br />

□<br />

O inverso<br />

<strong>de</strong> P com relação à C é o outro ponto <strong>de</strong> intersecção <strong>de</strong> quaisquer duas<br />

circunferências distintas ortogonais à C passando por P . A transformação<br />

E ∞ −→ E ∞ que leva qualquer ponto P ∈ E ∞ em seu inverso com relação à<br />

C é <strong>de</strong>nominada Inversão com respeito à C.<br />

Com esta <strong>de</strong>nição <strong>de</strong> inversão, em que o centro e o raio da circunferência<br />

<strong>de</strong> inversão não são mencionados, po<strong>de</strong>mos abranger o caso em que C é uma<br />

reta. Neste caso, circunferências ortogonais à C são circunferências com<br />

centro em C ou retas perpendiculares à C. Assim, o inverso <strong>de</strong> um ponto P<br />

é o simétrico <strong>de</strong>le em relação à reta C.<br />

4 Lugar geométrico dos pontos equipotentes em relação a duas circunferências não concêntricas.


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 24<br />

Figura 2.10: Inversão por Circunferências Ortogonais<br />

2.2 Invertendo retas e circunferências<br />

Agora que sabemos encontrar o inverso <strong>de</strong> um ponto, cabe-nos perguntar: Em<br />

que gura será transformada a inversão, por exemplo, <strong>de</strong> uma circunferência?<br />

E <strong>de</strong> uma reta? Encontrando o inverso <strong>de</strong> um segmento, po<strong>de</strong>remos inverter<br />

um triângulo, ou um quadrado, ou qualquer outro polígono. O GeoGebra e<br />

o Cabri II Plus possuem uma ferramenta <strong>de</strong>nominada "Inversão" através da<br />

qual é possível obter o inverso <strong>de</strong> um ponto sendo dada a circunferência <strong>de</strong><br />

inversão. Vamos explorar esta ferramenta e ver o que é possível <strong>de</strong>scobrir?<br />

1) Construa uma circunferência C <strong>de</strong> inversão;<br />

2) Construa uma circunferência D externa à C;<br />

3) Construa um ponto P sobre a circunferência D;<br />

4) Construa P ′ , o inverso <strong>de</strong> P em relação à C;<br />

5) Ligue o rastro do ponto P ′ e movimente o ponto P sobre toda a circunferência<br />

D.<br />

Que gura o rastro <strong>de</strong> P ′ parece formar? A princípio, parece uma circunferência<br />

interna à C. Faz sentido o fato <strong>de</strong> ser interna, uma vez que a<br />

inversão <strong>de</strong> pontos exteriores à C nos levam a pontos interiores à C. Mas,


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 25<br />

Figura 2.11: A inversão <strong>de</strong> uma circunferência<br />

será que po<strong>de</strong>mos dizer que a inversão <strong>de</strong> qualquer circunferência resulta em<br />

outra circunferência? Vamos explorar mais um pouco. Repita o procedimento<br />

acima sendo D uma circunferência interna à C que não passe pelo<br />

centro e, a seguir, sendo D uma circunferência secante à C que não passe<br />

pelo centro. Neste último caso, o que po<strong>de</strong>mos notar? Os pontos <strong>de</strong> intersecção<br />

das circunferências C e D fazem parte do rastro <strong>de</strong>ixado por P.<br />

Ora, isto também faz sentido, uma vez que o inverso <strong>de</strong> um ponto sobre C<br />

é ele mesmo. Agora, já que visualmente a transformação da circunferência<br />

parece ser outra circunferência, vamos testar a veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta armação?<br />

A sugestão é inverter três pontos <strong>de</strong> D e construir a circunferência (suposta<br />

D ′ ) que passe por estes pontos. Será que ao inverter um quarto ponto <strong>de</strong> D,<br />

este pertencerá à circunferência construída?<br />

1) Construa uma circunferência <strong>de</strong> inversão C;<br />

2) Construa uma circunferência D externa à C;<br />

3) Marque três pontos distintos P, Q e R sobre D;<br />

4) Construa os inversos P ′ , Q ′ e R ′ , inversos <strong>de</strong> P, Q e R, respectivamente;<br />

5) Construa a circunferência D ′ que passa por P ′ , Q ′ e R ′ ;<br />

6) Construa um ponto S sobre D distinto <strong>de</strong> P, Q e R;<br />

7) Construa o inverso S ′ <strong>de</strong> S;<br />

8) Com a ferramenta "Relação entre Dois Objetos" do GeoGebra e "Pertencente?"<br />

do Cabri II Plus, verique se o ponto S ′ pertence à circunferência


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 26<br />

D ′ .<br />

Figura 2.12: Conrmando a inversão da circunferência<br />

Sim, o ponto está sobre o objeto. Já po<strong>de</strong>mos, então, armar que a inversão<br />

<strong>de</strong> toda circunferência é uma outra circunferência? CUIDADO! Arraste<br />

o centro <strong>de</strong> D até que a circunferência atinja o centro da circunferência C.<br />

O que acontece com D ′ ? Você po<strong>de</strong>rá notar que seu raio irá aumentar até<br />

que seja gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais, ou seja, até que seu raio seja innito e, então, D ′<br />

será uma reta. Claro, se o inverso <strong>de</strong> O é Ω, então, Ω <strong>de</strong>veria estar em D ′ e,<br />

como postulamos no início do capítulo, Ω pertence a todas as retas.<br />

Figura 2.13: Possibilida<strong>de</strong>s para a inversão <strong>de</strong> uma circunferência<br />

Convidamos o leitor a fazer uma exploração análoga para i<strong>de</strong>nticar em<br />

que guras a inversão <strong>de</strong> retas po<strong>de</strong>m ser transformadas. A partir daí, é<br />

possível inverter diversas guras e explorar algumas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa Geometria<br />

Inversiva. Por exemplo, ao invertermos um triângulo retângulo, o


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 27<br />

que acontece com o ângulo reto? Na próxima seção, veremos algumas <strong>de</strong>ssas<br />

proprieda<strong>de</strong>s que nos levarão a resolver diversos problemas do Desenho Geométrico<br />

usando a Inversão. Por ora, vamos <strong>de</strong>monstrar as conclusões sobre<br />

inversão <strong>de</strong> retas e circunferências que zemos acima.<br />

Figura 2.14: Invertendo segmentos<br />

Proposição 2.2.1 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro O e raio r. A inversão<br />

em relação à C <strong>de</strong> uma circunferência D que passa por O é uma reta<br />

que não passa por O.<br />

Demonstração:<br />

Seja C uma circunferência <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro O e raio r e D uma<br />

circunferência <strong>de</strong> centro O 1 que passa por O. Seja A ≠ O o ponto on<strong>de</strong> a<br />

reta t 1 = OO 1 intercepta D. Se A ′ é o inverso <strong>de</strong> A em relação à C, então,<br />

A ′ pertence à t 1 . Seja t 2 a reta que passa por A ′ e é perpendicular à t 1 .<br />

Provaremos que t 2 = D ′ , ou seja, a inversão da circunferência D em relação<br />

à C é a reta t 2 .<br />

Seja B ≠ A e B ≠ O um ponto da circunferência D e t 3 = OB. Agora,<br />

seja P o ponto on<strong>de</strong> t 2 intercepta a reta t 3 . Queremos mostrar que P = B ′ .


