Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Obseda<strong>do</strong>s e subjuga<strong>do</strong>s<br />
Certas pessoas deploram que haja <strong>Espírito</strong>s maus. Com efeito, não é sem um certo<br />
desencantamento que se encontra a perversidade nesse mun<strong>do</strong>, onde não se gostaria de<br />
encontrar senão seres perfeitos. Uma vez que as coisas são assim, nada podemos: é preciso<br />
tomá-las tais como são. É nossa própria inferioridade que faz com que os <strong>Espírito</strong>s<br />
imperfeitos pululem ao nosso re<strong>do</strong>r; as coisas mudarão quan<strong>do</strong> formos melhores, assim como<br />
ocorre nos mun<strong>do</strong>s mais avança<strong>do</strong>s. À espera disso, enquanto estamos ainda no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
universo moral, somos adverti<strong>do</strong>s: compete a nós colocarmo-nos em guarda e não aceitar,<br />
sem controle, tu<strong>do</strong> o que se nos diz. A experiência, esclarecen<strong>do</strong>-nos, deve tornar-nos<br />
circunspectos. Ver e compreender o mal é um meio de se preservar dele. Não haveria cem<br />
vezes mais perigo em se iludir sobre a natureza <strong>do</strong>s seres invisíveis que nos cercam? Ocorre<br />
o mesmo nesse mun<strong>do</strong>, onde, cada dia, estamos expostos à malevolência e às sugestões<br />
pérfidas: essas são tantas outras provas às quais nossa razão, nossa consciência e nosso<br />
julgamento nos dão os meios para resistir. Quanto mais a luta for difícil, maior será o mérito<br />
pelo sucesso: "Vencen<strong>do</strong> sem perigo, triunfa-se sem glória."<br />
Essa história que, infelizmente, não é a única <strong>do</strong> nosso conhecimento, levanta uma questão<br />
muito grave. Não foi, para esse homem jovem, dir-se-á, uma coisa deplorável ser médium?<br />
Não foi essa faculdade que lhe causou a obsessão da qual era objeto? Em uma palavra, não é<br />
uma prova <strong>do</strong> perigo das comunicações espíritas?<br />
Nossa resposta é fácil, e pedimos meditá-la com cuida<strong>do</strong>.<br />
Não foram os médiuns que criaram os <strong>Espírito</strong>s, estes existem de to<strong>do</strong>s os tempos, e em<br />
to<strong>do</strong>s os tempos exerceram sua influência, salutar ou perniciosa, sobre os homens. Não há,<br />
pois, a necessidade de ser médium para isso. A faculdade medianímica, para eles, não é<br />
senão um meio de se manifestarem; à falta dessa faculdade, fazem-no de mil outras<br />
maneiras. Se esse jovem não fosse médium, não estaria menos sobre a influência desse mau<br />
<strong>Espírito</strong> que, sem dúvida, tê-lo-ia feito cometer extravagâncias que não se poderiam atribuir<br />
a qualquer outra causa. Felizmente para ele, a sua faculdade de médium, permitin<strong>do</strong> ao<br />
<strong>Espírito</strong> se comunicar por palavras, foi por essas palavras que o <strong>Espírito</strong> se traiu; elas<br />
permitiram conhecer a causa <strong>do</strong> mal que poderia ter si<strong>do</strong>, para ele, de conseqüências<br />
funestas, e que destruímos, como se viu, por meios bem simples, bem racionais, e sem<br />
exorcismo. A faculdade mediúnica permitiu ver o inimigo, se assim se pode dizer, face a face,<br />
e combatê-lo com as suas próprias armas. Pode-se, pois, com inteira certeza, dizer que ela o<br />
salvou; quanto a nós, não fomos senão os médicos que, julgan<strong>do</strong> a causa <strong>do</strong> mal, aplicamos<br />
o remédio. Seria um grave erro crer que os <strong>Espírito</strong>s não exercem sua influência senão pelas<br />
comunicações escritas ou verbais; essa influência é de to<strong>do</strong>s os instantes, e aqueles que não<br />
crêem nos <strong>Espírito</strong>s a ela estão expostos como os outros, e mesmo mais expostos que os<br />
outros, porque não têm contrapeso. A quantos atos não se é compeli<strong>do</strong>, para sua infelicidade,<br />
e que se teria evita<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> um meio de se esclarecer! Os mais incrédulos não crêem ser tão<br />
verdadeiros quan<strong>do</strong> dizem, de um homem, que se engana com obstinação: São maus gênios<br />
que o empurram para a sua perdição.<br />
Regra geral. Quem tem más comunicações espíritas, escritas ou verbais, está sob uma<br />
influência má; essa influência se exerce sobre ele, quer escreva ou não escreva, quer dizer,<br />
quer seja ou não médium. A escrita dá um meio de se assegurar da natureza <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s<br />
que atuam sobre ele, e de combatê-los, o que se faz, ainda, com mais sucesso, quan<strong>do</strong> se<br />
chega a conhecer o motivo que os faz agir. Se é bastante cego para não compreendê-lo,<br />
outros podem abrir-lhe os olhos. Aliás, é necessário ser médium para escrever absur<strong>do</strong>s? E<br />
quem diz que, entre todas as elocubrações ridículas ou perigosas, não há aquelas cujos<br />
autores são impeli<strong>do</strong>s por algum <strong>Espírito</strong> malevolente? As três quartas partes de nossas más<br />
ações e de nossos maus pensamentos são o fruto dessa sugestão oculta.<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/10a-obseda<strong>do</strong>s-e-subjuga<strong>do</strong>s.html (7 of 9)7/4/2004 08:16:31