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182<br />Quando Anacleta terminou as amargas revelações, o interlocutor,<br />compenetrado assim de toda a cruel verdade, cerrou os punhos e bradou em<br />voz estentórica:<br />— Helena é indigna de respirar entre os mortais. Será estrangulada por<br />minhas próprias mãos... Descerá, ainda hoje, para as horrendas regiões tartáreas,<br />onde curtirá bem merecidas penas!...<br />— Taciano! Taciano! — soluçava a velha amiga, entravando-lhe os<br />movimentos —. espera! espera! o tempo ajuda a reflexão!...<br />O patrício procurava desvencilhar-se, quando Lúcio Agripa, com expressão<br />fatigada, abeirou-se deles e notificou:<br />— Meus amigos, nossa doente descansou por fim.<br />Alanceado duplamente no coração, o pai de Blandina correu ao quarto<br />simples e contemplou o rosto de Lívia, macerado e lívido, sob o halo da morte.<br />Angelical serenidade estampara-se na face dela. Um sorriso misterioso,<br />que ninguém saberia definir como sendo de alegria ou de conformação, fixarase-lhe<br />nos lábios por derradeira mensagem de sua vida curta aos que ficavam.<br />O companheiro que tanto a amara inclinou-se sobre o cadáver, pranteando<br />por alguns momentos; no entanto, como se fôsse sübitamente erguido por<br />força estranha, começou a bramir de dor selvagem e a imprecar.<br />Convenientemente amparado por Lúcio, a este rogou auxílio. Precisava de<br />urgente acesso ao lar.<br />Em minutos breves, uma carreta de serviço transportava-o, de retorno a<br />casa, em companhia de Anacleta.<br />Em todo o percurso não haviam trocado palavra.<br />Clarões matutinos principiavam a surgir em formoso dilúculo...<br />Seguido pela governanta, preocupada em evitar qualquer atitude de<br />violência, o patrício chamou pela mulher com a voz clamante de um alienado<br />mental.<br />Helena, porém, não se achava como de costume em sua câmara de<br />repouso.<br />Após alguns instantes de ansiosa busca, foi afinal surpreendida numa poça<br />de sangue, nos banhos da casa.<br />A desventurada matrona, transtornada pelos quadros terrificantes da<br />culposa consciência, abrira os pulsos com as próprias mãos.<br />Anacleta prorrompeu em ruidosas exclamações.<br />Todos os servos acorreram pressurosos para o socorro que não mais tinha<br />razão de ser.<br />Foi então que o velho Opílio, trêmulo e aflito, aproximou-se e, deparando<br />com a filha que sempre lhe dominara o coração, cadaverizada, quis gritar mas<br />não conseguiu. O peito afigurou-se-lhe comprimido e o cérebro estalou, à<br />maneira de uma harpa cujas cordas se rebentassem, e o ancião caiu desamparado,<br />no piso de mármore, gemendo angustiosamente.<br />A noite trágica passou qual furacão desapiedado e ululante.<br />Opílio Vetúrio, o potentado que Roma admirara por tantos anos, em razão<br />do choque, acamara-se abatido e hemiplégico.<br />Extinguira-se-lhe o dom da palavra.<br />Não obstante o imenso esforço para recuperá-lo, não conseguia senão<br />emitir sons guturais, com simiesca expressão.<br />Dias desdobraram-se sobre dias...<br />E, enquanto uma soberba trirreme o conduzia, sob os cuidados de
183<br />Anacleta, a caminho de Óstia, Taciano e Blandina, acompanhados de Quinto<br />Celso, regressavam à Gália Lugdunense, chagados de saudade e de dor...<br />O orgulhoso filho de Quinto Varro, que desde a juventude desdenhava a<br />plebe e que apenas se humilhava superficialmente no culto aos deuses das<br />vitórias imperiais, começava a dobrar a cabeça. Abraçado às duas crianças<br />que lhe constituiriam doravante a razão de viver, com rugas profundas a lhe<br />desfigurarem o rosto, emoldurado já nos cabelos brancos a se multiplicarem<br />celeremente, não sabia agora senão inquirir em silêncio o horizonte distante,<br />demorando-se, mudo, a refletir e chorar...
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Corvino, adquirira nas tarefas assi
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Locros, Sêneca e Papiniano, com an
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As correntes de opinião nascidas e
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