patrícia moreira sampaio - Uece

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Quando o leitor visualiza o objeto nas mãos de Felipe, sabe que essa é a
interpretação mais adequada e o que ele espera de Mafalda, já que ela também está diante do
brinquedo, é que ela pense assim. Porém, o que ocorre, é uma quebra na expectativa do leitor,
quando a menina considera “yo-yo” como a repetição do pronome “yo” (eu); “eu-eu”. E essa
quebra, segundo Tagnin (2005), é que produz o humor.
Há, também, um caso de “duplo sentido propriamente dito” (Freud, 1977). Ao
considerar “yo-yo” como uma repetição do pronome pessoal “yo”, Mafalda acrescenta uma
interpretação àquela pré-existente, a de que “yo-yo” seja um brinquedo. Enquanto os
personagens discutem, o leitor se diverte, devido à confusão provocada por esse duplo
sentido.
Pode-se dizer, então, que o humor é provocado por uma ambigüidade fonológica
(Possenti, 2002) entre os vocábulos “yo” e “yo-yo”, já que a pronúncia do “yo” é a mesma
nos dois casos.
Por mais que Felipe queira dizer “iô-iô”, o que Mafalda escuta é “eu-eu”. Como
se vê, em português não existe essa ambigüidade, por se tratarem de duas palavras
completamente diferentes, tanto gráfica quanto fonologicamente. Por isso, ficou muito
estranha a tradução em português com o uso da nota do tradutor.
FIGURA 50- Tira 03. Ioiô. Quino, Toda Mafalda: Martins Fontes, 2003: 12.
Para traduzir essa tira, de tal forma que produza o humor, o tradutor, após analisála
e perceber como o humor foi produzido, poderia ter tentado encontrar na língua alvo, algum
jogo de palavra com “iô-iô”, já que a presença verbal do brinquedo é aparentemente
inevitável, devido à imagem. Porém, na ausência de tal possibilidade, talvez a melhor opção
fosse a recriação da tira, sem perder de vista o principal objetivo da tradução de enunciados
humorísticos, o de provocar o riso.
Na tradução publicada, no entanto, o tradutor optou por uma tradução literal da
língua fonte. Para tentar solucionar o problema decorrente da falta de elementos no português,