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E, voltando-se para o representante de César, declarou:<<strong>br</strong> />
— Eu também sou cristão!<<strong>br</strong> />
Corvino acariciou-lhe os cabelos em desalinho e continuou:<<strong>br</strong> />
— Esqueceste que a maior exemplificação dos seguidores do Evangelho<<strong>br</strong> />
não é a da morte e sim a da vida? Não sabes que Jesus espera de nós a lição<<strong>br</strong> />
do amor e da fé onde respiramos? Meu testemunho no tribunal ou no anfiteatro<<strong>br</strong> />
será dos mais fáceis, mas poderás honrar o nosso Mestre, de maneira mais<<strong>br</strong> />
sacrificial e mais no<strong>br</strong>e, trabalhando por ele, em benefício dos nossos irmãos<<strong>br</strong> />
em Humanidade e por ele sofrendo, dia a dia... Vai em paz! Não desrespeites o<<strong>br</strong> />
mensageiro do Imperador!...<<strong>br</strong> />
Como se o ambiente estivesse magnetizado por forças intangíveis, o moço,<<strong>br</strong> />
enxugando as lágrimas, saiu sem ser molestado por ninguém.<<strong>br</strong> />
Tornando a si da surpresa que o senhoreara, Novaciano reergueu a voz e<<strong>br</strong> />
considerou:<<strong>br</strong> />
— O legado de Augusto não pode perder tempo. Sacrificai aos deuses e o<<strong>br</strong> />
processo que vos envolve o nome será examinado atenciosamente..<<strong>br</strong> />
— Não posso! — insistiu Corvino, sem afetação — sou adepto do<<strong>br</strong> />
Cristianismo e nessa condição desejo morrer.<<strong>br</strong> />
— Morrereis então! — gritou Álcio, indignado. E assinou a sentença,<<strong>br</strong> />
indicando o campo próximo em que o prisioneiro seria decapitado no dia<<strong>br</strong> />
seguinte, ao amanhecer.<<strong>br</strong> />
Varro escutou-a, sem modificar-se.<<strong>br</strong> />
A fé e a tranquilidade imperturbáveis fulgiam-lhe no semblante.<<strong>br</strong> />
Na assembléia, contudo, reinava amplo mal-estar.<<strong>br</strong> />
Opílio e Galba a<strong>br</strong>açaram o legado <strong>com</strong> visíveis sinais de satisfação.<<strong>br</strong> />
Taciano, porém, sentia-se inexplicavelmente angustiado, lutando consigo<<strong>br</strong> />
mesmo para so<strong>br</strong>epor-se a qualquer ato de simpatia. As conversações que<<strong>br</strong> />
mantivera <strong>com</strong> o enfermeiro em outro tempo afloravam-lhe à memória. Aquele<<strong>br</strong> />
homem ultrajado e abatido impunha-se-lhe à admiração, ainda mesmo contra a<<strong>br</strong> />
sua própria vontade. Tudo faria para não pensar, mas a grandeza moral dele<<strong>br</strong> />
confundia-o e o chamava à reflexão. Instintivamente, inclinava-se a defendê-lo,<<strong>br</strong> />
contudo, não seria lícito conceder a si mesmo tal aventura. Corvino poderia ser<<strong>br</strong> />
um gigante de heroismo, mas era cristão, e ele, Taciano, detestava os<<strong>br</strong> />
nazarenos.<<strong>br</strong> />
Afastou-se alguns passos, a fim de apreciar soberba estátua de Têmis que<<strong>br</strong> />
jazia no recinto, mas alguém correu ao encontro do condenado, que voltava à<<strong>br</strong> />
prisão, resignadamente.<<strong>br</strong> />
Esse alguém era o velho Flávio Sú<strong>br</strong>io, que se abeirou do religioso e disselhe<<strong>br</strong> />
em voz baixa:<<strong>br</strong> />
— Reconheço-te! Agora, não alimento qualquer dúvida... Vinte anos não me<<strong>br</strong> />
fariam olvidar-te!...<<strong>br</strong> />
Quinto Varro lançou-lhe dolorido olhar, sem nada responder.<<strong>br</strong> />
O antigo lidador, todavia, recebeu-lhe o silêncio <strong>com</strong>o sendo a confirmação<<strong>br</strong> />
que aguardava e, contendo a custo o pranto que lhe enevoava os olhos,<<strong>br</strong> />
segurou-lhe as mãos que pesadas algemas enlaçavam e acentuou:<<strong>br</strong> />
— Meu amigo, não teria sido mais suave a tua morte no mar? <strong>com</strong>o me<<strong>br</strong> />
pesa haver cooperado para o teu sacrifício! <strong>com</strong>o lastimo a tua infortunada<<strong>br</strong> />
sorte, observando o fardo de angústia que te verga os om<strong>br</strong>os!...<<strong>br</strong> />
O interpelado, porém, sorriu, triste, e replicou:<<strong>br</strong> />
— Sú<strong>br</strong>io, a escravidão a Jesus é a verdadeira liberdade, tanto quanto a<<strong>br</strong> />
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