Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Contradições na linguagem <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s<br />
sem limites.<br />
A primeira fonte de contradições está, pois, no grau <strong>do</strong> desenvolvimento intelectual e moral<br />
<strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s; mas está também em outras sobre as quais é útil chamar a atenção.<br />
Passamos, dir-se-á, sobre a questão <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s inferiores; uma vez que assim é,<br />
compreende-se que possam se enganar por ignorância. Mas, como ocorre que <strong>Espírito</strong>s<br />
superiores estejam em dissidência? Que tenham, em um país, uma linguagem diferente<br />
daquela que têm em outro? Que o mesmo <strong>Espírito</strong>, enfim, não esteja sempre de acor<strong>do</strong><br />
consigo mesmo?<br />
A resposta a esta pergunta repousa sobre o conhecimento completo da ciência espírita, e<br />
essa ciência não se pode ensinar com algumas palavras, porque ela é tão vasta quanto todas<br />
as ciências filosóficas. Não é ela adquirida, como to<strong>do</strong>s os outros ramos <strong>do</strong> conhecimento<br />
humano, senão pelo estu<strong>do</strong> e a observação. Não podemos repetir aqui tu<strong>do</strong> o que publicamos<br />
sobre este assunto; a ele remetemos, pois, nossos leitores, limitan<strong>do</strong>-nos a um simples<br />
resumo. Todas essas dificuldades desaparecem para quem lança, sobre esse terreno, um<br />
olhar investiga<strong>do</strong>r e sem prevenção.<br />
Os fatos provam que os <strong>Espírito</strong>s impostores se vestem, sem escrúpulo, de nomes<br />
reverencia<strong>do</strong>s para melhor recomendar suas torpezas, o que se faz, também algumas vezes,<br />
mesmo entre nós. Do fato de que um <strong>Espírito</strong> se apresente sob um nome qualquer, isso não<br />
é razão para que seja realmente quem pretende ser mas há, na linguagem <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s<br />
sérios, um cunho de dignidade com o qual não se poderia equivocar: ela não respira senão a<br />
bondade e a benevolência, e jamais se desmente. A <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s impostores, ao contrário,<br />
por algum verniz que a enfeite, deixa sempre, como se diz vulgarmente, adivinhar seu<br />
verdadeiro caráter. Não há, pois, nada de espantoso que, "sob nomes usurpa<strong>do</strong>s, <strong>Espírito</strong>s<br />
inferiores ensinem coisas disparatadas. Cabe ao observa<strong>do</strong>r procurar conhecer a verdade, e<br />
poderá, sem dificuldade, se quiser se compenetrar <strong>do</strong> que dissemos a esse respeito em nossa<br />
Instrução Prática (hoje O Livro <strong>do</strong>s Médiuns).<br />
Esses mesmos <strong>Espírito</strong>s lisonjeiam em geral os gostos e as inclinações das pessoas que<br />
sabem de caráter bastante fraco e bastante crédulo para escutá-los; fazem ecos de seus<br />
preconceitos e mesmo de suas idéias supersticiosas, e isso por razão muito simples, que é de<br />
que os <strong>Espírito</strong>s são atraí<strong>do</strong>s por sua simpatia, pelo <strong>Espírito</strong> de pessoas que os chamam ou<br />
que os escutam com prazer.<br />
Quanto aos <strong>Espírito</strong>s sérios, igualmente, podem ter uma linguagem diferente segun<strong>do</strong> as<br />
pessoas, mas isso com outro objetivo. Quan<strong>do</strong> julgam útil, e para melhor convencerem,<br />
evitam chocar, muito bruscamente, as crenças enraizadas, e se exprimem segun<strong>do</strong> os<br />
tempos, os lugares e as pessoas. Por isso, nos dizem, "não falaremos a um chinês, ou a um<br />
maometano, como a um cristão ou ao um homem civiliza<strong>do</strong>, por que não seríamos por eles<br />
escuta<strong>do</strong>s. Podemos, pois, algumas vezes, parecer entrar na maneira de ver das pessoas,<br />
para conduzi-las, pouco a pouco, ao que queremos, quan<strong>do</strong> isso é possível sem alterar as<br />
verdades essenciais." Não é evidente que, se um <strong>Espírito</strong> quer levar um muçulmano fanático<br />
a praticar a sublime máxima <strong>do</strong> Evangelho: "não façais aos outros o que não gostaríeis que<br />
vos fosse feito," seria repeli<strong>do</strong> se dissesse que foi Jesus quem lhe ensinou? Ora, o que vale<br />
mais, deixar o muçulmano em fanatismo ou torná-lo bom dizen<strong>do</strong>-lhe, momentaneamente,<br />
crer que foi Alá quem falou? É um problema cuja solução deixamos ao julgamento <strong>do</strong> leitor.<br />
Quanto a nós, parece-nos que, uma vez toma<strong>do</strong>-o mais <strong>do</strong>ce e mais humano, ele será menos<br />
fanático e mais acessível à idéia de uma nova crença, <strong>do</strong> que se lhe fosse imposta pela força.<br />
Há verdades que, para serem aceitas, não podem ser lançadas à face sem reserva Quantos<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/08a-contradicoes.html (6 of 8)7/4/2004 08:15:50