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Rastros Freudianos em Mário de Andrade - Universidade Federal ...

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Freud, convenção, por estar mais próximo da noção benthamiana <strong>de</strong> ficção 118 . É nesse<br />

sentido que entend<strong>em</strong>os a <strong>de</strong>finição freudiana <strong>de</strong> pulsão, como uma ficção<br />

fundamental que articula o significante e o gozo:<br />

uma pulsão nos aparecerá como sendo um conceito-limite entre o psíquico e o<br />

somático, como um representante (Repräsentant) psíquico das excitações que<br />

provêm do interior do corpo e alcançam o psiquismo, como uma medida da<br />

exigência <strong>de</strong> trabalho que é imposta ao psíquico como conseqüência <strong>de</strong> sua<br />

ligação com o corpo 119 .<br />

Freud <strong>de</strong>staca duas características principais das pulsões: sua orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> fontes<br />

<strong>de</strong> excitações vindas do interior do corpo e seu aparecimento como força que imprime<br />

um impacto constante (konstante Kraft). Isto exclui a possibilida<strong>de</strong> da fuga motora<br />

que ocorre no caso <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> um estímulo externo. Neste artigo <strong>de</strong> 1915, é<br />

possível notar a diferença que marca a pulsão, <strong>em</strong> relação a necessida<strong>de</strong>s como a fome<br />

e a se<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo. Esta constância da pulsão impe<strong>de</strong> que ela seja assimilada a<br />

uma função biológica, que s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> um ritmo. Assim, Lacan, traduzindo o que<br />

seria para Freud esta força constante que é a pulsão, dirá: “ela não t<strong>em</strong> dia n<strong>em</strong> noite,<br />

primavera n<strong>em</strong> outono, subida n<strong>em</strong> <strong>de</strong>scida”.<br />

Com relação à pulsão, Freud aponta quatro termos: fonte (Quelle), pressão<br />

(Drang), objeto (Objekt) e fim (Ziel). À disjunção entre estes quatro termos, Lacan<br />

chamará <strong>de</strong>smontag<strong>em</strong> da pulsão. A fonte da pulsão faz referência ao processo<br />

somático, “interior a um órgão ou a uma parte do corpo” 120 . A fonte é o que ele<br />

<strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> zona erógena. A pressão é o que impele à busca do objeto, à satisfação<br />

“a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> força, ou a medida <strong>de</strong> exigência <strong>de</strong> trabalho que ela representa” 121 . O<br />

objeto é o que há <strong>de</strong> mais variável na pulsão e, segundo Freud, não está originalmente<br />

118 Jer<strong>em</strong>y Bentham (1748 – 1832): Filósofo inglês do direito, da linguag<strong>em</strong> e da ética. Fundador do<br />

utilitarismo, estava interessado <strong>em</strong> elaborar um cálculo dos prazeres, através do qual as ações pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong><br />

ser avaliadas, na medida <strong>em</strong> que produziss<strong>em</strong> a maior felicida<strong>de</strong> possível para o maior número <strong>de</strong><br />

pessoas. (cf. Dicionário Oxford <strong>de</strong> Filosofia, p. 40). A teoria das ficções <strong>de</strong> Bentham “é uma teoria da<br />

legislação, da linguag<strong>em</strong> como po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> legislação. As entida<strong>de</strong>s fictícias mobilizam as entida<strong>de</strong>s reais,<br />

distribu<strong>em</strong>-nas, organizam-nas: falar é legislar, fazer atuar coisas que não exist<strong>em</strong>”.(J-A. Miller. “A<br />

máquina panóptica <strong>de</strong> Jer<strong>em</strong>y Bentham”, p.25). ) Foi o inventor do panóptico, um dispositivo<br />

polivalente <strong>de</strong> vigilância que <strong>de</strong>veria servir para prisões, fábricas, escolas e hospitais, e cujos princípios<br />

fundamentais <strong>de</strong> construção são a posição central da vigilância e sua invisibilida<strong>de</strong>.<br />

119 S. Freud, “Pulsiones y <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> pulsión”, Obras Completas, vol. XIV, p.117.<br />

120 S. Freud, “Pulsiones y <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> pulsión”, Obras Completas, vol. XIV, p.118.<br />

121 Id<strong>em</strong>, p.117.<br />

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