GEPES editorial 3 - OuvirAtivo
GEPES editorial 3 - OuvirAtivo
GEPES editorial 3 - OuvirAtivo
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO<br />
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS<br />
DEPARTAMENTO DE ARTES<br />
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA<br />
A sociedade é sonora!<br />
Nosso ambiente é repleto de sons<br />
que são parte integrante da<br />
Paisagem Sonora que o compõe e se<br />
transforma à medida que sons e<br />
mais sons são acrescidos e ou<br />
suprimidos do ambiente, em boa<br />
parte, pela ação do ser humano;<br />
hoje, produzimos, cada vez mais e<br />
de forma desordenada, sons que vão<br />
se tornando parte do ambiente<br />
transformando-o dia-a-dia numa<br />
“odisséia sonora” que vem<br />
deixando, gradualmente, surda<br />
nossa sociedade.<br />
Assim, com o intuito de<br />
estabelecer interface entre Ensino<br />
de Música e ambiente, criamos o<br />
Grupo de estudos e pesquisa em<br />
Ecologia Sonora - Gepes, onde<br />
empreendemos, no momento, um<br />
mapeamento sonoro do centro<br />
histórico do bairro Praia Grande, em<br />
São Luis, Maranhão.<br />
São Luís tem sua história<br />
l i g a d a , d i r e t a m e n t e , a o<br />
descobrimento do Brasil, por<br />
conseguinte, a cidade possui riqueza<br />
cultural ímpar, significativa e<br />
singular. Seu centro histórico, hoje,<br />
convive com uma Paisagem Sonora<br />
muito diferente da original e é<br />
natural que seja assim, porém, esta<br />
nova Paisagem Sonora está em<br />
consonância com o ambiente em<br />
que interfere? De que forma o<br />
ambiente estimula a produção de<br />
som e ruído ou ainda, de que forma<br />
esta relação contribui para que<br />
sejamos induzidos a “aceitar”, a<br />
tolerar e assim, permanecer, no<br />
ambiente? Estas são questões<br />
interessantes e nos levam à reflexão<br />
a partir do instante que tomamos<br />
consciência do ambiente sonoro ao<br />
nosso redor.<br />
O Gepes, tem na pesquisa<br />
p a r t i c i p a n t e o p r i n c í p i o<br />
metodológico mais adequado às<br />
nossas necessidades de<br />
investigação. “A importância na<br />
articulação – conhecimento e<br />
aplicabilidade visando uma<br />
melhoria nas relações do homem<br />
com a sociedade – que se faz<br />
presente neste tipo de pesquisa<br />
social nos é primordial, não<br />
havendo lugar para uma forma mais<br />
convencional de investigação, pois<br />
de nada adiantaria um relato<br />
quantitativo e ilustrativo, sem que<br />
houvesse um retorno para o seio<br />
social, buscando uma interação e<br />
uma possível transformação do<br />
ambiente social”(SILVA, 2006).<br />
O desenvolvimento de tal<br />
proposta, inovadoramente ousada,<br />
no âmbito da Educação Musical no<br />
Brasil, nos faz perceber o belo<br />
caminho que temos pela frente.<br />
Algumas palavras...<br />
“Caro Marco Aurélio, parabéns pela<br />
iniciativa.<br />
Deste lado do atlântico, espero que<br />
possamos estreitar relações institucionais,<br />
de forma a que possamos ser parceiros em<br />
muitos dos projectos que por aí vão sendo<br />
realizados. Um abraço transatlântico”.<br />
Profº Drº LEVI LEONIDO F. DA SILVA<br />
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/<br />
Escola das Ciências Humanas e Sociais/<br />
Departamento de Educação e Psicologia/Director<br />
da Revista Europeia de Estudos Artísticos/<br />
Investigador do Centro de Investigação em<br />
Ciências e Tecnologias das Artes.<br />
“Sabemos o quanto sua pesquisa é<br />
importante para uma tomada de<br />
consciência, para uma percepção sonora<br />
mais atenta e preocupada com os sons que<br />
estão a sua volta”<br />
Munique Silva<br />
Integrante do Gepes<br />
Profª de Dança e pesquisadora<br />
<strong>GEPES</strong><br />
GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA<br />
“O professor Marco Aurélio tem se<br />
mostrado um pesquisador interessado e<br />
