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Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito

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Contradições na linguagem <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s<br />

seus sofismas, nem mesmo às suas lisonjas; é o meio de afastar essa turba que pulula, sem<br />

cessar, ao nosso re<strong>do</strong>r, e que se afasta quan<strong>do</strong> não se sabe atrair, para si, senão <strong>Espírito</strong>s<br />

verdadeiramente bons e sérios, assim como fazemos com relação aos vivos. Esses seres<br />

ínfimos estarão sempre devota<strong>do</strong>s à ignorância e ao mal? - Não, porque essa parcialidade<br />

não estaria nem segun<strong>do</strong> a justiça, nem segun<strong>do</strong> a bondade <strong>do</strong> Cria<strong>do</strong>r, que proveu à<br />

existência e ao bem-estar <strong>do</strong> menor inseto. Por uma sucessão de existências, é que se<br />

elevam e se aproximam dele, em se melhoran<strong>do</strong>. Esses seres inferiores não conhecem Deus<br />

senão de nome; não o vêem e não o compreendem, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que o último <strong>do</strong>s<br />

camponeses, no fun<strong>do</strong> de suas urzes, não vê e não compreende o soberano que governa o<br />

país que habita.<br />

Se se estudar com cuida<strong>do</strong> o caráter de cada uma das classes de <strong>Espírito</strong>s, se conceberá,<br />

facilmente, como ocorre que sejam incapazes de nos fornecer notícias exatas sobre o esta<strong>do</strong><br />

de seu mun<strong>do</strong>. Consideran<strong>do</strong>-se, por outro la<strong>do</strong>, que há os que, por sua natureza, são<br />

levianos, mentirosos, zombeteiros, malfazejos, que outros estão, ainda, imbuí<strong>do</strong>s de idéias e<br />

de preconceitos terrestres, compreender-se-á que, em suas relações conosco, podem se<br />

divertir às nossas custas, induzir-nos conscientemente em erro por malícia, afirmar o que não<br />

sabem, dar-nos pérfi<strong>do</strong>s conselhos, ou mesmo se enganarem, de boa-fé, julgan<strong>do</strong> as coisas<br />

sob o seu ponto de vista. Citemos uma comparação.<br />

Suponhamos que uma colônia de habitantes da Terra encontre, um belo dia, o meio de ir se<br />

estabelecer na Lua; suponhamos essa colônia composta de diversos elementos da população<br />

<strong>do</strong> nosso globo, desde o Europeu mais civiliza<strong>do</strong> ao selvagem australiano. Eis, sem dúvida, os<br />

habitantes da Lua em grande comoção, arrebata<strong>do</strong>s em poderem obter, junto de seus novos<br />

habitantes, notícias precisas sobre o nosso planeta, que alguns supunham habita<strong>do</strong>, mas sem<br />

disso terem a certeza, porque entre eles também, há, sem dúvida, pessoas que se crêem os<br />

únicos seres <strong>do</strong> Universo. Escolhem-se os recém-chega<strong>do</strong>s, interrogam-nos, e os sábios se<br />

apressam em publicar a história física e moral da Terra. Como essa história não seria<br />

autêntica, uma vez que vão obtê-la de testemunhas oculares? Um deles recolhe em sua casa<br />

um Zelandês que lhe ensina que, neste mun<strong>do</strong>, é um banquete comer homens, e que Deus<br />

permite, uma vez que sacrificam as vítimas em sua honra. Com outro, é um moralista filósofo<br />

que lhe fala de Aristóteles e de Platão, e lhe diz que a antropofagia é uma abominação,<br />

condenada por todas as leis divinas e humanas. Aqui é um muçulmano que não come<br />

homens, mas que diz buscar sua salvação matan<strong>do</strong> o maior número possível de cristãos; aqui<br />

é um cristão que diz que Maomé é um impostor; mais longe, um Chinês, que trata to<strong>do</strong>s os<br />

outros de bárbaros, dizen<strong>do</strong> que, quan<strong>do</strong> há muitas crianças, Deus permite jogá-las no rio;<br />

um boêmio traça o quadro da vida dissoluta das capitais; um anacoreta prega a abstinência e<br />

as modificações; um faquir indiano se atormenta o corpo impon<strong>do</strong>-se, durante vários anos,<br />

para se abrir as portas <strong>do</strong> céu, sofrimentos perto <strong>do</strong>s quais as privações de nossos piores<br />

cenobitas constituem sensualidade. - Vem em seguida um bacharel e diz que é a Terra que<br />

gira e não o Sol; um camponês que diz que o bacharel é mentiroso porque ele vê o Sol se<br />

elevar e se pôr, um Senegalês diz que faz muito calor; um Esquimó, que o mar é uma<br />

planície de gelo e que não se viaja senão de trenó. A política não ficou atrás; uns gabam o<br />

regime absolutista; outros a liberdade; tal diz que a escravidão é contra à Natureza, e que<br />

to<strong>do</strong>s os homens são irmãos, filhos de Deus; tal outro, que as raças são feitas para a<br />

escravidão, e são bem mais felizes <strong>do</strong> que no esta<strong>do</strong> livre, etc. Creio os selenitas bem<br />

embaraça<strong>do</strong>s para comporem uma história física, política, moral e religiosa <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

terrestre, com semelhantes <strong>do</strong>cumentos. Talvez, pensam alguns, encontrarão mais unidade<br />

entre os sábios; interroguemos esse grupo de <strong>do</strong>utores. Ora, um deles, médico da Faculdade<br />

de Paris, centro das luzes, diz que todas as <strong>do</strong>enças têm por princípio um sangue vicia<strong>do</strong>, é<br />

preciso renová-lo, e, por isso, sangrar em qualquer esta<strong>do</strong> de causa. Estais em erro, meu<br />

sábio confrade, replica um segun<strong>do</strong>: o homem não tem nunca muito sangue; tirá-lo, é tirarlhe<br />

a vida; o sangue está vicia<strong>do</strong>, convenho; o que se faz quan<strong>do</strong> um vaso está sujo?<br />

http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/08a-contradicoes.html (4 of 8)7/4/2004 08:15:50

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