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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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vazio. E quando a criança chega a ocupar verda<strong>de</strong>iramente o lugar do falo faltante<br />

para a mãe, conhec<strong>em</strong>os a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> advir daí uma psicose. Antelo resgata a<br />

mãe retratada por Hitler <strong>em</strong> obra <strong>de</strong> 1926, Mein Kampf, “don<strong>de</strong> al padre se lo respeta<br />

pero a la madre, sin pudor y sin límite, se la ama”. O outro modo <strong>de</strong> resposta<br />

consistiria <strong>em</strong> não tapar o vazio, mas <strong>em</strong> dialetizá-lo, fabricando um ser a partir do<br />

nada. Resposta situada do lado do ser, do lado do <strong>de</strong>sejo.<br />

Pod<strong>em</strong>os também evocar a mãe <strong>de</strong> André Gi<strong>de</strong>, a partir do comentário <strong>de</strong><br />

Miller “Sobre o Gi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lacan”. Neste artigo, Miller toma como referência o escrito<br />

<strong>de</strong> Lacan “Juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Gi<strong>de</strong> ou a letra e o <strong>de</strong>sejo”, que por sua vez se reporta ao<br />

livro <strong>de</strong> Jean Delay, La jeunesse <strong>de</strong> André Gi<strong>de</strong>. Trata-se <strong>de</strong> uma mãe que esmagava o<br />

<strong>de</strong>sejo do filho, ele próprio amado, mas não <strong>de</strong>sejado, enlaçando o amor não ao <strong>de</strong>sejo<br />

enquanto simbolizado pelo falo, mas i<strong>de</strong>ntificando-o ao <strong>de</strong>ver. A posição <strong>de</strong>sta mulher<br />

é a da mãe cujo amor é o do filho único, relação na qual ela é “toda para ele”. Como<br />

diz Miller, “se existe <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> um caso on<strong>de</strong> está claro que A mulher existe, é <strong>de</strong><br />

fato este” 166 . O acesso à mulher que permitirá esta mãe será o acesso “a uma só<br />

mulher” no registro do amor, e esta mulher será Ma<strong>de</strong>leine. Assim como nos poetas<br />

românticos, cujo t<strong>em</strong>a do “Amor e medo” é abordado por <strong>Mário</strong>, o amor e o <strong>de</strong>sejo<br />

aparecerão dissociados <strong>em</strong> Gi<strong>de</strong>: <strong>de</strong> um lado o objeto <strong>de</strong> amor sublime, angelical, e <strong>de</strong><br />

outro, a sexualida<strong>de</strong>, neste caso masturbatória, homossexual. O gozo, não articulado à<br />

metáfora paterna, caminhará solitário e fora do laço social, fora da lei. Situando o<br />

amor, a partir <strong>de</strong> Lacan , como mediação entre o gozo (do Um) e o <strong>de</strong>sejo (do Outro),<br />

Miller dirá que “é necessário o amor para que a mônada do gozo ceda e se abra aos<br />

dissabores e labores da relação com o Outro” 167 .<br />

T<strong>em</strong>os que a mãe retratada por <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, mãe que po<strong>de</strong> ser dita <strong>em</strong><br />

vários sentidos, não é a mãe do mandamento do <strong>de</strong>ver <strong>em</strong> Gi<strong>de</strong>, que mortifica o filho,<br />

mas aquela que permite ao filho o acesso ao <strong>de</strong>sejo, permitindo inclusive “a cara<br />

raivosa do filho entre os seios, marcando-lhe a carne, sentindo-lhe os cheiros”. V<strong>em</strong>os<br />

que apesar <strong>de</strong> ser a mãe um objeto interdito pela proibição do incesto, isto não impe<strong>de</strong><br />

que haja um componente erótico na relação <strong>de</strong> amor com o filho, traduzido pelos<br />

contatos furtivos, afagos, e prazeres do contato com o corpo materno, ainda que o<br />

narrador <strong>de</strong> “Vestida <strong>de</strong> preto” insista na pureza <strong>de</strong>sta relação.<br />

166 J-A. Miller, “Sobre o Gi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lacan”, Opção lacaniana, nº 22, p.29.<br />

167 Id<strong>em</strong>, p. 28.<br />

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