You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
97<br />
especialmente, quando essa expressão é o gatilho (Raskin, 1985) desencadeador da<br />
comicidade. Apareceram muitas traduções diferentes e nem por isso a tira teve o seu sentido<br />
alterado:<br />
FIGURA 85- Tira 09. ¡Qué papelón! Quino, Mafalda: De la flor, 2003, v. 1.<br />
A mãe de Mafalda lhe dá conselhos sobre o que dizer quando Susanita lhe<br />
perguntar sobre o quanto ganha seu pai “tu papá gana lo bastante para que podamos vivir<br />
decentemente”. No terceiro quadro a indicação da fala está errada, apontando para a mãe, mas<br />
pelo texto percebemos que se trata de uma fala da Mafalda na qual ela confirma as palavras da<br />
mãe, convicta da verdade, para, no último quadro, cair na real.<br />
O gatilho (Raskin, 1985) que desencadeia o efeito cômico dessa tira aparece no<br />
último quadro, na expressão convencional (Tagnin, 2005) “¡Qué papelón!”. Ela evidencia os<br />
dois scripts que se opõem, o primeiro é marcado pelo que Mafalda parece sentir com relação à<br />
situação financeira do pai: felicidade, por acreditar que ele ganha o suficiente para que a<br />
família possa viver decentemente. E o segundo, pelo que ela realmente sente: vergonha, por<br />
saber que tudo não passa de uma grande mentira. Quando comparamos as expressões faciais<br />
da menina no terceiro e no quarto quadros percebemos que elas reforçam essa oposição. Esse<br />
contraste representa a quebra de expectativa da Mafalda ao perceber a real situação financeira<br />
de seu pai e, também do leitor, que primeiro é levado a acreditar na felicidade dela, para só<br />
depois deduzir a verdade.<br />
Entre os participantes do estudo 2 apareceram algumas traduções mais freqüentes<br />
para a expressão “¡qué papelón!” como “que papelão!”, “que vergonha!”, “que mentira!”.