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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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nada podia acalmar. Até ao momento <strong>em</strong> que o garoto ganha <strong>de</strong> um pescador três<br />

estrelas do mar: “E eu fiquei num <strong>de</strong>lírio <strong>de</strong> entusiasmo por causa das estrelas do mar.<br />

O pescador percebeu logo meus olhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo”. As estrel as lhe davam tudo,<br />

alimentavam-no, davam licença para brincar no barro, eram as suas “tesoureiras da<br />

boa sorte”. Afinal, foi o que o pescador que lhe presenteou dissera, que estrela do mar<br />

dá boa sorte. Um dia, o menino Juca 208 sentiu que precisaria <strong>de</strong>sligar-se <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>las,<br />

pelo menos a menorzinha, pois ao encontrar um operário no seu intervalo <strong>de</strong> almoço,<br />

com ar <strong>de</strong> melancolia, ao perguntar-lhe o que tinha, este lhe respon<strong>de</strong> que seu<br />

probl<strong>em</strong>a era má sorte. Com muito choro, entre soluços, Juca dá uma <strong>de</strong> suas estrelas,<br />

que encarnavam uma parte <strong>de</strong> si mesmo, como o objeto petit a, ao hom<strong>em</strong> que<br />

necessitava <strong>de</strong> boa sorte. A personag<strong>em</strong> Mad<strong>em</strong>oiselle, <strong>de</strong> “Atrás da catedral <strong>de</strong><br />

Ruão”, evi<strong>de</strong>ncia a parcialida<strong>de</strong> da satisfação pulsional, neste caso através do objeto<br />

olhar e do objeto voz, ao apren<strong>de</strong>r “o esperanto fácil dos gatos da noite”, espreitandoos<br />

com “o seu olhar na janela enfrestada do quarto, o ouvido, a cara toda enfim na<br />

umida<strong>de</strong> <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro”. Nas palavras <strong>de</strong> Rabello, “<strong>de</strong>ssa linguag<strong>em</strong> universal, <strong>de</strong><br />

g<strong>em</strong>idos e sexualida<strong>de</strong>, Mad<strong>em</strong>oiselle compartilha apenas com um pedaço <strong>de</strong> si,<br />

<strong>de</strong>slocado: ouvidos, olhos, palavras e sons que <strong>em</strong>it<strong>em</strong> ânsia e alívio, toscamente<br />

parciais”, mas que, sendo <strong>em</strong>bora parciais, n<strong>em</strong> por isso <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> alcançar alguma<br />

forma <strong>de</strong> satisfação.<br />

208 Neste conto, <strong>em</strong>bora o narrador não enuncie seu nome, chega-se a <strong>de</strong>duzir que se trata <strong>de</strong> Juca, pois,<br />

como afirma Daré Rabello, “a matéria t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> que se trata já aparece na primeira frase do primeiro<br />

conto: <strong>em</strong> ‘Vestida <strong>de</strong> preto’, o eu Juca afirma que houvera um t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que só existia o amor por si<br />

mesmo” (op. cit., p. 36).<br />

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