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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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205<<strong>br</strong> />

— Filha, foge à injustiça e à maldade!... Em nome de nossos antepassados,<<strong>br</strong> />

desperta a consciência! não permitas que o dinheiro e os prazeres te<<strong>br</strong> />

anestesiem os sentimentos!...<<strong>br</strong> />

Exasperada, Lucila cortou-lhe a palavra, gritando para um escravo próximo:<<strong>br</strong> />

— Cróton! apressa-te! traze o cão de guarda!... Expulsa daqui estes ladrões<<strong>br</strong> />

gauleses!...<<strong>br</strong> />

Imediatamente, selvagem mastim apareceu, feroz.<<strong>br</strong> />

Precipitou-se rápido so<strong>br</strong>e Quinto Celso que a<strong>br</strong>açava Taciano, buscando<<strong>br</strong> />

preservá-lo, mas, quando pequena ferida surgiu, sangrando no <strong>br</strong>aço do rapaz,<<strong>br</strong> />

Perciliano, in<strong>com</strong>odado, interferiu, recolhendo a fera.<<strong>br</strong> />

Olhando os visitantes que se retiravam, cabisbaixos, o moço cochichou aos<<strong>br</strong> />

ouvidos da amante:<<strong>br</strong> />

— Querida, não transformemos isto aqui num tribunal. Procedamos <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

sabedoria. Esta bela vivenda não é para os desagradáveis misteres da justiça.<<strong>br</strong> />

Tranquiliza-te. Se estes vagabundos conhecem-te a família, podem realmente<<strong>br</strong> />

ameaçar-nos a ventura. Serão corrigidos a tempo...<<strong>br</strong> />

E, despedindo-se, acrescentou:<<strong>br</strong> />

— Serão presos. O anfiteatro, nas grandes festas, é a nossa máquina de<<strong>br</strong> />

limpeza.<<strong>br</strong> />

Lucila sorriu <strong>com</strong> a expressão de uma gata reconhecida e Caio passou a<<strong>br</strong> />

a<strong>com</strong>panhá-los.<<strong>br</strong> />

Taciano, surpreendido e indignado, não teve lágrimas para chorar. O<<strong>br</strong> />

desejo inútil de vingança obcecava-lhe o pensamento. O amor que ainda consagrava<<strong>br</strong> />

à primogênita transformara-se, de repente, em ódio roaz. Se pudesse<<strong>br</strong> />

— pensava —, mataria a própria filha, crendo que esse era o único recurso<<strong>br</strong> />

para quem <strong>com</strong>o ele havia ajudado a gerar um monstro.<<strong>br</strong> />

Celso, porém, afagando-lhe a cabeça, enquanto caminhavam, induzia-o à<<strong>br</strong> />

calma e ao perdão. Voltariam à casa de Marcelino. Re<strong>com</strong>eçariam a luta de<<strong>br</strong> />

outro modo.<<strong>br</strong> />

Escutando-o, o desventurado patrício pouco a pouco sossegou a própria<<strong>br</strong> />

mente e lem<strong>br</strong>ou o dia em que ele mesmo mandara soltar um cão <strong>br</strong>avio so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

o próprio pai que o visitava carinhosamente.<<strong>br</strong> />

Na acústica da memória, ouviu, de novo, os gritos de Silvano, pedindo<<strong>br</strong> />

socorro, e, na tela íntima, <strong>com</strong>o se as retinas agora funcionassem para dentro,<<strong>br</strong> />

reviu a fisionomia angustiada de Quinto Varro a implorar-lhe, em vão,<<strong>br</strong> />

entendimento e misericórdia.<<strong>br</strong> />

O retorno ao pretérito doía-lhe ao coração...<<strong>br</strong> />

Aca<strong>br</strong>unhado, registrava as palavras de Celso que o impeliam à bondade e<<strong>br</strong> />

ao esquecimento do mal e, admitindo estar sob o guante da justiça celeste, por<<strong>br</strong> />

fim desafogou em lágrimas a opressão da alma.<<strong>br</strong> />

A lem<strong>br</strong>ança do passado alterara-lhe, porém, o íntimo. Algo lhe renovara o<<strong>br</strong> />

campo mental.<<strong>br</strong> />

Com surpresa para si mesmo, passou do ódio à <strong>com</strong>iseração.<<strong>br</strong> />

Reconheceu que Lucila, tanto quanto ele próprio na juventude, trazia o<<strong>br</strong> />

sentimento intoxicado de negras ilusões.<<strong>br</strong> />

Po<strong>br</strong>e filha! — refletia, amargurado — quem lhe servirá de instrumento à<<strong>br</strong> />

dor necessária do futuro?<<strong>br</strong> />

Desciam os dois, a<strong>br</strong>açados e tristes, vigiados pela astúcia de Perciliano;<<strong>br</strong> />

mas quando se mostraram suficientemente distantes da principesca residência,<<strong>br</strong> />

o tribuno, invocando o auxílio de pretorianos na via pública, denunciou-os <strong>com</strong>o

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