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Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

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128<<strong>br</strong> />

Rouquenhos gemidos escapavam-lhe do peito.<<strong>br</strong> />

Cravou no envenenador os olhos injetados, a fuzilarem de ódio e amargura,<<strong>br</strong> />

em meio das som<strong>br</strong>as, e, tentando expulsar a baba sanguinolenta que lhe<<strong>br</strong> />

escorria da boca, indagou em voz sumida:<<strong>br</strong> />

— Porque me matas... covarde?...<<strong>br</strong> />

— Esperavas a proteção dos deuses — replicou Teódulo, cínico —, e a<<strong>br</strong> />

morte é a herança que os imortais reservam aos homens de tua laia.<<strong>br</strong> />

— Malditos!... malditos!...<<strong>br</strong> />

Foram essas as suas derradeiras palavras, porque, a <strong>br</strong>eve tempo,<<strong>br</strong> />

inteiriçaram-se-lhe os mem<strong>br</strong>os e cadaverizou-se-lhe o semblante numa triste<<strong>br</strong> />

carantonha.<<strong>br</strong> />

O assassino afastou-se, ligeiro, ao encontro de alguém que o observava,<<strong>br</strong> />

por trás de frondosa tília.<<strong>br</strong> />

Era Helena, que sorriu satisfeita à informação de que tudo fôra consumado.<<strong>br</strong> />

A<strong>com</strong>panhou o amigo, até ao minúsculo pavilhão que as trepadeiras<<strong>br</strong> />

abafavam, e, à claridade mortiça de uma tocha, contemplou o cadáver ainda<<strong>br</strong> />

quente.<<strong>br</strong> />

— Era um belo homem! — <strong>com</strong>entou, insensível — poderia ter sido amado<<strong>br</strong> />

e feliz se soubesse conservar o pé no degrau em que nasceu.<<strong>br</strong> />

Permutou inolvidável olhar <strong>com</strong> o agente de suas decisões, qual se<<strong>br</strong> />

estivessem selando, sem palavras, mais um escuro <strong>com</strong>promisso moral, e<<strong>br</strong> />

afastou-se.<<strong>br</strong> />

Quando a noite se fêz mais avançada, o próprio Teódulo, <strong>com</strong> o traje<<strong>br</strong> />

característico dos escravos da casa de Vetúrio, abandonou o jardim conduzindo<<strong>br</strong> />

um fardo, em grande carrinho de mão, <strong>com</strong>umente utilizado em serviços de<<strong>br</strong> />

higiene.<<strong>br</strong> />

Afastou-se, cauteloso, evitando o contacto <strong>com</strong> os transeuntes<<strong>br</strong> />

retardatários, e atravessou, aparentemente tranquilo, vasta extensão da via<<strong>br</strong> />

pública, até alcançar a margem do rio.<<strong>br</strong> />

As <strong>br</strong>isas que sopravam do Ti<strong>br</strong>e balsamizaram-lhe o cére<strong>br</strong>o atormentado.<<strong>br</strong> />

Aí descansou, preocupado e cismático.<<strong>br</strong> />

A Lua minguada parecia uma lanterna que se imobilizara no céu, a fim de<<strong>br</strong> />

espreitar-lhe a consciência culpada...<<strong>br</strong> />

Refletiu maduramente, fitando, aca<strong>br</strong>unhado, o pequeno acervo de carne<<strong>br</strong> />

fria a que Volusiano se reduzira...<<strong>br</strong> />

Os mistérios da vida e da morte fustigaram-lhe o espírito. Terminaria a<<strong>br</strong> />

existência no túmulo? Horas antes, vira Marcelo deslum<strong>br</strong>ado pela alegria de<<strong>br</strong> />

viver. Aquelas mãos, porém, que ele observara nervosas e quentes, estavam<<strong>br</strong> />

agora geladas e inertes. A boca palradora quedara-se hirta. Algumas gotas de<<strong>br</strong> />

veneno conseguiriam eliminar um homem para sempre?<<strong>br</strong> />

Dolorosa inquietação aflorou-lhe nalma.<<strong>br</strong> />

Haveria justiça no aniquilamento do próximo, sem maior investigação?<<strong>br</strong> />

Estariam Helena e ele em condições de reprovar alguém?<<strong>br</strong> />

Buscava o remorso corroer-lhe o pensamento, contudo, opôs-lhe<<strong>br</strong> />

resistência.<<strong>br</strong> />

Procurando fugir de si mesmo, caminhou para o Ti<strong>br</strong>e, centralizou a<<strong>br</strong> />

atenção no corpo das águas móveis e durante largos minutos esperou uma<<strong>br</strong> />

oportunidade para desfazer-se da carga.<<strong>br</strong> />

Quando imensa mole de nuvens co<strong>br</strong>iu a Lua empo<strong>br</strong>ecida, adensando as<<strong>br</strong> />

som<strong>br</strong>as em torno, ergueu-se, lesto, e, desco<strong>br</strong>indo o cadáver, arrojou-o à

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