02.05.2014 Views

Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

Ave Cristo - Espiritismoemdebate.com.br

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Atormentado por insopitável angústia, Taciano chorava sem querer,<<strong>br</strong> />

rememorando as próprias experiências.<<strong>br</strong> />

Sabia-se fora do corpo físico, mas longe de encontrar as paisagens das<<strong>br</strong> />

narrações de Vergílio, cuja leitura lhe merecera especial atenção, vira-se<<strong>br</strong> />

in<strong>com</strong>preensivelmente atraí do para as bacanais da sociedade em decadência,<<strong>br</strong> />

sendo surpreendido, depois do túmulo, tão somente por si próprio, <strong>com</strong> a sua<<strong>br</strong> />

velha sede de sensações. Delirara em banquetes e jogos, sorvera o prazer em<<strong>br</strong> />

todas as taças ao seu alcance, mas rendia-se ao tédio e ao arrependimento.<<strong>br</strong> />

Em que se resumia a vida? — perguntava a si mesmo, em solilóquio doloroso<<strong>br</strong> />

—onde se domiciliavam os deuses de sua antiga fé? Valeria a procura da<<strong>br</strong> />

felicidade, na temporária satisfação dos sentidos humanos, depois da qual havia<<strong>br</strong> />

sempre larga dose de fel? Como localizar as antigas afeições no misterioso<<strong>br</strong> />

país da morte? por que razões vagueava preso ao reino doméstico, sem<<strong>br</strong> />

equilí<strong>br</strong>io e sem rumo? Não seria mais justo, se possível, adquirir novo corpo e<<strong>br</strong> />

respirar entre os homens <strong>com</strong>uns? Suspirava por mais íntimo contacto <strong>com</strong> o<<strong>br</strong> />

plano da carne, em cuja penetração poderia esquecer a si mesmo... Oh! se<<strong>br</strong> />

pudesse olvidar os enigmas torturantes da existência, conchegando-se à<<strong>br</strong> />

matéria para dormir e refazer-se! — meditava.<<strong>br</strong> />

Conhecia amigos que, depois de longas súplicas ao Céu, haviam<<strong>br</strong> />

desaparecido na direção do renascimento. Não ignorava que o espírito imortal<<strong>br</strong> />

pode usar vários corpos, entre os homens; entretanto, não se sentia <strong>com</strong> a<<strong>br</strong> />

força precisa para dominar-se e oferecer às Divindades uma prece fundamentada<<strong>br</strong> />

no verdadeiro equilí<strong>br</strong>io moral.<<strong>br</strong> />

Naquele instante, porém, sentia-se mais angustiado que de outras vezes.<<strong>br</strong> />

Saudade imensa e indefinível pungia-lhe o coração.<<strong>br</strong> />

Depois de chorar em silêncio, fixou o semblante impassível da estátua e<<strong>br</strong> />

suplicou:<<strong>br</strong> />

— Grande Hélios! Deus de meus avós!... Compadece-te de mim! Renovame<<strong>br</strong> />

o sentimento na pureza e na energia que encarnas para a nossa raça! Se<<strong>br</strong> />

possível, faze-me esquecer o que fui. Ampara-me e concede-me a graça de<<strong>br</strong> />

viver, de conformidade <strong>com</strong> o exemplo dos meus antepassados!...<<strong>br</strong> />

Com as inexprimíveis reminiscências do seu antigo lar, Taciano, inclinado<<strong>br</strong> />

para o solo, lamentava-se, amarguradamente; mas, quando enxugou as<<strong>br</strong> />

lágrimas que lhe obscureciam a visão e tornou a fitar a imagem do deus, não<<strong>br</strong> />

mais viu o ídolo primoroso e sim o Espírito de Quinto Varro, nimbado de<<strong>br</strong> />

intensa luz, a olhá-lo <strong>com</strong> enternecimento e tristeza.<<strong>br</strong> />

O jovem quis recuar, transido de assom<strong>br</strong>o, mas indefiníveis emoções<<strong>br</strong> />

subjugavam-lhe agora todo o ser.<<strong>br</strong> />

Como que do<strong>br</strong>ado por forças misteriosas, ajoelhou-se ante a visita<<strong>br</strong> />

inesperada.<<strong>br</strong> />

Desejou falar, mas não conseguiu, assinalando estranha constrição nas<<strong>br</strong> />

cordas vocais.<<strong>br</strong> />

Pranto mais intenso jorrava-lhe dos olhos.<<strong>br</strong> />

Identificou a personalidade do genitor e, esmagado por inexprimível<<strong>br</strong> />

emoção, notou que Varro caminhava para ele, de afetuoso olhar encimando<<strong>br</strong> />

triste sorriso.<<strong>br</strong> />

A entidade amorosa afagou-lhe a cabeça atormentada e falou:<<strong>br</strong> />

— Taciano, meu filho!... Que o Supremo Senhor nos abençoe a senda de<<strong>br</strong> />

redenção. Deixa que as lágrimas te lavem todos os escaninhos da alma!<<strong>br</strong> />

Milagrosa lixívia, o pranto purifica nossas chagas de vaidade e ilusão.<<strong>br</strong> />

11

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!