Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Contradições na linguagem <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s<br />
Ninguém o quebra, mas limpa-o; então purgai, purgai, purgai até a extinção. Um terceiro,<br />
toman<strong>do</strong> a palavra: Senhores, vós, com vossas sangrias, matais os <strong>do</strong>entes; vós, com vossas<br />
purgações, os envenenais; a Natureza é mais sábia que nós; deixai-a fazer e esperemos. - É<br />
isso, replicam os <strong>do</strong>is primeiros, se matamos nossos <strong>do</strong>entes, vós, vós os deixais morrer. A<br />
disputa começa a esquentar quan<strong>do</strong> um quarto, toman<strong>do</strong> à parte um selenita, levan<strong>do</strong>-o à<br />
esquerda, lhe diz: Não os escuteis, são to<strong>do</strong>s ignorantes, verdadeiramente, não sei porque<br />
estão na Academia. Segui bem meu raciocínio: to<strong>do</strong> <strong>do</strong>ente é fraco; portanto, há<br />
enfraquecimento de órgãos; isso é a lógica pura, ou não a conheço; portanto, é preciso darlhe<br />
o tom; para isso não tenho senão um remédio: a água fria, a água fria e não saio daí. -<br />
Curais to<strong>do</strong>s os vossos <strong>do</strong>entes? - Sempre que a <strong>do</strong>ença não é mortal. - Com um<br />
procedimento tão infalível, estais, sem dúvida, na Academia? Coloquei-me três vezes entre<br />
eles. Pois bem! acreditais em mim? me repeliram sempre, esses pseu<strong>do</strong>-sábios, porque<br />
compreenderam que os teria pulveriza<strong>do</strong> com minha água fria. - Senhor selenita, disse um<br />
novo interlocultor, levan<strong>do</strong>-o à direita: vivemos numa atmosfera de eletricidade; a<br />
eletricidade é o verdadeiro princípio da vida; aumentan<strong>do</strong>-a quan<strong>do</strong> não é o bastante, tiran<strong>do</strong>a<br />
quan<strong>do</strong> há demais; neutralizar os flui<strong>do</strong>s contrários, uns pelos outros; eis to<strong>do</strong> o segre<strong>do</strong>.<br />
Com meus aparelhos faço maravilhas: lede meus anúncios e vereis!<br />
(1)((1) O leitor compreenderá que nossa critica não leva senão ao exagero em todas as<br />
coisas. Há de bom em tu<strong>do</strong>, o erro está no exclusivismo que o sábio judicioso sabe sempre<br />
evitar. Evitamos com to<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, confundir os verdadeiros sábios, com os quais a<br />
Humanidade se honra a justo titulo, com aqueles que exploram suas idéias sem<br />
discernimento; é daqueles que queremos falar. Nosso objetivo é unicamente demonstrar que<br />
a própria ciência oficial não está isenta de contradições.)<br />
- Não acabaríamos mais, se quiséssemos relacionar todas as teorias contrárias que foram,<br />
alternativamente, preconizadas sobre to<strong>do</strong>s os ramos <strong>do</strong> conhecimento humano, sem<br />
excetuar as ciências exatas; mas foi, sobretu<strong>do</strong>, nas ciências metafísicas que o campo foi<br />
aberto às <strong>do</strong>utrinas mais contraditórias. Quan<strong>do</strong> um homem de espírito e de juízo (por que<br />
não os haveria na Lua?) compara todas essas narrações incoerentes, delas tira esta<br />
conclusão muito lógica: que na Terra há países quentes e países frios; que, em certos<br />
continentes, os homens se entredevoram; que, em outros, matam aqueles que não pensam<br />
como eles, e tu<strong>do</strong> para a maior glória da sua divindade; que cada um, enfim, fala segun<strong>do</strong> os<br />
seus conhecimentos, e gaba as coisas <strong>do</strong> ponto de vista de suas paixões e de seus interesses.<br />
Em definitivo, que crera de preferência? Pela linguagem se reconhecerá, sem dificuldade, o<br />
verdadeiro sábio <strong>do</strong> ignorante, o homem sério <strong>do</strong> homem leviano, aquele que julgou daquele<br />
que raciocinou em falso; não confundirá mais os bons e os maus sentimentos, a elevação<br />
com a baixeza, o bem com o mal, e se dirá: Devo tu<strong>do</strong> ouvir, tu<strong>do</strong> escutar, porque na<br />
narração, mesmo <strong>do</strong> mais bruto, posso aprender alguma coisa; mas minha estima e minha<br />
confiança não a adquire senão aquele que delas se mostre digno. Se essa colônia terrena<br />
quer implantar seus costumes e seus usos na nova pátria, os sábios repelirão os conselhos<br />
que lhes parecerem perniciosos, e se confiarão àqueles que lhes pareçam os mais<br />
esclareci<strong>do</strong>s, em quem não vejam nem falsidade, nem mentiras, e nos quais, ao contrário,<br />
reconhecerão o amor sincero ao bem. Faríamos de outro mo<strong>do</strong> se uma colônia de selenitas<br />
viesse a se abater sobre a Terra? Pois bem! o que está da<strong>do</strong> aqui como uma suposição, é<br />
uma realidade com relação aos <strong>Espírito</strong>s que, se não vêm entre nós em carne e osso, não<br />
estão menos presentes de um mo<strong>do</strong> oculto, e nos transmitem os seus pensamentos pelos<br />
seus intérpretes, quer dizer, pelos médiuns. Quan<strong>do</strong> aprendermos a conhecê-los, os<br />
julgaremos pela sua linguagem, pelos seus princípios, e suas contradições nada mais terão<br />
que deva nós surpreender, porque veremos que uns são sábios e outros ignorantes; que<br />
alguns estão coloca<strong>do</strong>s muito baixo, ou são ainda muito materiais para compreenderem e<br />
apreciarem as coisas em uma ordem elevada; tal é o homem que, ao pé da montanha, não<br />
vê senão alguns passos de si, ao passo que aquele que está no cume descobre um horizonte<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/08a-contradicoes.html (5 of 8)7/4/2004 08:15:50