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admirando a fertilidade daquele cére<strong>br</strong>o, surpreendente na urdidura do mal.<<strong>br</strong> />
— O projeto é notável — adiantou Cli mene, algo aliviada —, entretanto, a<<strong>br</strong> />
praia não é assim tão longe...<<strong>br</strong> />
Helena designou o <strong>com</strong>panheiro que as ouvia, enigmático, e acentuou:<<strong>br</strong> />
— Teódulo poderá conduzi-la para a outra banda do mar...<<strong>br</strong> />
E piscando os olhos vivos para ele:<<strong>br</strong> />
— Da África, por exemplo, qualquer mulher cega encontraria muita<<strong>br</strong> />
dificuldade para o retorno.<<strong>br</strong> />
E sentenciou, sorridente:<<strong>br</strong> />
— Não temos tempo a perder. Se essa mulher domina os homens pelos<<strong>br</strong> />
olhos, é justo que os perca.<<strong>br</strong> />
— Receio algum deslize na execução do plano — suspirou Clímene,<<strong>br</strong> />
hesitante —; se Valeriano desco<strong>br</strong>e, pagarei muito caro.<<strong>br</strong> />
— Não vaciles! — determinou a <strong>com</strong>panheira, autoritária — a dúvida numa<<strong>br</strong> />
realização que nos interessa é sempre um golpe contra nós mesmos.<<strong>br</strong> />
A esposa de Egnácio concordou e obedeceu às ordens que lhe eram<<strong>br</strong> />
ditadas.<<strong>br</strong> />
Helena a<strong>com</strong>panhou-a a casa dela.<<strong>br</strong> />
Trazida Sinésia ao lar do representante de Augusto, aceitou de bom grado<<strong>br</strong> />
todas as providências que lhe eram sugeridas, tornando à prisão de posse das<<strong>br</strong> />
instruções e das drogas indicadas.<<strong>br</strong> />
Ministrando a Lívia o hipnótico, em água pura, viu-a adormecer fàcilmente<<strong>br</strong> />
e, enquanto dormia, a moça recebeu a <strong>com</strong>pressa fatal.<<strong>br</strong> />
Quando despertou, trazia os olhos injetados de sangue.<<strong>br</strong> />
Apalpava o leito, ansiosa por recuperar a visão, mas debalde...<<strong>br</strong> />
— Sinésia! Sinésia!... — gritou, aterrada.<<strong>br</strong> />
Escutando a voz da governanta que lhe respondia, cortês, indagou aflita:<<strong>br</strong> />
— Anoiteceu assim tão de repente?<<strong>br</strong> />
— Sim — respondeu a interlocutora, <strong>com</strong> intenção —, já é noite...<<strong>br</strong> />
— Onde estava eu, contudo? estarei desvairada?<<strong>br</strong> />
— A menina teve um desmaio — informou a serva, fingindo preocupação.<<strong>br</strong> />
— Tenho meus olhos em fogo. Acende uma tocha, sinto-me intranquila.<<strong>br</strong> />
Embora <strong>com</strong>padecendo-se da vítima, Sinésia ajoelhou-se, junto dela, e,<<strong>br</strong> />
conforme as sugestões recebidas de Helena, falou-lhe aos ouvidos:<<strong>br</strong> />
— Lívia, tenha calma, coragem, paciência!... Seu pai morreu nos cavaletes<<strong>br</strong> />
de suplício!...<<strong>br</strong> />
A moça emitiu um grito abafado, seguido de convulsivos soluços.<<strong>br</strong> />
— Os espetáculos <strong>com</strong> execuções têm sido frequentes. Acredito que seus<<strong>br</strong> />
amigos cristãos não terão tido ensejo de fugir. Há, porém, uma notícia<<strong>br</strong> />
agradável. O patrício Taciano interessa-se por sua sorte. Não sei bem onde se<<strong>br</strong> />
encontra, mas estou informada de que enviou mensagem ao senhor Teódulo,<<strong>br</strong> />
re<strong>com</strong>endando-lhe a<strong>com</strong>panhá-la na viagem que a menina deve fazer para se<<strong>br</strong> />
reaproximarem... Há quem diga que a pequena Blandina está doente,<<strong>br</strong> />
reclamando cuidados...<<strong>br</strong> />
Intraduzível expressão estampou-se na fisionomia da jovem, cujos olhos<<strong>br</strong> />
mergulhavam agora em espessa noite.<<strong>br</strong> />
— Precisamos subtraí-la à crueldade de Valeriano que se propõe escravizála<<strong>br</strong> />
e possuí-la, a qualquer preço continuou Sinésia, astuta —; em cada noite<<strong>br</strong> />
parece mais louco e, provavelmente, violentar-lhe-á o sentimento feminino, de<<strong>br</strong> />
vez que vive a em<strong>br</strong>iagar-se antes de vir para o seu quarto. Dói-me o coração