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GEPES editorial 3 - OuvirAtivo

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EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS<br />

DEPARTAMENTO DE ARTES<br />

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA<br />

A sociedade é sonora!<br />

Nosso ambiente é repleto de sons<br />

que são parte integrante da<br />

Paisagem Sonora que o compõe e se<br />

transforma à medida que sons e<br />

mais sons são acrescidos e ou<br />

suprimidos do ambiente, em boa<br />

parte, pela ação do ser humano;<br />

hoje, produzimos, cada vez mais e<br />

de forma desordenada, sons que vão<br />

se tornando parte do ambiente<br />

transformando-o dia-a-dia numa<br />

“odisséia sonora” que vem<br />

deixando, gradualmente, surda<br />

nossa sociedade.<br />

Assim, com o intuito de<br />

estabelecer interface entre Ensino<br />

de Música e ambiente, criamos o<br />

Grupo de estudos e pesquisa em<br />

Ecologia Sonora - Gepes, onde<br />

empreendemos, no momento, um<br />

mapeamento sonoro do centro<br />

histórico do bairro Praia Grande, em<br />

São Luis, Maranhão.<br />

São Luís tem sua história<br />

l i g a d a , d i r e t a m e n t e , a o<br />

descobrimento do Brasil, por<br />

conseguinte, a cidade possui riqueza<br />

cultural ímpar, significativa e<br />

singular. Seu centro histórico, hoje,<br />

convive com uma Paisagem Sonora<br />

muito diferente da original e é<br />

natural que seja assim, porém, esta<br />

nova Paisagem Sonora está em<br />

consonância com o ambiente em<br />

que interfere? De que forma o<br />

ambiente estimula a produção de<br />

som e ruído ou ainda, de que forma<br />

esta relação contribui para que<br />

sejamos induzidos a “aceitar”, a<br />

tolerar e assim, permanecer, no<br />

ambiente? Estas são questões<br />

interessantes e nos levam à reflexão<br />

a partir do instante que tomamos<br />

consciência do ambiente sonoro ao<br />

nosso redor.<br />

O Gepes, tem na pesquisa<br />

p a r t i c i p a n t e o p r i n c í p i o<br />

metodológico mais adequado às<br />

nossas necessidades de<br />

investigação. “A importância na<br />

articulação – conhecimento e<br />

aplicabilidade visando uma<br />

melhoria nas relações do homem<br />

com a sociedade – que se faz<br />

presente neste tipo de pesquisa<br />

social nos é primordial, não<br />

havendo lugar para uma forma mais<br />

convencional de investigação, pois<br />

de nada adiantaria um relato<br />

quantitativo e ilustrativo, sem que<br />

houvesse um retorno para o seio<br />

social, buscando uma interação e<br />

uma possível transformação do<br />

ambiente social”(SILVA, 2006).<br />

O desenvolvimento de tal<br />