atuante com inegáveis benefícios para a<br />
Universidade onde atua, para o estado do<br />
Maranhão e para todo o Brasil e, em minha<br />
opinião tem o perfil acadêmico adequado<br />
para desenvolver os estudos a que se propõe<br />
(...) Ele tem muito boa formação acadêmica<br />
e está investindo em uma área ainda<br />
iniciante no Brasil – a da Ecologia Acústica<br />
– com aplicações nas áreas de Educação e<br />
de Artes(...)”<br />
Profª Drª Marisa Trench de Oliveira<br />
Fonterrada.<br />
Instituto de Artes da UNESP<br />
Professor e pesquisador Marco Aurélio e a<br />
Pesquisadora Marisa Trench de Oliveira Fonterrada,<br />
em apresentação do projeto de pesquisa do <strong>GEPES</strong><br />
no Instituto de Artes da UNESP, Sãõ Paulo, Brasil.<br />
<strong>GEPES</strong> em pesquisa de campo.<br />
REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº03 ANO 01/2011<br />
http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma
EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />
A MÚSICA E O APRENDIZADO COLETIVO: O PRINCÍPIO DA ARTE COM AÇÃO<br />
EFETIVA.<br />
Por: MARCO AURÉLIO A. DA SILVA<br />
Coordenador e Pesquisador responsável<br />
<strong>GEPES</strong>-GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA<br />
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA<br />
Membro da comissão Científica para o Brasil e América Latina<br />
EUROPEAN REVIEW OF ARTISTIC STUDIES<br />
Doutorando em Estudos Musicais pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto<br />
Douro (Universidade Pública Européia).<br />
Emails: marcoaurelio.musica@ufma.br<br />
A PERCEPÇÃO SONORA<br />
O mundo está repleto de sons e o silêncio<br />
absoluto talvez não exista. Ainda no ventre<br />
materno temos os primeiros contatos com o<br />
universo sonoro. O pulsar do coração e o<br />
mergulho no líquido amniótico que nos envolve<br />
formam nossa primeira paisagem sonora. Depois,<br />
as vozes materna e paterna e os sons do mundo à<br />
nossa volta, logo se somam a esta paisagem que<br />
começa a ser colorida. Podemos também,<br />
enquanto nos concentramos neste pensamento,<br />
descrever os sons que ouvimos à nossa volta.<br />
“Nenhum som teme o silêncio que o extingue, e<br />
nenhum silêncio existe que não esteja grávido de<br />
sons”( FUCKS. 1991, p.16).<br />
Quando pensamos em educação musical,<br />
precisamos estar atentos ao universo sonoro<br />
ambiental e assim percebemos que o mundo a<br />
nossa volta é sonoro; os sons estão em toda parte<br />
e o sentido da audição, principal forma de<br />
percepção sonora, não possui, de forma literal,<br />
um botão de ligar ou desligar. Schafer destaca<br />
que “O sentido da audição não pode ser<br />
desligado à vontade. Não existem pálpebras<br />
auditivas. Quando dormimos, nossa percepção<br />
sonora é a última porta a se fechar, e é também a<br />
primeira a se abrir quando acordamos”(2001, p.<br />
29). Veremos em outro momento, que Villa-<br />
Lobos se preocupava, já na década de 1930, com<br />
a necessidade de se formar público capaz de<br />
apreciar, através de uma audição mais seleta, a<br />
arte dos artistas das gerações que estavam por<br />
vir, ou seja, com a formação de um ouvinte<br />
inteligente capaz de ouvir e selecionar o que é<br />
significativo ou não para si, para a sociedade e<br />
para seu ambiente. Wagner apud Schafer, define<br />
a importância da audição inteligente da seguinte<br />
forma: “O homem voltado para o exterior apela<br />
para o olho; o homem interiorizado, para o<br />
ouvido”(Idem). Poderíamos completar dizendo:<br />
O ser humano pouco atento aos sons que houve é<br />
como alguém que enxerga, mas não vê.<br />
Parafraseando Aaron Copland, que divide<br />
de maneira hipotética a audição musical em três<br />
planos – sensível, expressivo e plano puramente<br />
musical -, dividiremos também a percepção<br />
sonora, de uma maneira geral, em três planos: o<br />
plano geral, plano significativo e plano<br />
