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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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207<<strong>br</strong> />

Quinto Celso, auxiliado pelos mortiços raios da luz que de galerias<<strong>br</strong> />

afastadas chegava até eles, encontrou alguns trapos que se amontoavam no<<strong>br</strong> />

chão, à guisa de cama, e rogou ao pai adotivo descansassem um pouco.<<strong>br</strong> />

Daí a instantes, um carcereiro de fisionomia selvagem veio trazer a ração<<strong>br</strong> />

do dia, alguns pedaços de pão negro e água poluida que o rapaz, sedento,<<strong>br</strong> />

bebeu a goles largos.<<strong>br</strong> />

Conversaram ambos, longamente, reportando-se o Jovem aos imperativos<<strong>br</strong> />

da conformação e da paciência, que o cego escutava, constrangido, <strong>com</strong>o se<<strong>br</strong> />

devera sorver o fel da mais deslavada injustiça, sem direito à mínima reação.<<strong>br</strong> />

Muito mais tarde, quando julgaram haver chegado a noite, dormiram<<strong>br</strong> />

enlaçados um ao outro, tocados de inquietantes perspectivas...<<strong>br</strong> />

No dia imediato, porém, Celso amanheceu fe<strong>br</strong>il.<<strong>br</strong> />

Acusava dores por todo o corpo, tinha sede e cansaço.<<strong>br</strong> />

Taciano, aflito, apelou para o carcereiro, suplicando-lhe medicação<<strong>br</strong> />

adequada, mas não obteve senão água lodosa que o moço tragava, sôfregamente.<<strong>br</strong> />

O filho de Varro, de alma ansiada, passeou o pensamento pelos tempos<<strong>br</strong> />

idos, relem<strong>br</strong>ando a casa farta e os dias venturosos, refletindo, entretanto, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

mais intensidade, nas duras provas que lhe haviam castigado os pais queridos.<<strong>br</strong> />

Como pudera o genitor so<strong>br</strong>eviver, por tantos anos, às tempestades morais que<<strong>br</strong> />

lhe desabaram so<strong>br</strong>e o destino?<<strong>br</strong> />

Experimentou imenso remorso pelos dias que perdera, entronizando a si<<strong>br</strong> />

mesmo no mentiroso altar da vaidade...<<strong>br</strong> />

Como pudera crer-se superior aos outros homens?<<strong>br</strong> />

Ponderou o martírio de quantos <strong>com</strong>o ele mesmo estariam reclusos<<strong>br</strong> />

naqueles subterrâneos infectos, garroteados pela perseguição que não mereciam...<<strong>br</strong> />

Ainda que lhe não fôsse possível aceitar o Cristianismo, porque não se<<strong>br</strong> />

decidira a penetrar o desventurado campo da miséria do seu tempo? Quantos<<strong>br</strong> />

escravos tinha visto, amargando pavorosas aflições, junto de filhinhos doentes<<strong>br</strong> />

ou quase mortos? quantas vezes proferira ordens iníquas, tiranizando<<strong>br</strong> />

enfermos, no serviço rural? Teve a impressão de que velhos servidores se<<strong>br</strong> />

levantavam, em sua própria mente, e riam-se agora de sua dor...<<strong>br</strong> />

A respiração ofegante de Celso atribulava-o.<<strong>br</strong> />

Porque a fe<strong>br</strong>e lhe poupava o corpo, preferindo-lhe o filho do coração?<<strong>br</strong> />

porque não nascera ele. Taciano, entre escravos misérrimos? A servidão terlhe-ia<<strong>br</strong> />

sido um bálsamo.<<strong>br</strong> />

Achar-se-ia então eximido das terrificantes recordações que lhe infernavam<<strong>br</strong> />

a consciência.<<strong>br</strong> />

Com as lágrimas a lhe saltarem dos olhos, afagava Celso, consolando-o...<<strong>br</strong> />

Algumas horas passaram, marcando expectação e tortura, quando todos os<<strong>br</strong> />

reclusos receberam ordem de remoção.<<strong>br</strong> />

Abertas as grades, saíram, grupo a grupo, sob os gritos dos guardas que<<strong>br</strong> />

cuspinhavam pragas e insultos. Os mais fortes vinham algemados, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

extensas feridas nos pulsos, todavia, a maior parte deles constituía-se de<<strong>br</strong> />

enfermos cansados, de mulheres subnutridas, de crianças esqueléticas e velhos<<strong>br</strong> />

trêmulos.<<strong>br</strong> />

Ainda assim, todos os prisioneiros sorriam, contentes... É que tornavam ao<<strong>br</strong> />

sol e ao ar puro da Natureza, O vento fresco na via pública reanimava-os...<<strong>br</strong> />

Celso sentiu prodigiosamente reavivadas as energias. Reco<strong>br</strong>ou o bom

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