proposta, inovadoramente ousada,<br />

no âmbito da Educação Musical no<br />

Brasil, nos faz perceber o belo<br />

caminho que temos pela frente.<br />

Algumas palavras...<br />

“Caro Marco Aurélio, parabéns pela<br />

iniciativa.<br />

Deste lado do atlântico, espero que<br />

possamos estreitar relações institucionais,<br />

de forma a que possamos ser parceiros em<br />

muitos dos projectos que por aí vão sendo<br />

realizados. Um abraço transatlântico”.<br />

Profº Drº LEVI LEONIDO F. DA SILVA<br />

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/<br />

Escola das Ciências Humanas e Sociais/<br />

Departamento de Educação e Psicologia/Director<br />

da Revista Europeia de Estudos Artísticos/<br />

Investigador do Centro de Investigação em<br />

Ciências e Tecnologias das Artes.<br />

“Sabemos o quanto sua pesquisa é<br />

importante para uma tomada de<br />

consciência, para uma percepção sonora<br />

mais atenta e preocupada com os sons que<br />

estão a sua volta”<br />

Munique Silva<br />

Integrante do Gepes<br />

Profª de Dança e pesquisadora<br />

<strong>GEPES</strong><br />

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA<br />

“O professor Marco Aurélio tem se<br />

mostrado um pesquisador interessado e<br />

atuante com inegáveis benefícios para a<br />

Universidade onde atua, para o estado do<br />

Maranhão e para todo o Brasil e, em minha<br />

opinião tem o perfil acadêmico adequado<br />

para desenvolver os estudos a que se propõe<br />

(...) Ele tem muito boa formação acadêmica<br />

e está investindo em uma área ainda<br />

iniciante no Brasil – a da Ecologia Acústica<br />

– com aplicações nas áreas de Educação e<br />

de Artes(...)”<br />

Profª Drª Marisa Trench de Oliveira<br />

Fonterrada.<br />

Instituto de Artes da UNESP<br />

Professor e pesquisador Marco Aurélio e a<br />

Pesquisadora Marisa Trench de Oliveira Fonterrada,<br />

em apresentação do projeto de pesquisa do <strong>GEPES</strong><br />

no Instituto de Artes da UNESP, Sãõ Paulo, Brasil.<br />

<strong>GEPES</strong> em pesquisa de campo.<br />

REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº03 ANO 01/2011<br />

http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma


EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />

A MÚSICA E O APRENDIZADO COLETIVO: O PRINCÍPIO DA ARTE COM AÇÃO<br />

EFETIVA.<br />

Por: MARCO AURÉLIO A. DA SILVA<br />

Coordenador e Pesquisador responsável<br />

<strong>GEPES</strong>-GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA<br />

Membro da comissão Científica para o Brasil e América Latina<br />

EUROPEAN REVIEW OF ARTISTIC STUDIES<br />

Doutorando em Estudos Musicais pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto<br />

