Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
103<<strong>br</strong> />
amadurecidas e perguntou, de novo:<<strong>br</strong> />
— Mas, papai, qual dos deuses nos traz uvas tão doces?<<strong>br</strong> />
O <strong>com</strong>panheiro, satisfeito <strong>com</strong> a curiosidade dela, sentou-a nos joelhos,<<strong>br</strong> />
explicando:<<strong>br</strong> />
— Quem nos concede a bênção da colheita, é Ceres, a generosa deusa da<<strong>br</strong> />
agricultura.<<strong>br</strong> />
Talvez prevendo novas interrogações da pequena, continuou:<<strong>br</strong> />
— Ceres fêz longas viagens entre os homens, ensinando-os a arar o solo e<<strong>br</strong> />
a preparar boas sementeiras... Possuía uma filha, de nome Prosérpina,<<strong>br</strong> />
carinhosa e bela <strong>com</strong>o tu, mas Plutão, o rei dos internos, roubou-a, cruel...<<strong>br</strong> />
— Oh! porquê? — interferiu Blandina, interessada.<<strong>br</strong> />
E o moço prosseguiu, pacientemente:<<strong>br</strong> />
— Plutão era tão feio, tão feio, que não achou mulher que o amasse.<<strong>br</strong> />
Então, um dia, quando Prosérpina colhia flores nos campos sicilianos, o medonho<<strong>br</strong> />
Plutão assaltou-a e conduziu-a para a sua horrível morada.<<strong>br</strong> />
— Po<strong>br</strong>ezinha! — lamentou a pequerrucha, penalizada — e a mãe dela<<strong>br</strong> />
não encontrou algum meio de salvá-la?<<strong>br</strong> />
— Ceres sofreu muito até que lhe desco<strong>br</strong>iu o paradeiro. Desceu aos<<strong>br</strong> />
infernos, a fim de recuperá-la, mas a filha era meiga e bondosa e, por isso,<<strong>br</strong> />
afeiçoara-se ao tirano que fôra o<strong>br</strong>igada a receber por marido. Compadecendose<<strong>br</strong> />
do esposo, não mais quis voltar. Geres, então muito aflita, recorreu a<<strong>br</strong> />
Júpiter, o senhor do Olimpo, mas tantas perturbações so<strong>br</strong>evieram que o<<strong>br</strong> />
grande deus julgou melhor determinar que Prosérpina, cada ano, passasse<<strong>br</strong> />
seis meses em <strong>com</strong>panhia da mãezinha, e os seis restantes junto do<<strong>br</strong> />
<strong>com</strong>panheiro.<<strong>br</strong> />
A menina suspirou, aliviada, e <strong>com</strong>entou:<<strong>br</strong> />
— Júpiter, nosso pai do céu, foi sábio e bondoso...<<strong>br</strong> />
Em seguida, os olhinhos vivos e escuros se lhe iluminaram. A<strong>br</strong>açou<<strong>br</strong> />
Taciano, nervosamente, e indagou:<<strong>br</strong> />
— Papai, se Plutão me roubasse, o senhor me procuraria?<<strong>br</strong> />
— Sem dúvida — replicou Taciano, rindo-se —, mas não há perigo. O<<strong>br</strong> />
monstro jamais nos in<strong>com</strong>odará.<<strong>br</strong> />
— Como sabe o senhor?<<strong>br</strong> />
O paizinho enlaçou-a, informando:<<strong>br</strong> />
— Temos nossa mãe Cíbele, Blandina. Nossa divina protetora jamais nos<<strong>br</strong> />
abandona.<<strong>br</strong> />
A pequena, confiante, estampou satisfação e paz na fisionomia ingênua.<<strong>br</strong> />
Enquanto o moço patrício passava a orientar o trabalho de alguns<<strong>br</strong> />
escravos, a criança correu, alhures, encontrando grande borboleta a mover-se<<strong>br</strong> />
dificilmente.<<strong>br</strong> />
Blandina recolheu-a, <strong>com</strong> extremo cuidado, nas do<strong>br</strong>as do leve peplo de lã<<strong>br</strong> />
e apresentou-a ao genitor, reclamando:<<strong>br</strong> />
— Paizinho, será que as borboletas não possuem um deus que as ajude?<<strong>br</strong> />
— Como não, minha filha? os gênios celestes cuidam de toda a Natureza.<<strong>br</strong> />
— Mas onde estaria o socorro para uma po<strong>br</strong>e criatura <strong>com</strong>o esta?<<strong>br</strong> />
Taciano sorriu e, dando-lhe a mão, acentuou:<<strong>br</strong> />
— Vamos <strong>com</strong>igo, vou mostrar-te.<<strong>br</strong> />
Deram alguns passos e alcançaram límpida corrente.<<strong>br</strong> />
Taciano, carinhoso, indicou-lhe o córrego cantante e esclareceu:<<strong>br</strong> />
— As fontes, minha filha, são dádivas do Céu, em nosso favor. Deixa tua