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Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito

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Uma noite esquecida ou a feiticeira Manouza<br />

Um dia, anunciou que nos daria um romance de sua autoria, e, com efeito, algum tempo<br />

depois, começou um relato cujo início muito prometia; o assunto era druídico e a cena se<br />

passava na Armorique ao tempo da <strong>do</strong>minação romana; infelizmente, parece que se assustou<br />

com a tarefa que empreendeu, porque, é preciso dizê-lo bem, um trabalho assíduo não era<br />

seu forte, e ele confessava que se comprazia, com o maior bom gra<strong>do</strong>, na preguiça. Depois<br />

de algumas páginas ditadas, aí deixou seu romance, mas anunciou que nos escreveria um<br />

outro, que lhe desse menos trabalho: foi então que escreveu o conto <strong>do</strong> qual começamos a<br />

publicação. Mais de trinta pessoas assistiram a essa produção e podem atestar-lhe a origem.<br />

Não a damos como obra de uma alta importância filosófica, mas como uma curiosa amostra<br />

de um trabalho de longo fôlego obti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s. Notar-se-á como tu<strong>do</strong> nele tem<br />

seqüência, como tu<strong>do</strong> se encadeia com uma arte admirável. O que há de mais extraordinário,<br />

é que esse relato reprisou-se cinco ou seis vezes diferentes, e freqüentemente depois de<br />

interrupções de duas a três semanas; ora, a cada reprise, o relato se seguia como se fora<br />

escrito de um golpe, sem riscos, sem retorno e sem que houvesse necessidade de lembrar o<br />

que havia precedi<strong>do</strong>. Damo-lo tal como saiu <strong>do</strong> lápis <strong>do</strong> médium, sem mudar nada, nem no<br />

estilo, nem nas idéias, nem no encadeamento <strong>do</strong>s fatos. Algumas repetições de palavras, e<br />

alguns pequenos peca<strong>do</strong>s de ortografia ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> assinala<strong>do</strong>s, Soulié nos encarregou<br />

pessoalmente de retificá-los, dizen<strong>do</strong> que nos assistiria nisso; quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> terminou, ele quis<br />

rever o conjunto, ao qual não fez senão algumas retificações sem importância, e dar<br />

autorização de publicar como se o entendesse, fazen<strong>do</strong>, disse ele, de bom gra<strong>do</strong> a renuncia<br />

de seus direitos de autor. Todavia, consideramos não dever inseri-lo em nossa <strong>Revista</strong> sem o<br />

consentimento formal de seu amigo póstumo, a quem pertencia o direito, uma vez que em<br />

sua presença e por sua solicitação éramos deve<strong>do</strong>res dessa produção de além-túmulo. O<br />

título foi da<strong>do</strong> pelo próprio <strong>Espírito</strong> de Frédéric Soulié. A.K.<br />

UMA NOITE ESQUECIDA<br />

Havia, em Bagdá, uma mulher <strong>do</strong> tempo de Aladim; é a sua história que vou contar<br />

Num <strong>do</strong>s subúrbios de Bagdá morava, não longe <strong>do</strong> palácio da sultana Shéhérazad, uma<br />

velha mulher chamada Manouza. Essa velha era motivo de terror para toda a cidade, porque<br />

era feiticeira das mais apavorantes. Em sua casa, à noite, se passavam coisas tão<br />

assusta<strong>do</strong>ras que, logo que o sol se deitava, ninguém se arriscava passar diante de sua<br />

morada, a menos que fosse uma amante à procura de um filtro para uma senhora rebelde,<br />

ou uma mulher aban<strong>do</strong>nada em busca de um bálsamo para colocar sobre a ferida que seu<br />

amante lhe fizera, aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong>-a.<br />

Um dia, pois, em que o sultão estava mais triste que de hábito, e que a cidade estava numa<br />

grande desolação, porque ele queria que perecesse a sultana favorita, e que a seu exemplo<br />

to<strong>do</strong>s os mari<strong>do</strong>s eram infiéis, um jovem deixou uma magnífica habitação situada ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

palácio da sultana. Esse jovem trajava uma túnica e um turbante de cor sombria; mas sob<br />

essas simples vestes havia um grande ar de distinção. Procurava se esconder ao longo das<br />

casas, como gatuno, ou amante temeroso de ser surpreendi<strong>do</strong>. Dirigia seus passos para o<br />

la<strong>do</strong> de Manouza, a feiticeira. Uma viva ansiedade pintava sobre os seus traços, que<br />

mostravam a preocupação que o agitava. Atravessou as ruas, as praças com rapidez, e,<br />

todavia, com grande precaução.<br />

Chega<strong>do</strong> perto da porta, hesitou alguns minutos, depois decidiu bater. Durante um quarto de<br />

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/11i-uma-noite-esquecida.html (2 of 4)7/4/2004 08:17:25

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