Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...
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everberar o eco dos significantes do fin amor, e muitos <strong>de</strong>les pa<strong>de</strong>ceram seus efeitos,<br />
seu seqüestro, por interdições e obstáculos interiores, como b<strong>em</strong> registrou <strong>Mário</strong> <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>.<br />
Lacan e seu mito da lamelle<br />
Se O banquete <strong>de</strong> Platão se tornou uma referência comum entre Freud e<br />
<strong>Mário</strong>, a partir <strong>de</strong> Eros, Lacan, por sua vez, aludindo ao mito contado por Aristófanes,<br />
inventará seu próprio mito, articulando vida e morte, Eros e Tanatos.<br />
Lacan assinala que o ser falante t<strong>em</strong> o privilégio <strong>de</strong> revelar o sentido mortífero<br />
da libido e sua relação com a sexualida<strong>de</strong>, porque o significante, ao barrar o sujeito<br />
($), fez penetrar nele o sentido da morte.<br />
Sobre a pulsão <strong>de</strong> morte, Lacan dirá que “a pulsão, a pulsão parcial é<br />
fundamentalmente pulsão <strong>de</strong> morte, e representa <strong>em</strong> si mesma a parte da morte no<br />
vivo sexuado” 183 . Na reprodução por cissiparida<strong>de</strong> dos organismos unicelulares, um<br />
microrganismo se divi<strong>de</strong> <strong>em</strong> duas células iguais, tornando-se imortal. Neste caso, o<br />
indivíduo não <strong>de</strong>saparece, não há morte, n<strong>em</strong> do indivíduo, n<strong>em</strong> da espécie. Por seu<br />
lado, na reprodução sexuada é necessário o pareamento para que apareça um novo ser.<br />
Aqui, há perda do indivíduo, há <strong>de</strong>saparição do ser da geração anterior. Pois, como<br />
diz Lacan, “o vivo, por ser sujeito ao sexo, caiu sob o golpe da morte individual” 184 .<br />
No mito <strong>de</strong> Aristófanes, a busca do compl<strong>em</strong>ento perdido vai resolver-se no<br />
amor, no encontro com o outro, suposto ser a meta<strong>de</strong> sexual faltante.<br />
182 J. Kristeva, Histórias <strong>de</strong> amor, p. 313.<br />
183 J. Lacan, op.cit., p. 195.<br />
184 Id<strong>em</strong>, ibid<strong>em</strong>. Georges Bataille, na sua obra O erotismo, distingue a sexualida<strong>de</strong> animal do erotismo<br />
no hom<strong>em</strong>, pois “o erotismo é na consciência do hom<strong>em</strong> aquilo que põe nele o ser <strong>em</strong> questão”.<br />
Tratando da <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> existente entre um ser e o outro, diferenciará o sentido da morte do<br />
sentido da reprodução. No primeiro caso, há um sentido <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>, e no segundo, <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> do ser. Mesmo estando a reprodução ligada ao caráter <strong>de</strong>scontínuo <strong>de</strong> cada ser, ela<br />
mantém uma relação com a morte, tanto na reprodução assexuada, quanto na reprodução sexuada.<br />
Ambas implicam uma passag<strong>em</strong> da <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> à continuida<strong>de</strong>. Na reprodução assexuada, a morte<br />
da célula, ela mesma uma <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, é necessária para o nascimento das duas novas células.<br />
Então, na morte da primeira célula, nesta passag<strong>em</strong> que dá surgimento às novas células, há um instante<br />
<strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> entre estes seres <strong>de</strong>scontínuos. Na reprodução sexuada, espermatozói<strong>de</strong> e óvulo (seres<br />
<strong>de</strong>scontínuos) se un<strong>em</strong> mortalmente, estabelecendo um momento <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> entre eles, para dar<br />
nascimento a um novo ser (G. Bataille, O Erotismo, 1987). É possível inferir a incidência que a leitura<br />
<strong>de</strong> Bataille teve sobre Lacan ao teorizar a pulsão como pulsão <strong>de</strong> morte, como assinalou Eduardo<br />
Riaviz na dissertação <strong>de</strong> mestrado Sa<strong>de</strong> <strong>em</strong> Lacan – uma ética da transgressão, UFSC, 2000.<br />
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