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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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206<<strong>br</strong> />

cristãos relapsos e contumazes ladrões, asseverando que lhe haviam<<strong>br</strong> />

assaltado o domicílio.<<strong>br</strong> />

Enredados de surpresa, Taciano e o rapaz foram detidos sem<<strong>br</strong> />

consideração.<<strong>br</strong> />

Tentando restabelecer a verdade, o cego levantou dignamente a cabeça e<<strong>br</strong> />

clamou:<<strong>br</strong> />

— Guardas, protesto! Eu sou um cidadão romano.<<strong>br</strong> />

Um dos assalariados de Caio prorrompeu em gargalhadas e observou:<<strong>br</strong> />

— Que valioso histrião para o teatro! Representaria admiràvelmente o<<strong>br</strong> />

papel de algum patrício degradado.<<strong>br</strong> />

Não valeram frases fortes do irreconhecível genro de Vetúrio.<<strong>br</strong> />

A <strong>br</strong>eves instantes, a multidão chocarreira e preguiçosa os envolveu.<<strong>br</strong> />

Ironias e impropérios foram vociferados a esmo.<<strong>br</strong> />

E, humilhados e mudos, Taciano e Celso, de corpo fatigado e dolorido,<<strong>br</strong> />

foram trancafiados em velhos subterrâneos do Esquilino, que jaziam repletos<<strong>br</strong> />

de escravos cristãos e mendigos infelizes, considerados <strong>com</strong>o trânsfugas<<strong>br</strong> />

sociais.<<strong>br</strong> />

Para Taciano, que tinha os olhos amortalhados em noturna som<strong>br</strong>a, os<<strong>br</strong> />

quadros exteriores não se mostravam fundamentalmente transformados, mas<<strong>br</strong> />

Celso, embora firme na fé, verificou, assom<strong>br</strong>ado, toda a angústia daqueles<<strong>br</strong> />

corações relegados ao labirinto dos cárceres, avaliando a extensão dos<<strong>br</strong> />

padecimentos deles.<<strong>br</strong> />

Aqui e ali, velhos deitados gemiam, dolorosamente, homens esquálidos<<strong>br</strong> />

encostavam-se a paredes enegrecidas co<strong>br</strong>indo o rosto <strong>com</strong> as mãos, mulheres<<strong>br</strong> />

andrajosas a<strong>br</strong>açavam crianças semimortas...<<strong>br</strong> />

Todavia, acima dos gemidos casados ao cheiro fétido, cânticos em surdina<<strong>br</strong> />

elevavam-se, harmoniosos.<<strong>br</strong> />

Os cristãos agradeciam a Deus a graça da dor e da flagelação,<<strong>br</strong> />

regozijando-se <strong>com</strong> a palma do sofrimento.<<strong>br</strong> />

Celso encontrou suave encanto naqueles hinos, e Taciano, entre a revolta<<strong>br</strong> />

e o tormento moral, perguntava a si mesmo de que milagroso poder estaria<<strong>br</strong> />

revestido o profeta galileu para sustentar, acima do tempo, a fidelidade de<<strong>br</strong> />

milhares de criaturas que sabiam louvá-lo, em pleno infortúnio, <strong>com</strong> absoluto<<strong>br</strong> />

olvido da miséria, da aflição e da morte...<<strong>br</strong> />

Dois guardas corpulentos, providos de lanternas e de chuços, conduzindoos<<strong>br</strong> />

a um cubículo, conversavam, animados.<<strong>br</strong> />

— Felizmente, todos os prisioneiros serão liquidados amanhã — informava<<strong>br</strong> />

um deles —; a fe<strong>br</strong>e maligna reapareceu. Tivemos hoje trinta mortos!<<strong>br</strong> />

— Eu sei — resmungou o outro —, os coveiros estão alarmados.<<strong>br</strong> />

E, sarcástico, acentuou:<<strong>br</strong> />

— Admito que as próprias feras recusarão tanta pestilência.<<strong>br</strong> />

— As autoridades estão agindo <strong>com</strong> sabedoria — disse o interlocutor —; o<<strong>br</strong> />

espetáculo, <strong>com</strong>o sabes, contará <strong>com</strong> alguns animais africanos, entretanto,<<strong>br</strong> />

para que o povo não se impressione <strong>com</strong> os enfermos, teremos postes e<<strong>br</strong> />

cruzes, em que os doentes sejam aproveitados <strong>com</strong>o tochas vivas.<<strong>br</strong> />

Taciano, desesperado, tentou ainda a última reação.<<strong>br</strong> />

— Soldados — clamou, digno —, não existem, acaso, juizes em Roma? é<<strong>br</strong> />

possível prender os cidadãos sem motivo justo e condená-los, sem exame?<<strong>br</strong> />

Um dos soldados imediatamente lhe respondeu à pergunta <strong>com</strong> violento<<strong>br</strong> />

empurrão, localizando-os, por fim, numa cela estreita e úmida.

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