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Edição Completa - Conselho Brasileiro de Oftalmologia

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46<br />

Momento Cultural<br />

(*) Elisabeto Ribeiro Gonçalves<br />

A famigerada alegria do<br />

faz-me-gerado... falmisgeraldo... e familhasgerado.<br />

Em resumo a estória se <strong>de</strong>senvolve<br />

entre o medo inicial do narrador e a solução<br />

final, com a explicação que ele <strong>de</strong>ra ao cavaleiro.<br />

É no curso da história, nas fabulações<br />

e conjecturas do narrador frente ao enigma<br />

que lhe parecia ser o forasteiro, nos diálogos<br />

curtos, nos recursos linguísticos, nas inovações,<br />

na revalorização <strong>de</strong> expressões antigas,<br />

algumas já gastas pela força do uso, que Rosa<br />

mostra sua força <strong>de</strong> contista e vai nos <strong>de</strong>slumbrando,<br />

nos pren<strong>de</strong>ndo, sem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

nenhuma revelação espetacular, insólita, ao<br />

final e como fecho da estória. Cada palavra<br />

sua traz uma novida<strong>de</strong>, cada frase sua, muitas<br />

tomadas <strong>de</strong> empréstimo e reconstruídas do<br />

linguajar usual, já é uma permanente fonte <strong>de</strong><br />

prazerosa e <strong>de</strong>sconcertante surpresa.<br />

Não concordo com a opinião <strong>de</strong> alguns<br />

<strong>de</strong> que Rosa teria criado uma nova língua<br />

ou reinventado o português. E nem precisou<br />

fazer isso para nos dar conta <strong>de</strong> sua genialida<strong>de</strong><br />

e da importância <strong>de</strong> sua literatura. Rosa<br />

simplesmente ( simplesmente?) <strong>de</strong>sceu ao<br />

fundo do poço vernacular para catar e selecionar<br />

pérolas <strong>de</strong> uma língua rica, retirar-lhe<br />

a camada <strong>de</strong> mofo, lustrá-las, para exibi-las a<br />

nós em toda sua beleza e infinita possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> recursos e significados. Também não<br />

concordo inteiramente com a corrente que diz<br />

que Rosa é <strong>de</strong> difícil entendimento. Mesmo<br />

porque a beleza <strong>de</strong> um texto não está na total<br />

e exata compreensão do que o autor tinha<br />

em mente ao escrevê-lo. Assim, não <strong>de</strong>vemos<br />

nos preocupar em <strong>de</strong>cifrar integralmente a<br />

intenção ou o propósito do autor. Em outras<br />

palavras, ao ser publicada, uma obra ou um<br />

livro per<strong>de</strong> a autoria única e ganha milhões <strong>de</strong><br />

autores que irão reinterpretando, modificando,<br />

reescrevendo mesmo a i<strong>de</strong>ia original segundo<br />

sua própria experiência <strong>de</strong> vida, suas disponibilida<strong>de</strong>s<br />

culturais e emocionais.<br />

A beleza <strong>de</strong> um texto não está, pois, no<br />

entendimento pleno dos <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> criaconhecimento<br />

(Conhecereis a verda<strong>de</strong> e a verda<strong>de</strong> vos libertará. João, 8:32)<br />

Para Wellington Morais <strong>de</strong> Azevedo, amigo e médico famigerado<br />

Uma tentativa <strong>de</strong> analisar e interpretar “Famigerado”,<br />

mais um exemplo do estilo inovador <strong>de</strong> Guimarães Rosa<br />

(Primeiras Estórias Ed. Nova Fronteira, 2005)<br />

O<br />

narrador, tranquilo em sua casa,<br />

num arraial qualquer, é alertado<br />

pelo ruído <strong>de</strong> um tropel. Curioso,<br />

chegou-se à janela para<br />

<strong>de</strong>parar com quatro cavaleiros.<br />

Um <strong>de</strong>les, que parecia chefiar a<br />

tropa, postou-se rente a sua porta, equiparado,<br />

exato, enquanto os três outros recuaram,<br />

mudos. O que queria o chefe, provavelmente<br />

um celerado chefiando um bando <strong>de</strong> malfeitores?<br />

Nem ameaçar, nem matar: apenas saber<br />

do narrador qual o significado <strong>de</strong> “famigerado”,<br />

que ele nem ouvira ou enten<strong>de</strong>ra direito,<br />

parecendo-lhe algo como “fasmisgerado...<br />

Jornal Oftalmológico Jota Zero | Março/Abril 2013

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