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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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amigos... De alguns anos para cá, sinto muita sede de renovação espiritual...<<strong>br</strong> />

— Mas porque renovação se o carinho dos deuses jaz so<strong>br</strong>e a nossa casa?<<strong>br</strong> />

— atalhou o rapaz agastado e apreensivo. — Acaso nos falta qualquer coisa?<<strong>br</strong> />

não vivemos uns para os outros na doce confiança recíproca que os protetores<<strong>br</strong> />

celestes nos conferiram?<<strong>br</strong> />

— A fartura de bens materiais nem sempre traz felicidade ao coração —<<strong>br</strong> />

observou a matrona, sorrindo, triste —; a riqueza de Vetúrio pode não ser a<<strong>br</strong> />

minha riqueza...<<strong>br</strong> />

Pousou no filho os olhos molhados e calmos que o sofrimento íntimo<<strong>br</strong> />

eno<strong>br</strong>ecera e continuou, depois de longa pausa:<<strong>br</strong> />

— Nossa personalidade, enquanto somos jovens, é semelhante a pedra<<strong>br</strong> />

preciosa por lapidar. Mas o tempo, dia a dia, nos desgasta e transforma, até<<strong>br</strong> />

que um novo entendimento da vida nos faça <strong>br</strong>ilhar o coração. Sinto-me em<<strong>br</strong> />

nova fase. És hoje um homem e podes entender... Há muito tempo observo a<<strong>br</strong> />

decadência que nos rodeia. Decadência nos que governam, a expressar-se em<<strong>br</strong> />

desmandos de toda a sorte, e decadência nos governados que fazem da<<strong>br</strong> />

existência uma caça ao prazer... Noutra época, tive também os olhos<<strong>br</strong> />

vendados. Por mais falasse teu pai, avisadamente, buscando acordar-me, mais<<strong>br</strong> />

surdos se me faziam os ouvidos... Hoje, porém, as palavras dele ressoam em<<strong>br</strong> />

minha consciência <strong>com</strong> mais nitidez. Achamo-nos atacados no lodo de vícios e<<strong>br</strong> />

misérias morais. Só uma intervenção espiritual, diversa daquela em que até<<strong>br</strong> />

hoje temos acreditado, pode solevar o mundo...<<strong>br</strong> />

— Mas, meu pai — explicou Taciano, visivelmente contrafeito — era um<<strong>br</strong> />

filósofo que não se afastou de nossas tradições. A documentação que nos<<strong>br</strong> />

deixou atesta-lhe a cultura. Além do mais, foi assassinado quando cumpria<<strong>br</strong> />

no<strong>br</strong>e dever no <strong>com</strong>bate à praga cristã.<<strong>br</strong> />

A senhora estampou indisfarçáveis sinais de amargura, na fisionomia<<strong>br</strong> />

serena, e replicou:<<strong>br</strong> />

— Enganas-te, meu filho! Cresceste ao lado de Vetúrio, sob a névoa<<strong>br</strong> />

espessa que nos esconde o passado... Devo, porém, asseverar-te agora que<<strong>br</strong> />

Varro era seguidor de Jesus...<<strong>br</strong> />

Tomando conhecimento da inesperada revelação, o rapaz transtornou-se.<<strong>br</strong> />

Estranho rubor subiu-lhe à face, intumesceram-se-lhe as veias do rosto,<<strong>br</strong> />

crisparam-se-lhe os lábios e animalizou-se-lhe a expressão.<<strong>br</strong> />

Amedrontada, Cíntia emudeceu.<<strong>br</strong> />

Qual acontecera no dia da morte de Silvano, o jovem patrício colocou-se<<strong>br</strong> />

fora de si.<<strong>br</strong> />

Não podia insubordinar-se naquela hora, contudo, <strong>br</strong>adou em desabafo:<<strong>br</strong> />

— Sempre defrontado por esse <strong>Cristo</strong> que não procuro! Pela glória de<<strong>br</strong> />

Júpiter, nunca cederei, nunca cederei!...<<strong>br</strong> />

A genitora recuou, possuída de forte espanto.<<strong>br</strong> />

Jamais lhe percebera tamanho desequilí<strong>br</strong>io.<<strong>br</strong> />

Taciano apresentava a máscara indefinível do sofrimento e do ódio, qual<<strong>br</strong> />

se estivesse, de chofre, à frente do seu mais terrível adversário.<<strong>br</strong> />

Contemplou Cíntia, trêmula, e esforçando-se, em vão, por acalmar-se,<<strong>br</strong> />

enunciou <strong>com</strong> um ar de desalento:<<strong>br</strong> />

— Mãe, Opílio tem razão. A senhora está mesmo demente. A peste<<strong>br</strong> />

enlouqueceu-a!...<<strong>br</strong> />

E depois de alguns instantes de silêncio, em que apenas se lhe ouvia a<<strong>br</strong> />

respiração ofegante, acrescentou, melancólico:<<strong>br</strong> />

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