consciente.<br />
O plano geral seria aquele onde não nos<br />
damos conta do que ouvimos, quanto ou de que<br />
forma. Estamos o tempo todo envoltos numa<br />
odisséia sonora e mesmo assim não nos damos<br />
conta disto, não nos preocupamos em selecionar<br />
nenhum som específico, seja ele bom ou ruim,<br />
bonito ou feio, agradável ou não. Estamos sendo<br />
neste momento específico, afogados num mar de<br />
sons e poderíamos também chamar este plano de<br />
plano da banalização sonora. No plano<br />
significativo nos tornamos um pouco mais<br />
atentos, buscamos um sentido, um significado<br />
para os sons que ouvimos e/ou produzimos e<br />
mesmo ainda não tão preocupados com seus<br />
efeitos ou conceitos estéticos, estamos mais<br />
atentos. Por fim, temos o plano que mais nos<br />
interessa, o plano consciente, onde nos tornamos<br />
ouvintes muito mais atentos, preocupados com<br />
os sons nocivos ao ambiente, com os sons em<br />
extinção, com o nível de decibéis que podemos<br />
suportar com segurança, enfim, nos tornamos<br />
ouvintes inteligentes, capazes de selecionar com<br />
consciência os sons que queremos ouvir ou<br />
produzir, os sons que queremos preservar ou<br />
extinguir. Como fez Copland, ao dividir o plano<br />
de audição musical, nós também o fizemos<br />
apenas para melhor compreendê-los e é<br />
REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº03 ANO 01/2011<br />
2<br />
http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma
EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />
terminologias ou formas de entendimento.<br />
A percepção do universo sonoro de forma<br />
inteligente perpassa, de maneira interdisciplinar,<br />
pela educação musical, pois música, educação e<br />
ambiente formam uma tríade em constante<br />
tangência. Quem poderia melhor trabalhar a<br />
percepção sonora que os professores de educação<br />
musical? Para isto, primeiramente, nós,<br />
educadores musicais, precisamos estar abertos a<br />
aprender mais do que ensinar, pois o universo<br />
sonoro está em constante mutação, o que nos<br />
obriga a uma reciclagem cotidianamente atenta.<br />
Como sons e mais sons são acrescidos dia-a-dia,<br />
formando uma macro-composição, podemos<br />
encarar os sons ambientais como uma peça<br />
musical em dimensões universais. Assim, em<br />
nossa função de mediadores, precisamos romper<br />
com modelos e paradigmas pouco flexíveis.<br />
Vejamos como Schafer destaca o que<br />
consideramos o objetivo principal e nosso objeto<br />
de estudo: “Apresentar aos alunos de todas as<br />
idades os sons do ambiente; tratar a paisagem<br />
sonora do mundo com uma composição musical,<br />
da qual o homem é o principal compositor; e<br />
fazer julgamentos críticos que levem à melhoria<br />
de sua qualidade.(1991, p.284)”.<br />
BREVE REFLEXÃO SOBRE O LUGAR<br />
CONSTITUÍDO PELO EDUCADOR<br />
MUSICAL<br />
A educação musical não deve ser pensada<br />
de forma desarticulada do ambiente social. O<br />
pensar contextualizado e significativo deve estar<br />
presente também na vida dos educadores<br />
músicos, construindo assim saberes de uma arte<br />
que se dá no tempo e não nos permite<br />
negligenciar o ambiente sônico ao seu redor.<br />
A música do passado - por música do<br />
passado entende-se toda e qualquer produção<br />
musical anterior à música do nosso tempo, tanto<br />
cultural quanto esteticamente - teve seu lugar<br />
num tempo social que lhe permitiu existir da<br />
maneira e forma que é, ao passo que a música do<br />
presente existe no tempo que hoje lhe oportuniza<br />
e não no tempo do passado. Sendo assim, buscar<br />
compreender o nosso universo sonoro deve ser o<br />
primeiro passo a ser dado. A paisagem sonora do<br />
século XVII é muito diferente da de hoje e<br />
podemos, através da história e da música,<br />
imaginar como ela era, sem conseguir, contudo,<br />
influir no que já foi. Hoje somos os atores<br />
