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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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‘fomes amorosas’ fica muito b<strong>em</strong> aqui. Evita a ‘libido’ da nomenclatura psicanalítica,<br />

antipático, vago, masculino, e <strong>de</strong> duvidosa compreensão leitoril. As fomes amorosas<br />

são muito mais expressivas e não faz<strong>em</strong> mal pra ninguém” 127 . Tinha razão o autor do<br />

idílio, quando diz que libido é um termo masculino, pois Freud, no artigo sobre “A<br />

f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>” (1923), ao investigar a situação da libido <strong>em</strong> relação à polarida<strong>de</strong><br />

virilida<strong>de</strong>-f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, conclui que esta seria <strong>de</strong> natureza masculina. Diz ele:<br />

Não há senão uma só libido, a qual se encontra ao serviço da função sexual,<br />

tanto masculina quanto f<strong>em</strong>inina. Se, com base nas aproximações<br />

convencionalmente feitas entre a virilida<strong>de</strong> e a ativida<strong>de</strong>, nós a qualificamos<br />

<strong>de</strong> viril, procurar<strong>em</strong>os não esquecer que ela representa igualmente tendências a<br />

fins passivos 128 .<br />

Com a expressão fomes amorosas, <strong>Mário</strong> articula dois termos contrapostos na<br />

primeira teoria freudiana das pulsões, as pulsões <strong>de</strong> auto-conservação ou as pulsões<br />

concernentes ao eu e as pulsões sexuais.<br />

No artigo “Teoria da libido”(1923), Freud, ao retomar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

seus estudos sobre as pulsões, alu<strong>de</strong> à frase do poeta Schiller 129 que enuncia: “a<br />

fábrica do mundo é mantida pela fome e pelo amor”, reconhecendo na libido a<br />

expressão da força do amor, assim como a fome o seria da pulsão <strong>de</strong> autoconservação.<br />

Esta pulsão refere-se às necessida<strong>de</strong>s fundamentais do indivíduo para a<br />

conservação da vida, vincula-se a funções corporais, tendo como mo<strong>de</strong>lo a função <strong>de</strong><br />

alimentação. Os trabalhos <strong>de</strong> Freud <strong>de</strong>sse período (entre 1905 e 1914), evi<strong>de</strong>nciam a<br />

noção <strong>de</strong> que as pulsões sexuais se apoiariam <strong>em</strong> funções somáticas; por ex<strong>em</strong>plo, o<br />

127 M. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Amar, verbo intransitivo, p. 57.<br />

128 S. Freud, “La f<strong>em</strong>inidad”, Obras completas, vol. XXII, p.122. De acordo com Miller, “a libido<br />

freudiana é o valor psíquico, a partir do qual se po<strong>de</strong> pensar o que dá valor” ( Lógicas <strong>de</strong> la vida<br />

amorosa, p.26). Em Freud encontra-se o termo Sexualwert , valor sexual, e ele refere-se a noções <strong>de</strong><br />

valor quanto ao objeto sexual e ao objeto <strong>de</strong> amor, como rebaixamento e supervalorização, num caso e<br />

no outro. A partir <strong>de</strong> Lacan, pod<strong>em</strong>os afirmar que o valor sexual é uma questão <strong>de</strong> significação, o que<br />

po<strong>de</strong> ser traduzido a partir da lógica do falo. Num certo momento do ensino <strong>de</strong> Lacan, o falo funcionou<br />

como a medida comum dos objetos <strong>de</strong>sejados. Para que algo ou alguém se torne <strong>de</strong>sejável é necessário<br />

que adquira uma significação fálica, a partir <strong>de</strong> certas condições singulares para cada sujeito, e isso<br />

serve para ambos os sexos. Diz Lacan: “Na doutrina freudiana, o falo não é uma fantasia, caso se <strong>de</strong>va<br />

enten<strong>de</strong>r por isso um efeito imaginário. Tampouco é, como tal, um objeto (parcial, interno, bom, mau<br />

etc), na medida <strong>em</strong> que esse termo ten<strong>de</strong> a prezar a realida<strong>de</strong> implicada numa relação. E é menos ainda<br />

um órgão, pênis ou clitóris, que ele simboliza. E não foi s<strong>em</strong> razão que Freud lhe extraiu a referência<br />

do simulacro que ele era para os antigos” ( Escritos, p. 696). O falo é um significante, a medida comum<br />

dos significados, <strong>de</strong> tudo o que é <strong>de</strong>sejado, o significante do <strong>de</strong>sejo.<br />

129 J. C. F. von Schiller. Como observa Miller, referindo-se a Schiller, foi na poesia e não na biologia<br />

que Freud encontrou o conceito <strong>de</strong> pulsão. Como é sabido, Freud encontrava na literatura referências<br />

que lhe ajudavam na elaboração <strong>de</strong> suas teorias. Dentre os clássicos al<strong>em</strong>ães, Goethe e Schiller, citados<br />

freqüent<strong>em</strong>ente, eram seus prediletos.<br />

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