Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Obseda<strong>do</strong>s e subjuga<strong>do</strong>s<br />
Obseda<strong>do</strong>s e subjuga<strong>do</strong>s<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Espírita</strong>, outubro de <strong>1858</strong><br />
Freqüentemente, se tem fala<strong>do</strong> <strong>do</strong>s perigos <strong>do</strong> Espiritismo, e é de notar-se que aqueles que<br />
mais protestam a esse respeito são precisamente os que o conhecem pouco, quase só de<br />
nome. Já refutamos os principais argumentos que lhe são opostos, e não voltaremos a eles;<br />
acrescentaremos somente que queren<strong>do</strong>-se proscrever da sociedade tu<strong>do</strong> o que pode<br />
oferecer perigo e dar lugar a abusos, não sabemos o que restaria, mesmo das coisas de<br />
primeira necessidade, a começar pelo fogo, causa de tantas infelicidades, depois as estradas<br />
de ferro, etc., etc. Cren<strong>do</strong>-se que as vantagens compensam os inconvenientes, deve ser a<br />
mesma coisa em tu<strong>do</strong>; a experiência indica, sucessivamente, as precauções a tomar para se<br />
garantir quanto ao perigo das coisas que não se podem evitar.<br />
O Espiritismo apresenta, com efeito, um perigo real, mas não é aquele que se crê, é preciso<br />
estar inicia<strong>do</strong> nos princípios da ciência para bem compreender. Não é somente àqueles que<br />
lhe são estranhos que nos dirigimos; é aos próprios adeptos, aqueles que o praticam, porque<br />
o perigo é para eles. Importa que o conheçam, a fim que se mantenham em guarda: perigo<br />
previsto, sabe-se, é a metade evitada. Diremos mais: aqui, para quem está bem<br />
compenetra<strong>do</strong> da ciência, ele não existe; não existe senão para aqueles que crêem saber e<br />
não sabem; quer dizer, como em todas as coisas, para aqueles a quem falta a experiência<br />
necessária.<br />
Um desejo bem natural, em to<strong>do</strong>s aqueles que começam a se ocupar <strong>do</strong> Espiritismo, é de ser<br />
médium, mas sobretu<strong>do</strong>, médium escrevente. Com efeito, é o gênero que oferece mais<br />
atrativo pela facilidade das comunicações, e que pode melhor se desenvolver pelo exercício.<br />
Compreende-se a satisfação que deve experimentar aquele que, pela primeira vez, vê serem<br />
formadas, sob sua mão, as letras, depois as palavras, depois as frases que respondem ao seu<br />
pensamento.<br />
Essas respostas que traça maquinalmente, sem saber o que faz, que estão, o mais<br />
freqüentemente, fora de todas as suas idéias pessoais, não podem deixar-lhe nenhuma<br />
dúvida sobre a intervenção de uma inteligência oculta; também sua alegria é grande em<br />
poder conversar com os seres de além-túmulo, com esses seres misteriosos e invisíveis que<br />
povoam os espaços; seus parentes e seus amigos não estão mais ausentes; se não os vê<br />
pelos olhos, não deixam de estar ali; falam com ele, os vê pelo pensamento; pode saber se<br />
são felizes, o que fazem, o que desejam, trocar com eles boas palavras; compreende que sua<br />
separação não é eterna, e acelera com seus votos o instante em que poderá reunir-se a eles<br />
num mun<strong>do</strong> melhor. Isso não é tu<strong>do</strong>; quanto não vai saber por meio <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s que se<br />
comunicam por ele! Não vão levantar o véu de todas as coisas? Desde logo, nada mais de<br />
mistérios; não tem senão de interrogar, vai tu<strong>do</strong> conhecer. Já vê a antigüidade sacudir,<br />
diante dele, a poeira <strong>do</strong>s tempos, remexer as ruínas, interpretar as escrituras simbólicas e<br />
fazer reviver, aos seus olhos, os séculos passa<strong>do</strong>s. Este, mais prosaico, e pouco cuida<strong>do</strong>so<br />
em sondar o infinito onde seu pensamento se perde, sonha, muito simplesmente, explorar os<br />
<strong>Espírito</strong>s para fazer fortuna. Os <strong>Espírito</strong>s que devem tu<strong>do</strong> ver, tu<strong>do</strong> saber, não podem recusar<br />
fazer-lhe descobrir algum tesouro oculto ou algum segre<strong>do</strong> maravilhoso. Quem se deu ao<br />
trabalho de estudar a ciência espírita, jamais se deixará seduzir por esses belos sonhos; sabe<br />
a que se prender sobre o poder <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s, sobre sua natureza e sobre o objetivo das<br />
relações que o homem pode estabelecer com eles. Lembraremos, primeiro, em poucas<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/10a-obseda<strong>do</strong>s-e-subjuga<strong>do</strong>s.html (1 of 9)7/4/2004 08:16:31