principais de nossa história sonora e entendê-la<br />
pode influir de maneira positiva no que ela será<br />
amanhã, despertando nos alunos o prazer da<br />
descoberta e não somente a falsa certeza da<br />
constatação.<br />
A questão da poluição sonora se relaciona<br />
à falta de cuidado e atenção à percepção sonora.<br />
Neste sentido, o educador musical se torna uma<br />
peça chave na construção de uma audição<br />
cuidadosa e atenta, voltada para a qualidade dos<br />
sons e preocupada com o ambiente sonoro atual e<br />
futuro, pois através da música, a educação pode<br />
despertar uma consciência responsável acerca do<br />
ambiente sônico. Se quisermos ouvir sons de<br />
pássaros, teremos que diminuir os sons das<br />
máquinas dos centros urbanos e a música pode<br />
nos dar a sensibilidade necessária para esta<br />
audição mais atenta. Enquanto objeto de estudo,<br />
ela deve ser articulada de forma transversal com<br />
outras manifestações do espírito e a vida em<br />
geral.<br />
Schafer pensa que o ensino de música<br />
deva ser construído em conjunto com as outras<br />
formas artísticas, artes cênicas, visuais, e dança.<br />
Para ele, devemos buscar uma forma de arte<br />
múltipla para que o todo faça sentido e se torne<br />
significativo. Como perceber, reproduzir ou<br />
simplesmente imaginar o som de um pássaro sem<br />
vislumbrar o “balé” de seu vôo, o colorido de<br />
suas plumas ou o ambiente onde este vôo se dá?<br />
Como imaginarmos o ensino de música fora do<br />
contexto das outras artes e ainda, fora do<br />
contexto sócio-ambiental? O sentido pictórico e<br />
imitativo está presente na música, seja nas<br />
civilizações onde a arte tem o caráter de<br />
espetáculo ou mesmo naquelas onde se conserva<br />
o estado primitivo de contato com a natureza.<br />
Assim, um som nos leva a uma imagem e esta<br />
nos remete aos movimentos e às cores com ela<br />
relacionados. Um som não está só e mesmo o<br />
REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº03 ANO 01/2011<br />
http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma<br />
3
EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />
silêncio que talvez na sua forma mais pura não<br />
exista totalmente, nos remete a imagens<br />
pictóricas que podem ser descobertas de maneira<br />
interdisciplinar, transformando o processo<br />
cognitivo em algo mais interessante. Schafer tece<br />
uma crítica acerca disto: “Para a criança de cinco<br />
anos, arte é vida e vida é arte. A experiência, para<br />
ela, é um fluido caleidoscópio e sinestésico.<br />
Observem crianças brincando e tentem delimitar<br />
suas atividades pelas categorias de formas de arte<br />
conhecidas. Impossível. Porém, assim que essas<br />
crianças entram na escola, arte torna-se arte e<br />
vida torna-se vida. Aí elas vão descobrir que<br />
“música” é algo que acontece numa pequena<br />
porção de tempo às quintas-feiras pela manhã<br />
enquanto às sextas-feiras à tarde há outra<br />
pequena porção chamada “pintura”. Considero<br />
que essa fragmentação do sensorium total seja a<br />
mais traumática experiência na vida da criança<br />
pequena. (Ibid.Idem, p.290)”.<br />
ENSINO DE MÚSICA NA PRÁTICA<br />
O aprendizado musical de forma isolada<br />
deixa uma enorme lacuna no processo de<br />
formação do aluno. Se tiver estímulo e força de<br />
vontade para romper as barreiras que o ensino<br />
musical primário feito de maneira<br />
descontextualizada gera e alcançar um nível de<br />
aprendizado um pouco mais avançado,<br />
adquirindo técnica e aprendendo elementos<br />
teóricos e fundamentos interpretativos, ele verá<br />
que lhe falta, muitas vezes, vivência de onde e<br />
como aplicar o conhecimento adquirido ao longo<br />
de seu estudo. Sendo assim, a banda de música, o<br />
coral, a orquestra, enfim, um grupo orientado lhe<br />
serve de laboratório, onde imediatamente poderá<br />
