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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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debalde.<<strong>br</strong> />

O coração bateu-lhe des<strong>com</strong>passado, no peito. Aquela fisionomia pálida<<strong>br</strong> />

do <strong>com</strong>panheiro habitualmente tão cínico denunciava algum doloroso acontecimento,<<strong>br</strong> />

contudo, não se sentiu suficientemente corajoso para indagar.<<strong>br</strong> />

— Há muitos anos — prosseguiu o soldado —, recebi de teu pai um favor<<strong>br</strong> />

que jamais conseguirei esquecer. Salvou-me a vida na Ilíria e nunca pude<<strong>br</strong> />

ajudá-lo em parte alguma.<<strong>br</strong> />

Prometi, porém, à minha denegrida consciência o resgate dessa dívida e<<strong>br</strong> />

admito que hoje posso atender ao <strong>com</strong>promisso que o tempo não conseguiu<<strong>br</strong> />

apagar...<<strong>br</strong> />

Mergulhando os olhos felinos no semblante torturado do rapaz, continuou:<<strong>br</strong> />

— Acreditas que o pretor tenha solicitado a tua cooperação por julgar-te<<strong>br</strong> />

bastante maduro? admites que Hélcio Lúcio ceder-te-ia um lugar ao lado dos<<strong>br</strong> />

seus próprios alojamentos, por achar-te simpático? Filho de Júpiter, sê mais<<strong>br</strong> />

avisado. Opílio Vetúrio tramou <strong>com</strong> eles a tua morte. O teu destaque social não<<strong>br</strong> />

lhe ensejava uma arbitrariedade em Roma, onde, aliás, espera conquistar-te a<<strong>br</strong> />

mulher. Lastimo-te a mocidade cercada de tão poderosos inimigos. Hélcio<<strong>br</strong> />

guarda instruções para atirar o teu cadáver, ainda hoje, ao seio das águas.<<strong>br</strong> />

Alguém foi indicado para roubar-te a vida. Para a sociedade romana,<<strong>br</strong> />

deves desaparecer, nesta noite, para sempre..<<strong>br</strong> />

Escutando semelhantes palavras, Quinto Varro fêz-se lívido.<<strong>br</strong> />

Imaginou-se à frente dos derradeiros instantes no mundo.<<strong>br</strong> />

Quis falar, mas não conseguiu. Intensa emoção constringia-lhe a garganta.<<strong>br</strong> />

Observando a expressão indefinível do olhar de Sú<strong>br</strong>io, presumiu que o<<strong>br</strong> />

assessor do <strong>com</strong>ando vinha exigir-lhe a vida.<<strong>br</strong> />

Porque a pausa se anunciasse mais longa, reuniu todas as forças que lhe<<strong>br</strong> />

restavam e perguntou:<<strong>br</strong> />

- Que queres de mim?<<strong>br</strong> />

— Quero salvar-te — informou o soldado <strong>com</strong> ironia.<<strong>br</strong> />

E, depois de certificar-se da ausência de outros ouvidos na som<strong>br</strong>a,<<strong>br</strong> />

ajuntou:<<strong>br</strong> />

— Mas preciso salvar a mim também. Devo ajudar-te, sem esquecer-me...<<strong>br</strong> />

Segredando quase, acentuou:<<strong>br</strong> />

— Uma vida, por vezes, pede outra. Esse velho que te a<strong>com</strong>panha é meu<<strong>br</strong> />

conhecido. É um macróbio gaulês, fatigado de viver. Sei que arengou nas<<strong>br</strong> />

catacumbas, pedindo esmolas aos parvos... Certo, dominou-te <strong>com</strong> mágicas,<<strong>br</strong> />

no intuito de ganhar um prêmio de viagem a Cartago. A peregrinação dele,<<strong>br</strong> />

porém, será mais longa. Deixei que embarcasse, em nossa <strong>com</strong>panhia,<<strong>br</strong> />

propositadamente. Era a única solução para o meu enigma. Como defender a<<strong>br</strong> />

tua cabeça sem <strong>com</strong>prometer a minha? Ápio Corvino...<<strong>br</strong> />

O moço patrício ouvia a confidência, trêmulo de pavor, mas, no instante<<strong>br</strong> />

em que o nome do amigo era pronunciado, fêz um esforço supremo e inquiriu:<<strong>br</strong> />

— Que ousas insinuar?<<strong>br</strong> />

Flávio Sú<strong>br</strong>io, entretanto, era demasiado frio para empolgar-se de<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>paixão. Embora desapontado <strong>com</strong> o sofrimento moral que impunha ao interlocutor,<<strong>br</strong> />

sorriu mordaz e aclarou:<<strong>br</strong> />

— Ápio Corvino morrerá em teu lugar.<<strong>br</strong> />

— Não! isso não! — clamou Varro, sem forças para enxugar o suor da<<strong>br</strong> />

fronte.<<strong>br</strong> />

Fêz menção de seguir até à popa, apressadamente, mas Sú<strong>br</strong>io deteve-o,<<strong>br</strong> />

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