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 28<br />

Temos que os triângulos △ABO e△P A ′ O são semelhantes, pois os ângulos<br />

A ′ ÔP = BÔA são comuns e os ângulos A ̂BO e P Â′ O são retos. Assim,<br />

OB<br />

= OA<br />

OA ′ OP<br />

Logo, OB.OP = OA.OA ′ = r 2 , don<strong>de</strong>, P é o inverso <strong>de</strong> B, ou seja,<br />

P = B ′ .<br />

Portanto, os inversos dos pontos B ≠ O da circunferência D pertencem à<br />

reta t 2 e, como Ω (o inverso <strong>de</strong> O ′ ) pertence à t 2 , então D ′ ⊆ t 2 . É fácil ver<br />

que, pela <strong>de</strong>monstração feita acima, qualquer ponto P <strong>de</strong> t 2 é o inverso do<br />

ponto <strong>de</strong> interseção da reta OP com a circunferência D.<br />

Logo, t 2 = D ′ e, como Ω /∈ D, então, seu inverso O não pertence à D ′ ,<br />

don<strong>de</strong>, D ′ é uma reta que não passa por O. Veja Figura 2.15.<br />

Figura 2.15: Inversão <strong>de</strong> circunferência que passa pelo centro <strong>de</strong> inversão<br />


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 29<br />

Proposição 2.2.2 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro O e raio r. A inversão<br />

em relação à C <strong>de</strong> uma reta s que não passa por O é uma circunferência<br />

que passa por O.<br />

Demonstração:<br />

Segue imediatamente da proposição acima por ser a Inversão uma involução,<br />

ou seja, ela própria é sua inversa.<br />

□<br />

Proposição 2.2.3 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro O e raio r. A inversão<br />

em relação à C <strong>de</strong> uma reta s que passa por O é a própria reta s.<br />

Demonstração:<br />

Vamos mostrar que os inversos dos pontos <strong>de</strong> s também estão em s:<br />

Se P ≠ O é um ponto da reta s, então, o inverso P ′ <strong>de</strong> P pertence à<br />

semi-reta OP, logo, como P e O pertencem à s, então, P ′ ∈ s.<br />

Se P = O, então, seu inverso que é Ω pertence à s, pois Ω pertence a<br />

todas as retas.<br />

Agora, resta mostrar que cada ponto Q <strong>de</strong> s é inverso <strong>de</strong> algum ponto <strong>de</strong><br />

s.<br />

Como Q ∈ s, então, chamando <strong>de</strong> P o inverso <strong>de</strong> Q temos que P = Q ′ ∈ s.<br />

Logo, P ′ ∈ s e, como P ′ = Q ′′ = Q, então, Q é o inverso <strong>de</strong> um ponto P <strong>de</strong><br />

s.<br />

Portanto, temos que s ′ = s.<br />

□<br />

Proposição 2.2.4 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro O e raio r. A inversão<br />

em relação à C <strong>de</strong> uma circunferência D que não passa por O é uma<br />

circunferência que não passa por O.<br />

Demonstração:<br />

Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro O e raio r e D uma circunferência que<br />

não passa por O. Seja s uma reta que passa por O e é secante à circunferência


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 30<br />

D. Sendo A ≠ B os pontos <strong>de</strong> interseção <strong>de</strong> s com D, então, os inversos A ′<br />

e B ′ <strong>de</strong> A e B, respectivamente, em relação à C, pertencem à reta s. Agora,<br />

seja P /∈ s tal que P ∈ D.<br />

Se P ′ é o inverso <strong>de</strong> P em relação à C, então, temos que r 2 = OA.OA ′ =<br />

OP .OP ′ . Logo,<br />

OA<br />

= OP<br />

OP ′ OA ′<br />

Portanto, como os ângulos P ÔA e A′ ÔP ′ coinci<strong>de</strong>m, temos que os triângulos<br />

△OAP e △OP ′ A ′ são semelhantes. Assim,<br />

OÂP = ÔP ′ A ′ . (2.1)<br />

Figura 2.16: Inversão <strong>de</strong> circunferência que não passa pelo centro <strong>de</strong> inversão<br />

Analogamente, temos que<br />

O ̂BP = ÔP ′ B ′ . (2.2)<br />

Agora, pelas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> soma dos ângulos <strong>de</strong> um triângulo, temos<br />

que OÂP = A ̂BP + A ̂P B = O ̂P B + A ̂P B, logo,<br />

A ̂P B = OÂP − O ̂BP. (2.3)


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 31<br />

Por outro lado, ÔP ′ A ′ = ÔP ′ B ′ + A ′̂P ′<br />

B ′ , logo,<br />

A ′̂P ′<br />

B ′ = ÔP ′ A ′ − ÔP ′ B ′ . (2.4)<br />

Como consequência das equações 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4, temos que<br />

A ̂P B = A ′̂P ′<br />

B ′ .<br />

Portanto, como P <strong>de</strong>screve a circunferência D, então, P ′ <strong>de</strong>screve a circunferência<br />

D ′ .<br />

□<br />

2.3 Proprieda<strong>de</strong>s<br />

Tendo em vista os Problemas <strong>de</strong> Apolônio, estamos interessados na resolução<br />

<strong>de</strong> exercícios que envolvem tangência entre curvas. Vamos recorrer ao Geo-<br />

Gebra para vericar o que acontece, por exemplo, quando invertemos uma<br />

reta e uma circunferência que são tangentes no ponto P.<br />

1) Construa uma circunferência C <strong>de</strong> inversão;<br />

2) Construa uma circunferência D qualquer e uma reta t tangente à D<br />

num ponto P;<br />

3) Faça a inversão <strong>de</strong> t e <strong>de</strong> D.<br />

Movimente a circunferência D. Depois, movimente o ponto P. O que<br />

você consegue perceber? Os inversos são também tangentes?<br />

Sim, este é uma caso particular. Em geral, <strong>de</strong>monstraremos que os ângulos<br />

entre as curvas são preservados pela transformação, ou seja, a Inversão é<br />

uma aplicação conforme.


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 32<br />

Figura 2.17: Inversão <strong>de</strong> reta e circunferência tangentes<br />

Proposição 2.3.1 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> centro O e raio r. Se t<br />

é uma reta que não passa por O, então, a reta tangente à circunferência t ′<br />

(inversa <strong>de</strong> t) em O é paralela à reta t.<br />

Demonstração:<br />

Suponhamos, por contradição, que a reta tangente t 0 à circunferência t ′<br />

no ponto O intercepte a reta t num ponto P que não é Ω. Se P = t 0 ∩ t,<br />

então, P ≠ O, pois O /∈ t e P ′ ∈ t ′ 0 ∩ t ′ . Como t ′ 0 = t 0 temos que os pontos<br />

P ′ e O pertencem à t 0 e também à circunferência t ′ . Logo, t 0 não é tangente<br />

a t ′ . Veja a Figura 2.18.<br />

Proposição 2.3.2 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro O e<br />

raio r. Sejam m, n duas retas concorrentes em P diferente <strong>de</strong> Ω. Então, o<br />

