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Um outro ponto a ser comparado é a tradução de ‘um pepino’. Na<br />
oficial, usou-se ‘coisa alguma’ para traduzi-la, e a realizada por mim usou a<br />
expressão ‘uma ova’. Todas as duas transmitem a intenção que Susanita teve<br />
de interromper a fala de Mafalda, antes mesmo de escutar as suas<br />
considerações. Apesar de possuírem o mesmo valor semântico, a última opção<br />
apresentada é mais popular do que a outra, por isso a considerei como melhor<br />
alternativa.”<br />
Pelos relatórios expostos acima, percebe-se que os dois alunos detectaram quais os<br />
gatilhos (Raskin, 1985) desencadeadores do humor na tira, a ambigüidade do termo<br />
“descontrolada” no último quadro, e a oposição entre os vocábulos “control” e<br />
“descontrolada”. Embora essa consciência só apareça após comparar as suas traduções com a<br />
tradução publicada, isso já é um fator a mais que se agrega ao conhecimento de cada um sobre<br />
tradução de humor: antes de se traduzir um enunciado humorístico é necessário uma<br />
interpretação criteriosa em busca do elemento ou elementos desencadeadores do riso no leitor,<br />
para que a tradução proceda de tal forma que não ocasione prejuízos no humor ou, até mesmo,<br />
a sua ausência.<br />
Ainda com relação a esses relatórios, é visível a dedicação em tentar traduzir, de<br />
tal forma que se adeqüe à realidade brasileira, a expressão “un pepino”. Fora a opção do<br />
primeiro aluno em traduzir por “uma manga”, as outras duas, “uma pinóia” e “uma ova”, são<br />
completamente viáveis para o contexto.<br />
Pela análise e comparação de todos os testes presume-se que ao final do curso a<br />
maioria dos alunos amadureceu com relação aos mecanismos envolvidos na tradução do<br />
humor. Além disso, também foi possível observar, comparando o desempenho dos<br />
participantes do segundo e do terceiro estudo, que o fato de esses, na sua grande maioria, já<br />
conhecerem bem a língua espanhola, por cursarem Letras-espanhol, não lhes trouxe vantagem<br />
alguma sobre aqueles, que, praticamente, na sua totalidade, só estudaram essa língua para<br />
prestar o vestibular. Provavelmente isso ocorreu por causa da interferência do professorpesquisador<br />
durante a execução das traduções dos dois grupos. Se essa interferência não<br />
tivesse acontecido, presumimos que os alunos do estudo dois, que não tinham um bom<br />
conhecimento do espanhol, não se sairiam tão bem quanto os do estudo três, já que sabemos<br />
que o conhecimento da língua a ser traduzida é muito importante para a realização de uma boa<br />
tradução.