02.05.2014 Views

Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Helena, contudo, atalhou, firme:<<strong>br</strong> />

— Ela deve desaparecer. É uma filha que não pedi e que não me cabia<<strong>br</strong> />

esperar.<<strong>br</strong> />

Anacleta, desapontada, conchegou-a, de encontro ao coração, envolveu-a<<strong>br</strong> />

em panos de lã e, em seguida, apresentou-a ao angustiado olhar materno,<<strong>br</strong> />

acrescentando:<<strong>br</strong> />

— É tua... Dá-lhe alguma lem<strong>br</strong>ança. Po<strong>br</strong>e avezinha! Como se portará na<<strong>br</strong> />

ventania?<<strong>br</strong> />

A moça, estranhamente dominada de pensamentos contraditórios, sufocou<<strong>br</strong> />

as lágrimas nos olhos úmidos e, tomando de móvel próximo um belo camafeu,<<strong>br</strong> />

em que se via a imagem de Cíbele, admiràvelmente esculpida em marfim,<<strong>br</strong> />

adornou <strong>com</strong> ele o corpo da pequenina.<<strong>br</strong> />

Logo após, re<strong>com</strong>endou, decidida:<<strong>br</strong> />

— Anacleta, organiza-lhe a viagem. É preciso despachá-la num cesto<<strong>br</strong> />

grande, sob qualquer árvore do campo. Evita confiá-la à porta de determinada<<strong>br</strong> />

pessoa, de vez que não pretendo estabelecer qualquer laço de ligação <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

passado, que considero morto, a partir deste instante.<<strong>br</strong> />

— Helena!... — suspirou a moça, <strong>com</strong> o evidente intuito de aconselhar.<<strong>br</strong> />

— Não interfiras — afirmou a jovem mãe —; quando o dia clarear, serei<<strong>br</strong> />

portadora de novo destino. Não me fales mais nisso. Saberei re<strong>com</strong>pensar-te.<<strong>br</strong> />

Dispõe de mim <strong>com</strong>o quiseres.<<strong>br</strong> />

Anacleta procurou ainda impor-se, mas a filha de Vetúrio, sem tergiversar,<<strong>br</strong> />

exclamou:<<strong>br</strong> />

— Não discutas, Os deuses decidirão...<<strong>br</strong> />

Á so<strong>br</strong>inha de Apolodoro cumpriu a ordem, choramingando, e, munindo-se<<strong>br</strong> />

de agasalho, saiu conduzindo o pequeno fardo.<<strong>br</strong> />

O dia estava prestes a alvorecer.<<strong>br</strong> />

No horizonte, o Sol não tardaria em anunciar-se.<<strong>br</strong> />

Anacleta foi visitada pela tentação de deixar a criança no limiar de alguma<<strong>br</strong> />

herdade, onde conseguisse a<strong>com</strong>panhar-lhe a evolução, indiretamente;<<strong>br</strong> />

todavia, embora não concordasse <strong>com</strong> a atitude de Helena, vivia, por sua vez,<<strong>br</strong> />

na condição de subalternidade. Dependia da casa de Opílio e muito<<strong>br</strong> />

particularmente da menina Vetúrio. Seguir a criança, ainda que de longe, seria<<strong>br</strong> />

atrair aflições so<strong>br</strong>e a própria cabeça. Não desejava abandonar o destaque<<strong>br</strong> />

social da casa de Cíntia. Era exageradamente feliz para perder <strong>com</strong> facilidade<<strong>br</strong> />

as vantagens de que se rodeava na vida. Contudo, cortava-lhe o coração a dor<<strong>br</strong> />

de abandonar a pequenina <strong>com</strong>pletamente à própria sorte. Seria justo entregar,<<strong>br</strong> />

daquele modo, um ser humano, à furna dos animais? que destino poderia<<strong>br</strong> />

esperar a inocentinha, em pleno matagal?<<strong>br</strong> />

Fitou o rosto miúdo, mal velado pela cobertura envolvente, e a <strong>com</strong>paixão<<strong>br</strong> />

intensificou-se-lhe ainda mais, em reconhecendo que a menina se deixava<<strong>br</strong> />

conduzir, sem chorar.<<strong>br</strong> />

Soprava o vento fresco, qual se fôra uma carícia do Céu.<<strong>br</strong> />

A corajosa governanta havia caminhado aproximadamente três<<strong>br</strong> />

quilômetros, no rumo de pequeno povoado próximo.<<strong>br</strong> />

Não poderia prolongar demasiado a excursão, sob pena de denunciar-se.<<strong>br</strong> />

Mas, <strong>com</strong>o abandonar a, criança aos imprevistos da charneca? Não se<<strong>br</strong> />

conformava à idéia de perpetrar semelhante crueldade. Guardá-la-ia num<<strong>br</strong> />

ângulo de caminho, até que pudesse sentir-se segura.<<strong>br</strong> />

E, em preces, rogava aos numes de sua fé encaminhassem até ali alguém,<<strong>br</strong> />

53

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!