ângulo entre as retas m e n é o mesmo ângulo entre m ′ e n ′ .<br />

Demonstração:<br />

caso 1) Suponhamos que as retas m e n passam por O. Então, como<br />

m = m ′ e n = n ′ , o ângulo entre m e n é o mesmo ângulo entre m ′ e n ′ .<br />


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 33<br />

Figura 2.18: Retas paralelas: t e a reta tangente à t ′ em O<br />

caso 2) Suponhamos que m e n não passem por O. Então, m ′ e n ′ são<br />

circunferências que passam por O. Pela Proposição 2.3.1, a reta tangente à<br />

m ′ em O é paralela à m e a reta tangente à n ′ em O é paralela à n. Logo, o<br />

ângulo Entre m ′ e n ′ é igual ao ângulo entre m e n.<br />

caso 3) Suponhamos que a reta m passe por O e n não passe por O.<br />

Então, m ′ = m e n ′ é uma circunferência que passa por O, logo, m ′ e n ′<br />

interceptam-se em O. Assim, o ângulo entre m ′ e n ′ no ponto P ′ é igual ao<br />

ângulo no ponto O. Além disso, a reta tangente à m ′ = m em O é a própria<br />

reta m e a reta tangente à n ′ em O é paralela à n. Portanto, o ângulo entre<br />

as retas tangentes à m ′ e n ′ é igual ao ângulo entre m e n.<br />

Corolário 2.3.2.1 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro O e<br />

raio r. Se A e B são circunferências que passam por O, então, o ângulo<br />

entre A e B é igual ao ângulo entre A ′ e B ′ .<br />

Demonstração:<br />


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 34<br />

Decorre imediatamente do caso 2 da Proposição acima por ser a Inversão<br />

uma involução.<br />

□<br />

Proposição 2.3.3 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro O e raio<br />

r. Se uma reta t e uma circunferência D são tangentes no ponto P ≠ O,<br />

então, as inversões t ′ e D ′ são tangentes no ponto P ′ .<br />

Demonstração:<br />

Como P é o único ponto <strong>de</strong> interseção entre t e D, então, P ′ é o único<br />

ponto <strong>de</strong> interseção entre t ′ e D ′ . Por ser P ≠ O, então, P ′ não é Ω, logo, t ′<br />

e D ′ são tangentes em P ′ .<br />

□<br />

Figura 2.19: Inversão preserva tangência<br />

Observe que se P = O, então, a inversa <strong>de</strong> t é a própria reta t e a inversa<br />

<strong>de</strong> D é uma reta. Neste caso, o único ponto <strong>de</strong> interseção entre t ′ e D ′ é o<br />

ponto Ω (o inverso <strong>de</strong> P). Assim t ′ e D ′ são paralelas. Veja a Proposição<br />

2.3.1 e a Figura 2.18. Qual a relação com esta observação?


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 35<br />

Figura 2.20: Tangência em O transformada em paralelismo<br />

Proposição 2.3.4 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro O e<br />

raio r. Se A e B são circunferências que não passam por O, então, o ângulo<br />

entre A e B é igual ao ângulo entre A ′ e B ′ .<br />

Demonstração:<br />

Sejam A e B duas circunferências que não passam por O. Sejam t 1 e t 2<br />

as retas tangentes à A e B, respectivamente, no ponto P <strong>de</strong> intersecção das<br />

circunferências. Então, a circunferência t ′ 1 é tangente à circunferência A ′ e a<br />

circunferência t ′ 2 é tangente à B ′ . Pela Proposição 2.3.2, o ângulo entre t 1 e<br />

t 2 é igual ao ângulo entre t ′ 1 e t ′ 2.<br />

Sejam t 3 a reta tangente à A ′ no ponto P ′ e t 4 a reta tangente à B ′ no<br />

ponto P ′ . Assim, t 3 é tangente à t ′ 1 em P ′ e t 4 é tangente à t ′ 2 em P ′ . Logo,<br />

o ângulo entre t 3 e t 4 é ângulo entre t ′ 1 e t ′ 2 que, por sua vez, é o ângulo entre<br />

t 1 e t 2 .<br />


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 36<br />

Figura 2.21: Inversão preserva ângulo <strong>de</strong> circunferências<br />

Um pequeno cuidado <strong>de</strong>vemos tomar ao nos referirmos ao centro <strong>de</strong> uma<br />

circunferência dada por meio <strong>de</strong> uma inversão. Será que este centro é o<br />

inverso do centro da circunferência que foi invertida? Vamos analisar este<br />

caso pela Geometria Dinâmica:<br />

1) Construa uma circunferência <strong>de</strong> inversão C <strong>de</strong> centro O e uma circunferência<br />

D <strong>de</strong> centro B que não passe por O;<br />

2) Construa t a reta que passa por O e B;<br />

3) Construa D ′ , a inversa <strong>de</strong> D em relação à C;<br />

4) Encontre B ′ , o inverso do centro <strong>de</strong> D em relação à C;<br />

O ponto encontrado é o centro <strong>de</strong> D ′ ?<br />

5) Movimente o ponto B.<br />

O que po<strong>de</strong>mos perceber? B ′ não é o centro <strong>de</strong> D ′ , mas, B ′ e o centro<br />

<strong>de</strong> D ′ pertencem à mesma reta t. Mais do que isso, B ′ e O são inversos em<br />

relação à D ′ . Desaamos o leitor a <strong>de</strong>mostrar este fato. Dica: Consi<strong>de</strong>re


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 37<br />

Figura 2.22: O inverso do centro<br />

duas retas passando por B (logo, são ortogonais à D) e inverta-as em relação<br />

à C.<br />

A proposição a seguir nos diz exatamente quem é o centro <strong>de</strong> D ′ :<br />

Proposição 2.3.5 Seja C uma circunferência <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> centro O e D<br />

uma circunferência que não passa por O. Seja A o inverso <strong>de</strong> O em relação<br />

à D e D ′ a inversa <strong>de</strong> D com relação à C. Então, A ′ , o inverso <strong>de</strong> A em<br />

relação à C é o centro da circunferência D ′ .<br />

Demonstração:<br />

Seja t a reta que passa pelos centros O <strong>de</strong> C e B <strong>de</strong> D. Se A é o inverso<br />

do ponto O em relação à D, então, A ∈ t. Seja S uma circunferência que<br />

passa pelos pontos O e A, então, S é ortogonal a D (veja a Proposição 2.1.2).<br />

Agora, a inversa S ′ da circunferência S em relação à C é uma reta, pois, S<br />

passa pelo centro <strong>de</strong> C. Mais do que isso, S ′ é ortogonal à D ′ , logo, S ′ passa<br />

pelo centro O 1 <strong>de</strong> D ′ . Temos também que O 1 ∈ t, logo, O 1 = S ′ ∩ t. Como<br />

A ∈ t e A ∈ S, então, sendo A ′ o inverso <strong>de</strong> A em relação à C, temos que<br />

A ′ = S ′ ∩ t ′ , mas, como t = t ′ , então A ′ = S ′ ∩ t. Portanto, A ′ = O 1 , ou seja,<br />

o inverso <strong>de</strong> A em relação à C é centro da circunferência D ′ .<br />


