Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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As habitações <strong>do</strong> planeta Júpiter<br />
muitas coisas."<br />
A grande janela da direita apresenta um exemplo de gênero de ornamentação, uma de suas<br />
bordas não é outra coisa senão um caniço enorme <strong>do</strong> qual se conservaram as folhas. Ocorre<br />
o mesmo com o coroamento da janela principal, que apresenta a forma de claves de sol: são<br />
plantas sarmentosas enlaçadas e petrificadas. E por esse procedimento que eles obtêm a<br />
maioria <strong>do</strong>s coroamentos de edifícios, de grades, de balaústres, etc. Freqüentemente mesmo,<br />
a planta é colocada na parede, com suas raízes, em condições de crescer livremente. Ela<br />
cresce, se desenvolve; suas folhas desabrocham ao acaso, e o artista não a congela no lugar<br />
senão quan<strong>do</strong> adquiriu to<strong>do</strong> o desenvolvimento deseja<strong>do</strong> para a ornamentação <strong>do</strong> edifício: a<br />
casa de Palissy é quase inteiramente decorada desse mo<strong>do</strong>.<br />
Destinada primeiro unicamente aos móveis, depois às molduras de portas e de janelas, esse<br />
gênero de ornamento se aperfeiçoou pouco a pouco e acabou por invadir toda a arquitetura.<br />
Hoje, não são apenas a flor e o arbusto que se petrificam no esta<strong>do</strong>, mas a própria árvore da<br />
raiz ao topo; e os palácios, como os edifícios sagra<strong>do</strong>s quase nada mais têm de outras<br />
colônias.<br />
Uma petrificação da mesma natureza serve também para a decoração das janelas. De flores<br />
ou de folhas muito amplas, são habilmente despojadas de sua parte carnuda: não resta mais<br />
<strong>do</strong> que uma rede de fibras, tão fina quanto a mais fina musselina. E cristalizada, e dessas<br />
folhas unidas com arte, constrói-se toda uma janela, que não deixa filtrar, para o interior,<br />
senão uma luz muito <strong>do</strong>ce: ou bem as reveste com uma espécie de vidro líqui<strong>do</strong> e colori<strong>do</strong><br />
com todas as nuanças, que se endurece no ar e que transforma a folha em uma espécie de<br />
vidraça. Do conjunto dessas folhas resultam, para janelas, encanta<strong>do</strong>res bosquezinhos<br />
transparentes e luminosos.<br />
Quanto à própria duração dessas aberturas, e a mil outros detalhes que podem surpreender<br />
ao primeiro contato, sou força<strong>do</strong> a adiar-lhes a explicação: a história da arquitetura em<br />
Júpiter exigiria um volume inteiro. Renuncio igualmente a falar <strong>do</strong> mobiliário, para não me<br />
ater aqui senão à disposição geral da casa.<br />
O leitor deve ter compreendi<strong>do</strong>, depois de tu<strong>do</strong> o que precede, que a casa <strong>do</strong> continente não<br />
deve ser, para o <strong>Espírito</strong> senão uma espécie de pequena casa de passagem. A cidade baixa<br />
não é quase freqüentada senão por <strong>Espírito</strong>s de segunda ordem, encarrega<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s interesses<br />
planetários, da agricultura, por exemplo, ou das trocas, e da boa ordem a manter entre os<br />
servi<strong>do</strong>res. Também todas as casas que repousam sobre o solo, geralmente, não têm senão<br />
um térreo e um andar: um destina<strong>do</strong> aos <strong>Espírito</strong>s que agem sob a direção <strong>do</strong> senhor, e<br />
acessível aos animais; o outro, reserva<strong>do</strong> só ao <strong>Espírito</strong>, que nele não mora senão por<br />
ocasião. É isso que explica por que vemos, nas várias casas de Júpiter, nesta por exemplo, e<br />
na de Zoroastro, uma escada e mesmo uma rampa. Aquele que rasa a água como uma<br />
an<strong>do</strong>rinha, e que pode correr sobre as hastes de trigo sem curvá-las, dispensa muito bem<br />
escada e rampa para entrar em sua casa; mas os <strong>Espírito</strong>s inferiores não têm o vôo tão fácil:<br />
não se elevam senão pela agitação, e a rampa não lhes é sempre inútil. Enfim, a escada é<br />
absoluta necessidade para os animais serviçais, que não caminham senão como nós. Estes<br />
últimos têm também seus compartimentos, muito elegantes, de resto, que fazem parte de<br />
todas as grandes habitações; mas suas funções os chamam, constantemente, à casa <strong>do</strong><br />
senhor: é preciso facilitar-lhes a entrada e o percurso interior. Daí essas construções<br />
bizarras, que, pela base, assemelham-se ainda aos nossos edifícios terrestres, e que deles<br />
diferem absolutamente pelo vértice.<br />
Este se distingue, sobretu<strong>do</strong>, por uma originalidade que seríamos incapazes de imitar. É uma<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/08e-as-habitacoes.html (6 of 8)7/4/2004 08:16:00