Douro (Universidade Pública Européia).<br />

Emails: marcoaurelio.musica@ufma.br<br />

A PERCEPÇÃO SONORA<br />

O mundo está repleto de sons e o silêncio<br />

absoluto talvez não exista. Ainda no ventre<br />

materno temos os primeiros contatos com o<br />

universo sonoro. O pulsar do coração e o<br />

mergulho no líquido amniótico que nos envolve<br />

formam nossa primeira paisagem sonora. Depois,<br />

as vozes materna e paterna e os sons do mundo à<br />

nossa volta, logo se somam a esta paisagem que<br />

começa a ser colorida. Podemos também,<br />

enquanto nos concentramos neste pensamento,<br />

descrever os sons que ouvimos à nossa volta.<br />

“Nenhum som teme o silêncio que o extingue, e<br />

nenhum silêncio existe que não esteja grávido de<br />

sons”( FUCKS. 1991, p.16).<br />

Quando pensamos em educação musical,<br />

precisamos estar atentos ao universo sonoro<br />

ambiental e assim percebemos que o mundo a<br />

nossa volta é sonoro; os sons estão em toda parte<br />

e o sentido da audição, principal forma de<br />

percepção sonora, não possui, de forma literal,<br />

um botão de ligar ou desligar. Schafer destaca<br />

que “O sentido da audição não pode ser<br />

desligado à vontade. Não existem pálpebras<br />

auditivas. Quando dormimos, nossa percepção<br />

sonora é a última porta a se fechar, e é também a<br />

primeira a se abrir quando acordamos”(2001, p.<br />

29). Veremos em outro momento, que Villa-<br />

Lobos se preocupava, já na década de 1930, com<br />

a necessidade de se formar público capaz de<br />

apreciar, através de uma audição mais seleta, a<br />

arte dos artistas das gerações que estavam por<br />

vir, ou seja, com a formação de um ouvinte<br />

inteligente capaz de ouvir e selecionar o que é<br />

significativo ou não para si, para a sociedade e<br />

para seu ambiente. Wagner apud Schafer, define<br />

a importância da audição inteligente da seguinte<br />

forma: “O homem voltado para o exterior apela<br />

para o olho; o homem interiorizado, para o<br />

ouvido”(Idem). Poderíamos completar dizendo:<br />

O ser humano pouco atento aos sons que houve é<br />

como alguém que enxerga, mas não vê.<br />

Parafraseando Aaron Copland, que divide<br />

de maneira hipotética a audição musical em três<br />

planos – sensível, expressivo e plano puramente<br />

musical -, dividiremos também a percepção<br />

sonora, de uma maneira geral, em três planos: o<br />

plano geral, plano significativo e plano<br />

consciente.<br />

O plano geral seria aquele onde não nos<br />

damos conta do que ouvimos, quanto ou de que<br />

forma. Estamos o tempo todo envoltos numa<br />

odisséia sonora e mesmo assim não nos damos<br />

conta disto, não nos preocupamos em selecionar<br />

nenhum som específico, seja ele bom ou ruim,<br />

bonito ou feio, agradável ou não. Estamos sendo<br />

neste momento específico, afogados num mar de<br />

sons e poderíamos também chamar este plano de<br />

plano da banalização sonora. No plano<br />

significativo nos tornamos um pouco mais<br />

atentos, buscamos um sentido, um significado<br />

para os sons que ouvimos e/ou produzimos e<br />

mesmo ainda não tão preocupados com seus<br />

efeitos ou conceitos estéticos, estamos mais<br />

atentos. Por fim, temos o plano que mais nos<br />

interessa, o plano consciente, onde nos tornamos<br />

ouvintes muito mais atentos, preocupados com<br />

os sons nocivos ao ambiente, com os sons em<br />

extinção, com o nível de decibéis que podemos<br />

suportar com segurança, enfim, nos tornamos<br />

ouvintes inteligentes, capazes de selecionar com<br />

consciência os sons que queremos ouvir ou<br />

produzir, os sons que queremos preservar ou<br />

extinguir. Como fez Copland, ao dividir o plano<br />

de audição musical, nós também o fizemos<br />

apenas para melhor compreendê-los e é<br />

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EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />