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 38<br />

2.4 Aplicações<br />

Figura 2.23: O centro do inverso<br />

A Inversão é rica em aplicações e exerce papel fundamental na construção<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los da Geometria Hiperbólica. Po<strong>de</strong>mos ver em Cabariti (2004) a<br />

utilização da inversão em construções no mo<strong>de</strong>lo hiperbólico do disco <strong>de</strong><br />

Poincaré.<br />

Neste texto estamos interessados em resolver problemas <strong>de</strong> tangência.<br />

Veremos como alguns casos po<strong>de</strong>m ser transformados em problemas mais<br />

simples através da inversão. Obtendo a inversa da solução, basta "<strong>de</strong>sinvertêla"<br />

para chegarmos na solução <strong>de</strong> fato procurada.<br />

Exercício 1: Seja r uma reta e A e B dois pontos num mesmo semiplano<br />

com relação à r. Construa uma circunferência tangente à r que passe por A<br />

e por B.<br />

Solução:<br />

Vamos primeiramente visualizar o exercício já resolvido na Figura 2.24:<br />

Pensemos em uma inversão que transforme a solução em uma reta, ou<br />

seja, o centro O da circunferência <strong>de</strong> inversão C <strong>de</strong>ve estar sobre a solução.<br />

Temos os pontos A e B como candidatos. Ao escolhermos, por exemplo, o


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 39<br />

Figura 2.24: Circunferência tangente à reta r passando pelos pontos A e B<br />

ponto A = O, po<strong>de</strong>mos fazer C passar por B, pois assim, não precisaremos<br />

inverter B, uma vez que o inverso <strong>de</strong> um ponto P sobre C é o próprio ponto<br />

P. Temos, então: Figura 2.25<br />

Figura 2.25: Invertendo os dados do Exercício 1<br />

Agora, a solução procurada <strong>de</strong>ve passar por B e ser tangente à r ′ , ou<br />

seja, basta agora encontrar as retas tangentes a uma circunferência, no caso<br />

r ′ , passando pelo ponto B. Observe que nada precisa ser feito em relação<br />

ao ponto A, pois, ao invertermos as soluções (retas) teremos circunferências<br />

passando por O = A. A Figura 2.26 mostra a construção das soluções do<br />

exercício.


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 40<br />

Figura 2.26: Solução do Exercício 1<br />

Exercício 2: Sejam A e B duas circunferências secantes e P um ponto<br />

fora <strong>de</strong>las. Construa as circunferências tangentes à A e à B que passem pelo<br />

ponto P.<br />

Solução:<br />

Vamos primeiramente visualizar o exercício já resolvido na Figura 2.27:<br />

Figura 2.27: Circunferência tangente à A e B passando P<br />

Neste caso, ao contrário do exercício anterior, o interessante é transformar<br />

as circunferências A e B em retas e não a solução, pois, assim, caremos com<br />

duas retas e um ponto e caímos em um problema trivial. Para transformar<br />

as duas circunferências em retas <strong>de</strong>veremos escolher um ponto da interseção


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 41<br />

<strong>de</strong>las para ser o centro <strong>de</strong> inversão. Po<strong>de</strong>mos, ainda, fazer com que a circunferência<br />

<strong>de</strong> inversão passe por P, pois assim, não precisamos inverter P.<br />

(P = P ′ ): Veja a Figura 2.28.<br />

Figura 2.28: Invertendo os dados do Exercício 2<br />

Agora, para encontrar a inversa da solução, basta encontrar uma circunferência<br />

que passe por P e seja tangente às retas A ′ e B ′ . Depois, basta<br />

"<strong>de</strong>sinvertê-la"como mostra a Figura 2.29.<br />

Figura 2.29: Solução do Exercício 2


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 42<br />

Exercício 3: Sejam r uma reta, pontos A, B ∈ r e A 1 , B 1 circunferências<br />

tangentes entre si e a r em A e B, respectivamente. Construa uma<br />

circunferência tangente à r, A 1 e B 1 .<br />

Solução:<br />

Vamos primeiramente visualizar o exercício já resolvido na Figura 2.30:<br />

Figura 2.30: Circunferência tangente à r, A 1 e B 1<br />

Fazendo uma inversão com centro em A transformamos a circunferência<br />

A 1 em uma reta paralela à r. Veja a Figura 2.20. A inversão da reta r é a<br />

própria reta r, pois passa pelo centro A = O. A inversão da circunferência B 1<br />

é uma circunferência, assim, nosso problema se transformará em encontrar<br />

uma circunferência tangente a duas retas paralelas r ′ e A ′ 1 e a uma circunferência,<br />

no caso, B 1. ′ No caso <strong>de</strong> escolhermos a circunferência <strong>de</strong> inversão<br />

como sendo <strong>de</strong> centro A passando por B, a única transformação que faremos<br />

será inverter A 1 , pois a inversa <strong>de</strong> B 1 será a própria B 1 . Por quê? Observe<br />

o ponto B <strong>de</strong> interseção da circunferência <strong>de</strong> inversão com B 1 e conclua que<br />

estas são ortogonais. Logo, B 1 = B 1. ′ Portanto, invertendo os dados do<br />

problema, temos a Figura 2.31.<br />

As soluções <strong>de</strong>ste problema são triviais (note que são duas), bastando<br />

apenas "<strong>de</strong>sinvertê-las", conforme mostra a Figura 2.32.


CAPÍTULO 2. GEOMETRIA INVERSIVA 43<br />

Figura 2.31: Invertendo os dados do Exercício 3<br />

Figura 2.32: Solução do Exercício 3


Capítulo 3<br />

O Problema <strong>de</strong> Apolônio<br />

3.1 Um pouco <strong>de</strong> história<br />

Um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da geometria aconteceu na chamada Ida<strong>de</strong> Áurea<br />

da matemática grega, ou período helenístico, ou ainda período Alexandrino<br />

e se esten<strong>de</strong>u <strong>de</strong> aproximadamente 324 a.C a 600 d.C. Foi neste período que<br />

Apolônio propôs um problema, que veio a receber o seu nome, consistindo<br />

em: Encontrar uma circunferência tangente a três outras circunferências,<br />

po<strong>de</strong>ndo estas ser <strong>de</strong>generadas em retas (circunferência <strong>de</strong> raio innito) ou<br />

pontos (circunferência <strong>de</strong> raio zero). Este problema <strong>de</strong>spertou o interesse <strong>de</strong><br />

vários matemáticos ao longo dos séculos, cada qual buscando soluções segundo<br />

as mais diversas abordagens que reetiam o instrumental matemático<br />

disponível em cada época. A observação <strong>de</strong>stes esforços permite, pois, perceber<br />

a interessante trajetória do <strong>de</strong>senvolvimento da geometria, construída<br />

por matemáticos reconhecidos e referenciados na atualida<strong>de</strong>.<br />

Ao que tudo indica, Apolônio <strong>de</strong> Perga viveu <strong>de</strong> 262 a 190 a.C., no entanto,<br />

muito pouco se sabe sobre ele, pois a maior parte <strong>de</strong> sua obra per<strong>de</strong>u-se ao<br />

longo do tempo. O que restou preservado foram os trabalhos "Dividir em uma<br />

razão" e "As Cônicas", sendo este segundo um conjunto <strong>de</strong> oito volumes que<br />

juntos apresentam cerca <strong>de</strong> quatrocentas proposições, consi<strong>de</strong>rado sua obra<br />

prima, e que, ao apresentar um exaustivo estudo das curvas cônicas supera<br />

importantes trabalhos anteriores, tais como o <strong>de</strong> Menaecmus, vivido <strong>de</strong> 380<br />