aplicar o que está aprendendo. Através deste<br />
laboratório, o conteúdo estudado se torna<br />
significativo. Paulo Freire nos diz: “(...) ensinar<br />
não é transferir conhecimento, mas criar as<br />
possibilidades para a sua produção ou a sua<br />
construção”(1996, p.25). Outro elemento<br />
relevante é o repertório. Através de um repertório<br />
que perpasse por vários períodos históricos,<br />
estaremos contribuindo para o acesso direto de<br />
nossos alunos a uma cultura, também estética, da<br />
arte musical. Para uma educação musical<br />
significativa e contextualizada, o princípio do<br />
aprendizado coletivo é fundamental. O contato<br />
do aluno com o instrumento e a matéria sonora é<br />
o mais importante e se torna o primeiro passo a<br />
ser dado. Os alunos experimentam apenas os<br />
instrumentos disponíveis, pois é assim que<br />
normalmente acontece devido à carência de<br />
instrumentos musicais que encontramos em<br />
muitos locais de trabalho, situação que sempre<br />
devemos estar preparados a enfrentar. Mas isto<br />
não chega a ser um obstáculo e muitas vezes é<br />
um estímulo e um convite à criatividade, pois<br />
alunos e professores têm a oportunidade de criar<br />
estruturas instrumentais diferentes, com<br />
materiais que normalmente não seriam utilizados<br />
como instrumentos musicais como, por exemplo:<br />
canos de PVC, mangueiras de fiação elétrica,<br />
caixas de papelão, latas de refrigerante etc. Após<br />
emitir os primeiros sons, ainda de forma dirigida,<br />
começamos a demonstrar ao estudante como a<br />
grafia musical se processa, sempre passo-apasso,<br />
pois o mais importante continua sendo o<br />
resultado sonoro. Corrigimos embocadura,<br />
posicionamento dos dedos, a forma de segurar o<br />
arco, a baqueta, etc, e assim vamos dando ao<br />
jovem músico suportes técnicos e teóricos sem<br />
que ele se dê conta. Logo que o aluno já está<br />
emitindo algumas notas com segurança,<br />
inserimos no trabalho didático algo que possa ser<br />
aplicado em uma música e mesmo antes de<br />
dominar plenamente as primeiras técnicas<br />
instrumentais, ele já participa do grupo, da<br />
banda, da orquestra, o que faz com que se sinta<br />
mais motivado e capaz de continuar sua jornada.<br />
O repertório é cuidadosamente elaborado de<br />
acordo com o crescimento individual e coletivo<br />
do grupo a partir de suas especificidades,<br />
p o s s i b i l i t a n d o u m a u n i f o r m i d a d e n o<br />
desenvolvimento técnico, estético e cultural.<br />
Quando destacamos aqui alguns grupos<br />
instrumentais e vocais, tais como a banda de<br />
música, o coral, a orquestra, não estamos<br />
buscando eleger nenhum tipo de formação como<br />
estrutura privilegiada. Pensamos ser importante<br />
REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº03 ANO 01/2011<br />
http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma<br />
4
EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />
para a cultura geral dos alunos que eles tenham a<br />
oportunidade de conhecer estes grupos em suas<br />
formações originais, tendo claro que o<br />
fundamental é o trabalho de inclusão musical. Se<br />
o aluno toca um instrumento que se encaixa a<br />
alguma destas formações, ótimo. Se não, um<br />
grupo orientado e novo a cada ensaio deve ser<br />
formado para que o aluno tenha como exercitar,<br />
em laboratório prático, o que tem descoberto e<br />
construído em suas aulas. Por exemplo: Se o<br />
aluno toca violino e já tem um certo nível de<br />
desenvolvimento técnico-instrumental, pode<br />
participar de uma pequena orquestra de câmara<br />
ou mesmo uma orquestra sinfônica; se ele toca<br />
bombardino, pode participar de uma banda de<br />
música. Porém, se ele toca guitarra, harmônica,<br />
flauta doce ou caxixi, provavelmente teremos<br />
que organizar um outro tipo de grupo que não<br />
solicite uma formação pré-determina, ou seja,<br />
