Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Uma advertência de além-túmulo<br />
Um sonho! devo me inquietar com um sonho!<br />
Violentou seu coração e não escutan<strong>do</strong> senão sua razão, fechou sua valise e continuou sua<br />
viagem.<br />
"À tarde, ele chegou a sua nova etapa e se deteve para passar a noite em uma estalagem.<br />
Mas, apenas havia fecha<strong>do</strong> os olhos, o espectro lhe apareceu uma segunda vez, triste e<br />
quase ameaça<strong>do</strong>r.<br />
"- Eu me admiro e me aflijo, disse o fantasma, dever um homem como tu se perjurar e faltar<br />
ao seu dever. Esperava mais de tua lealdade, meu corpo está insepulto, meus assassinos<br />
vivem em paz. Amigo, minha vingança está em tua mão; em nome da honra, eu te intimo a<br />
retornar sobre teus passos.<br />
"O senhor de S... passou o resto da noite numa grande agitação; chegou o dia, teve<br />
vergonha de seu me<strong>do</strong> e continuou sua viagem.<br />
"À tarde, terceira parada, terceira aparição. Desta vez, o fantasma estava mais lívi<strong>do</strong> e mais<br />
terrível; um sorriso amargo errava sobre seus lábios brancos; falou com uma voz rude:<br />
"Parece que te julguei mal: parece que teu coração, como o <strong>do</strong>s outros, é insensível aos<br />
pedi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s infortuna<strong>do</strong>s. Uma última vez venho invocar tua ajuda e apelar à tua<br />
generosidade. Retorne a X..., vinga-me, ou seja maldito.<br />
"Desta vez, o senhor de S... não deliberou mais: voltou atrás até a estalagem suspeita onde<br />
havia passa<strong>do</strong> a primeira de suas noites lúgubres. Foi à casa <strong>do</strong> magistra<strong>do</strong>, e pediu <strong>do</strong>is<br />
solda<strong>do</strong>s. À sua vista, à vista <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is solda<strong>do</strong>s, os assassinos empalideceram, e confessaram<br />
seu crime, como se uma força superior lhes arrancasse essa confissão fatal.<br />
"Seu processo se instruiu rapidamente, e eles foram condena<strong>do</strong>s à morte. Quanto ao pobre<br />
oficial, cujo cadáver se encontrou sob o monte de lixo, à direita, no fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> galinheiro, foi<br />
sepulta<strong>do</strong> em terra santa e os sacer<strong>do</strong>tes oraram pelo repouso de sua alma.<br />
"Ten<strong>do</strong> cumpri<strong>do</strong> sua missão, o senhor de S... se apressou em deixar o país e correu para os<br />
Alpes sem olhar para trás.<br />
"A primeira vez que ele repousou em um leito, o fantasma se dirige ainda diante de seus<br />
olhos, não mais bravo e irrita<strong>do</strong>, mas <strong>do</strong>ce e benevolente.<br />
"- Obriga<strong>do</strong>, disse ele, obriga<strong>do</strong>, irmão. Quero reconhecer o serviço que me prestaste:<br />
mostrar-me-ei a ti uma vez ainda, uma só; duas horas antes de tua morte, virei advertir-te.<br />
Adeus.<br />
"O senhor de S... tinha então ao re<strong>do</strong>r de trinta anos; durante trinta anos, nenhuma visão<br />
veio perturbar a quietude de sua vida. Mas em 182..., dia 14 de agosto, véspera da festa de<br />
Napoleão, o senhor de S..., que permanecera fiel ao parti<strong>do</strong> bonapartista, reuniu num grande<br />
jantar uma vintena de antigos solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Império. A festa estava muito alegre; o anfitrião,<br />
se bem que velho, todavia, estava bem conserva<strong>do</strong> e bem. Estava no salão e tomava-se o<br />
café.<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/09c-uma-advertencia.html (2 of 4)7/4/2004 08:16:11