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REGULAÇÃO - Tribunal de Contas da União

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ANÁLISE DO EFEITO DAS REFORMAS REGULATÓRIAS E PRIVATIZAÇÃO<br />

DOS SERVIÇOS PÚBLICOS NO BRASIL – ELETRICIDADE E TELEFONIA<br />

LUCIANO DOS SANTOS DANNI<br />

INTRODUÇÃO<br />

A privatização <strong>de</strong> serviços públicos <strong>de</strong> infra-estrutura é parte do receituário geral<br />

<strong>de</strong> privatização, liberalização econômica e reforma do Estado previsto pelo Consenso <strong>de</strong><br />

Washington. Segundo esse paradigma, a privatização justifica-se pelo esgotamento <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> fiscal dos Estados, e pelos ganhos <strong>de</strong> eficiência resultantes <strong>da</strong> gestão priva<strong>da</strong>,<br />

mais profissional e menos sujeita a interferências políticas.<br />

Segundo Birdsall e Nellis (2002), em todo o mundo são mais <strong>de</strong> 100 mil as firmas<br />

parcial ou totalmente privatiza<strong>da</strong>s até os dias <strong>de</strong> hoje. A análise técnica dos efeitos dos<br />

processos <strong>de</strong> privatização sobre o bem-estar e crescimento econômico têm sido positiva,<br />

apesar <strong>da</strong> impopulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do fenômeno. Como ressaltam os autores,<br />

a evidência <strong>de</strong> corrupção na Rússia e Malásia, o <strong>de</strong>sequilíbrio fiscal no Brasil,<br />

a escala<strong>da</strong> <strong>de</strong> preços na Argentina, e a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> empregos em vários países,<br />

manchou sua reputação mesmo entre proponentes <strong>da</strong>s reformas liberalizantes ao<br />

longo <strong>da</strong>s duas últimas déca<strong>da</strong>s. (BISARD e NELLIS, 2002)<br />

Os autores apontam como a principal razão para tantas críticas a percepção <strong>de</strong><br />

que a privatização foi injusta: resultou em aumentos <strong>de</strong> preços, e promoveu oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

para tornar mais ricos os ricos e mais pobres os pobres, e on<strong>de</strong> houve algum ganho <strong>de</strong><br />

eficiência, ocorreu em função <strong>da</strong> simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste processo com a <strong>de</strong>sregulamentação<br />

ou outras medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> incentivo à competição.<br />

399<br />

Para McKenzie e Mookherjee (2002), as diferenças na avaliação popular <strong>de</strong><br />

processos <strong>de</strong> privatização e <strong>da</strong>s conclusões apresenta<strong>da</strong>s pela literatura po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>correr<br />

<strong>de</strong> viés no processo <strong>de</strong> formação <strong>da</strong> percepção popular, bem como no uso <strong>de</strong> diferentes<br />

padrões <strong>de</strong> julgamento dos aplicados pelos economistas, mas consi<strong>de</strong>ram que a falta <strong>de</strong><br />

informações a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s é a principal causa <strong>de</strong>ssas diferenças.<br />

McKenzie e Mookherjee (2002), e Nellis (2003) apresentam um argumento<br />

psicológico para a impopulari<strong>da</strong><strong>de</strong> do fenômeno na América Latina. “Privatização”, assim<br />

como “globalização” e “ajustes estrututrais” tornaram-se termos que automaticamente<br />

ten<strong>de</strong>m a gerar reações negativas. E apresentam ain<strong>da</strong> um <strong>da</strong>do importante: as críticas<br />

mais intensas estão relaciona<strong>da</strong>s à privatização <strong>de</strong> serviços públicos, e não <strong>de</strong> setores<br />

competitivos <strong>da</strong> economia.<br />

Isso <strong>de</strong>ve-se, segundo Nellis (2003), essencialmente a três fatores: à percepção <strong>de</strong><br />

per<strong>da</strong> <strong>de</strong> soberania, na medi<strong>da</strong> em que empresas estrangeiras adquirem “valiosos ativos<br />

nacionais” construídos ao longo <strong>de</strong> déca<strong>da</strong>s; ao senso comum <strong>de</strong> que a privatização<br />

necessariamente conduz a aumentos <strong>de</strong> preços, e à suspeição generaliza<strong>da</strong> <strong>de</strong> que muitos<br />

dos processos <strong>de</strong> privatização e concessão <strong>de</strong> serviços foram caracterizados por conluios,<br />

frau<strong>de</strong>s e incompetência.<br />

Anuatti-Neto et all (2003) citam <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> pesquisa Latinobarômetro, <strong>de</strong> 2001,<br />

<strong>de</strong>monstrando que, apesar <strong>de</strong> não ter apoio <strong>da</strong> opinião pública, a privatização é melhor<br />

Regulação <strong>de</strong> serviços públicos e controle externo

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