44


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 45<br />

a 320 a.C., e até mesmo <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> 300 a 260 a.C. Arma-se que, com<br />

o trabalho "As Cônicas", Apolônio tenha completado e ampliado a obra <strong>de</strong><br />

mesmo nome escrita por Eucli<strong>de</strong>s, sendo esta composta por quatro livros que,<br />

com outros trabalhos, é conhecida apenas por referências posteriores. Desse<br />

conjunto <strong>de</strong> oito livros <strong>de</strong> Apolônio, atualmente, apenas os quatro primeiros<br />

existem em grego. No entanto, o matemático árabe Tâbit ibn Qorra, vivido<br />

<strong>de</strong> 826 a 901 d.C., traduziu três dos <strong>de</strong>mais livros, sendo do quinto ao sétimo,<br />

o que permitiu a perpetuação <strong>de</strong>sta obra, que mais tar<strong>de</strong> foi traduzida para<br />

várias línguas a partir <strong>de</strong> uma tradução dos sete volumes para o latim em<br />

1710 por Edmond Halley (1656-1742). Apolônio é referenciado, ao lado <strong>de</strong><br />

matemáticos como o próprio Eucli<strong>de</strong>s e Arquime<strong>de</strong>s (287 a 212 a.C.), pois,<br />

"... se <strong>de</strong>stacaram a gran<strong>de</strong> distância dos <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> sua época, assim como<br />

da maior parte <strong>de</strong> seus pre<strong>de</strong>cessores e sucessores" (BOYER, 1991, p.104).<br />

Alguns títulos das obras perdidas são: "Cortar uma área", "Sobre secção<br />

<strong>de</strong>terminada", "Tangências", "Inclinações" e "Lugares planos". Em alguns<br />

casos, sabe-se o assunto tratado, pois, Papus <strong>de</strong> Alexandria, nascido por volta<br />

<strong>de</strong> 340 d.C., <strong>de</strong>screveu-os brevemente. Seis das obras <strong>de</strong> Apolônio estavam<br />

incluídas junto com dois dos tratados mais avançados (hoje perdidos) <strong>de</strong><br />

Eucli<strong>de</strong>s, numa coleção chamada "Tesouro da análise". Por este consistir, em<br />

gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> Apolônio, possuindo muito do que hoje chamamos<br />

<strong>de</strong> Geometria Analítica, Apolônio mereceu o nome <strong>de</strong> "O Gran<strong>de</strong> Geômetra"<br />

e não o próprio Eucli<strong>de</strong>s.<br />

Foi no tratado sobre "Tangências", obra <strong>de</strong> dois volumes, que apareceu<br />

o famoso Problema <strong>de</strong> Apolônio. Esse problema envolve <strong>de</strong>z casos, como<br />

po<strong>de</strong>mos ver na Tabela 3.1. Os dois mais fáceis, Casos 1 e 2, aparecem em<br />

"Os elementos" <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s em conexão com círculos circunscritos e inscritos<br />

a um triângulo, os Casos <strong>de</strong> 3 a 6, 8 e 9 foram tratados no Livro I <strong>de</strong><br />

"Tangências" e os Casos 7 e 10 ocupavam todo o Livro II. Estudiosos dos<br />

séculos <strong>de</strong>zesseis e <strong>de</strong>zessete pensavam que Apolônio não tinha resolvido o<br />

último caso, por isso, o consi<strong>de</strong>ravam como um <strong>de</strong>sao às suas capacida<strong>de</strong>s.<br />

François Viète (1540-1603), o mais importante matemático francês do<br />

século XVI, apesar <strong>de</strong> ser primeiramente um analista, contribuiu também<br />

para a geometria pura. Ele propôs o problema <strong>de</strong> Apolônio ao matemático


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 46<br />

Caso Descrição<br />

1 três pontos<br />

2 três retas<br />

3 dois pontos e uma reta<br />

4 duas retas e um ponto<br />

5 dois pontos e uma circunferência<br />

6 um ponto e duas circunferências<br />

7 duas retas e uma circunferência<br />

8 uma circunferência, um ponto e uma reta<br />

9 duas circunferências e uma reta<br />

10 três circunferências<br />

Tabela 3.1: Casos do Problema <strong>de</strong> Apolônio<br />

belga conhecido como Adriano Romano (1561-1615), que o resolveu <strong>de</strong>terminando<br />

o centro do círculo procurado como interseção <strong>de</strong> duas hipérboles.<br />

Viète consi<strong>de</strong>rou insatisfatória a solução apresentada por Romano, alegando<br />

o uso <strong>de</strong> curvas impossíveis <strong>de</strong> serem construídas apenas com régua e compasso.<br />

Sabendo, por uma referência na Coleção <strong>de</strong> Papus que uma construção<br />

elementar era possível, Viète publicou sua própria solução em 1600 no "Apollonius<br />

Gallus". Ele reconhece que o número <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da posição<br />

relativa dos três círculos e expõe as onze situações resultantes. Esta resolução<br />

teve uma repercussão quase imediata na Europa, e proporcionou a Viète<br />

a admiração <strong>de</strong> numerosos matemáticos através dos séculos.<br />

Baseando-se na solução apresentada por Romano, e fazendo uso das proprieda<strong>de</strong>s<br />

da hipérbole, Isaac Newton (1642-1727) apresentou a solução para<br />

o problema em sua famosa obra "Principia". Na formulação <strong>de</strong> Newton, a<br />

intersecção <strong>de</strong> uma reta com um círculo substituiu a intersecção das duas<br />

hipérboles do processo <strong>de</strong> Romano, contemplando assim a construção com<br />

régua e compasso almejada por Viète.<br />

"Entre os primeiros pensadores dos séculos XVII e XVIII que empregaram<br />

todo o seu po<strong>de</strong>r mental para <strong>de</strong>struir velhas idéias e construir novas outras,<br />

<strong>de</strong>staca-se René Descartes (1596-1650)" (CAJORI, 2007, p.244). Sabe-se que<br />

ele investigou o problema <strong>de</strong> Apolônio, mas não obteve resultados relevantes.<br />

Porém, com o surgimento da Geometria Analítica a partir <strong>de</strong> seu trabalho


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 47<br />

"La Géométrie" <strong>de</strong> 1637, surgiram novos recursos na busca <strong>de</strong> soluções para<br />

o problema <strong>de</strong> Apolônio. A culta princesa Elizabeth (1596-1662), lha <strong>de</strong><br />

Fre<strong>de</strong>rico V e <strong>de</strong>vota aluna <strong>de</strong> Descartes, aplicou a nova geometria analítica<br />

na solução do problema <strong>de</strong> Apolônio, contudo, a diculda<strong>de</strong> em se lidar com<br />

as expressões algébricas <strong>de</strong>correntes, culminou com o fracasso na tentativa<br />

