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— Teódulo comparecerá — concordou a senhora, resoluta.<br />
Efetivamente, ao anoitecer, o intendente de Opílio visitou a caserna, sendo<br />
a! apresentado a Liberato Numício, chefe de coorte, designado pela Propretura,<br />
sob a inspiração de Valeriano, para iniciar o movimento punitivo.<br />
Viram-se e de imediato simpatizaram um com outro através dos<br />
sentimentos que lhes eram afins.<br />
Teódulo comunicou ao novo amigo que indicaria a casa de Vestino, sem<br />
comprometer-se. Alegou que a rebelião dos nazarenos se processava em<br />
diversos grupos de ação conjugada e, conhecendo outros centros da<br />
conspirata, poderia ser valioso colaborador na repressão, se permanecesse<br />
oculto no serviço de inteligência.<br />
Liberato concordou, loquaz, e depois de bebericarem, alegremente,<br />
tragando várias taças de vinho, puseram-se em atividade.<br />
Comandando pequena expedição de soldados e beleguins atrevidaços,<br />
Numício, sob a orientação do empregado de Vetúrio, cercou o casebre dos seguidores<br />
do Evangelho, quando o dono da casa proferia as últimas palavras da<br />
oração ensinada pelo Mestre:<br />
— ... não nos deixes cair em tentação e livra-nos do mal, porque teu é o<br />
reino, o poder e a glória para sempre, assim seja!.<br />
Lucano descerrou os olhos, e tão grande era a serenidade que neles se<br />
estampava, que mais parecia ter despertado de alguma visão celestial. Neste<br />
instante, o emissário da perseguição, quase ébrio, se postou diante da<br />
assembléia cristã, bradando para os esbirros, afoitos:<br />
— Entremos! É aqui mesmo. A malta de raposas está no covil!...<br />
Ninguém respondeu.<br />
Os agentes armados penetraram ruidosamente o recinto.<br />
Sarcástico, Numício observou:<br />
— Já visitei agrupamentos como este. Nunca vi uma raça tão acovardada<br />
como a dos aprendizes do Judeu Crucificado. Tomam bofetadas, entregam<br />
mulheres, sofrem o cárcere e morrem debaixo de insultos, sem qualquer<br />
reação! Asquerosos morcegos!.<br />
Cuspinhou algumas pragas e, relanceando o olhar pelos circunstantes,<br />
interrogou com estardalhaço:<br />
— Quem é o chefe do bando?<br />
Vendo que ninguém respondia, reajustou a frase e renovou a pergunta:<br />
— Quem é aqui o chefe da casa?<br />
Lucano ergueu-se, digno, e apresentou-se:<br />
— O chefe da casa é Jesus e eu sou o responsável.<br />
— Jesus? Ora, ora... — gritou Numício, gargalhando — sempre os mesmos<br />
loucos!...<br />
Parou o olhar irônico em Vestino e continuou:<br />
— Velho detestável, vejamos a tua noção de responsabilidade. Se tens<br />
miolo na cabeça abjura a bruxaria! Rende culto aos deuses e afirma a tua<br />
fidelidade aos nossos imperadores. Provavelmente, assim, o quadro desta<br />
noite poderá modificar-se.<br />
— Não posso! — informou o apóstolo, sereno — sou cristão. Não tenho<br />
outro Deus que não seja Nosso Pai Celestial, cuja grandeza e cujo amor se<br />
manifestaram na Terra por Nosso Senhor Jesus Cristo.<br />
— Renega os teus sortilégios, feiticeiro! — clamou Liberato, de faces<br />
congestas — abjura ou sentirás o peso de minha decisão!...