uma formação que não exclua estes<br />
instrumentos.<br />
O princípio de aprendizado coletivo articulado<br />
com um pensar que valorize as competências<br />
trazidas pelos alunos, para a partir daí<br />
construirmos o conhecimento musical planejado,<br />
possibilita a formação de grupos inclusivos, ou<br />
seja, verdadeiras orquestras laboratório, onde<br />
alunos, professores e público têm a oportunidade<br />
de experimentar novos caminhos sonoros e<br />
pedagógicos. A aprendizagem coletiva se torna,<br />
assim, princípio metodológico e não o fim de um<br />
processo que previlegia a abordagem tecnicista e<br />
essencialmente teórica. É uma Educação Musical<br />
pela prática e o contato com a matéria sonora;<br />
porém, isto não significa uma renúncia ao<br />
pensamento sistematizado e, muito menos, à<br />
teoria que, talvez seja a mais complexa de todas<br />
as manifestações do espírito, mas sim, que<br />
faremos uso da prática em favor de um estudo<br />
que levará, inerentemente, no momento em que o<br />
aluno adquirir certa dose de maturidade, à busca<br />
pela sistematização do conhecimento construído.<br />
Um bom exemplo deste processo foi o<br />
trabalho que realizei como idealizador, professor,<br />
arranjador e regente da Orquestra de Música<br />
Popular - OMP - da Escola de Música Baden<br />
Powell da Fundação de Apoio a Escola Técnica –<br />
FAETEC - no Rio de Janeiro.<br />
A OMP, foi organizada em 2005 e<br />
funcionou até 2009, a partir de minha prática<br />
metodológica em aprendizagem coletiva e com o<br />
objetivo de incentivar a aprendizagem pela<br />
prática. A OMP era um grupo inclusivo que<br />
trabalhava com diferentes níveis cognitivos/<br />
musicais onde os alunos possuíam um<br />
laboratório que, a cada encontro, servia como<br />
ferramenta de experimentação contribuindo,<br />
assim, para uma abordagem prática e efetiva<br />
acerca do conteúdo planejado e construído. Os<br />
arranjos foram preparados, cuidadosa e<br />
especialmente, para o grupo e qualquer<br />
instrumento tinha espaço garantido na Orquestra<br />
que acumulou dezenas de apresentações em seu<br />
currículo e que participou, em algumas faixas, do<br />
processo de gravação do meu primeiro CD (vide:<br />
http://www.mpb.com/marcotrilhas).<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
BENNETT, Roy. Uma Breve História da<br />
Música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,<br />
1986.<br />
COPLAND, Aaron. Como ouvir e entender<br />
música. São Paulo: Editora Artenova, 1974.<br />
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São<br />
Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.<br />
FUCKS, Rosa. O Discurso do Silêncio. Rio de<br />
Janeiro: Enelivros Editora e Livraria Ltda, 1991.<br />
SCHAFER, R. Murray. A Afinação do Mundo.<br />
São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 2001.<br />
___________________. O Ouvido Pensante.<br />
São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.<br />
SILVA, Marco Aurélio A. da. Imagens sonoras<br />
do ambiente e educação: relato de uma<br />
pesquisa participante no ensino superior de<br />
licenciatura em música. Dissertação (Mestrado)<br />
UNIPLI, Rio de Janeiro, 2005.<br />
__________________________.<br />
www.marcoaureliosilva.blogspot.com Acesso:<br />
10/06/2011.<br />
REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº03 ANO 01/2011<br />
http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma<br />
5
EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />
Profº Marco Aurélio A. da Silva - Doutorando em Estudos Musicais<br />
Idealizador, fundador e coordenador do Gepes<br />
Ca r i o c a , é P r o f e s s o r d o<br />
D e p a r t a m e n t o d e<br />
Artes/curso de Música da<br />
U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o<br />
M a r a n h ã o - U F M A ,<br />
pesquisador, instrumentista,<br />
compositor, a r r a n j a d o r e<br />
produtor musical; teve a formação<br />