<strong>de</strong> se resolver tal problema por meio <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas. Quem<br />

também buscou uma solução algébrica para tal problema foi Leonard Euler<br />

(1707-1783).<br />

Com a revitalização da geometria sintética 1 iniciada por Gaspar Monge<br />

(1746-1818), pai da Geometria Descritiva, um novo repertório <strong>de</strong> elementos<br />

teóricos para o círculo se consolidava, oferecendo novos olhares para o<br />

<strong>de</strong>saador problema <strong>de</strong> Apolônio. Outro ramo da geometria que ampliou<br />

as ferramentas disponíveis para se analisar esse problema foi a Geometria<br />

Projetiva. Os estudos da Geometria Projetiva tiveram início com Girard Desargues<br />

(1591-1661), que em 1639 publicou um trabalho sobre seções cônicas,<br />

mostrando, entre outros resultados, que a projeção <strong>de</strong> uma cônica é sempre<br />

uma cônica. A teoria dos pólos e das polares da Geometria Projetiva é a<br />

mais diretamente aplicável aos círculos, e consequentemente ao problema <strong>de</strong><br />

Apolônio. Poncelet (1788-1867), que introduziu o princípio da dualida<strong>de</strong>,<br />

encontrou uma solução para o problema <strong>de</strong> Apolônio enquanto ainda era<br />

estudante, em 1811. Posteriormente, em 1822, ele encontrou uma solução direta,<br />

apoiando-se em argumentos puramente geométricos, sendo mais tar<strong>de</strong><br />

revista por Maurice Fouché, em 1892, sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> círculos isogonais,<br />

e complementada com uma discussão <strong>de</strong>talhada do possível número <strong>de</strong><br />

soluções em termos das posições relativas dos objetos iniciais.<br />

Joseph Diaz Gergonne (1771-1859) resolveu o Problema <strong>de</strong> Apolônio e<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a superiorida<strong>de</strong> dos métodos analíticos sobre os sintéticos, com a<br />

publicação <strong>de</strong> uma solução puramente geométrica.<br />

Carl F. Gauss (1777-1855) simplicou e completou uma solução produzida<br />

por Lazare Carnot (1753-1823) para o problema <strong>de</strong> Apolônio. Mas, em-<br />

1 Nomenclatura dada em contraposição à geometria analítica, é referente à geometria<br />

que não se apóia em recursos algébricos para a sua sistematização; o mesmo que geometria<br />

axiomática.


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 48<br />

bora todas estas soluções tivessem sido produzidas na era 'mo<strong>de</strong>rna', ainda<br />

não atendiam ao almejado novo paradigma: Encontrar um método direto,<br />

aplicável a todos os casos, e se possível, que permitisse <strong>de</strong>terminar o número<br />

<strong>de</strong> soluções admissíveis para o problema.<br />

Foi em 1824 que Jacob Steiner, o maior geômetra <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong><br />

Eucli<strong>de</strong>s, (veja Seção 2.1, p.13) <strong>de</strong>scobriu a útil transformação chamada geometria<br />

inversiva. Steiner não publicou suas idéias sobre inversão, e a transformação<br />

foi re<strong>de</strong>scoberta várias vezes por outros matemáticos do século, inclusive<br />

Lord Kelvin (ou William Thompson, 1824-1907) que em 1845 chegou<br />

a ela pela física e que a aplicou a problemas <strong>de</strong> eletrostática. Baseada em<br />

inversões, o matemático dinamarquês Julius Petersen (1839-1910) produziu<br />

uma solução bastante elegante para o problema <strong>de</strong> Apolônio. Resultados da<br />

geometria das inversões permitem sistematizar a análise das possíveis con-<br />

gurações dos três objetos dados no problema <strong>de</strong> Apolônio, classicando-as<br />

e <strong>de</strong>terminando o número efetivo <strong>de</strong> soluções nos diferentes casos. Santos<br />

e Trevisan (2002, p.4), relatam que este <strong>de</strong>talhamento é feito no artigo <strong>de</strong><br />

Bruen et. al 2 , que simplica o trabalho notável <strong>de</strong> Muirhead 3 , no qual o autor<br />

faz uma enumeração exaustiva, porém incompleta, das várias possibilida<strong>de</strong>s.<br />

"O progresso da geometria não só propiciou novas e admiráveis soluções<br />

para o problema <strong>de</strong> Apolônio, como também transformou e generalizou o<br />

próprio problema" (COURT, 1961, p.451). Se o problema consiste em encontrar<br />

um objeto que forme 90 ◦ com outros três, então, o primeiro passo<br />

natural para estendê-lo é encontrar um objeto tal que os três objetos dados<br />

sejam isogonais em relação ao objeto procurado, po<strong>de</strong>ndo o ângulo entre eles<br />

ser <strong>de</strong> 0 ◦ a 180 ◦ . Outra possibilida<strong>de</strong> é supor que os três círculos, ao invés<br />

<strong>de</strong> coplanares, pertencem a uma mesma esfera. Carnot, Gergonne e Charles<br />

Dupin (1784-1873), entre outros, analisaram esta extensão. Indo além, a esfera<br />

po<strong>de</strong>ria ser substituída por uma superfície quádrica, e os círculos, por<br />

seções planas nesta superfície.<br />

O problema <strong>de</strong> Apolônio po<strong>de</strong> ainda ser estendido ao plano tridimen-<br />

2 BRUEN, A.;FISHER, J. C.; WILKER, J. B. Apollonius by inversion. Mathematics<br />

Magazine, 56(2) (1983) 97-103.<br />

3 MUIRHEAD, R. F. On the number and nature of solutions of the Apollonius<br />

contact problem. Proc. Edinburgh Math. Soc. 14 (1896) 135-147.


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 49<br />

sional: Construir uma esfera tangente a quatro esferas dadas. Este problema<br />

foi formulado por Pierre <strong>de</strong> Fermat (1601-1655) e cou conhecido como Problema<br />

<strong>de</strong> Fermat. Carnot, em 1803, e Dupin, em 1831, propuseram soluções<br />

analíticas para este problema, enquanto que J. N. P. Hachette (1769-1834),<br />

em 1808, propôs uma solução sintética.<br />

"Para uma abordagem consistente para o problema <strong>de</strong> Fermat, nos mesmos<br />

mol<strong>de</strong>s feitos para o problema <strong>de</strong> Apolônio, foi necessário encontrar na<br />

esfera os elementos geométricos que <strong>de</strong>sempenhassem papéis análogos aos do<br />

círculo. Assim, os centros <strong>de</strong> semelhança, planos radicais e feixes <strong>de</strong> esferas<br />

permitiram que os problemas <strong>de</strong> Apolônio e <strong>de</strong> Fermat fossem trabalhados<br />

simultaneamente" (SANTOS, TREVISAN, 2002, p.6).<br />

3.2 Resolvendo o Problema <strong>de</strong> Apolônio por<br />

meio da Inversão<br />

Na secção 2.4 resolvemos 3 exercícios que são casos do Problema <strong>de</strong> Apolônio.<br />

O exercício 1 é o Caso 3 (veja Tabela 3.1), enquanto que o exercício 2 é um<br />

caso particular do Caso 6 (as circunferências são secantes) e o exercício 3 é<br />

um caso particular do Caso 8 (as circunferências são tangentes entre si e são<br />

tangentes à reta).<br />

Porém, o mais difícil dos casos é, sem dúvida, o Caso 10 e é <strong>de</strong>ste que<br />

queremos tratar. Olhemos para o caso mais genérico, on<strong>de</strong> as circunferências<br />

são disjuntas e exteriores duas a duas.<br />

Por serem as circunferências disjuntas, não temos um ponto <strong>de</strong> interseção<br />

para ser o centro <strong>de</strong> um circunferência <strong>de</strong> inversão que transforme simultaneamente<br />

duas circunferências em duas retas para reduzir nosso problema<br />

em um caso mais simples. O que po<strong>de</strong>ríamos fazer é transformar apenas<br />

uma das circunferências, mas isto não alivia muito a situação, pois este caso<br />

também não é tão simples. Sendo assim, a questão agora é: Será possível<br />

encontrar uma inversão que transforme estas três circunferências em outras<br />

três, mas que, <strong>de</strong> alguma forma seja um caso particular mais simples? A<br />

resposta é "Sim", conforme po<strong>de</strong>mos constatar no trabalho <strong>de</strong> Spira (2004).


