Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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26.02.2014 Views

Introdução

As marcas do pensamento de Sigmund Freud no século XX, traduzidas na teoria e prática a que denominou psicanálise, transcenderam o âmbito da medicina e da psicologia, alterando a maneira pela qual o homem pensa a si mesmo – a sua consciência, os seus desejos, as suas pulsões –, provocando mudanças no campo da cultura e na própria maneira de fazer e conceber o fenômeno artístico. As relações entre a psicanálise e o campo das artes, especificamente entre psicanálise e literatura, remontam ao próprio interesse de Sigmund Freud por este campo. Ele debruçou-se sobre a pintura, a escultura, recorreu a obras literárias para elaborar e ilustrar os seus conceitos e processos, fez aproximações entre o modo como operam o psicanalista e o poeta. Alguns de seus trabalhos que mantiveram um diálogo com o campo das artes foram: O delírio e os sonhos na Gradiva, de W. Jensen (1906), Uma lembrança infantil de Leonardo da Vinci (1910), A interpretação dos sonhos (1900), Escritores criativos e devaneios (1908), O Moisés de Michelangelo (1914). A influência da psicanálise sobre as vanguardas européias, por exemplo no movimento surrealista, é plenamente detectável, seja na “escrita automática”, na concepção de um “automatismo psíquico puro” ou no “método paranóico-crítico” de Salvador Dalí. Todos estes métodos artísticos são herdeiros, por analogia, da associação livre e das idéias freudianas sobre os processos do sonho. Assim, a criação artística será afetada pela teoria do inconsciente, almejando constituir-se na expressão mesma da linguagem e do desejo inconscientes. Em janeiro de 1922, aparece em La Nouvelle Revue Française (NRF) um artigo de Jules Romains, intitulado “Aperçu de la psychanalyse”, por ocasião da publicação do que ele considera a primeira importante tradução de Freud em francês: Introduction a la psychanalyse. 1 Inicia o artigo referindo-se a um novo modismo francês, “la saison Freud”, assinalando a omissão das revistas especializadas, que depois de 20 anos sem constatar a existência de Freud passam a tratar das suas teses com a maior naturalidade. Elisabeth Roudinesco, quem certamente leu o artigo de Romains, afirma que em 1922 a “temporada Freud” está no seu auge em Paris; cita-se o nome do criador da psicanálise com a mesma freqüência com que são citados os nomes de Einstein e Bergson. O referido artigo pretende ir mais além dos modismos, 1 Trad. S. Jankélévitch, Paris: Payot, 1922. Roudinesco relata uma certa disputa entre os franceses ( J. Romain, Paul Morand, Blaise Cendrars...) acerca de quem teria tido o privilégio de descobrir Freud: quem leu primeiro, quem o citou pela primeira vez, etc. 2

Introdução

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