terminologias ou formas de entendimento.<br />

A percepção do universo sonoro de forma<br />

inteligente perpassa, de maneira interdisciplinar,<br />

pela educação musical, pois música, educação e<br />

ambiente formam uma tríade em constante<br />

tangência. Quem poderia melhor trabalhar a<br />

percepção sonora que os professores de educação<br />

musical? Para isto, primeiramente, nós,<br />

educadores musicais, precisamos estar abertos a<br />

aprender mais do que ensinar, pois o universo<br />

sonoro está em constante mutação, o que nos<br />

obriga a uma reciclagem cotidianamente atenta.<br />

Como sons e mais sons são acrescidos dia-a-dia,<br />

formando uma macro-composição, podemos<br />

encarar os sons ambientais como uma peça<br />

musical em dimensões universais. Assim, em<br />

nossa função de mediadores, precisamos romper<br />

com modelos e paradigmas pouco flexíveis.<br />

Vejamos como Schafer destaca o que<br />

consideramos o objetivo principal e nosso objeto<br />

de estudo: “Apresentar aos alunos de todas as<br />

idades os sons do ambiente; tratar a paisagem<br />

sonora do mundo com uma composição musical,<br />

da qual o homem é o principal compositor; e<br />

fazer julgamentos críticos que levem à melhoria<br />

de sua qualidade.(1991, p.284)”.<br />

BREVE REFLEXÃO SOBRE O LUGAR<br />

CONSTITUÍDO PELO EDUCADOR<br />

MUSICAL<br />

A educação musical não deve ser pensada<br />

de forma desarticulada do ambiente social. O<br />

pensar contextualizado e significativo deve estar<br />

presente também na vida dos educadores<br />

músicos, construindo assim saberes de uma arte<br />

que se dá no tempo e não nos permite<br />

negligenciar o ambiente sônico ao seu redor.<br />

A música do passado - por música do<br />

passado entende-se toda e qualquer produção<br />

musical anterior à música do nosso tempo, tanto<br />

cultural quanto esteticamente - teve seu lugar<br />

num tempo social que lhe permitiu existir da<br />

maneira e forma que é, ao passo que a música do<br />

presente existe no tempo que hoje lhe oportuniza<br />

e não no tempo do passado. Sendo assim, buscar<br />

compreender o nosso universo sonoro deve ser o<br />

primeiro passo a ser dado. A paisagem sonora do<br />

século XVII é muito diferente da de hoje e<br />

podemos, através da história e da música,<br />

imaginar como ela era, sem conseguir, contudo,<br />

influir no que já foi. Hoje somos os atores<br />

principais de nossa história sonora e entendê-la<br />

pode influir de maneira positiva no que ela será<br />

amanhã, despertando nos alunos o prazer da<br />

descoberta e não somente a falsa certeza da<br />

constatação.<br />

A questão da poluição sonora se relaciona<br />

à falta de cuidado e atenção à percepção sonora.<br />

Neste sentido, o educador musical se torna uma<br />

peça chave na construção de uma audição<br />

cuidadosa e atenta, voltada para a qualidade dos<br />

sons e preocupada com o ambiente sonoro atual e<br />

futuro, pois através da música, a educação pode<br />

despertar uma consciência responsável acerca do<br />

ambiente sônico. Se quisermos ouvir sons de<br />

pássaros, teremos que diminuir os sons das<br />

máquinas dos centros urbanos e a música pode<br />

nos dar a sensibilidade necessária para esta<br />

audição mais atenta. Enquanto objeto de estudo,<br />

ela deve ser articulada de forma transversal com<br />

outras manifestações do espírito e a vida em<br />

geral.<br />

Schafer pensa que o ensino de música<br />

deva ser construído em conjunto com as outras<br />

formas artísticas, artes cênicas, visuais, e dança.<br />

Para ele, devemos buscar uma forma de arte<br />

múltipla para que o todo faça sentido e se torne<br />

significativo. Como perceber, reproduzir ou<br />

simplesmente imaginar o som de um pássaro sem<br />

vislumbrar o “balé” de seu vôo, o colorido de<br />

suas plumas ou o ambiente onde este vôo se dá?<br />

Como imaginarmos o ensino de música fora do<br />

contexto das outras artes e ainda, fora do<br />

contexto sócio-ambiental? O sentido pictórico e<br />

imitativo está presente na música, seja nas<br />

civilizações onde a arte tem o caráter de<br />

espetáculo ou mesmo naquelas onde se conserva<br />

o estado primitivo de contato com a natureza.<br />

Assim, um som nos leva a uma imagem e esta<br />

nos remete aos movimentos e às cores com ela<br />

relacionados. Um som não está só e mesmo o<br />

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EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />