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 50<br />

Figura 3.1: Caso 10 do Problema <strong>de</strong> Apolônio<br />

Existe uma inversão que transforma duas circunferências disjuntas em circunferências<br />

concêntricas. Este será agora o nosso objeto <strong>de</strong> estudo e, para<br />

isto, vamos <strong>de</strong>terminar os "pontos mágicos", <strong>de</strong>nidos adiante, <strong>de</strong> duas circunferências.<br />

Sejam C e D duas circunferências disjuntas e não concêntricas. Chamemos<br />

<strong>de</strong> s a reta dos centros e AB e EF os diâmetros <strong>de</strong>terminados por s em C e<br />

D, respectivamente.<br />

Figura 3.2: Circunferências disjuntas não concêntricas<br />

Agora, uma inversão com centro em A transforma a circunferência C em<br />

uma reta C ′ e a circunferência D em uma circunferência D ′ . A inversa s ′ <strong>de</strong><br />

s é a própria reta s.


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 51<br />

Figura 3.3: Inversão com centro em A<br />

Pelo Lema 2.4 existe uma única circunferência G ′ com centro em B ′ que<br />

é ortogonal à D ′ . Também, pelo Lema 2.3, G ′ é ortogonal à C ′ . Chamando<br />

<strong>de</strong> P ′ e Q ′ os pontos <strong>de</strong> interseção <strong>de</strong> G ′ com s ′ , então, P ′ e Q ′ são inversos<br />

com relação à D ′ . (Veja a Proposição 2.1.2).<br />

Figura 3.4: Encontrando P ′ e Q ′<br />

Que outras circunferências X ′ são ortogonais simultaneamente à C ′ e D ′ ?


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 52<br />

Bem, para X ′ ser ortogonal à C ′ , então, o seu centro Y <strong>de</strong>ve estar sobre a<br />

reta C ′ . Como existe uma única circunferência com centro em Y ortogonal<br />

à D ′ e a circunferência com centro em Y passando por P ′ e Q ′ é ortogonal<br />

à D ′ , então, esta é a circunferência X ′ . Assim, a família das circunferências<br />

ortogonais simultaneamente à C ′ e D ′ é a família das circunferências que<br />

passam por P ′ e Q ′ .<br />

Portanto, "<strong>de</strong>sinvertendo", a família das circunferências ortogonais à C<br />

e D coinci<strong>de</strong> com a família das circunferências que passam por P e Q, logo,<br />

P e Q são inversos em relação às circunferências C e D simultaneamente<br />

e, mais do que isso, estes pontos são os únicos com esta proprieda<strong>de</strong> a qual<br />

enunciamos na seguinte proposição:<br />

Figura 3.5: Família <strong>de</strong> circunferências ortogonais à C e D<br />

Proposição 3.2.1 Sejam AB e EF segmentos disjuntos contidos em uma<br />

mesma reta. Então, existe um único par <strong>de</strong> pontos P e Q que são conjugados


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 53<br />

harmônicos simultaneamente com relação à AB e EF .<br />

Demonstração:<br />

Sendo P e Q como construídos acima, temos que estes pontos são os<br />

únicos que são inversos em ralação à C e D simultaneamente. Assim, P e<br />

Q são os únicos pontos que são simultaneamente conjugados harmônicos em<br />

relação à AB e EF.<br />

□<br />

Denição 3.2.1 Sejam C e D duas circunferências disjuntas e não concêntricas.<br />

Chamemos <strong>de</strong> s a reta dos centros e AB e EF os diâmetros<br />

<strong>de</strong>terminados por s em C e D, respectivamente. Os pontos P e Q que são<br />

conjugados harmônicos simultaneamente <strong>de</strong> AB e EF são <strong>de</strong>nominados <strong>de</strong><br />

pontos mágicos <strong>de</strong> C e D.<br />

Os pontos mágicos são a chave para <strong>de</strong>monstrar a importante proposição<br />

a seguir:<br />

Proposição 3.2.2 Sejam C e D duas circunferências disjuntas e não concêntricas.<br />

Então, existe uma inversão que transforma C e D em circunferências<br />

concêntricas.<br />

Demonstração:<br />

Sejam P e Q os pontos mágicos <strong>de</strong> C e D. Seja S uma circunferência<br />

com centro em P e C ′ a inversa <strong>de</strong> C em relação à S. Temos que o inverso<br />

do centro P <strong>de</strong> S em relação à C é o ponto Q, logo, pela Proposição 2.3.5, o<br />

inverso <strong>de</strong> Q em relação à S é o centro <strong>de</strong> C ′ .<br />

Analogamente, se D ′ é o inverso <strong>de</strong> D em relação à S, então, como o<br />

inverso <strong>de</strong> P em relação à D é o ponto Q, temos que o inverso <strong>de</strong> Q em<br />

relação à S é o centro <strong>de</strong> D ′ .<br />

Portanto, Q ′ é o centro <strong>de</strong> C ′ e D ′ , ou seja, C ′ e D ′ são concêntricas.<br />


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 54<br />

Figura 3.6: Transformação em circunferências concêntricas<br />

Agora, com esta inversão po<strong>de</strong>mos tratar <strong>de</strong> resolver o Problema <strong>de</strong> Apolônio<br />

mostrado na Figura 3.1:<br />

Problema: Dadas três circunferências A, B e C disjuntas e externas duas<br />

a duas, encontre as circunferências que são tangentes a A, B e C simultaneamente.<br />

Solução: Sejam P e Q os pontos mágicos <strong>de</strong> A e B. Assim, P é interno<br />

à circunferência A, ou P é interno à circunferência B. Suponhamos, sem<br />

perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que P é interno à A, logo, Q é interno à B. Pela<br />

proposição acima, se S é uma circunferência <strong>de</strong> inversão com centro em P,<br />

então, os inversos A ′ e B ′ <strong>de</strong> A e B, respectivamente, em relação à S, são<br />

circunferências concêntricas. Pois bem, se C ′ é o inverso <strong>de</strong> C em relação<br />

à S, que posição C ′ ocupa em relação à A ′ e B ′ ? Desaamos o leitor a<br />

<strong>de</strong>monstrar as seguintes armações: Armação 1) Como C é externa à A e<br />

