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Um peregrino da fé religiosa que surpreendesse o paraíso não revelaria<<strong>br</strong> />
maior ventura que a daquela face transfigurada por suprema alegria interior.<<strong>br</strong> />
O quadro inolvidável, porém, foi <strong>br</strong>eve <strong>com</strong>o um relâmpago dentro da noite.<<strong>br</strong> />
Destrambelhado o coração pelo júbilo do reencontro, a po<strong>br</strong>e senhora<<strong>br</strong> />
empalideceu repentinamente, os órgãos visuais arregalaram-se-lhe nas órbitas<<strong>br</strong> />
e o corpo oscilou, desgovernado.<<strong>br</strong> />
Varro, aflito, correu a ampará-la.<<strong>br</strong> />
A agonizante aquietou-se-lhe nos <strong>br</strong>aços <strong>com</strong> a submissão de uma criança.<<strong>br</strong> />
O valoroso patrício, que a fé metamorfoseara em sacerdote, rociando-lhe o<<strong>br</strong> />
rosto de lágrimas, cerrou-lhe os olhos, piedosamente.<<strong>br</strong> />
Cíntia Júlia morrera <strong>com</strong>o um passarinho, sem estertores, sem contrações.<<strong>br</strong> />
Apertando-a, de encontro ao coração, Quinto Varro soluçou, balbuciando<<strong>br</strong> />
uma prece.<<strong>br</strong> />
— Senhor! — clamou ele — tu, que nos reúnes <strong>com</strong> bondade, não nos<<strong>br</strong> />
separarias para sempre!<<strong>br</strong> />
Amigo Divino, que nos concedes a luz do dia depois das som<strong>br</strong>as da noite,<<strong>br</strong> />
dá-nos serenidade, finda a tormenta!... Ampara-nos o coração desarvorado nos<<strong>br</strong> />
tortuosos caminhos do mundo e a<strong>br</strong>e-nos o horizonte da paz! Tantas vezes<<strong>br</strong> />
morremos nas trevas da ignorância, mas a tua <strong>com</strong>paixão nos ergue, de novo,<<strong>br</strong> />
à claridade divina! Nada posso pedir-te, servo que sou agraciado por tantas<<strong>br</strong> />
bênçãos imerecidas, mas, se possível, rogo-te proteção para quem hoje te<<strong>br</strong> />
busca, <strong>com</strong> o espírito sedento de amor, Ó Mestre de nossas almas, socorrenos<<strong>br</strong> />
na solução de nossas necessidades! Nada podemos sem a tua luz!...<<strong>br</strong> />
Sufocado pela <strong>com</strong>oção, silenciou.<<strong>br</strong> />
A oração falada morrera-lhe na garganta, mas o espírito fervoroso<<strong>br</strong> />
prosseguiu em súplica silenciosa, que somente foi interrompida à chegada de<<strong>br</strong> />
um irmão que o auxiliou a prestar as derradeiras expressões de carinho à<<strong>br</strong> />
morta, cujos lábios se entrea<strong>br</strong>iam, imóveis, num sorriso indefinível.<<strong>br</strong> />
Um mensageiro de confiança foi expedido ao palácio de Vetúrio, mas,<<strong>br</strong> />
temendo represálias, o emissário apenas notificou que a senhora, vítima de<<strong>br</strong> />
inopinado mal-estar, exigia imediata assistência.<<strong>br</strong> />
A notícia foi recebida desagradàvelmente.<<strong>br</strong> />
Aquela fuga para o círculo cristão era detestável acontecimento.<<strong>br</strong> />
Epípodo, o chefe da vigilância, foi advertido <strong>com</strong> severidade e um homem da<<strong>br</strong> />
estima familiar, à frente de vários cooperadores, foi incumbido de superintender<<strong>br</strong> />
a remoção da enferma para a casa.<<strong>br</strong> />
Esse homem era Flávio Sú<strong>br</strong>io.<<strong>br</strong> />
O velho soldado procurou o irmão Corvino e, surpreendido por aquela voz<<strong>br</strong> />
que não lhe parecia estranha, veio a conhecer a deplorável ocorrência.<<strong>br</strong> />
Lançando olhares desconfiados para o apóstolo, que tinha nome idêntico<<strong>br</strong> />
ao da vítima que ele nunca esquecera, providenciou, respeitoso, o transporte<<strong>br</strong> />
do cadáver, que Varro ajudou carinhosamente a instalar na carruagem,<<strong>br</strong> />
convertida em coche mortuário.<<strong>br</strong> />
Infinita consternação envolveu a residência romana, outrora fulgurante e<<strong>br</strong> />
feliz, e, ao entardecer, um pelotão de legionários cercou o case<strong>br</strong>e em que o<<strong>br</strong> />
irmão Corvino meditava...<<strong>br</strong> />
Vetúrio reclamara-lhe a prisão para o inquérito que pretendia instaurar.<<strong>br</strong> />
O presbítero foi acintosamente recolhido e encarcerado sem a menor<<strong>br</strong> />
consideração.<<strong>br</strong> />
O martírio supremo de Quinto Varro ia <strong>com</strong>eçar.<<strong>br</strong> />
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