Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Da pluralidade das existências<br />
1. Se a nossa existência atual, só ela deve decidir nossa sorte futura, qual é, na vida futura,<br />
a posição respectiva <strong>do</strong> selvagem e <strong>do</strong> homem civiliza<strong>do</strong>? Estão no mesmo nível, ou estão<br />
distantes da soma da felicidade eterna?<br />
2. O homem que trabalhou toda a sua vida, para se melhorar, está no mesmo grau que<br />
aquele que ficou inferior, não por sua falta, mas porque não teve nem o tempo, nem a<br />
possibilidade de se melhorar?<br />
3. O homem que fez mal, porque não pôde se esclarecer, é passível de um esta<strong>do</strong> de coisas<br />
que não dependeu dele?<br />
4. Trabalha-se para esclarecer os homens, moralizá-los, civilizá-los; mas para um que se<br />
esclarece, há milhões que morrem cada dia antes que a luz tenha vin<strong>do</strong> até eles; qual é a<br />
sorte destes? São trata<strong>do</strong>s como condena<strong>do</strong>s? Em caso contrário, que fizeram para merecer<br />
estarem na mesma classe que os outros?<br />
5. Qual é a sorte das crianças que morrem em tenra idade, antes de terem podi<strong>do</strong> fazer nem<br />
bem nem mal? Se estão entre os eleitos, por que esse favor sem nada terem feito para<br />
merecê-lo? Por qual privilégio estão isentas das tribulações da vida?<br />
Há uma <strong>do</strong>utrina que possa resolver essas questões? Admitamos as existências consecutivas,<br />
e tu<strong>do</strong> estará explica<strong>do</strong> de conformidade com a justiça de Deus. O que não se pôde fazer<br />
numa existência, far-se-á numa outra; assim é que ninguém escapa à lei <strong>do</strong> progresso, que<br />
cada um será recompensa<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> o seu mérito real, e que ninguém está excluí<strong>do</strong> da<br />
felicidade suprema, à qual pode pretender, quaisquer que sejam os obstáculos que haja<br />
encontra<strong>do</strong> em seu caminho.<br />
Essas questões poderiam ser multiplicadas ao infinito, porque os problemas psicológicos e<br />
morais que não encontram sua solução senão na pluralidade das existências, são<br />
inumeráveis; limitamo-nos aos mais gerais. Qualquer que seja, dir-se-á talvez, a <strong>do</strong>utrina da<br />
reencarnação não é admitida pela Igreja; isso seria, pois, o desmoronamento da religião.<br />
Nosso objetivo não é tratar essa questão nesse momento; basta-nos haver demonstra<strong>do</strong> que<br />
ela é eminentemente moral e racional. Mais tarde, mostraremos que a religião, talvez, dela<br />
esteja menos distante que se pensa, e que com ela não sofreria mais, <strong>do</strong> que sofreu com a<br />
descoberta <strong>do</strong> movimento da Terra e <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s geológicos que, à primeira vista,<br />
pareceram dar um desmenti<strong>do</strong> aos textos sagra<strong>do</strong>s. O ensino <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s é eminentemente<br />
cristão; apóia-se sobre a imortalidade da alma, as penas e as recompensas futuras, o livre<br />
arbítrio <strong>do</strong> homem, a moral <strong>do</strong> Cristo; portanto, não é anti-religiosa.<br />
Raciocinamos, como dissemos, abstração feita de to<strong>do</strong> ensino espírita que, para certas<br />
pessoas não é uma autoridade. Se nós, e tantos outros, a<strong>do</strong>tamos a opinião da pluralidade<br />
das existências, não foi somente porque ela nos veio <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s, mas porque nos pareceu a<br />
mais lógica, e que só ela resolve as questões até agora insolúveis. Se nos viesse de um<br />
simples mortal e a a<strong>do</strong>taríamos <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, e não hesitaríamos antes em renunciar às<br />
nossas próprias idéias; <strong>do</strong> momento em que um erro é demonstra<strong>do</strong>, o amor-próprio tem<br />
mais a perder <strong>do</strong> que a ganhar obstinan<strong>do</strong>-se numa idéia falsa. Do mesmo mo<strong>do</strong>, teríamos<br />
repeli<strong>do</strong>, embora vinda <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s, se ela nos parecesse contrária à razão, como as<br />
repelimos muitas outras, porque sabemos, por experiência, que não é preciso aceitar<br />
cegamente tu<strong>do</strong> o que vem de sua parte, não mais <strong>do</strong> que vem da parte <strong>do</strong>s homens. Restanos,<br />
pois, a examinar a questão da pluralidade das existências <strong>do</strong> ponto de vista <strong>do</strong> ensino<br />
<strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s, de qual maneira se deve entendê-la, e responder, enfim, às objeções mais<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/11b-da-pluralidade-das-existencias.html (5 of 6)7/4/2004 08:17:01