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176<<strong>br</strong> />
Taciano e a menina trocaram mudo olhar de intraduzível assom<strong>br</strong>o.<<strong>br</strong> />
O hino sofrera modificações, mas era o mesmo...<<strong>br</strong> />
Extáticos, recordaram o crepúsculo inolvidável so<strong>br</strong>e o Ródano, quando<<strong>br</strong> />
penetraram a casa de Basílio pela primeira vez.<<strong>br</strong> />
De quem é aquela voz?<<strong>br</strong> />
Quando o cântico terminou, o patrício, muito pálido, dirigiu-se a Lúcio<<strong>br</strong> />
Agripa, interrogando:<<strong>br</strong> />
— Amigo, por obséquio, podereis algo informar-me so<strong>br</strong>e a música que<<strong>br</strong> />
ouvimos em vossa propriedade?<<strong>br</strong> />
O interpelado sorriu, bondoso, e esclareceu:<<strong>br</strong> />
— Ilustre senhor, a voz é de um menino que canta para uma po<strong>br</strong>e mãe<<strong>br</strong> />
que agoniza.<<strong>br</strong> />
— Quem é essa mulher? — indagou Taciano, <strong>com</strong> ansiedade.<<strong>br</strong> />
— É uma servidora cega que permanece em nossa casa, há três anos, e<<strong>br</strong> />
que, faz meses, acamou-se, absorvida pela peste de longa duração. Agora,<<strong>br</strong> />
está no fim..<<strong>br</strong> />
De semblante marmóreo, o patrício tomou a pequena mão da filha e pediu<<strong>br</strong> />
acesso ao local em que a doente se demorava.<<strong>br</strong> />
Ante aquele olhar suplicante e sincero, Agripa não vacilou.<<strong>br</strong> />
Tomando a frente, guiou os visitantes, entre curtas aleias de arvoredo, até<<strong>br</strong> />
pequenino e arejado quarto nos fundos.<<strong>br</strong> />
A janela aberta deixava escapar as notas harmoniosas de instrumento bem<<strong>br</strong> />
afinado.<<strong>br</strong> />
Taciano atravessou a porta <strong>com</strong> o coração precipite...<<strong>br</strong> />
Num quadro que jamais olvidaria, contemplou Lívia, semicadaverizada, a<<strong>br</strong> />
ouvir, ofegante, um menino simpático e humilde, que cantava <strong>com</strong> veludosa<<strong>br</strong> />
ternura.<<strong>br</strong> />
— Lívia! — gritou, atônito.<<strong>br</strong> />
— Lívia! Lívia! — repetiu Blandina, ardentemente.<<strong>br</strong> />
A enferma esboçou inexprimível sorriso no semblante calmo e estendeu as<<strong>br</strong> />
mãos, murmurando entre lágrimas:<<strong>br</strong> />
— Enfim!... enfim!...<<strong>br</strong> />
O patrício fixou, consternado, os restos ainda vivos da mulher que ele<<strong>br</strong> />
amara e a cuja afeição se dedicara <strong>com</strong> fraternal ternura, Os olhos apagados<<strong>br</strong> />
imprimiam amarga vaguidade ao rosto triste, que mais se assemelhava, agora,<<strong>br</strong> />
a delicada máscara de marfim, emoldurada pelos bastos fios negros da<<strong>br</strong> />
cabeleira que não se modificara.<<strong>br</strong> />
Enquanto Blandina se inclinava, carinhosa, para o leito, ele quis clamar a<<strong>br</strong> />
revolta que lhe lanceava o coração, mas pesada nuvem de dor constringia-lhe<<strong>br</strong> />
a garganta.<<strong>br</strong> />
Lívia adivinhou-lhe a angústia e, tendo assinalado a presença de Agripa,<<strong>br</strong> />
ensaiou uma apresentação que pudesse aliviar a tensão do momento.<<strong>br</strong> />
— Senhor Lúcio — exclamou —, eis os amigos que esperei tanto tempo...<<strong>br</strong> />
Deus não permitiu que eu morresse sem a<strong>br</strong>açá-los pela última vez... Quinto<<strong>br</strong> />
Celso terá, doravante, nova família...<<strong>br</strong> />
O dono da casa saudou Taciano e Blandina e, percebendo que o grupo<<strong>br</strong> />
desejava maior intimidade, retirou-se, cortês, prometendo regressar <strong>com</strong> Domícia,<<strong>br</strong> />
em <strong>br</strong>eve tempo.<<strong>br</strong> />
Foi então que o filho de Varro <strong>com</strong>eçou a gemer, estranhamente, <strong>com</strong>o se