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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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acad<strong>em</strong>icismo dos “gênios da ciência”, que apesar <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> “dignos da nossa<br />

veneração por ter<strong>em</strong> <strong>de</strong>scoberto algumas verda<strong>de</strong>s essenciais, (...) muitas vezes eles<br />

ficam como que <strong>de</strong>slumbrados pela verda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>scobriram, a generalizam, a<br />

aplicam a tudo. Como um Freud, por ex<strong>em</strong>plo...” 135 . Vinte anos antes <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong> escrever na imprensa a série intitulada O banquete, nas Crônicas <strong>de</strong><br />

Malazarte 136 três interlocutores principais (Malasarte, Belasarte e <strong>Mário</strong>), aos quais se<br />

juntam as vozes <strong>de</strong> Paulo Prado e Blaise Cendrars, reuniam-se “numa espécie <strong>de</strong><br />

banquete <strong>de</strong> Platão”, para discutir o i<strong>de</strong>ário <strong>em</strong> formação do mo<strong>de</strong>rnismo.<br />

Já que também Freud evoca o mito do uno sexual <strong>de</strong> Aristófanes no Banquete,<br />

record<strong>em</strong>o-lo brev<strong>em</strong>ente: Aristófanes diz aos presentes que tentará iniciá-los no<br />

po<strong>de</strong>r do amor. Conta que outrora a natureza humana se constituía <strong>de</strong> três gêneros:<br />

masculino, f<strong>em</strong>inino e um terceiro: andrógino, comum a estes dois.<br />

Depois, inteiriça era a forma <strong>de</strong> cada hom<strong>em</strong>, com o dorso redondo,<br />

os flancos <strong>em</strong> círculos: quatro mãos ele tinha, e as pernas o mesmo<br />

tanto das mãos, dois rostos sobre um pescoço torneado, s<strong>em</strong>elhantes<br />

<strong>em</strong> tudo; mas a cabeça sobre os dois rostos opostos um ao outro era<br />

uma só, e quatro orelhas, dois sexos, e tudo o mais como <strong>de</strong>sses<br />

ex<strong>em</strong>plos se po<strong>de</strong>ria supor 137 .<br />

Eram muito fortes, tinham muito vigor e uma gran<strong>de</strong> presunção e voltaram-se contra<br />

os <strong>de</strong>uses. Zeus, então, para torná-los mais fracos, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> dividir esses seres <strong>em</strong> dois.<br />

Des<strong>de</strong> que a nossa natureza foi assim mutilada, as duas meta<strong>de</strong>s passaram a se buscar,<br />

para se unir<strong>em</strong> novamente no todo.<br />

É então <strong>de</strong> há tanto t<strong>em</strong>po que o amor <strong>de</strong> um pelo outro está<br />

implantado nos homens, restaurador <strong>de</strong> nossa antiga natureza, <strong>em</strong><br />

sua tentativa <strong>de</strong> fazer um só <strong>de</strong> dois (...) Cada um <strong>de</strong> nós portanto é<br />

uma téssera compl<strong>em</strong>entar <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> (...) e procura então cada<br />

um o seu próprio compl<strong>em</strong>ento 138 .<br />

Na obra <strong>de</strong> Freud O banquete se inscreve como uma <strong>de</strong> suas referências,<br />

especialmente para tratar dos t<strong>em</strong>as do amor e da sexualida<strong>de</strong>. Já no início dos Três<br />

ensaios sobre a teoria da sexualida<strong>de</strong>, Freud dá test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> sua leitura do<br />

135 Id<strong>em</strong>, O banquete, p. 68.<br />

136 Conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>z textos (8 crônicas e dois contos) publicados, entre outubro <strong>de</strong> 1923 e julho <strong>de</strong> 1924,<br />

na revista carioca América Brasileira.<br />

137 Platão, “ O Banquete”, Os pensadores, p.22.<br />

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