erudita como primeiro contato<br />
com a arte musical, iniciando, no<br />
Rio de Janeiro seus estudos<br />
musicais aos 10 anos de idade.<br />
Formado em teoria musical, solfejo e<br />
percepção, Bacharel em Música com habilitação<br />
em contrabaixo - onde teve como mestres nomes<br />
ilustres como: Maria Luisa de Mattos Priolli,<br />
Orlando Silveira, Nelson Faria, Yuri Popoff, Tato<br />
Taborda, João Guilherme Ripper, dentre outros -,<br />
Licenciado em Música, Especialista em Docência<br />
do Ensino Superior, Mestre em Ensino de Ciências<br />
da Saúde e do Ambiente e Doutorando em Ciências<br />
da Cultura em Universidade Pública européia com<br />
pesquisa que faz interface entre música, educação e<br />
ambiente.<br />
Gravou e produziu diversos Cds, realizou<br />
inúmeros shows e concertos ao lado de artistas da<br />
música instrumental e popular em casas e teatros de<br />
renome. Como professor há mais de 20 anos,<br />
acumulou experiências que estão em seus livros “A<br />
improvisação consciente”, editado pela Bruno<br />
Quaino Editores RJ -2008 e “A arte e os caminhos<br />
do contrabaixo” (em fase de editoração).<br />
Tem se dedicado a educação e, de 2003 a<br />
2004 foi Diretor, Coordenador Pedagógico e<br />
Idealizador da Escola Municipal de Música<br />
Pixinguinha em São Gonçalo – RJ; em 2005<br />
assumiu a Superintendência de Música da<br />
Fundação de Artes de São Gonçalo - RJ até 2006;<br />
foi Professor Titular de técnica e prática<br />
instrumental, prosódia musical, estética, apreciação<br />
musical e história da música no Curso Superior do<br />
Conservatório de Música de Niterói, também até<br />
2006. É Produtor musical de trilhas para TV, teatro<br />
e cinema, além disso, foi professor titular da<br />
disciplina Oficina de Cordas da Escola Superior de<br />
Música da Universidade Candido Mendes – Nova<br />
Friburgo - RJ - e professor I – contrabaixo - na<br />
Escola de Música do CETEP-FAETEC - RJ -,<br />
coordenando o projeto “Orquestra de Música<br />
Popular - OMP – uma ação inclusiva”.<br />
Possui larga experiência em coordenação de<br />
projetos culturais e sociais, coordenando, durante<br />
10 anos, os projetos culturais das Aldeias Infantis<br />
SOS Brasil, no Rio de Janeiro, onde era<br />
responsável por projetos musicais sendo estes:<br />
Orquestra Sinfônica Jovem, Orquestra Jazz<br />
Sinfônica Jovem, Coral e Musicalização infantil,<br />
tendo, através destes projetos, o ingresso de vários<br />
jovens na Universidade de Música .<br />
Como pesquisador editou o livro “Música...<br />
educação, cultura e integração social” (iEditora:<br />
São Paulo, 2001).<br />
Dedicou-se a pesquisa de Mestrado, que<br />
faz interface entre música, educação e ambiente,<br />
obtendo o título de Mestre em Ensino de Ciências<br />
da Saúde e do Ambiente com a dissertação -<br />
“Imagens sonoras do ambiente e educação: Relato<br />
de uma pesquisa participante no ensino superior de<br />
licenciatura em música- em fase de edição pela<br />
EDUFMA -. Membro da comissão científica da<br />
ERAS-EUROPEAN REVIEW OF ARTISTIC<br />
STUDIES, desde 2011. Busca , a g o r a ,<br />
aprofundamento em programa de Doutorado,<br />
através de pesquisa que tem como finalidade propor<br />
um estudo sonoro do cotidiano social, contribuindo<br />
para uma tomada de consciência por parte da<br />
sociedade na construção do que chama “Audição<br />
Inteligente”.<br />
Ficha técnica<br />
Produção textual, editoração,<br />
revisão, diagramação e criação:<br />
Profº Ms Marco Aurélio A. da Silva<br />
Colaboração:<br />
Munique Teixeira da Silva<br />
Realização:<br />
<strong>GEPES</strong>/UFMA<br />
Apoio:<br />
Gráfica da UFMA<br />
Contato:<br />
e-mails:<br />
marcoaurelio.musica@ufma.br<br />
gepesufma@yahoogrupos.com.br<br />
REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº02 ANO 01/2011<br />
6<br />
http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma