Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Da pluralidade das existências<br />
3. De onde vêm, nuns, as idéias inatas ou intuitivas que não existem noutros?<br />
4. De onde vêm, em certas crianças, esses instintos precoces de vícios ou de virtudes, esses<br />
sentimentos inatos de dignidade ou de baixeza que contrastam com o meio no qual<br />
nasceram?<br />
5. Por que certos homens, abstração feita da educação, são mais avança<strong>do</strong>s uns <strong>do</strong> que<br />
outros?<br />
6. Por que há selvagens e homens civiliza<strong>do</strong>s? Se tomardes uma criança hotentote<br />
amamentada, e a levardes aos nossos liceus mais renoma<strong>do</strong>s, jamais fareis dela um Laplace<br />
ou um Newton?<br />
Perguntamos qual é a filosofia ou a teosofia que pode resolver esses problemas? Ou as<br />
almas, em seu nascimento, são iguais, ou elas são desiguais, isso não é duvi<strong>do</strong>so. Se são<br />
iguais, por que essas aptidões tão diferentes? Dir-se-á que isso depende <strong>do</strong> organismo? Mas,<br />
então, é a <strong>do</strong>utrina mais monstruosa e mais imoral. O homem não é mais que uma máquina,<br />
o joguete da matéria; não tem mais a responsabilidade de seus atos; pode tu<strong>do</strong> lançar sobre<br />
suas imperfeições físicas. Se elas são desiguais, foi porque Deus as criou assim; mas, então,<br />
por que essa superioridade inata concedida a alguns? Essa parcialidade está conforme a<br />
justiça de Deus e o igual amor que dá a todas as suas criaturas?<br />
Admitamos, ao contrário, uma sucessão de existências anteriores progressivas, e tu<strong>do</strong> estará<br />
explica<strong>do</strong>. Os homens trazem, ao nascer, a intuição <strong>do</strong> que adquiriram; são mais ou menos<br />
avança<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> o número de existências que percorreram, segun<strong>do</strong> estejam mais ou<br />
menos distantes <strong>do</strong> ponto de partida: absolutamente como, em uma reunião de indivíduos de<br />
todas as idades, cada um terá um desenvolvimento proporcional ao número de anos que<br />
viveu; as existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a vida <strong>do</strong><br />
corpo. Concentrai, um dia, mil indivíduos, desde um ano até oitenta; suponde que um véu<br />
seja lança<strong>do</strong> sobre to<strong>do</strong>s os dias que precederam, e que, em vossa ignorância, credes assim<br />
to<strong>do</strong>s nasci<strong>do</strong>s no mesmo dia: perguntar-vos-eis, naturalmente, como ocorre que uns sejam<br />
grandes e outros pequenos, uns velhos e os outros jovens, uns instruí<strong>do</strong>s e os outros ainda<br />
ignorantes; mas se a nuvem que vos esconde o passa<strong>do</strong> vem a se levantar, se aprendeis que<br />
to<strong>do</strong>s viveram mais ou menos tempo, tu<strong>do</strong> vos será explica<strong>do</strong>. Deus, em sua justiça, não<br />
pôde criar almas mais ou menos perfeitas; mas, com a pluralidade das existências, a<br />
desigualdade que vedes nada mais tem de contrário à eqüidade mais rigorosa: é que nós não<br />
vemos senão o presente, e não o passa<strong>do</strong>. Esse raciocínio repousa sobre um sistema, uma<br />
suposição gratuita? Não; partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade das<br />
aptidões e <strong>do</strong> desenvolvimento intelectual e moral, e encontramos esse fato inexplicável por<br />
todas as teorias em curso, ao passo que a sua explicação é simples, natural, lógica, por uma<br />
outra teoria. É racional preferir a que não explica à que explica?<br />
Com respeito à sexta pergunta, sem dúvida, dir-se-á que o Hotentote é de uma raça inferior:<br />
então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus<br />
deser<strong>do</strong>u, a ele e à sua raça, <strong>do</strong>s privilégios concedi<strong>do</strong>s à raça caucásica? Se não é um<br />
homem, por que procurar fazê-lo cristão? A Doutrina <strong>Espírita</strong> é mais ampla que tu<strong>do</strong> isso; por<br />
ela, não há várias espécies de homens, não há senão homens cujo espírito está mais ou<br />
menos atrasa<strong>do</strong>, mais suscetível de progredir: isso não está mais conforme à justiça de Deus?<br />
Acabamos de ver a alma em seu passa<strong>do</strong> e em seu presente; se a considerarmos em seu<br />
futuro, encontraremos as mesmas dificuldades.<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/11b-da-pluralidade-das-existencias.html (4 of 6)7/4/2004 08:17:01