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Logo após, <strong>com</strong> muito esforço, Corvino pediu-lhe a<strong>br</strong>isse alguma página<<strong>br</strong> />
cristã para a leitura em voz alta.<<strong>br</strong> />
Queria guardar um pensamento das Sagradas Anotações, antes de<<strong>br</strong> />
morrer.<<strong>br</strong> />
Quinto Varro atendeu <strong>com</strong> presteza.<<strong>br</strong> />
Retirou, ao acaso, uma folha gasta do pergaminho, num rolo de instruções,<<strong>br</strong> />
e, à claridade <strong>br</strong>uxuleante da tocha que ardia junto ao leito, repetiu as belas<<strong>br</strong> />
palavras de Simão Pedro ao aleijado da Porta Formosa: — Ouro e prata não<<strong>br</strong> />
tenho, mas o que tenho, isso te dou». (7)<<strong>br</strong> />
(7) Atos dos Apóstolos, capítulo 3, versículo 6. — (Nota do Autor<<strong>br</strong> />
espiritual.)<<strong>br</strong> />
Corvino fitou o <strong>com</strong>panheiro, desenhando largo sorriso nos lábios<<strong>br</strong> />
descorados, <strong>com</strong>o a dizer que oferecia naquela hora a Deus e aos homens o<<strong>br</strong> />
seu próprio coração.<<strong>br</strong> />
Compridos instantes desdo<strong>br</strong>aram-se pesados e aflitivos.<<strong>br</strong> />
O rapaz julgou que o venerando amigo houvesse alcançado o derradeiro<<strong>br</strong> />
minuto, todavia, o ancião, qual se despertasse de curta mas concentrada<<strong>br</strong> />
prece, falou ainda:<<strong>br</strong> />
— Varro, se possível... desejaria ver o céu, antes de morrer...<<strong>br</strong> />
O interpelado atendeu, de pronto.<<strong>br</strong> />
Descerrou pequena abertura do interior da câmara, que funcionava à guisa<<strong>br</strong> />
de janela.<<strong>br</strong> />
O vento entrou, de imediato, em lufadas fortes e frescas, apagando a luz<<strong>br</strong> />
mortiça, mas o luar, em prateado jorro, invadiu o recinto.<<strong>br</strong> />
Com inexcedível carinho, o rapaz tomou o velho ao colo, dando a idéia de<<strong>br</strong> />
satisfazer a uma criança doente, e conduziu-o à magnífica visão da noite.<<strong>br</strong> />
Ao doce clarão da Lua, o semblante de Ápio Corvino assemelhava-se a<<strong>br</strong> />
vivo retrato de algum antigo profeta que surgisse, ali, de improviso, nimbado de<<strong>br</strong> />
esplendor. Seus olhos serenos e <strong>br</strong>ilhantes devassaram o firmamento, onde<<strong>br</strong> />
multidões de estrelas faiscavam, sublimes..<<strong>br</strong> />
Depois de um minuto de silenciosa expectativa, falou em voz apagada:<<strong>br</strong> />
— Como é linda a nossa verdadeira pátria!...<<strong>br</strong> />
E, voltando-se <strong>com</strong> <strong>br</strong>andura para o moço em lágrimas, concluiu:<<strong>br</strong> />
— Eis a cidade de nosso Deus!...<<strong>br</strong> />
Nesse instante, contudo, o corpo do patriarca foi sacudido por uma onda<<strong>br</strong> />
de vida nova. Seu olhar, que empalidecera, devagarinho, voltou a possuir<<strong>br</strong> />
estranho <strong>br</strong>ilho, <strong>com</strong>o que reanimado por milagrosa força.<<strong>br</strong> />
Denunciando uma alegria desvairada, <strong>br</strong>adou:<<strong>br</strong> />
— A<strong>br</strong>iu-se o grande caminho!... É Átalo que vem!... Ó meu Deus, <strong>com</strong>o é<<strong>br</strong> />
sublime o carro de ouro!... Centenas de estrelas <strong>br</strong>ilham !... Oh !... é Átalo e<<strong>br</strong> />
Maturo, Santo e Alexandre... Alcibíades e Pôntico... Pontimiana e Blandina...<<strong>br</strong> />
(8)<<strong>br</strong> />
O ancião ensaiava o gesto de quem se dispunha a cair de joelhos,<<strong>br</strong> />
totalmente esquecido da presença de Varro e da precariedade da própria<<strong>br</strong> />
condição física.<<strong>br</strong> />
— Oh!... Senhor! quanta bondade!... não mereço!... sou indigno!... —<<strong>br</strong> />
continuava dizendo, em voz arrastada.<<strong>br</strong> />
O pranto escorria-lhe agora dos olhos inexplicavelmente revigorados,