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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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A atitude serena e digna de Corvino de novo impusera quietação à grande<<strong>br</strong> />

assembléia.<<strong>br</strong> />

Álcio enxugou o suor copioso que lhe corria da fronte enrugada e tornou:<<strong>br</strong> />

— Confessais, então, vosso conúbio <strong>com</strong> a seita maldita dos nazarenos?<<strong>br</strong> />

— Não vejo qualquer maldição nela — replicou o preso, sem azedume —,<<strong>br</strong> />

os seguidores do Evangelho são amigos da fraternidade, do serviço, da<<strong>br</strong> />

bondade e do perdão.<<strong>br</strong> />

O emissário de César passou a destra pela calva oleosa, <strong>br</strong>andiu um<<strong>br</strong> />

bastão de prata no estrado em que se apoiava e <strong>br</strong>adou:<<strong>br</strong> />

— Sois apenas velha quadrilha de mentirosos! que fraternidade poderia<<strong>br</strong> />

ensinar-vos um galileu desconhecido que vos induz ao suplício, há quase<<strong>br</strong> />

duzentos anos? que serviço prestaríeis à coletividade, pregando a indisciplina<<strong>br</strong> />

entre os escravos <strong>com</strong> falaciosas promessas de um reino celestial? que<<strong>br</strong> />

bondade exerceríeis, conduzindo mulheres e crianças ao espetáculo sangrento<<strong>br</strong> />

dos circos? e que perdão conseguireis exemplificar, quando o vosso heroismo<<strong>br</strong> />

não passa de vileza e humilhação?<<strong>br</strong> />

Varro percebeu a dureza intelectual do inquiridor e objetou:<<strong>br</strong> />

— Nosso Mestre padeceu na cruz por sentir-se o irmão maior da<<strong>br</strong> />

Humanidade, necessitada, não de força <strong>br</strong>uta ou de violência, mas de valor<<strong>br</strong> />

moral para <strong>com</strong>preender a grandeza do espírito eterno; o serviço para nós não<<strong>br</strong> />

é a exploração do homem pelo homem e sim o livre acesso da criatura ao<<strong>br</strong> />

trabalho para o engrandecimento dos méritos pessoais de cada um; a<<strong>br</strong> />

bondade, em nosso campo de ação, é...<<strong>br</strong> />

Álcio, entretanto, cortou-lhe a palavra, gesticulando, furioso:<<strong>br</strong> />

— Calai-vos! porque aturar o vosso sermão sem nexo? Ignorais,<<strong>br</strong> />

porventura, que posso decidir so<strong>br</strong>e o vosso destino?<<strong>br</strong> />

— Nossos destinos jazem nas mãos de Deus! — retorquiu Varro, sereno.<<strong>br</strong> />

— Sabeis que posso lavrar a vossa sentença de morte?<<strong>br</strong> />

— Respeitável legado, o poder transitório do mundo está em vossas<<strong>br</strong> />

determinações. Obedecei a César, ordenando o que vos aprouver! Obedecerei<<strong>br</strong> />

a <strong>Cristo</strong>, submetendo-me à vossa vontade.<<strong>br</strong> />

Novaciano trocou expressivo olhar <strong>com</strong> Vetúrio, <strong>com</strong>o se estivessem<<strong>br</strong> />

acertando, em silêncio, os pontos de vista que lhes eram <strong>com</strong>uns e clamou:<<strong>br</strong> />

— Não tolero o sarcasmo!...<<strong>br</strong> />

Convocou um dos assessores e re<strong>com</strong>endou que o prisioneiro recebesse<<strong>br</strong> />

três chicotadas de relho curto na boca.<<strong>br</strong> />

Um guarda de aspecto feroz foi o escolhido.<<strong>br</strong> />

Varro, enquanto açoitado, parecia em oração.<<strong>br</strong> />

O sangue borbotava-lhe dos lábios, escorrendo so<strong>br</strong>e a túnica humilde,<<strong>br</strong> />

quando um jovem, aproximando-se, ajoelhou-se, junto dele, e exclamou em<<strong>br</strong> />

pranto:<<strong>br</strong> />

— Pai Corvino, eu sou teu filho! Recolheste-me quando eu vagava na rua,<<strong>br</strong> />

sem ninguém! Deste-me uma profissão e uma vida digna... Não sofrerás<<strong>br</strong> />

sozinho! Estou aqui...<<strong>br</strong> />

Todavia, no estupor geral que a cena impunha aos circunstantes, o<<strong>br</strong> />

benfeitor ferido, embora sangrando, inclinou-se para o rapaz e rogou:<<strong>br</strong> />

— Crispo, meu filho, não afrontes a autoridade! porque te rebelas, assim,<<strong>br</strong> />

se ainda não foste chamado?<<strong>br</strong> />

— Meu pai — soluçou o jovem, quase menino —, também quero o<<strong>br</strong> />

testemunho! desejo provar minha fidelidade ao Senhor!...<<strong>br</strong> />

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