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— Quem sabe? insinuou-se no espírito popular <strong>com</strong> incrível desenvoltura.<<strong>br</strong> />
Há quem o tome por santo, contudo, inclino-me a crer que não passe de algum<<strong>br</strong> />
feiticeiro, cercado de seres infernais. Trazia a aparência de um vagabundo<<strong>br</strong> />
quando surgiu aqui. Pouco a pouco, adquiriu a fama de curar pelas preces<<strong>br</strong> />
nazarenas, <strong>com</strong> imposição das mãos, e a primeira casa importante que lhe caiu<<strong>br</strong> />
nas garras foi a de Artêmio Cim<strong>br</strong>o, cuja filhinha, ao que dizem, sofria grandes<<strong>br</strong> />
perturbações mentais. Experimentado o tratamento de Corvino, parece que a<<strong>br</strong> />
menina se impressionou favoràvelmente, recuperando-se, então, qual se fôra<<strong>br</strong> />
um milagre. Daí para cá, fêz-se o jardineiro da no<strong>br</strong>e família, que o introduziu<<strong>br</strong> />
em residências outras. Da sua vida profissional, é tudo quanto sei. Das<<strong>br</strong> />
atividades do mago, porém, muito teria a dizer se pudesse. Refere-se o vulgo a<<strong>br</strong> />
mil coisas. Se fôssem apenas os plebeus a se mostrarem maravilhados...<<strong>br</strong> />
Entretanto, temos alguns patrícios ilustres enleados na rede. Dizem alguns que<<strong>br</strong> />
a palavra dele está revestida de miraculoso poder, afirmam outros que ele cura<<strong>br</strong> />
as mais <strong>com</strong>plicadas enfermidades...<<strong>br</strong> />
— É estranho ver uma cidade <strong>com</strong>o esta, a desvairar-se por este modo! —<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>entou Taciano, <strong>com</strong> interesse.<<strong>br</strong> />
Por isso mesmo, necessitamos de elementos renovadores. A sua decisão,<<strong>br</strong> />
rechaçando Corvino, é sumamente confortadora. Ele é in<strong>com</strong>petente para<<strong>br</strong> />
conduzir crianças, mesmo desprezíveis. Sei que Artêmio lhe advoga a causa,<<strong>br</strong> />
mas estou convencido de que poderemos interromper-lhe, doravante, as<<strong>br</strong> />
mistificações. Zenóbio, um velho amigo que foi alto dignitário da imperial<<strong>br</strong> />
munificência, <strong>com</strong>unicou-me, ontem à noite, informado por fontes dignas de<<strong>br</strong> />
crédito, que o menino morto fôra encaminhado aos dentes do cão pelo próprio<<strong>br</strong> />
Corvino, a fim de que a malta cristã obtivesse sangue inocente para os<<strong>br</strong> />
mistérios negros das reuniões que praticam. É notório que ele foi a única<<strong>br</strong> />
testemunha do ato final...<<strong>br</strong> />
E, baixando o tom de voz, perguntou:<<strong>br</strong> />
— Teria o dileto amigo observado isso? Seria muito importante registrar o<<strong>br</strong> />
fato, através de sua própria boca...<<strong>br</strong> />
Taciano, de rosto esfogueado, a exprimir o choque de contraditórias<<strong>br</strong> />
emoções, esclareceu, presto:<<strong>br</strong> />
— Nada posso adiantar nesse sentido. Quando ouvi o nome do crucificado,<<strong>br</strong> />
a revolta subiu-me à cabeça. Não tive olhos senão para defender a nossa<<strong>br</strong> />
propriedade contra a influência pestilencial. Determinei a soltura do cão de<<strong>br</strong> />
guarda, possuído de extrema desesperação. Não me cabe, por isso, asseverar<<strong>br</strong> />
aquilo que não verifiquei por mim mesmo.<<strong>br</strong> />
Quirino, porém, mordeu os lábios, contrariado, e ajuntou:<<strong>br</strong> />
— Fique certo, contudo, de que as coisas não terão ocorrido de outro<<strong>br</strong> />
modo. Reajamos em conjunto. Nossos escravos não podem continuar à mercê<<strong>br</strong> />
de <strong>br</strong>uxos inconscientes e nem será lícito permitir que pessoas de nossa<<strong>br</strong> />
condição social se deixem embair sem defesa...<<strong>br</strong> />
— Nisso, achamo-nos de pleno acordo — salientou o rapaz, resoluto —; de<<strong>br</strong> />
minha parte, pretendo corrigir e selecionar a <strong>com</strong>unidade de servidores.<<strong>br</strong> />
— E que plano traçou para esse serviço? gostaria de agir em minha casa<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong> uniformidade de vistas.<<strong>br</strong> />
— Aguardo a vinda de meus pais, em <strong>br</strong>eves dias, que trarão consigo<<strong>br</strong> />
Helena, a minha futura esposa. Como passarei a residir aqui depois do meu<<strong>br</strong> />
casamento, antecipei-me a eles, a fim de adaptar a vida da propriedade aos<<strong>br</strong> />
hábitos de minha família e de modo a afeiçoar-me às usanças da província.<<strong>br</strong> />
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