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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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narcisismo, o primeiro mo<strong>de</strong>lo pulsional colapsa, levando Freud a formular seu<br />

segundo gran<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo.<br />

Com o artigo <strong>de</strong> 1920, Além do Princípio do prazer, Freud reformulará mais<br />

uma vez a sua hipótese sobre as pulsões, propondo uma dualida<strong>de</strong> entre pulsões <strong>de</strong><br />

vida e pulsões <strong>de</strong> morte (Eros e Tanatos). Investigando o masoquismo primordial, a<br />

reação terapêutica negativa e a compulsão à repetição, Freud encontrou nestes<br />

fenômenos a marca do “d<strong>em</strong>oníaco” como força irreprimível que não se explica pelo<br />

princípio do prazer, verificando que o sujeito po<strong>de</strong>ria trabalhar contra si mesmo,<br />

contra o que se pensaria ser o seu b<strong>em</strong>. Isto levou-o a supor que outra classe <strong>de</strong><br />

pulsões, as pulsões <strong>de</strong> morte, se faziam presentes, revelando-se como tendências <strong>de</strong><br />

auto-<strong>de</strong>struição, quando voltadas para si mesmo, ou como <strong>de</strong>struição e agressão<br />

dirigidas ao outro, ao exterior. A partir <strong>de</strong> uma perspectiva evolucionista, Freud<br />

compreen<strong>de</strong> as pulsões <strong>de</strong> morte como uma tendência regressiva que apontaria para o<br />

retorno <strong>de</strong> todo ser vivo a um estado anterior (inorgânico), on<strong>de</strong> prevaleceria uma<br />

indiferenciação da substância viva, um estado <strong>de</strong> repouso absoluto. As pulsões <strong>de</strong> vida<br />

abarcariam, tanto as pulsões <strong>de</strong> auto-conservação quanto as pulsões libidinais sexuais<br />

do primeiro mo<strong>de</strong>lo pulsional, ou ainda, a libido do eu e a libido objetal, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

<strong>de</strong>signadas sinteticamente como Eros.<br />

Dessa maneira, vê-se que a libido, para Freud, coincidirá com Eros. O mesmo<br />

Eros “dos poetas e dos filósofos”, dirá o psicanalista, numa referência a Platão. Eros<br />

será a libido generalizada e transportada às origens da vida, situando-se na teoria<br />

freudiana <strong>em</strong> relação a Tânatos, a pulsão <strong>de</strong> morte.<br />

...E a filosofia invadiu o terreno do amor 132<br />

132 Esta é uma frase da personag<strong>em</strong> Fräulein, ao tentar explicar à esposa do Sr. Sousa Costa que tipo <strong>de</strong><br />

amor veio ensinar ao jov<strong>em</strong> Carlos: “E o amor não é só o que o senhor Sousa Costa pensa. Vim ensinar<br />

o amor como <strong>de</strong>ve ser. O amor sincero, elevado, cheio <strong>de</strong> senso prático, s<strong>em</strong> loucuras. Hoje, minha<br />

senhora, isso está se tornando uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a Filosofia invadiu o terreno do amor! Tudo<br />

o que há <strong>de</strong> pessimismo pela socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> agora! Estão se animalizando cada vez mais. Pela influência<br />

às vezes até indireta <strong>de</strong> Schopenhauer, <strong>de</strong> Nietzsche... <strong>em</strong>bora sejam al<strong>em</strong>ães...” (Amar, verbo<br />

intransitivo, p. 58). Tristão <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong>, pelo visto, concorda com Fräulein, ao afirmar que Freud é o<br />

resultado <strong>de</strong> um movimento, que no século XIX, levou à “divinização do hom<strong>em</strong> pela sua<br />

animalização”. Refere-se à biologia que incluiu o hom<strong>em</strong> no enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> todas as espécies, como<br />

“simples ramo <strong>de</strong> um tronco puramente animal”; à psicologia que buscou a fusão da alma ao corpo; à<br />

sociologia, que subordinou o hom<strong>em</strong> às suas necessida<strong>de</strong>s econômicas; à filosofia que, preten<strong>de</strong>ndo<br />

excluir a metafísica, limitou-se aos dados do conhecimento experimental; e à religião que “procurou<br />

afastar todo transcen<strong>de</strong>ntalismo e toda exigência <strong>de</strong> absoluto, limitando-se ao mais estrito relativismo<br />

ou simbolismo religioso”(Tristão <strong>de</strong> Athay<strong>de</strong>, “Freud II”, Vida literária, Jornal, 1939). O artigo foi<br />

encontrado nas pastas <strong>de</strong> recortes <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, no arquivo do mesmo autor, no IEB – USP.<br />

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