Revista Espírita - Primeiro Ano – 1858 - Portal do Espírito
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Confissão de Luís XI<br />
senhor. Toman<strong>do</strong> essa decisão, tinha mais chances de sucesso <strong>do</strong> que de insucesso. Para os<br />
príncipes, a morte <strong>do</strong> jovem duque de Guyenne deveria ser o resulta<strong>do</strong> de um equívoco ou de<br />
um acidente imprevisto. A morte da favorita, quan<strong>do</strong> mesmo se a pudesse imputar ao duque<br />
de Bretagne e aos seus co-interessa<strong>do</strong>s, teria passa<strong>do</strong> despercebida, por assim dizer, uma<br />
vez que ninguém teria podi<strong>do</strong> descobrir os motivos que lhe davam uma importância real sob<br />
o ponto de vista político.<br />
Admitin<strong>do</strong> que se pudesse acusá-los pela morte <strong>do</strong> meu irmão, eles se encontrariam no maior<br />
perigo, porque seria de meu dever castigá-los rigorosamente; sabiam que não seria a boa<br />
vontade que me faltaria e, nesse caso, os povos se voltariam contra eles; e o próprio duque<br />
de Bourgogne, estranho ao que se tramava em Guyenne, se teria visto força<strong>do</strong> a se aliar<br />
comigo, sob pena de se ver acusa<strong>do</strong> de cumplicidade. Mesmo nesta última hipótese, tu<strong>do</strong><br />
teria triunfa<strong>do</strong> na minha opinião; teria podi<strong>do</strong> fazer declarar Charles-le-Téméraire criminoso<br />
de lesa-majestade e fazê-lo condenar à morte pelo Parlamento, como mata<strong>do</strong>r de meu irmão.<br />
Essas espécies de condenações, feitas por esse corpo eleva<strong>do</strong>, tinham sempre grandes<br />
resulta<strong>do</strong>s, sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> eram de uma legitimidade incontestável.<br />
Vêem-se, sem dificuldade, quais os interesses que os príncipes tiveram para manejarem o<br />
abade; mas, em compensação, nada era mais fácil <strong>do</strong> que dele se desfazerem secretamente.<br />
Comigo, o abade de Saint-Jean teria ainda mais chances de impunidade. O serviço que me<br />
prestava era da última importância para mim, sobretu<strong>do</strong> nesse momento: a linha formidável<br />
que se formava e da qual o duque de Guyenne era o centro, deveria infalivelmente perderme;<br />
a morte de meu irmão, era o único meio de destruí-la e, por conseguinte, de me salvar.<br />
Ele ambicionava o favor de Tristan-l'Hermite, e pensava que chegaria por aí a se elevar acima<br />
dele, ou pelo menos partilhar minhas boas graças e minha confiança com ele. Aliás, os<br />
príncipes tinham cometi<strong>do</strong> a imprudência de deixar-lhe em mãos provas incontestáveis de<br />
sua culpabilidade: eram diferentes escritos; como estavam naturalmente concebi<strong>do</strong>s em<br />
termos muito vagos, não seria difícil substituir a pessoa de meu irmão pela de sua favorita,<br />
que não era designada senão em termos subentendi<strong>do</strong>s. Entregan<strong>do</strong>-me essas peças,<br />
afastaria de cima de mim toda espécie de dúvida sobre minha inocência; se livraria por isso<br />
<strong>do</strong> único perigo que corria <strong>do</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s príncipes e, provan<strong>do</strong> que eu nada tinha com o<br />
envenenamento, cessava de ser meu cúmplice e me tirava to<strong>do</strong> o interesse em fazê-lo<br />
perecer.<br />
Restaria provar que ele mesmo nada tinha a ver com isto; era uma dificuldade menor:<br />
primeiro, estava certo de minha proteção; em seguida, os príncipes não ten<strong>do</strong> provas de sua<br />
culpabilidade, poderia devolver sobre eles as suas acusações, a título de calúnias.<br />
Tu<strong>do</strong> bem pesa<strong>do</strong>, fez passar junto de mim um emissário, que fingiu vir por si mesmo, e me<br />
disse que o abade de Saint-Jean estava descontente com meu irmão. Vi, imediatamente,<br />
to<strong>do</strong> o parti<strong>do</strong> que poderia tirar dessa disposição e caí na armadilha que o astuto abade me<br />
estendeu; não supon<strong>do</strong> que esse homem pudesse ser envia<strong>do</strong> por ele, despachei um de meus<br />
espiões de confiança. St-Jean representou tão bem seu papel, que este foi engana<strong>do</strong>. Sob<br />
seu relato escrevi ao abade para conquistá-lo; ele fingiu muitos escrúpulos, mas nisso triunfei<br />
sem dificuldade. Consentiu em se encarregar <strong>do</strong> envenenamento de meu jovem irmão: não<br />
hesitei mesmo em cometer esse crime horrível, tanto estava perverti<strong>do</strong>.<br />
Henri de Ia Roche, escudeiro da boca <strong>do</strong> duque, se encarregou de fazer preparar um pêssego<br />
que o próprio abade ofereceu à senhora de Thouars, quan<strong>do</strong> merendava na mesa com meu<br />
irmão. A beleza dessa fruta era notável; fê-la admirar a esse príncipe e a partilhou com ele.<br />
Apenas os <strong>do</strong>is tinham comi<strong>do</strong>, a favorita sentiu violentas <strong>do</strong>res nas entranhas: não tar<strong>do</strong>u<br />
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/<strong>1858</strong>/06f-confissao-de-luis-xi.html (2 of 3)7/4/2004 08:15:07