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Taciano indicou a agonizante, cujos olhos mortos vagueavam sem<<strong>br</strong> />
expressão dentro das órbitas, e interpelou-a, emocionado:<<strong>br</strong> />
— Helena, reconheces a enferma?<<strong>br</strong> />
A senhora estremeceu e, porque esboçasse um gesto silencioso de<<strong>br</strong> />
negativa, o marido acentuou:<<strong>br</strong> />
— Esta é Lívia, a infortunada filha de Basílio.<<strong>br</strong> />
Nesse instante, Lúcio Agripa e a mulher, que se mantinham atenciosos e<<strong>br</strong> />
desvelados no quarto, demandaram o interior doméstico, recolhendo as<<strong>br</strong> />
crianças para o necessário repouso.<<strong>br</strong> />
Somente aquelas quatro almas, presas ao tremendo destino que lhes era<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>um, permaneceram, frente a frente, <strong>com</strong>o se estivessem convocadas por<<strong>br</strong> />
forças invisíveis a supremas decisões.<<strong>br</strong> />
Helena e Anacleta pareciam galvanizadas na contemplação daquele<<strong>br</strong> />
semblante animado por intensa vida interior.<<strong>br</strong> />
A harpista cega, nas vizinhanças da morte, mostrava as linhas fisionômicas<<strong>br</strong> />
de Emiliano Secundino, o amor que o tempo não apagara no coração da filha<<strong>br</strong> />
de Vetúrio.<<strong>br</strong> />
— Lívia — falou Taciano, <strong>com</strong>padecidamente —, apresento-te minha<<strong>br</strong> />
esposa e nossa amiga Anacleta.<<strong>br</strong> />
O rosto da infeliz iluminou-se de profunda alegria.<<strong>br</strong> />
— Agradeço a Deus esta hora... — exclamou em voz ciciante, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />
humildade — eu sempre desejei pedir às senhoras me desculpassem a ma<<strong>br</strong> />
impressão que lhes causava... Muitas vezes desejei aproximar-me para dizerlhes<<strong>br</strong> />
do meu respeito e amizade... entretanto... as circunstâncias não me<<strong>br</strong> />
favoreceram...<<strong>br</strong> />
Aquela voz ecoava no espírito de Helena <strong>com</strong> estranha ressonância...<<strong>br</strong> />
Porque não se interessara por um conhecimento mais íntimo daquela mulher?<<strong>br</strong> />
Alterou-se-lhe inexplicavelmente o modo de ser... Reminiscências de<<strong>br</strong> />
obscura quadra de sua vida emergiam-lhe, em cores vivas, dos recônditos da<<strong>br</strong> />
memória. Teve a impressão de que Emiliano ali se achava, em espírito,<<strong>br</strong> />
acordando-a para a realidade terrível... Olvidou a presença de Taciano,<<strong>br</strong> />
despreocupou-se de qualquer conveniência de ordem pessoal e, de fisionomia<<strong>br</strong> />
ansiada, perguntou:<<strong>br</strong> />
— Onde nasceste?<<strong>br</strong> />
— Em Cipro, senhora.<<strong>br</strong> />
— Quem te foi mãe no mundo?<<strong>br</strong> />
A agonizante sorriu <strong>com</strong> esforço e esclareceu:<<strong>br</strong> />
— Não tive a felicidade de conhecer minha mãe... Fui recolhida por meu<<strong>br</strong> />
velho pai adotivo numa charneca...<<strong>br</strong> />
— E desculparias aquela que te deu a vida se algum dia a encontrasses?<<strong>br</strong> />
— Como não?... Sempre rendi carinhoso culto ao coração materno... em<<strong>br</strong> />
minhas preces de cada dia...<<strong>br</strong> />
A matrona, pálida, trêmula de terror, perante a face nua da verdade,<<strong>br</strong> />
continuou indagando:<<strong>br</strong> />
— E se tua mãe te roubasse o esposo, o pai e a própria saúde, impondo-te<<strong>br</strong> />
o escárnio público?<<strong>br</strong> />
— Ainda assim... — confirmou Lívia, sem vacilar — não seria para mim<<strong>br</strong> />
diferente... Quem de nós, neste mundo, poderá julgar <strong>com</strong> segurança?... Minha<<strong>br</strong> />
mãe... embora me quisesse <strong>com</strong> todo o amor... talvez fôsse o<strong>br</strong>igada a ferirme...<<strong>br</strong> />
em meu próprio bem... Creio que... em tudo... devemos render graças a