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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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E, voltando-se para o representante de César, declarou:<<strong>br</strong> />

— Eu também sou cristão!<<strong>br</strong> />

Corvino acariciou-lhe os cabelos em desalinho e continuou:<<strong>br</strong> />

— Esqueceste que a maior exemplificação dos seguidores do Evangelho<<strong>br</strong> />

não é a da morte e sim a da vida? Não sabes que Jesus espera de nós a lição<<strong>br</strong> />

do amor e da fé onde respiramos? Meu testemunho no tribunal ou no anfiteatro<<strong>br</strong> />

será dos mais fáceis, mas poderás honrar o nosso Mestre, de maneira mais<<strong>br</strong> />

sacrificial e mais no<strong>br</strong>e, trabalhando por ele, em benefício dos nossos irmãos<<strong>br</strong> />

em Humanidade e por ele sofrendo, dia a dia... Vai em paz! Não desrespeites o<<strong>br</strong> />

mensageiro do Imperador!...<<strong>br</strong> />

Como se o ambiente estivesse magnetizado por forças intangíveis, o moço,<<strong>br</strong> />

enxugando as lágrimas, saiu sem ser molestado por ninguém.<<strong>br</strong> />

Tornando a si da surpresa que o senhoreara, Novaciano reergueu a voz e<<strong>br</strong> />

considerou:<<strong>br</strong> />

— O legado de Augusto não pode perder tempo. Sacrificai aos deuses e o<<strong>br</strong> />

processo que vos envolve o nome será examinado atenciosamente..<<strong>br</strong> />

— Não posso! — insistiu Corvino, sem afetação — sou adepto do<<strong>br</strong> />

Cristianismo e nessa condição desejo morrer.<<strong>br</strong> />

— Morrereis então! — gritou Álcio, indignado. E assinou a sentença,<<strong>br</strong> />

indicando o campo próximo em que o prisioneiro seria decapitado no dia<<strong>br</strong> />

seguinte, ao amanhecer.<<strong>br</strong> />

Varro escutou-a, sem modificar-se.<<strong>br</strong> />

A fé e a tranquilidade imperturbáveis fulgiam-lhe no semblante.<<strong>br</strong> />

Na assembléia, contudo, reinava amplo mal-estar.<<strong>br</strong> />

Opílio e Galba a<strong>br</strong>açaram o legado <strong>com</strong> visíveis sinais de satisfação.<<strong>br</strong> />

Taciano, porém, sentia-se inexplicavelmente angustiado, lutando consigo<<strong>br</strong> />

mesmo para so<strong>br</strong>epor-se a qualquer ato de simpatia. As conversações que<<strong>br</strong> />

mantivera <strong>com</strong> o enfermeiro em outro tempo afloravam-lhe à memória. Aquele<<strong>br</strong> />

homem ultrajado e abatido impunha-se-lhe à admiração, ainda mesmo contra a<<strong>br</strong> />

sua própria vontade. Tudo faria para não pensar, mas a grandeza moral dele<<strong>br</strong> />

confundia-o e o chamava à reflexão. Instintivamente, inclinava-se a defendê-lo,<<strong>br</strong> />

contudo, não seria lícito conceder a si mesmo tal aventura. Corvino poderia ser<<strong>br</strong> />

um gigante de heroismo, mas era cristão, e ele, Taciano, detestava os<<strong>br</strong> />

nazarenos.<<strong>br</strong> />

Afastou-se alguns passos, a fim de apreciar soberba estátua de Têmis que<<strong>br</strong> />

jazia no recinto, mas alguém correu ao encontro do condenado, que voltava à<<strong>br</strong> />

prisão, resignadamente.<<strong>br</strong> />

Esse alguém era o velho Flávio Sú<strong>br</strong>io, que se abeirou do religioso e disselhe<<strong>br</strong> />

em voz baixa:<<strong>br</strong> />

— Reconheço-te! Agora, não alimento qualquer dúvida... Vinte anos não me<<strong>br</strong> />

fariam olvidar-te!...<<strong>br</strong> />

Quinto Varro lançou-lhe dolorido olhar, sem nada responder.<<strong>br</strong> />

O antigo lidador, todavia, recebeu-lhe o silêncio <strong>com</strong>o sendo a confirmação<<strong>br</strong> />

que aguardava e, contendo a custo o pranto que lhe enevoava os olhos,<<strong>br</strong> />

segurou-lhe as mãos que pesadas algemas enlaçavam e acentuou:<<strong>br</strong> />

— Meu amigo, não teria sido mais suave a tua morte no mar? <strong>com</strong>o me<<strong>br</strong> />

pesa haver cooperado para o teu sacrifício! <strong>com</strong>o lastimo a tua infortunada<<strong>br</strong> />

sorte, observando o fardo de angústia que te verga os om<strong>br</strong>os!...<<strong>br</strong> />

O interpelado, porém, sorriu, triste, e replicou:<<strong>br</strong> />

— Sú<strong>br</strong>io, a escravidão a Jesus é a verdadeira liberdade, tanto quanto a<<strong>br</strong> />

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