silêncio que talvez na sua forma mais pura não<br />

exista totalmente, nos remete a imagens<br />

pictóricas que podem ser descobertas de maneira<br />

interdisciplinar, transformando o processo<br />

cognitivo em algo mais interessante. Schafer tece<br />

uma crítica acerca disto: “Para a criança de cinco<br />

anos, arte é vida e vida é arte. A experiência, para<br />

ela, é um fluido caleidoscópio e sinestésico.<br />

Observem crianças brincando e tentem delimitar<br />

suas atividades pelas categorias de formas de arte<br />

conhecidas. Impossível. Porém, assim que essas<br />

crianças entram na escola, arte torna-se arte e<br />

vida torna-se vida. Aí elas vão descobrir que<br />

“música” é algo que acontece numa pequena<br />

porção de tempo às quintas-feiras pela manhã<br />

enquanto às sextas-feiras à tarde há outra<br />

pequena porção chamada “pintura”. Considero<br />

que essa fragmentação do sensorium total seja a<br />

mais traumática experiência na vida da criança<br />

pequena. (Ibid.Idem, p.290)”.<br />

ENSINO DE MÚSICA NA PRÁTICA<br />

O aprendizado musical de forma isolada<br />

deixa uma enorme lacuna no processo de<br />

formação do aluno. Se tiver estímulo e força de<br />

vontade para romper as barreiras que o ensino<br />

musical primário feito de maneira<br />

descontextualizada gera e alcançar um nível de<br />

aprendizado um pouco mais avançado,<br />

adquirindo técnica e aprendendo elementos<br />

teóricos e fundamentos interpretativos, ele verá<br />

que lhe falta, muitas vezes, vivência de onde e<br />

como aplicar o conhecimento adquirido ao longo<br />

de seu estudo. Sendo assim, a banda de música, o<br />

coral, a orquestra, enfim, um grupo orientado lhe<br />

serve de laboratório, onde imediatamente poderá<br />

aplicar o que está aprendendo. Através deste<br />

laboratório, o conteúdo estudado se torna<br />

significativo. Paulo Freire nos diz: “(...) ensinar<br />

não é transferir conhecimento, mas criar as<br />

possibilidades para a sua produção ou a sua<br />

construção”(1996, p.25). Outro elemento<br />

relevante é o repertório. Através de um repertório<br />

que perpasse por vários períodos históricos,<br />

estaremos contribuindo para o acesso direto de<br />

nossos alunos a uma cultura, também estética, da<br />

arte musical. Para uma educação musical<br />

significativa e contextualizada, o princípio do<br />

aprendizado coletivo é fundamental. O contato<br />

do aluno com o instrumento e a matéria sonora é<br />

o mais importante e se torna o primeiro passo a<br />

ser dado. Os alunos experimentam apenas os<br />

instrumentos disponíveis, pois é assim que<br />

normalmente acontece devido à carência de<br />

instrumentos musicais que encontramos em<br />

muitos locais de trabalho, situação que sempre<br />

devemos estar preparados a enfrentar. Mas isto<br />

não chega a ser um obstáculo e muitas vezes é<br />

um estímulo e um convite à criatividade, pois<br />

alunos e professores têm a oportunidade de criar<br />

estruturas instrumentais diferentes, com<br />

materiais que normalmente não seriam utilizados<br />

como instrumentos musicais como, por exemplo:<br />

canos de PVC, mangueiras de fiação elétrica,<br />

caixas de papelão, latas de refrigerante etc. Após<br />

emitir os primeiros sons, ainda de forma dirigida,<br />

começamos a demonstrar ao estudante como a<br />

grafia musical se processa, sempre passo-apasso,<br />

pois o mais importante continua sendo o<br />

resultado sonoro. Corrigimos embocadura,<br />

posicionamento dos dedos, a forma de segurar o<br />

arco, a baqueta, etc, e assim vamos dando ao<br />

jovem músico suportes técnicos e teóricos sem<br />

que ele se dê conta. Logo que o aluno já está<br />

emitindo algumas notas com segurança,<br />

inserimos no trabalho didático algo que possa ser<br />

aplicado em uma música e mesmo antes de<br />

dominar plenamente as primeiras técnicas<br />

instrumentais, ele já participa do grupo, da<br />

banda, da orquestra, o que faz com que se sinta<br />

mais motivado e capaz de continuar sua jornada.<br />

O repertório é cuidadosamente elaborado de<br />

acordo com o crescimento individual e coletivo<br />

do grupo a partir de suas especificidades,<br />

p o s s i b i l i t a n d o u m a u n i f o r m i d a d e n o<br />

desenvolvimento técnico, estético e cultural.<br />

Quando destacamos aqui alguns grupos<br />

instrumentais e vocais, tais como a banda de<br />

música, o coral, a orquestra, não estamos<br />

buscando eleger nenhum tipo de formação como<br />

estrutura privilegiada. Pensamos ser importante<br />

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EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />

