Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Contradições na linguagem <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s<br />
ver tu<strong>do</strong>; cada um viu de seu la<strong>do</strong> e se apressou em comunicar suas impressões sob seu<br />
ponto de vista, segun<strong>do</strong> suas idéias ou prevenções. Ora, não se sabe que, segun<strong>do</strong> o meio, o<br />
mesmo objeto pode parecer quente a um, ao passo que um outro o achará frio?<br />
Tomemos, ainda, uma outra comparação das coisas vulgares, pelo fato dela mesma parecer<br />
trivial, a fim de que compreendamos.<br />
Leu-se, ultimamente, em vários jornais: "O cogumelo tem uma produção das mais bizarras;<br />
delicioso ou mortal, microscópico ou de uma dimensão fenomenal, ele confunde, sem cessar,<br />
a observação <strong>do</strong> botânico. No túnel de Doncastre, tem um cogumelo que se desenvolve há<br />
<strong>do</strong>ze meses, e não parece ter atingi<strong>do</strong> sua última fase de crescimento; atualmente, mede 13<br />
pés de diâmetro. Chegou sobre uma peça de madeira; é considera<strong>do</strong> como o mais belo<br />
espécime de cogumelo que tem existi<strong>do</strong>. A classificação é difícil, porque as opiniões estão<br />
divididas." Assim, eis a ciência confundida pela chegada de um cogumelo que se apresenta<br />
sob um novo aspecto. Isso nos provocou a reflexão seguinte. Suponhamos vários naturalistas<br />
observan<strong>do</strong>, cada um de seu la<strong>do</strong>, uma variedade desse vegetal; um dirá que o cogumelo é<br />
um criptógamo comestível procura<strong>do</strong> pelos cozinheiros; um segun<strong>do</strong>, que é venenoso; um<br />
terceiro, que é invisível a olho nu; um quarto, que pode atingir até 45 pés de circunferência,<br />
etc.; são todas afirmativas contraditórias, antes de quaisquer outras, e pouco próprias para<br />
fixarem as idéias sobre a verdadeira natureza <strong>do</strong>s cogumelos. Depois, virá o quinto<br />
observa<strong>do</strong>r que reconhecerá a identidade <strong>do</strong>s caracteres gerais e mostrará que essas<br />
propriedades tão diversas não constituem, em realidade, senão variedades de subdivisões de<br />
uma mesma classe. Cada um tinha razão de seu ponto de vista; to<strong>do</strong>s estavam erra<strong>do</strong>s<br />
concluin<strong>do</strong> <strong>do</strong> particular para o geral, e por tomar a parte pelo to<strong>do</strong>.<br />
O mesmo ocorre com respeito aos <strong>Espírito</strong>s. São julga<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong> a natureza das relações<br />
que se teve com eles, onde de uns fizeram demônios, e de outros anjos. Depois, se apressou<br />
em explicar os fenômenos, antes de ser visto, e cada um o fez à sua maneira e,<br />
naturalmente, em tu<strong>do</strong> procuran<strong>do</strong> as causas <strong>do</strong> que se fazia objetos de suas preocupações;<br />
o magnetista tu<strong>do</strong> relacionou com a ação magnética, o físico com a ação elétrica, etc. A<br />
divergência de opiniões, em matéria de Espiritismo, vem, pois, de diferentes aspecto sob os<br />
quais foi considera<strong>do</strong>. De que la<strong>do</strong> está a verdade? É o que o futuro demonstrará; mas a<br />
tendência geral não poderia ser duvi<strong>do</strong>sa: um princípio <strong>do</strong>mina, evidentemente, e liga, pouco<br />
a pouco, os sistemas prematuros. Uma observação menos exclusiva os ligará to<strong>do</strong>s à fonte<br />
comum, e ce<strong>do</strong> se verá que, em definitivo, a divergência está mais no acessório <strong>do</strong> que no<br />
fun<strong>do</strong>.<br />
Compreende-se muito bem que os homens erijam teorias contrárias sobre as coisas; mas o<br />
que pode parecer mais singular, é que os próprios <strong>Espírito</strong>s possam se contradizer foi isso<br />
sobretu<strong>do</strong> que, desde início, lançou uma espécie de confusão nas idéias. As diferentes teorias<br />
espíritas têm, pois, duas fontes: umas desabrocharam nos cérebros humanos; as outras<br />
foram dadas pelos <strong>Espírito</strong>s. As primeiras emanaram de homens que, muito confiantes em<br />
suas próprias luzes, creram ter em mão a chave daquilo que procuram, ao passo que, o mais<br />
freqüentemente, não encontram senão uma chave mestra. Isso nada tem de surpreendente;<br />
mas que, entre os <strong>Espírito</strong>s, uns digam branco e outros negro, eis o que pareceria menos<br />
concebível, e que hoje é perfeitamente explica<strong>do</strong>. Fez-se, desde o princípio, uma idéia<br />
completamente falsa da natureza <strong>do</strong>s <strong>Espírito</strong>s. Foram figura<strong>do</strong>s como seres à parte, de uma<br />
natureza excepcional, nada ten<strong>do</strong> em comum com a matéria, e deven<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> saber. Eram,<br />
segun<strong>do</strong> a opinião pessoal, seres benfazejos ou malfazejos, uns ten<strong>do</strong> todas as virtudes, os<br />
outros, to<strong>do</strong>s os vícios, e to<strong>do</strong>s, em geral, uma ciência infinita, superior à da Humanidade. Na<br />
novidade das manifestações recentes, o primeiro pensamento que veio à maioria foi o de ver<br />
nisso um meio de penetrar em todas as coisas ocultas, um novo mo<strong>do</strong> de adivinhação menos<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/08a-contradicoes.html (2 of 8)7/4/2004 08:15:50