P (centro da circunferência <strong>de</strong> inversão) é interno à A, então, C ′ é interna<br />

à A ′ . Armação 2) Como B e C são externas e P (centro da circunferência<br />

<strong>de</strong> inversão) é externo à B e à C, então, B ′ e C ′ são externas. Portanto,<br />

o nosso problema ca reduzido ao seguinte: Sendo A ′ e B ′ circunferências


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 55<br />

concêntricas; com B ′ interna à A ′ ; e C ′ uma circunferência compreendida no<br />

anel entre A ′ e B ′ , encontremos as circunferências que são tangentes à estas<br />

três simultaneamente.<br />

Figura 3.7: Redução do Problema <strong>de</strong> Apolônio à um caso particular<br />

A solução <strong>de</strong>ste problema é fácil e, ao todo, são oito as circunferências<br />

procuradas. Sendo C 1 a circunferência <strong>de</strong> centro em Q ′ e raio r 2+r 1<br />

, então<br />

2<br />

temos quatro soluções cujo centro pertence à C 1 , on<strong>de</strong> r 2 é o raio <strong>de</strong> A ′ e<br />

r 1 é o raio <strong>de</strong> B ′ . Destas, duas são circunferências tangentes externas com<br />

C ′ e duas são circunferências tangentes internas com C ′ . Veja a Figura 3.8.<br />

Agora, sendo C 2 a circunferência <strong>de</strong> centro em Q ′ e raio r 2−r 1<br />

, temos quatro<br />

2<br />

soluções cujo centro pertence à C 2 , sendo duas tangentes externas com C ′ e<br />

duas tangentes internas com C ′ . Veja a Figura 3.9.


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 56<br />

Figura 3.8: Quatro soluções com<br />

centro em C 1<br />

Figura 3.9: Quatro soluções com<br />

centro em C 2<br />

Portanto, temos as oito soluções como mostra a Figura 3.10:<br />

Figura 3.10: As oito soluções invertidas<br />

Basta agora "<strong>de</strong>sinvertê-las" e teremos a solução do Problema <strong>de</strong> Apolônio:


CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DE APOLÔNIO 57<br />

Figura 3.11: A solução do Problema <strong>de</strong> Apolônio


Capítulo 4<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

No presente trabalho, em relação ao problema <strong>de</strong> pesquisa, resolvemos o<br />

décimo caso do Problema <strong>de</strong> Apolônio por meio da Transformação Geométrica<br />

Inversão. Para isso, encontramos uma inversão que transforma duas circunferências<br />

disjuntas e exteriores em duas circunferências concêntricas, cando<br />

assim, o problema reduzido a um caso fácil <strong>de</strong> ser resolvido. No entanto,<br />

mais importante do que a solução do problema propriamente dita, foi o caminho<br />

percorrido para encontrá-la, pois, neste processo associamos a Resolução<br />

<strong>de</strong> Problemas, importante para o <strong>de</strong>senvolvimento do raciocínio lógico;<br />

o uso da Geometria Dinâmica, facilitador da visualização, experimentação,<br />

explorações e validação dos métodos <strong>de</strong> construção e o uso <strong>de</strong> uma Transformação<br />

Geométrica, sendo que as transfomações "constituem um campo rico<br />

<strong>de</strong> conexões, uma ferramenta muito útil para <strong>de</strong>monstrações, para resolver<br />

problemas e, <strong>de</strong> uma maneira geral, para raciocinar sobre o plano e o espaço"<br />

(BASTOS, 2007, p.23).<br />

Por estar o conteúdo <strong>de</strong> "Tangências" presente em praticamente todas as<br />

ementas da disciplina <strong>de</strong> Desenho Geométrico <strong>de</strong> cursos superiores, enten<strong>de</strong>mos<br />

que este trabalho possa ser utilizado para o ensino da mesma como um<br />

roteiro <strong>de</strong> estudo, pois além <strong>de</strong> conter todos os tópicos citados acima, que<br />

valorizam a aprendizagem, o texto está disposto <strong>de</strong> maneira que o leitor é instigado<br />

a explorar a Transformação Inversão, <strong>de</strong>scobrindo suas proprieda<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong>monstrando-as e, assim, participando do processo hipotético-<strong>de</strong>dutivo do<br />

58


CAPÍTULO 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 59<br />

pensamento geométrico. Com isto, cumprimos, então, o objetivo inicialmente<br />

proposto para esta monograa.<br />

Para complementar este trabalho, sugerimos que diferentes composições<br />

do Caso 10 do Problema <strong>de</strong> Apolônio sejam resolvidas por meio da inversão,<br />

como, por exemplo, os casos on<strong>de</strong> as circunferências envolvidas são secantes<br />

ou são tangentes. Os <strong>de</strong>mais casos não abordados na Secção 2.4, on<strong>de</strong> as circunferências<br />

envolvidas po<strong>de</strong>m ser retas ou pontos, po<strong>de</strong>m também contribuir<br />

para uma aprendizagem efetiva, pois, ao procurar a inversão que simplica o<br />

problema em questão, certamente o leitor melhor se apropriará dos conceitos<br />

<strong>de</strong>sta transformação.


REFERÊNCIAS<br />

ALMOULOUD, S. A.; MELLO, E. G. S.. Iniciação à <strong>de</strong>monstração<br />

apren<strong>de</strong>ndo conceitos geométricos. 23 a reunião anual da ANPED,<br />

2000.<br />

ANDRADE, J. A. A.; NACARATO, A. M. Tendências didáticopedagógicas<br />

no ensino <strong>de</strong> Geometria: um olhar sobre os trabalhos<br />

apresentados nos ENEMs. Educação Matemática em Revista<br />

(São Paulo), SBEM, Recife/Pe, v. Ano 11, n. n 17, p. 61-70, 2005.<br />

BASTOS, R. Notas sobre o ensino <strong>de</strong> Geometria: Transformações<br />

Geométricas. Educação e Matemática. Revista da APM, Lisboa, n.94,<br />

p.23-27, set/out, 2007.<br />

CABARITI, Eliane, GEOMETRIA HIPERBÓLICA: Uma proposta<br />

didática em ambiente informatizado. 2004. 181 f. Dissertação<br />

(Mestrado em educação matemática). Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />

Católica <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2004.<br />

COURT, N. A. The problem of Apollonius. Mathematics Teacher,<br />

54, 1961 p. 444-452.<br />

MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). Parte<br />

III - Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, p. 44, 2000.<br />

PAVANELLO, Regina Maria. Porque ensinar/apren<strong>de</strong>r Geometria?<br />

In: VII EPEM - Encontro Paulista <strong>de</strong> Educação Matemática,<br />

São Paulo, 2004.<br />

SANTOS, S. A.; TREVISAN, A. L. O problema <strong>de</strong> Apolônio: aspectos<br />

históricos e computacionais. In: Relatório <strong>de</strong> pesquisa: Fapesp<br />

n. 02/13369-8, 2002.<br />

SPIRA, Michel. COMO TRANSFORMAR RETAS EM CÍRCU-<br />

LOS E VICE VERSA: A inversão e construções geométricas. In:<br />

II Bienal da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Matemática. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<br />

da Bahia, Bahia, 2004.

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