para a cultura geral dos alunos que eles tenham a<br />

oportunidade de conhecer estes grupos em suas<br />

formações originais, tendo claro que o<br />

fundamental é o trabalho de inclusão musical. Se<br />

o aluno toca um instrumento que se encaixa a<br />

alguma destas formações, ótimo. Se não, um<br />

grupo orientado e novo a cada ensaio deve ser<br />

formado para que o aluno tenha como exercitar,<br />

em laboratório prático, o que tem descoberto e<br />

construído em suas aulas. Por exemplo: Se o<br />

aluno toca violino e já tem um certo nível de<br />

desenvolvimento técnico-instrumental, pode<br />

participar de uma pequena orquestra de câmara<br />

ou mesmo uma orquestra sinfônica; se ele toca<br />

bombardino, pode participar de uma banda de<br />

música. Porém, se ele toca guitarra, harmônica,<br />

flauta doce ou caxixi, provavelmente teremos<br />

que organizar um outro tipo de grupo que não<br />

solicite uma formação pré-determina, ou seja,<br />

uma formação que não exclua estes<br />

instrumentos.<br />

O princípio de aprendizado coletivo articulado<br />

com um pensar que valorize as competências<br />

trazidas pelos alunos, para a partir daí<br />

construirmos o conhecimento musical planejado,<br />

possibilita a formação de grupos inclusivos, ou<br />

seja, verdadeiras orquestras laboratório, onde<br />

alunos, professores e público têm a oportunidade<br />

de experimentar novos caminhos sonoros e<br />

pedagógicos. A aprendizagem coletiva se torna,<br />

assim, princípio metodológico e não o fim de um<br />

processo que previlegia a abordagem tecnicista e<br />

essencialmente teórica. É uma Educação Musical<br />

pela prática e o contato com a matéria sonora;<br />

porém, isto não significa uma renúncia ao<br />

pensamento sistematizado e, muito menos, à<br />

teoria que, talvez seja a mais complexa de todas<br />

as manifestações do espírito, mas sim, que<br />

faremos uso da prática em favor de um estudo<br />

que levará, inerentemente, no momento em que o<br />

aluno adquirir certa dose de maturidade, à busca<br />

pela sistematização do conhecimento construído.<br />

Um bom exemplo deste processo foi o<br />

trabalho que realizei como idealizador, professor,<br />

arranjador e regente da Orquestra de Música<br />

Popular - OMP - da Escola de Música Baden<br />

Powell da Fundação de Apoio a Escola Técnica –<br />

FAETEC - no Rio de Janeiro.<br />

A OMP, foi organizada em 2005 e<br />

funcionou até 2009, a partir de minha prática<br />

metodológica em aprendizagem coletiva e com o<br />

objetivo de incentivar a aprendizagem pela<br />

prática. A OMP era um grupo inclusivo que<br />

trabalhava com diferentes níveis cognitivos/<br />

musicais onde os alunos possuíam um<br />

laboratório que, a cada encontro, servia como<br />

ferramenta de experimentação contribuindo,<br />

assim, para uma abordagem prática e efetiva<br />

acerca do conteúdo planejado e construído. Os<br />

arranjos foram preparados, cuidadosa e<br />

especialmente, para o grupo e qualquer<br />

instrumento tinha espaço garantido na Orquestra<br />

que acumulou dezenas de apresentações em seu<br />

currículo e que participou, em algumas faixas, do<br />

processo de gravação do meu primeiro CD (vide:<br />

http://www.mpb.com/marcotrilhas).<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BENNETT, Roy. Uma Breve História da<br />

Música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,<br />

1986.<br />

COPLAND, Aaron. Como ouvir e entender<br />

música. São Paulo: Editora Artenova, 1974.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São<br />

Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.<br />

FUCKS, Rosa. O Discurso do Silêncio. Rio de<br />

Janeiro: Enelivros Editora e Livraria Ltda, 1991.<br />

SCHAFER, R. Murray. A Afinação do Mundo.<br />

São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 2001.<br />

___________________. O Ouvido Pensante.<br />

São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.<br />

SILVA, Marco Aurélio A. da. Imagens sonoras<br />

do ambiente e educação: relato de uma<br />

pesquisa participante no ensino superior de<br />

licenciatura em música. Dissertação (Mestrado)<br />

UNIPLI, Rio de Janeiro, 2005.<br />

__________________________.<br />

www.marcoaureliosilva.blogspot.com Acesso:<br />

10/06/2011.<br />

REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº03 ANO 01/2011<br />

http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma<br />

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EDITORIAL Nº 03 ANO 01 <strong>GEPES</strong>/UFMA 2º SEMESTRE 2011<br />

