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murmurando:<<strong>br</strong> />
— É tarde. Alguém já manejou um punhal.<<strong>br</strong> />
Varro, qual se fôra ferido de morte, sentiu-se baquear.<<strong>br</strong> />
Reuniu, contudo, todas as energias que lhe restavam e ensaiou o impulso<<strong>br</strong> />
de arrojar-se para a câmara em que se instalara; todavia, o assessor conteveo,<<strong>br</strong> />
de um salto, advertindo:<<strong>br</strong> />
— Cuidado! Hélcio pode observar-te. É possível que o ancião esteja morto,<<strong>br</strong> />
mas, se pretendes ouvir-lhe qualquer adeus, segue, cautelosamente...<<strong>br</strong> />
Entreterei o <strong>com</strong>andante e os amigos, por mais algum tempo, e procurar-te-ei<<strong>br</strong> />
no aposento, antes de conduzir Lúcio até lá.<<strong>br</strong> />
Nesse ponto da conversação, abandonou o <strong>com</strong>panheiro à própria dor e<<strong>br</strong> />
afastou-se.<<strong>br</strong> />
O moço, contendo o pranto que se lhe represava no peito, arrastou-se, a<<strong>br</strong> />
enlouquecer de angústia, até ao alojamento, onde Corvino, amordaçado,<<strong>br</strong> />
mostrava larga rosa de sangue na cobertura de linho alvo.<<strong>br</strong> />
Os olhos do ancião pareciam mais lúcidos. Cravou-os no amigo <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />
ternura de um pai, a despedir-se de um filho querido, antes da longa viagem da<<strong>br</strong> />
morte.<<strong>br</strong> />
— Quem foi o miserável que se atreveu? —perguntou Quinto Varro,<<strong>br</strong> />
libertando-lhe os movimentos da boca amordaçada.<<strong>br</strong> />
Sustentando o tórax, <strong>com</strong> a destra rugosa, o velhinho esforçou-se e falou:<<strong>br</strong> />
— Filho meu, porque encolerizar o coração, quando precisamos de paz?<<strong>br</strong> />
Acreditas, acaso, que alguém nos possa ferir sem a permissão de Deus?<<strong>br</strong> />
Acalma-te. Temos poucos instantes de entendimento.<<strong>br</strong> />
— Mas, o senhor é tudo o que tenho agora! meu benfeitor, meu amigo,<<strong>br</strong> />
meu pai!... — clamou o rapaz, soluçando, de joelhos, <strong>com</strong>o se quisesse beber<<strong>br</strong> />
as palavras ainda firmes do ancião.<<strong>br</strong> />
— Eu sei, Varro, <strong>com</strong>o te sentes — explicou Ápio, em voz sumida —, eu<<strong>br</strong> />
também reconheci, de pronto, em teu devotamento, o filho espiritual que o<<strong>br</strong> />
mundo me negou... Não chores. Quem te disse que a morte possa representar<<strong>br</strong> />
o fim? Muitos <strong>com</strong>panheiros nossos já vi sob a coroa da flagelação gloriosa.<<strong>br</strong> />
Todos partiram para o reino celeste, exaltando o Mestre da Cruz e, enquanto<<strong>br</strong> />
os anos me estragavam o corpo, muita vez indaguei por que razão vinha sendo<<strong>br</strong> />
poupado... Temia não merecer do Céu a graça de morrer em serviço, todavia,<<strong>br</strong> />
agora estou em paz. Tenho a felicidade do testemunho e, para cúmulo de<<strong>br</strong> />
minha alegria, tenho alguém que me ouve no limiar da vida nova...<<strong>br</strong> />
O velho fêz longo intervalo para reco<strong>br</strong>ar as energias e Quinto Varro,<<strong>br</strong> />
acariciando-o, em lágrimas abundantes, acrescentou:<<strong>br</strong> />
— Como é difícil resignar-me à injustiça! o senhor está morrendo em meu<<strong>br</strong> />
lugar...<<strong>br</strong> />
— Como podes crer assim, meu filho? A Lei Divina é feita de equilí<strong>br</strong>ios<<strong>br</strong> />
eternos. Não te revoltes, nem blasfemes. Deus dirige. Cabe-nos obedecer...<<strong>br</strong> />
Após ligeira pausa, prosseguiu:<<strong>br</strong> />
— Eu era pouco mais velho que tu, quando Átalo se foi... Despedaçou-seme<<strong>br</strong> />
o coração, quando o vi marchando para o sacrifício. Antes, porém, de<<strong>br</strong> />
entrar no anfiteatro, conversámos no cárcere... Prometeu a<strong>com</strong>panhar-me os<<strong>br</strong> />
passos, depois da morte, e voltou a orientar-me. Nas horas mais aflitivas do<<strong>br</strong> />
ministério e nos dias cinzentos de tristeza e indecisão, vejo-o e escuto-lhe a<<strong>br</strong> />
palavra, junto de mim. Quem poderia admitir no túmulo o marco da separação<<strong>br</strong> />
para sempre? não podemos olvidar que o próprio Mestre regressou do sepulcro<<strong>br</strong> />
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