Profº Marco Aurélio A. da Silva - Doutorando em Estudos Musicais<br />

Idealizador, fundador e coordenador do Gepes<br />

Ca r i o c a , é P r o f e s s o r d o<br />

D e p a r t a m e n t o d e<br />

Artes/curso de Música da<br />

U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o<br />

M a r a n h ã o - U F M A ,<br />

pesquisador, instrumentista,<br />

compositor, a r r a n j a d o r e<br />

produtor musical; teve a formação<br />

erudita como primeiro contato<br />

com a arte musical, iniciando, no<br />

Rio de Janeiro seus estudos<br />

musicais aos 10 anos de idade.<br />

Formado em teoria musical, solfejo e<br />

percepção, Bacharel em Música com habilitação<br />

em contrabaixo - onde teve como mestres nomes<br />

ilustres como: Maria Luisa de Mattos Priolli,<br />

Orlando Silveira, Nelson Faria, Yuri Popoff, Tato<br />

Taborda, João Guilherme Ripper, dentre outros -,<br />

Licenciado em Música, Especialista em Docência<br />

do Ensino Superior, Mestre em Ensino de Ciências<br />

da Saúde e do Ambiente e Doutorando em Ciências<br />

da Cultura em Universidade Pública européia com<br />

pesquisa que faz interface entre música, educação e<br />

ambiente.<br />

Gravou e produziu diversos Cds, realizou<br />

inúmeros shows e concertos ao lado de artistas da<br />

música instrumental e popular em casas e teatros de<br />

renome. Como professor há mais de 20 anos,<br />

acumulou experiências que estão em seus livros “A<br />

improvisação consciente”, editado pela Bruno<br />

Quaino Editores RJ -2008 e “A arte e os caminhos<br />

do contrabaixo” (em fase de editoração).<br />

Tem se dedicado a educação e, de 2003 a<br />

2004 foi Diretor, Coordenador Pedagógico e<br />

Idealizador da Escola Municipal de Música<br />

Pixinguinha em São Gonçalo – RJ; em 2005<br />

assumiu a Superintendência de Música da<br />

Fundação de Artes de São Gonçalo - RJ até 2006;<br />

foi Professor Titular de técnica e prática<br />

instrumental, prosódia musical, estética, apreciação<br />

musical e história da música no Curso Superior do<br />

Conservatório de Música de Niterói, também até<br />

2006. É Produtor musical de trilhas para TV, teatro<br />

e cinema, além disso, foi professor titular da<br />

disciplina Oficina de Cordas da Escola Superior de<br />

Música da Universidade Candido Mendes – Nova<br />

Friburgo - RJ - e professor I – contrabaixo - na<br />

Escola de Música do CETEP-FAETEC - RJ -,<br />

coordenando o projeto “Orquestra de Música<br />

Popular - OMP – uma ação inclusiva”.<br />

Possui larga experiência em coordenação de<br />

projetos culturais e sociais, coordenando, durante<br />

10 anos, os projetos culturais das Aldeias Infantis<br />

SOS Brasil, no Rio de Janeiro, onde era<br />

responsável por projetos musicais sendo estes:<br />

Orquestra Sinfônica Jovem, Orquestra Jazz<br />

Sinfônica Jovem, Coral e Musicalização infantil,<br />

tendo, através destes projetos, o ingresso de vários<br />

jovens na Universidade de Música .<br />

Como pesquisador editou o livro “Música...<br />

educação, cultura e integração social” (iEditora:<br />

São Paulo, 2001).<br />

Dedicou-se a pesquisa de Mestrado, que<br />

faz interface entre música, educação e ambiente,<br />

obtendo o título de Mestre em Ensino de Ciências<br />

da Saúde e do Ambiente com a dissertação -<br />

“Imagens sonoras do ambiente e educação: Relato<br />

de uma pesquisa participante no ensino superior de<br />

licenciatura em música- em fase de edição pela<br />

EDUFMA -. Membro da comissão científica da<br />

ERAS-EUROPEAN REVIEW OF ARTISTIC<br />

STUDIES, desde 2011. Busca , a g o r a ,<br />

aprofundamento em programa de Doutorado,<br />

através de pesquisa que tem como finalidade propor<br />

um estudo sonoro do cotidiano social, contribuindo<br />

para uma tomada de consciência por parte da<br />

sociedade na construção do que chama “Audição<br />

Inteligente”.<br />

Ficha técnica<br />

Produção textual, editoração,<br />

revisão, diagramação e criação:<br />

Profº Ms Marco Aurélio A. da Silva<br />

Colaboração:<br />

Munique Teixeira da Silva<br />

Realização:<br />

<strong>GEPES</strong>/UFMA<br />

Apoio:<br />

Gráfica da UFMA<br />

Contato:<br />

e-mails:<br />

marcoaurelio.musica@ufma.br<br />

gepesufma@yahoogrupos.com.br<br />

REVISTA DO GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM ECOLOGIA SONORA <strong>GEPES</strong>/UFMA Nº02 ANO 01/2011<br />

6<br />

http://br.groups.yahoo.com/group/gepesufma

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